A crise da modernidade não se manifesta apenas em transformações econômicas e políticas. Ela se traduz também numa crise do "eu", na percepção de um indivíduo imerso em relações de trabalho temporárias e efêmeras, onde a mobilidade social e a melhoria das condições de vida parecem cada vez mais distantes. As rendas reais permanecem estagnadas ou caem, enquanto uma minoria rica se torna mais rica. Nesse cenário, o drama geracional se mistura de forma confusa: os jovens falham em atingir a maturidade responsável, enquanto os mais velhos se recusam a deixar o palco da história. Nesse cenário, a autoestima é frequentemente destruída. Como é possível pensar bem de si mesmo se não conseguimos manter um emprego, sustentar a nós mesmos e nossos dependentes? E se somos atacados e humilhados nas redes sociais por pessoas que nunca vimos? E se somos tratados com desdém apenas por sermos parte de uma minoria? E se os políticos, que deveriam nos representar, nos transformam em bodes expiatórios para fortalecer suas ambições pessoais ou o poder de seus partidos?
Essa crise da modernidade pode, assim, facilmente se tornar uma crise do "eu". O medo e a raiva resultantes alimentam movimentos reativos como o populismo e o fundamentalismo, que são hábeis em atender às necessidades do "eu" sitiado. O patriotismo, frequentemente rotulado como fascismo, exemplifica bem esse fenômeno. Porém, patriotismo não é fascismo. Todo democrata e defensor da liberdade, por definição, deve ser um patriota. O espírito da liberdade política não pode prosperar fora do corpo do Estado-nação. O Estado-nação é o corpo político no qual vivemos. Por isso, devemos preservá-lo para que possamos transmitir a liberdade e a democracia que desfrutamos às futuras gerações. "Não deixe a identidade alemã ser varrida pelo Islã. Não deixe a identidade alemã ser varrida pela União Europeia", declara Geert Wilders, em uma das expressões típicas de movimentos populistas.
De forma semelhante, no contexto do fundamentalismo, a ideia de martírio é exaltada. "Não é suicídio; é martírio em nome de Deus", diz Yusuf al-Qaradawi. Para ele, essa "operação de martírio" reflete a justiça de Allah. Através de sua infinita sabedoria, Allah concedeu aos fracos o que os fortes não possuem: a capacidade de transformar seus corpos em bombas, como fazem os palestinos. Esses discursos revelam uma identidade construída com base na oposição ao outro, seja o "outro" como uma ameaça externa, seja ele como um adversário que deve ser derrotado para restaurar uma ordem justa.
Movimentos populistas e fundamentalistas resgatam o "eu" das pessoas desiludidas pela modernidade através da construção de narrativas claras e atraentes. Tais narrativas são estruturadas dentro de uma cosmovisão que contém o suficiente dos relatos fracassados do presente para tranquilizar os potenciais seguidores. As promessas de restaurar a liberdade perdida e afirmar uma identidade esquecida, como a do povo "verdadeiro" ou da "nação escolhida", fornecem um sentido de agência renovado. No entanto, esse resgate do "eu" geralmente ocorre às custas de aspectos cruciais para a sobrevivência e evolução da sociedade global.
Os movimentos populistas e fundamentalistas oferecem aos seus seguidores uma narrativa que responde ao sentimento de impotência e vitimização, reconstruindo a autoestima das pessoas ao afirmar que elas são parte de um grupo escolhido, puro ou autêntico. O "povo verdadeiro", no caso do populismo, é sempre descrito como o grupo trabalhador, nativo e autêntico, em oposição aos "invasores" ou elites. No fundamentalismo, a pureza religiosa e a separação do "mundo maligno" tornam-se os pilares que garantem a superioridade do grupo. Essa noção de pertencimento e superioridade ajuda a restaurar o senso de identidade e propósito do indivíduo, mas o preço desse restabelecimento da autoestima é a limitação do "eu" a uma única característica, como uma identidade nacional ou sectária.
No entanto, essa reafirmação do "eu" por meio de uma identidade estreita e polarizada coloca sérias limitações ao indivíduo e à sociedade como um todo. Como pode alguém contribuir e prosperar em um mundo socialmente complexo se sua identidade é dominada por um único traço, como a nacionalidade ou a fé religiosa? Como é possível tomar decisões políticas benéficas se se está imerso em desconfiança em relação ao conhecimento e consumido por emoções extremas? Como é possível engajar em um diálogo construtivo se o indivíduo está constantemente hostil a outras culturas ou crenças?
Em um estudo de caso relevante, a fala de Nigel Farage, líder do UKIP, busca exatamente proporcionar aos seus seguidores um contexto significativo, enfatizando o controle e o poder do "povo verdadeiro" — os britânicos que se opõem à União Europeia. Sua narrativa visa aumentar a autoestima e o senso de agência dos cidadãos britânicos, oferecendo-lhes um objetivo comum, um inimigo claro e uma promessa de restauração do status quo perdido. Quando o partido foi fundado, apenas 17% dos britânicos apoiavam a ideia de sair da União Europeia. Hoje, 67% dos britânicos compartilham essa visão. Este exemplo mostra como uma simples narrativa pode ser poderosa ao reconectar os indivíduos ao seu "eu" em tempos de crise.
O que esses movimentos têm em comum é a criação de um cenário de guerra ou conflito contínuo, onde as regras da convivência civilizada, como o diálogo e o processo democrático, são suspensas. A luta se torna um terreno fértil para emoções intensas como o medo, a raiva e o desprezo, e as ações hostis tornam-se não só justificáveis, mas até necessárias.
Entretanto, esse tipo de resgate do "eu" traz consigo um dilema existencial. A ideia de um "eu" que se afirma como superior ao outro, isolado em sua pureza ou autenticidade, não pode facilmente prosperar em um mundo interconectado e globalizado. A sobrevivência e o progresso de qualquer sociedade dependem da capacidade de seus membros de dialogar, negociar e colaborar, não apenas dentro de suas identidades estreitas, mas também com os outros, em suas diversas formas. A verdadeira restauração do "eu" não ocorre quando nos limitamos a uma identidade rígida e combatente, mas quando conseguimos expandir nossa compreensão do "eu" para incluir a complexidade e a pluralidade do mundo ao nosso redor.
Por que precisamos falar de forma clara e precisa sobre nosso futuro?
Em 2018, Viktor Orban começou a sua fala com um tema caro aos nacionalistas: a imigração. No entanto, ele a associou a instituições supranacionais cosmopolitas e a indivíduos do mundo globalizado moderno, como a União Europeia e George Soros, refletindo um posicionamento que, apesar de se apoiar em questões de identidade nacional, também denuncia o que considera uma manipulação externa da sociedade. Orban não se limita a criticar apenas a imigração, mas a forma como as elites modernas facilitam o que ele vê como um processo de desintegração da cultura nacional. Essa crítica ressoa com outras figuras, como Geert Wilders, que vai ainda mais fundo ao apontar os responsáveis pela islamização das sociedades ocidentais. Para Wilders, os políticos, universidades, igrejas, sindicatos, e mídia se tornaram cúmplices dessa transformação, pois, ao aceitar a igualdade de culturas, estariam desconsiderando as diferenças substanciais entre as civilizações, particularmente no que diz respeito aos direitos das mulheres e à liberdade religiosa.
Wilders, em seu discurso, denuncia o que considera ser uma atitude conformista das elites políticas em relação à crescente presença do Islã. Em suas palavras, a islâmização da sociedade europeia não é um processo de adaptação, mas uma ameaça em si mesma, uma "cavalo de Troia" que ameaça a liberdade e a identidade europeia. Para ele, a aceitação irrestrita de uma cultura que coloca as mulheres e os não-muçulmanos em uma posição inferior é uma traição aos valores fundamentais das sociedades ocidentais.
Este tipo de discurso populista, tanto em Orban quanto em Wilders, tem um impacto direto na forma como os indivíduos se identificam em relação ao "outro". A construção de inimigos a partir de estereótipos existentes na cultura permite que se crie uma narrativa de conflito, onde o "outro" é visto não apenas como diferente, mas como uma ameaça. Estereótipos, muitas vezes, simplificam a complexidade da realidade, reduzindo os indivíduos a categorias binárias que podem ser hostis e divisórias. A ideia de que uma cultura seja "superior" a outra, proposta por Wilders, reforça esse processo, criando uma sensação de vergonha e culpa na própria identidade cultural. Isso leva ao desenvolvimento de um ressentimento generalizado, onde, ao invés de buscar soluções para a convivência e integração, os populistas apostam em uma narrativa de resistência e exclusão.
Essas declarações sobre identidade e cultura encontram eco em várias outras áreas, não apenas no campo político, mas também no psicológico e social. A psicologia social, ao analisar como as pessoas formam suas identidades, revela que a categoria do "outro" é muitas vezes definida pela polarização. Os populistas, ao escolherem inimigos claramente definidos, constroem uma divisão que os beneficia, pois ao concentrar a ameaça em uma figura externa, eles legitimam a necessidade de um "nós" unido e coeso. Esse "nós", embora pareça inclusivo, é na verdade uma construção que exclui uma série de indivíduos e grupos que não se alinham com a visão de mundo proposta.
Ademais, a retórica populista também lida com o medo do desconhecido e da perda de identidade. Ao acusar as elites de facilitarem a islamização, os líderes populistas não apenas apelam para os medos mais profundos da população, mas também exploram uma sensação de impotência diante de mudanças sociais rápidas e frequentemente descontroladas. O futuro, portanto, não é mais uma promessa de progresso, mas uma ameaça iminente, e o "outro" torna-se o símbolo desse futuro indesejado. Este discurso não se limita à imigração ou ao Islã, mas pode ser estendido a diversas questões sociais, como a ascensão de novas ideologias e a transformação dos valores tradicionais.
Ao considerar essa perspectiva, é fundamental perceber que os discursos de Orban e Wilders, embora possam ser vistos como respostas a questões legítimas de identidade e segurança, também refletem uma visão de mundo polarizada que ignora a complexidade das interações culturais e sociais. A visão deles simplifica excessivamente as dinâmicas de integração e convivência, apelando para um passado idealizado que muitas vezes não existe de fato.
É essencial entender que o medo do "outro" não é apenas um fenômeno político, mas também psicológico. A categorização e a estigmatização de grupos e culturas têm raízes profundas na psicologia humana. O ser humano tende a buscar uma identidade que seja coesa e única, e muitas vezes essa busca leva à criação de uma imagem do "outro" que serve para consolidar essa identidade. Isso pode ser uma forma de defesa, mas também é uma forma de fuga da realidade multifacetada e complexa da convivência humana.
Esse processo de construção de inimigos não é exclusividade de líderes políticos populistas, mas também pode ser observado em muitas situações cotidianas, onde indivíduos ou grupos sociais se distanciam de outros por motivos de classe, etnia, religião ou ideologia. A tendência a ver a identidade como algo fixo e imutável facilita a criação de um "nós" que exclui um "eles", o que torna a convivência e o entendimento mútuo mais difíceis. No entanto, é importante que, ao analisarmos esses discursos e suas implicações, nos esforcemos para ver além das polarizações e estereótipos, reconhecendo a riqueza das identidades e a possibilidade de transformação das relações sociais.
Como a Identidade Coletiva e o Conflito Modelam a Visão de Mundo e a Narrativa Populista
A construção da identidade de um grupo frequentemente depende da oposição com um “outro” que se configura como a antítese de tudo o que se considera positivo e virtuoso. Esse processo de contraste é fundamental para a formação de um “nós” coeso e definido, uma vez que o “eles” serve como espelho negativo, delineando de maneira explícita o que o grupo de pertencimento não é. Em uma narrativa populista, a oposição entre “nós” e “eles” é manipulada de forma estratégica, com o objetivo de fortalecer a identidade coletiva e justificar ações contra os adversários identificados.
No centro dessa dinâmica está a construção de um estereótipo simplista do “outro”, cujas características negativas são frequentemente exageradas e distorcidas. Enquanto “nós” somos retratados como autênticos, leais e virtuosos, “eles” são apresentados como falsos, desleais e ameaçadores. Acredita-se, então, que essa oposição não é apenas uma questão de diferença, mas uma luta existencial, onde “nós” devemos defender nossa integridade e valores contra as forças corruptas e subversivas que “eles” representam. Essa dicotomia simplista alimenta o ódio e a desconfiança, gerando uma visão de mundo polarizada onde qualquer outra forma de entendimento é rapidamente descartada como traição.
A emoção, especialmente a raiva, desempenha um papel central nessa narrativa. A indignação não é apenas um reflexo de uma injustiça abstrata, mas é direcionada especificamente contra as ações e a natureza do “outro”. O “eles” não apenas agem contra nós, mas o fazem por causa de sua essência malévola, que é vista como intrínseca e imutável. O “nós” moralmente superior se vê forçado a agir em legítima defesa, com a raiva funcionando como um catalisador para mobilização e ação.
Essa dinâmica de oposição não ocorre em um vácuo conceitual; ela é enraizada em uma visão de mundo mais ampla. Para o populista, o mundo é um campo de batalha onde a luta pela justiça e a sobrevivência política é constante. Os populistas se veem como vítimas de um sistema global corrompido, dominado por elites liberais e distantes. O inimigo é retratado como astuto, sempre tentando minar o poder do povo e infiltrar-se nos movimentos populares, seja por meio de traições internas ou pela manipulação de forças externas. A desconfiança e a necessidade de vigilância constante alimentam essa visão de mundo. O sentimento de estar sendo constantemente vigiado e ameaçado pela presença de “traidores” e “espiões” dentro do próprio movimento fortalece o senso de urgência e lealdade intransigente.
Por outro lado, no caso do fundamentalismo, o conflito ganha uma dimensão cósmica. A luta não é apenas política, mas existe em um plano espiritual e existencial. O “nós” fiel deve resistir ao ataque das forças malignas representadas por “eles” — os infiéis e os apóstatas, aqueles que não apenas rejeitam a verdade, mas corrompem a essência da fé e da moralidade. A violência e a destruição do inimigo são vistas como não apenas necessárias, mas como um imperativo divino, uma batalha pela sobrevivência da própria alma. Nesse contexto, a desconfiança se intensifica, pois a traição interna — aqueles que, conhecendo a verdade, se voltam contra ela — é vista como um mal ainda mais terrível do que os ataques externos. A purificação do grupo, portanto, exige vigilância, ação punitiva e, em alguns casos, a expulsão de elementos que comprometem a pureza do movimento.
Essas visões de mundo compartilham uma estrutura básica: ambos os grupos se sentem ameaçados, seja por elites poderosas e corruptas ou por forças espirituais que buscam subverter os valores fundamentais. A diferença reside nos detalhes dessa ameaça e no tipo de resposta emocional que ela provoca. Para os populistas, a luta é política e social; para os fundamentalistas, ela é religiosa e cósmica. Ambos compartilham uma desconfiança em relação aos adversários e às suas próprias fraquezas internas, mas, de maneira geral, ambos buscam uma restauração de um passado idealizado, um retorno a uma ordem anterior em que o grupo se via como central, respeitado e vitorioso.
Essa narrativa é frequentemente reforçada por uma retórica que combina elementos de orgulho nacional e local com uma visão de mundo messiânica. Tomemos, por exemplo, o discurso populista de Donald Trump. Em suas campanhas de 2016 e 2018, ele constantemente evocou o conceito de “nós”, construindo a identidade coletiva de seus apoiadores ao afirmar que são trabalhadores, patriotas leais que representam o verdadeiro espírito americano. O “eles” nesse caso são as elites liberais, aquelas que desacreditam o país e suas tradições, e que desrespeitam os valores que os apoiadores de Trump consideram fundamentais. A ideia de uma ameaça iminente é constantemente reforçada, com o apelo ao ressentimento e à luta contra um inimigo interno e externo.
A estrutura narrativa utilizada por Trump, ao evocar elementos simbólicos e culturais locais, como a música "Country Roads" de John Denver, cria uma conexão emocional profunda com seu público, reforçando a identidade de “nós” enquanto separa claramente a oposição. A luta pela “grandeza” é apresentada não como uma questão política, mas como uma questão de identidade cultural e histórica. Nesse contexto, os adversários não são apenas opositores políticos, mas inimigos existenciais que ameaçam a própria identidade e o modo de vida do grupo.
Essas narrativas de oposição e confronto não são limitadas a uma ideologia ou contexto específicos. Elas podem ser observadas em diferentes partes do mundo e em diversos movimentos políticos e religiosos. O que é importante entender é que, por mais que os detalhes variem, a estrutura subjacente permanece a mesma: uma luta constante contra uma ameaça existencial, seja ela política, religiosa ou cultural, e uma busca por uma restauração de um passado perdido ou idealizado.
O Populismo e os Desafios da Modernidade: A Luta pelo Controle dos Sistemas Sociais
O populismo emerge como uma reação contra a modernidade, unindo insatisfações profundas com o estado atual das sociedades e oferecendo soluções aparentemente simples para questões complexas. Lideranças populistas apelam diretamente aos sentimentos do povo, muitas vezes utilizando uma linguagem simples e conceitos de “senso comum” que visam contrastar os cidadãos comuns com uma elite supostamente parasitária. No entanto, essas soluções não levam em conta a complexidade dos sistemas sociais modernos, que, ao contrário do que afirmam os populistas, são essenciais para a sobrevivência das nações contemporâneas. Quando líderes populistas ascendem ao poder, logo se deparam com a difícil realidade de governar dentro desses sistemas que, apesar de sua crítica, são imprescindíveis para o funcionamento de qualquer sociedade moderna.
O populismo, por sua natureza, rejeita as estruturas sociais especializadas que sustentam o mundo moderno, como a mídia, o sistema legal, a política e a educação. Os populistas buscam infiltrar ou controlar essas instituições para implementar suas agendas, mas, ao fazer isso, enfrentam uma ironia crucial: são exatamente essas estruturas que lhes permitem manter o poder. Se os sistemas de justiça, negócios, ou comunicação não funcionarem adequadamente, a narrativa populista falha e sua base de apoio se enfraquece. O populismo, então, se vê em uma situação paradoxal: é uma força que luta contra a modernidade, mas sem ela, não pode alcançar seus objetivos.
Quando os populistas chegam ao poder, a realidade se impõe com mais força. A promessa de um retorno a um "passado dourado" ou de soluções fáceis acaba se revelando uma ilusão. O que inicialmente parecia ser uma vitória esmagadora para os líderes populistas pode rapidamente se transformar em uma crise, uma vez que suas soluções simples não são suficientes para resolver os problemas reais de governança. Esse momento de fraqueza, quando os populistas se deparam com os desafios concretos de administrar, muitas vezes é o ponto de colapso de seus projetos. A falha em implementar suas promessas leva a uma retórica ainda mais agressiva, onde a culpa é atribuída a um "estado profundo" ou a uma "elite oculta" que sabotaria o processo.
O Brexit, por exemplo, é um caso emblemático de como o populismo pode se manifestar em uma grande crise política. O movimento liderado por Nigel Farage fez uso de uma retórica populista para identificar um "inimigo" comum — os burocratas de Bruxelas e os imigrantes, cuja presença na Europa seria uma ameaça à identidade e segurança dos britânicos. Essa estratégia de divisão, criando um claro "nós contra eles", foi central para o sucesso do movimento, especialmente durante o referendo de 2016. Farage utilizou a crise dos refugiados e os ataques terroristas para reforçar o medo e alimentar um conflito que, em sua visão, justificava a saída do Reino Unido da União Europeia.
O uso do medo e da manipulação emocional é uma característica essencial do populismo. Farage não hesitou em empregar propaganda visual, como o infame cartaz "Ponto de Ruptura", para reforçar uma narrativa de crise iminente. A polarização criada por tais campanhas não só dividiu o país como também deixou o governo britânico em uma situação de impasse, onde as promessas de uma nova era de soberania se mostraram difíceis de cumprir. O populismo, assim, colapsa quando se confronta com as realidades práticas da política e da governança.
Além disso, a ascensão do populismo nos mostra a importância da adaptação dos sistemas modernos à mudança constante das dinâmicas sociais e políticas. Não é suficiente ter uma crítica às elites; é necessário entender como essas estruturas podem ser transformadas para refletir as reais necessidades da sociedade. O populismo muitas vezes falha porque não oferece soluções viáveis para os problemas que enfrenta. Sua força está, em última instância, na criação de conflitos e na perpetuação de uma sensação de luta constante contra inimigos externos ou internos, mas ao chegar ao poder, a incapacidade de apresentar respostas práticas e eficazes leva à sua falência.
O estudo de casos como o Brexit, e de figuras como Farage, revela que o populismo é mais eficiente em criar uma narrativa de luta do que em governar. Ele é excelente em mobilizar emoções e ressentimentos, mas menos eficaz em administrar o poder político de maneira construtiva. Esse é o dilema do populismo: enquanto ele critica a modernidade e as estruturas que definem o mundo contemporâneo, ele depende dessas mesmas estruturas para existir e prosperar. Quando a realidade da governança se impõe, a promessa de uma "era dourada" se desfaz, deixando o populismo em uma posição vulnerável e sem respostas claras.
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