Para compilar código eficiente para processadores, o compilador precisa conhecer exatamente as unidades funcionais presentes no chip e como elas se relacionam entre si. Essa dependência torna inviável usar o mesmo código compilado em diferentes implementações do mesmo processador, já que não há compatibilidade binária entre elas. A Hewlett-Packard (HP) identificou essa dificuldade e explorou alternativas para superar esse obstáculo.

Uma das soluções propostas é a tradução em tempo real, onde o código gerado pelo compilador — ou até um código intermediário — é convertido dinamicamente em código máquina na hora da execução. Essa técnica permite que diferentes implementações do chip possam receber o mesmo código compilado, que é otimizado conforme o hardware específico durante a execução. Essa abordagem se assemelha à usada pela Intel em seu processador P6, que converte instruções x86 em micro-operações RISC-like internamente. Outros fabricantes, como NexGen, AMD e Cyrix, aplicaram variações desse conceito para obter ganhos de desempenho.

Entretanto, essa técnica é eficiente para processadores RISC, que trabalham com poucos (três a seis) fluxos paralelos de instruções e cujos compiladores gerenciam o agendamento para que as unidades funcionais possam ser plenamente utilizadas. No caso de máquinas VLIW (Very Long Instruction Word), que podem ter dezenas de unidades funcionais trabalhando simultaneamente (de 16 a 32 ou mais), o desafio se torna exponencialmente maior. O compilador precisa analisar centenas ou milhares de instruções intermediárias para identificar as instruções independentes que possam ser despachadas paralelamente em um ciclo. A conversão dinâmica em tempo real, que lida com uma instrução intermediária por vez, é incapaz de fornecer essa escala de paralelismo de forma eficiente.

Por isso, a HP considerou também outras estratégias, como o desenvolvimento de compiladores que gerem dois tipos de código binário — para PA-RISC e para VLIW — e o uso de tradutores de software para converter binários PA-RISC em instruções VLIW. A complexidade técnica desses métodos, porém, é elevada, e a indústria ainda não viu uma solução plenamente satisfatória. No entanto, essa busca por soluções ilustra uma questão central: arquiteturas centradas no processador impõem dificuldades severas para a compatibilidade binária e a migração de software.

Em contraste, arquiteturas independentes da tecnologia do processador, como a do AS/400 da IBM, eliminam esses problemas, permitindo uma evolução de hardware sem impactar o software dos clientes.

Historicamente, o interesse por máquinas de palavras de instrução longa surgiu nos anos 1980, especialmente em centros avançados de pesquisa como o laboratório de Rochester, onde se buscava explorar tecnologias que pudessem garantir o futuro das linhas de sistemas existentes. Nessa época, equipes multidisciplinares dedicadas ao avanço tecnológico desenvolviam protótipos para comprovar a viabilidade de conceitos inovadores, como o uso de coprocesadores especializados para melhorar o desempenho em aplicações específicas. Um exemplo foi a integração de um motor de ponto flutuante de alta performance ao System/38, visando alcançar desempenho comparável a supercomputadores da época.

Essa abordagem de prototipagem tinha como objetivo validar tecnologias que futuramente poderiam ser incorporadas às linhas de produtos, demonstrando que era possível superar limitações arquiteturais através de inovações. A utilização de coprocesadores para cargas de trabalho específicas antecipava o conceito moderno de "application engines", que hoje também fazem parte dos planos para sistemas como o AS/400.

Para além da técnica da tradução dinâmica e do desafio do paralelismo extremo em VLIW, é fundamental compreender que a compatibilidade binária e a portabilidade de software são fatores decisivos para a adoção de novas arquiteturas. A necessidade de recompilar ou traduzir código para cada arquitetura específica impõe custos e riscos significativos para empresas e desenvolvedores. Assim, arquiteturas que abstraem a dependência do hardware e proporcionam um ambiente estável para o software tendem a garantir maior longevidade e facilidade de migração.

Além disso, o desenvolvimento de compiladores capazes de extrair paralelismo massivo exige algoritmos sofisticados e recursos computacionais intensivos, refletindo o custo de se aproveitar plenamente as capacidades de máquinas VLIW. Isso implica que a evolução das arquiteturas não é apenas uma questão de hardware, mas também uma revolução no software e nas ferramentas de desenvolvimento.

Como o Processador A30 Redefine a Performance e Integridade nos Sistemas Comerciais

O processamento de alto desempenho é uma necessidade crescente para sistemas comerciais, e os processadores da família A30 se destacam por sua capacidade de lidar com tarefas complexas de maneira eficiente. Esses processadores utilizam uma arquitetura de 64 bits e são projetados para maximizar a paralelização em nível de instrução. Em particular, o A30 se beneficia de uma técnica chamada execução especulativa, que envolve a pré-busca de instruções para múltiplos alvos de ramificação antes que a decisão final seja tomada. Isso permite que o processador atinja uma precisão quase perfeita em suas previsões de ramificação, algo crucial para a execução fluida de processos comerciais, onde a previsão de ramificação pode ser desafiadora.

Diferentemente de sistemas anteriores, onde a precisão de ramificação poderia ser tão baixa quanto 50%, o que equivale a uma escolha aleatória, o A30 antecipa essas ramificações de maneira eficaz. Através de uma execução especulativa, o processador busca ambas as opções de ramificação e começa a executá-las, garantindo uma performance muito mais estável. Essa abordagem exige um cache de largura de banda extremamente alta, o que é alcançado no A30, permitindo-lhe garantir uma precisão de 100% para a execução de diferentes cargas de trabalho, um feito notável para a arquitetura de processadores comerciais.

Além da eficiência no processamento, a integridade dos dados e a alta disponibilidade são aspectos essenciais para sistemas comerciais. O A30 integra códigos de correção de erros e paridade em todos os sinais externos ao chip, além de implementar paridade em várias camadas do controle e lógica de fluxo de dados. Esse nível de proteção de dados é raramente encontrado em sistemas de workstation convencionais, como os processadores RISC encontrados em muitos sistemas AS/400. A robustez do A30 em termos de correção de erros assegura a confiabilidade, fator decisivo em ambientes comerciais onde falhas podem ter consequências significativas.

Em comparação, os processadores A10 da série Cobra, também baseados na arquitetura PowerPC de 64 bits, visam modelos mais acessíveis do AS/400. Enquanto o A30 é voltado para sistemas de alto desempenho, o A10 é projetado para modelos intermediários e inferiores, sem suporte para certas instruções avançadas, como as necessárias para multiprocessamento. O A10 foi desenvolvido com a intenção de integrar o processador e a interface de memória em um único chip, utilizando uma tecnologia CMOS para reduzir o consumo de energia e dissipação de calor, permitindo que fosse instalado em pacotes menores.

Apesar de compartilhar algumas semelhanças com o A30, como a presença de cinco pipelines, o A10 é mais limitado em termos de capacidade de execução simultânea, podendo despachar no máximo três instruções por ciclo. No entanto, sua arquitetura ainda permite uma execução eficiente em cenários com menor demanda de processamento. A memória cache do A10 é composta por 4 KB de cache de instruções e 8 KB de cache de dados, com suporte a um cache externo de 1 MB para garantir um desempenho contínuo mesmo em tarefas mais intensivas.

Embora o A30 seja ideal para cargas de trabalho comerciais pesadas, o A10 também apresenta uma performance significativa em sistemas com menor exigência de recursos. A combinação de capacidade de processamento e eficiência energética torna o A10 uma escolha viável para empresas que buscam soluções acessíveis sem comprometer a qualidade do desempenho.

A transição para processadores de 64 bits, como o A30 e o A10, não é uma evolução puramente técnica, mas também uma mudança significativa na maneira como sistemas comerciais são projetados. Ao levar em consideração a importância da previsibilidade e da integridade dos dados, os processadores modernos, como o A30, não apenas atendem aos requisitos de desempenho, mas também garantem um nível de confiabilidade fundamental para as operações de negócios.

Além disso, a arquitetura de 64 bits não é mais uma novidade exclusiva de supercomputadores ou sistemas especializados. Hoje, processadores de 64 bits estão se tornando comuns até mesmo em sistemas de entretenimento, como videogames, superando, em muitos aspectos, as capacidades dos computadores de décadas atrás. Esses avanços indicam que a indústria de tecnologia continua a seguir em frente, com as expectativas de desempenho cada vez mais desafiadoras, mas também mais alcançáveis com a evolução contínua dos processadores.

Como entender a arquitetura do AS/400: por que analisar funções verticais é essencial?

A compreensão da arquitetura do AS/400 não pode ser plenamente alcançada por uma simples análise horizontal das suas camadas. Diferentemente de sistemas onde um componente, como a segurança, está confinado a um módulo específico e autônomo sobre o sistema operacional, no AS/400 a implementação de funcionalidades críticas está distribuída entre o OS/400, o SLIC (System Licensed Internal Code) e o hardware. Por exemplo, a segurança não reside exclusivamente no OS/400; ela é uma função que atravessa esses níveis, o que significa que estudar somente o OS/400 não revela a totalidade do controle de segurança.

A visão tradicional de um sistema como um empilhamento linear de camadas — hardware, sistema operacional, middleware, aplicações — não é suficiente para o AS/400. Este sistema é melhor compreendido através de "fatias verticais", onde uma função completa pode envolver interações complexas entre diferentes camadas. Uma função específica, seja segurança, gerenciamento de dados ou controle de recursos, não está isolada em um único nível, mas distribuída, com cada camada desempenhando seu papel, complementando as outras.

Este modelo integrado reflete o princípio de que o todo é mais do que a soma das partes. O AS/400 não é apenas um conjunto de componentes independentes; ele é um ecossistema coeso, onde a colaboração entre o hardware, o SLIC e o OS/400 cria uma plataforma robusta e eficiente. A análise de cada componente isoladamente não revela essa sinergia, o que é crucial para entender o verdadeiro funcionamento do sistema.

Além disso, a abordagem vertical enfatiza a importância do SLIC, que é uma camada intermediária proprietária, atuando como uma ponte entre o hardware e o sistema operacional. Essa camada não é visível em sistemas tradicionais, e seu papel é fundamental para o desempenho e a segurança do AS/400. Portanto, compreender o SLIC e sua interação com as outras camadas é indispensável para qualquer análise profunda da arquitetura do sistema.

É importante que o leitor entenda também que essa complexidade arquitetural implica desafios e vantagens. A distribuição funcional permite maior segurança e controle, uma vez que ataques ou falhas em uma camada podem ser mitigados por outras. Contudo, isso também exige um conhecimento especializado para manutenção, desenvolvimento e diagnóstico, pois o funcionamento integrado demanda uma visão ampla do sistema como um todo.

Assim, ao estudar o AS/400, o foco deve estar nas funções completas e na sua implementação transversal, não apenas nas camadas isoladas. Essa perspectiva é fundamental para compreender a verdadeira arquitetura e o potencial desta plataforma.

Por que o Endereçamento de 48 Bits no AS/400 não foi Sustentável a Longo Prazo?

Nos primeiros modelos do AS/400, um conjunto especial de instruções IMPI foi utilizado para verificar os bits de tag e carregar o endereço de 48 bits no registrador do processador. Essa instrução foi chamada de "Load and Verify Tags" (LVT), sendo análoga à instrução LQ nos processadores RISC, mas com uma responsabilidade adicional. A instrução LVT realizava uma comparação entre os 16 bits mais significativos do endereço no ponteiro e o campo de extensão SID no cabeçalho do segmento. Essa comparação garantia que os bits mais altos no endereço do ponteiro correspondessem ao endereço do segmento. Após esse primeiro acesso, o endereço de 48 bits seria utilizado para acessar o segmento.

Com o incremento do número IPL, uma nova área de endereçamento era criada para objetos temporários. Objetos temporários eram destruídos durante o IPL, ao contrário dos objetos permanentes, que existiam ao longo dos IPLs. O hardware utilizava apenas 48 bits, o que significava que o mesmo endereço de 48 bits não poderia ser utilizado para dois objetos permanentes ao mesmo tempo. Esse endereço poderia ser reutilizado somente se o objeto permanente, que anteriormente possuía aquele endereço, fosse explicitamente destruído em um IPL anterior. Quando um objeto permanente era destruído, apenas seus cabeçalhos eram preservados. Isso garantiu que não houvesse conflitos no reuso do endereço de 48 bits, desde que os números IPL fossem diferentes.

Nos primeiros cálculos feitos, com a premissa de um IPL por dia, as previsões indicavam que levaria 180 anos para que o número de IPL fosse reutilizado, o que aparentemente não causaria problemas de esgotamento de endereços. O problema real começou a surgir quando as empresas passaram a necessitar de sistemas operacionais 24 horas por dia, sem tempo para realizar IPLs. Além disso, os sistemas cresceram significativamente e o tempo necessário para realizar um IPL tornou-se excessivo.

Outro erro nas previsões originais era a suposição de que os segmentos de 64 KB seriam suficientes. No entanto, os sistemas do AS/400 criavam segmentos de 16 MB, e a divisão do espaço de endereçamento virtual em quadrantes fazia com que uma parte do espaço fosse desperdiçada. Assim, 64 terabytes de memória nunca eram usados no System/38 e nos primeiros modelos do AS/400. A divisão do espaço em quadrantes gerava um problema, pois o espaço disponível para endereços temporários estava limitado a 4 milhões de segmentos de 16 MB por IPL. Em sistemas grandes, com muitos objetos temporários, isso levava ao esgotamento dos endereços temporários, um problema conhecido como "SID wrap". O único modo de resolver isso era realizar um novo IPL, o que não era uma solução definitiva, mas apenas uma correção temporária.

As modificações feitas nas versões subsequentes do sistema AS/400, como a introdução de segmentos de 64 KB e a recuperação do espaço desperdiçado, ajudaram a amenizar o problema. No entanto, essas alterações foram paliativas e não solucionaram a questão de longo prazo. O verdadeiro problema estava no fato de que o endereçamento de 48 bits estava se aproximando de seus limites. Para evitar que o sistema se tornasse obsoleto, foi decidido que a solução passaria pela adoção de processadores RISC de 64 bits, capazes de endereçar um espaço muito maior.

O modelo de 48 bits, mesmo sendo eficaz em suas primeiras versões, logo mostrou-se insuficiente para atender às crescentes necessidades de memória e de armazenamento de objetos permanentes. No final, o esgotamento do espaço de endereçamento no AS/400 foi uma das razões principais para a transição para a arquitetura de processadores RISC de 64 bits, com um endereço de 64 bits no ponteiro. Essa mudança proporcionou não apenas uma maior capacidade de endereçamento, mas também a flexibilidade necessária para que os sistemas AS/400 pudessem continuar a crescer e a atender às demandas do mercado.

É importante entender que, além das limitações evidentes do endereçamento de 48 bits, a arquitetura do AS/400 refletia um desafio mais profundo, relacionado à forma como o hardware e o software interagiam para gerenciar grandes volumes de dados e realizar a tradução de endereços de maneira eficiente. A transição para uma arquitetura de 64 bits não foi apenas uma atualização de hardware, mas também uma transformação no modo como os sistemas poderiam escalar para o futuro.