Durante a presidência de Donald Trump, a questão da imigração se tornou um dos pilares mais controversos e divisivos de sua administração. A resposta do governo Trump à crescente pressão sobre a fronteira sul dos Estados Unidos, particularmente no contexto das caravanas de migrantes, foi marcada por medidas radicalmente rigorosas, que buscavam enviar uma mensagem clara de que a imigração ilegal não seria tolerada. No entanto, as ações do presidente frequentemente pareciam mais um reflexo de suas reações instintivas, muitas vezes impulsionadas pela cobertura de mídias conservadoras, como a Fox News, do que uma estratégia bem planejada ou uma solução eficaz para os problemas migratórios.

A reação de Trump ao que ele percebia como uma ameaça crescente à segurança nacional culminou em uma declaração dramática e sem consulta prévia a conselheiros chave da Casa Branca, onde anunciou que enviaria tropas militares para a fronteira até que fosse construído o muro prometido durante sua campanha. No entanto, sua decisão estava longe de ser tão inédita quanto ele sugeria. A mobilização de tropas na fronteira era uma prática já adotada por presidentes anteriores, incluindo George W. Bush e Barack Obama, e, como em outros casos, a presença militar estava restrita a funções de apoio logístico, sem permissão para a aplicação da lei de imigração.

A proposta de enviar as forças armadas para a fronteira se revelou, em grande parte, uma tática política. Era uma tentativa de demonstrar firmeza e controle sobre uma questão central de sua agenda, embora a medida não tivesse um impacto substancial na realidade do controle de fronteiras. O simbolismo dessa ação servia para alimentar a base eleitoral de Trump, dando a impressão de que o presidente estava tomando uma atitude decisiva em um tema que mobilizava uma grande parte do eleitorado conservador.

Entretanto, o movimento mais controverso e amplamente criticado de sua administração foi a implementação da estratégia de “tolerância zero” no tratamento de migrantes. Essa política resultou na separação de famílias que cruzavam a fronteira ilegalmente, com pais sendo encarcerados e filhos sendo levados para centros de detenção em outros locais dos Estados Unidos. A imagem de crianças em gaiolas, amplamente divulgada pelos meios de comunicação, gerou uma onda de indignação, não apenas nos Estados Unidos, mas também internacionalmente.

Embora a administração tenha tentado justificar a separação familiar, com Trump e outros membros da Casa Branca alegando que uma lei democrática exigia tal ação, a realidade era mais complexa e contraditória. Em resposta à crescente pressão pública, Trump cedeu e assinou uma ordem executiva em junho de 2018, colocando fim à separação das famílias. Contudo, ele não pediu desculpas nem demonstrou arrependimento, e, em vez disso, tentou moldar a narrativa de que sua ação era uma vitória tanto para as famílias quanto para a segurança nas fronteiras. Esse episódio evidenciou uma falha significativa na abordagem de Trump em relação à imigração, onde a retórica dura e as medidas extremas colidiram com a realidade de sua implementação.

Ainda assim, Trump continuou a promover mudanças no sistema de imigração, principalmente na redução do número de refugiados e dificultando o processo de imigração legal. Ele também fez esforços nos bastidores para restringir a entrada de trabalhadores temporários, aumentando as barreiras administrativas para empresas que dependem de vistos H-1B e H-2B, assim como complicando o processo de cidadania para residentes legais permanentes que servem nas Forças Armadas dos EUA. Embora essas medidas tivessem menos visibilidade e impacto direto no cotidiano dos cidadãos americanos, elas constituíram uma tentativa de moldar a imigração de acordo com as prioridades do governo Trump.

Ao olhar para o legado das políticas migratórias de Trump, é importante compreender que, embora tenha havido alguns avanços na limitação da imigração, como o endurecimento das regras para refugiados e trabalhadores temporários, muitos dos aspectos mais dramáticos de sua agenda não se concretizaram. A promessa de um muro intransponível ao longo da fronteira, por exemplo, continua longe de ser cumprida, e questões centrais, como o status dos Dreamers (jovens imigrantes trazidos para os Estados Unidos ainda crianças), permanecem sem uma resolução clara. A administração de Trump também não conseguiu convencer o Congresso a adotar uma reforma radical na imigração, com várias tentativas de legislar sobre o tema falhando devido à oposição interna, tanto no Partido Republicano quanto no Partido Democrata.

A chave para entender a política imigratória de Trump está na dinâmica entre sua retórica inflamada, a realidade da implementação de suas políticas e a resistência, tanto dentro de sua própria base política quanto na sociedade em geral. A administração procurou moldar a narrativa de que a imigração ilegal era uma ameaça existencial, utilizando a fronteira como um palco de disputa política, mas, no final, muitos de seus esforços falharam em produzir resultados duradouros e substanciais.

Como a Política de Base e o "Refém Político" de Trump Influenciaram o Congresso Americano

A popularidade de Donald Trump entre os republicanos foi um fator determinante para o surgimento de uma relação pragmática com o Freedom Caucus, que inicialmente resistia ao presidente, mas que acabou se alinhando a ele em muitas questões. Embora Trump tenha conquistado uma parte considerável do partido republicano, essa base de apoio, embora forte, não foi suficiente para garantir a aprovação de suas propostas legislativas nas instâncias do Congresso, cujos membros estão cada vez mais divididos entre uma linha mais moderada e a de base do presidente. Durante o 115º Congresso, os democratas alinharam-se em uma oposição unificada, o que tornou a travessia legislativa mais difícil, mesmo com a maioria republicana. Os poucos votos republicanos dissidentes podiam, e com frequência impediam, que as iniciativas de Trump se concretizassem.

Um dos maiores obstáculos a Trump no Congresso foi a resistência dos republicanos moderados, principalmente aqueles representantes de distritos marginalmente favoráveis ao Partido Republicano. Apesar da popularidade de Trump entre a base do partido, esses moderados estavam muito mais relutantes em apoiar suas políticas. Senadores como Jeff Flake, John McCain e Ben Sasse tornaram-se vozes críticas dentro do partido, enfatizando que as propostas de Trump não estavam em conformidade com os valores tradicionais do Partido Republicano, e que suas ações poderiam ser prejudiciais tanto a curto quanto a longo prazo.

Esses críticos, além de preocupações ideológicas, estavam também atentos aos impactos eleitorais. Em um cenário em que o Partido Republicano pode vir a enfrentar um eleitorado de maioria não branca nas próximas décadas, as propostas de Trump, muitas vezes de tom polarizador, pareciam afastar os eleitores moderados e até os republicanos mais centristas. Embora algumas pesquisas sugerissem que Trump poderia estar afastando os eleitores independentes, a evidência ainda não era conclusiva. O que ficava claro, no entanto, é que seus números de aprovação insatisfatórios e a política divisiva dificultavam a tarefa de convencer republicanos moderados a se unirem à sua agenda.

A principal repercussão dessa resistência foi o que se tornou uma característica notável na política do governo Trump: o fracasso de sua estratégia de base. Embora o presidente tenha uma base de apoio sólida dentro do partido, ela não era grande o suficiente para garantir a aprovação de reformas controversas, como a reforma da saúde. A estratégia de apelar a seu núcleo mais fiel do eleitorado não foi bem-sucedida em persuadir os republicanos moderados, que se viam cada vez mais desconectados das propostas de Trump. Este dilema se tornou um grande obstáculo na construção de uma agenda legislativa bem-sucedida.

A estratégia de Trump, amplamente baseada em sua capacidade de se comunicar diretamente com o público, gerou uma espécie de "política de refém". Essa abordagem, que une retórica agressiva e ações públicas simbólicas, foi usada para garantir apoio de sua base, ao mesmo tempo em que tentava obter concessões políticas de outros setores do governo ou do Congresso. O exemplo mais claro disso foi sua promessa de construir um muro na fronteira com o México, algo que nunca teve grandes chances de ser aprovado, mesmo com as maiorias republicanas em ambas as câmaras do Congresso. A estratégia de Trump era simples: levar as propostas a um impasse, jogar com a urgência e depois tentar usar isso como alavanca para ganhar apoio para sua agenda.

A política de refém de Trump ficou ainda mais evidente em 2017, quando ele usou o DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals) como um "refém" político. O presidente anunciou que cancelaria o programa, que fornecia proteção legal a imigrantes trazidos ilegalmente para os Estados Unidos enquanto crianças, mas deu ao Congresso um prazo de seis meses para encontrar uma solução para o financiamento do muro. Embora essa tática tenha gerado entusiasmo entre sua base conservadora, que queria ver ação sobre a imigração, ela não teve sucesso em alcançar seus objetivos legislativos. O Congresso, especialmente os republicanos mais moderados, não estavam dispostos a negociar um muro em troca de uma solução para os Dreamers, o que resultou em um impasse.

Essa estratégia de apelar à base enquanto mantém uma postura de confronto com outros setores da política não é algo novo para Trump, mas foi amplificada durante seu tempo na Casa Branca. Em sua carreira empresarial, ele frequentemente usava essa abordagem para obter concessões, mas no cenário político, ela mostrou-se uma faca de dois gumes. Embora consiga galvanizar o apoio de seu eleitorado mais fiel, o custo político de sua abordagem é elevado, já que aliena tanto o público em geral quanto os próprios legisladores com os quais ele precisaria negociar para obter resultados.

É crucial compreender que, embora Trump tenha um apoio considerável dentro de sua base, isso não se traduz em uma capacidade efetiva de governar, especialmente quando se trata de reformas complexas. Sua falta de habilidade em construir coalizões e sua relutância em fazer concessões políticas, essenciais em um sistema democrático pluralista, têm sido um obstáculo central para o sucesso de sua agenda legislativa. A política de refém pode ser eficaz para manter o entusiasmo de sua base, mas não oferece uma solução viável para avançar as grandes reformas necessárias em um Congresso altamente polarizado.