Os coeficientes de extinção para fluoróforos orgânicos simples, comuns em sistemas biológicos, raramente ultrapassam 200.000 M⁻¹cm⁻¹, embora algumas exceções, como Cy5, Cy5.5 e Cy7, apresentem coeficientes ainda maiores, acima de 250.000 M⁻¹cm⁻¹. Esse parâmetro limita a faixa prática de concentração para quantificação por absorção óptica em uma cubeta padrão de 1 cm a valores entre 10⁻⁴ e 10⁻⁷ molar. A transmitância (T), que é a fração da luz incidente que atravessa a amostra, está relacionada à absorbância (A) pela equação A = -log₁₀T. Por exemplo, uma densidade óptica (DO) de 1 indica que 90% da luz é absorvida e apenas 10% transmitida. Valores de DO iguais a 2 e 0,3 correspondem a absorções de 99% e 50%, respectivamente, fatos cruciais ao considerar efeitos como o "efeito filtro interno".

A determinação espectrofotométrica da absorção baseia-se frequentemente em instrumentos de feixe duplo, onde a luz transmitida por uma amostra é comparada em tempo real com a luz transmitida por uma amostra em branco, normalmente um solvente adequado. As fontes luminosas são adaptadas à região do espectro analisada, usando lâmpadas de tungstênio ou halogênio para o visível e lâmpadas de deutério para o ultravioleta abaixo de 340 nm. O conhecimento do coeficiente de extinção molar de um composto permite a determinação precisa da sua concentração, como exemplificado pela fluoresceína alcalina: uma absorbância de 1,0 a 490 nm, com coeficiente de extinção de 80.000 M⁻¹cm⁻¹, indica uma concentração aproximada de 1,25 x 10⁻⁵ M. Em proteínas, a absorção a 280 nm, influenciada principalmente pelos resíduos de triptofano, tirosina e cistina, permite estimar a concentração proteica, desde que o espalhamento de luz seja desprezível.

Porém, na prática, a relação linear entre concentração e absorbância predita pela Lei de Beer-Lambert pode apresentar desvios. Esses desvios podem ser causados por artefatos instrumentais, como fluorescência parasita ou luz indesejada em comprimentos de onda diferentes do analisado, que levam a uma superestimação da transmitância e subestimação da absorbância real. Instrumentos modernos são projetados para minimizar esses efeitos, mas a medição de soluções altamente absorventes (DO > 2 a 2,5) permanece desafiadora. Nestes casos, o uso de cubetas com caminho óptico reduzido, incluindo dispositivos como o espectrofotômetro NanoDrop™ One, que trabalha com volumes microscópicos e trajetos ópticos na faixa de 0,05 a 1 mm, possibilita a análise de amostras concentradas, convertendo a absorbância medida para valores equivalentes a um caminho óptico de 1 cm.

Um problema frequente na análise de biomoléculas é o espalhamento da luz incidente, manifestado como turbidez em amostras com agregados ou partículas suspensas, como proteínas membranares. A turbidez, relacionada à densidade óptica por um fator de conversão entre logaritmos naturais e base 10, resulta na perda exponencial da intensidade luminosa devido ao espalhamento, não à absorção. O espalhamento de partículas menores que o comprimento de onda da luz, conhecido como espalhamento Rayleigh, aumenta fortemente à medida que o comprimento de onda diminui, seguindo uma relação inversa à quarta potência do comprimento de onda. Este fenômeno explica o aumento da turbidez em regiões de menor comprimento de onda no espectro de absorção.

É imprescindível que o leitor compreenda que as medições de concentração por absorção óptica são válidas apenas na ausência significativa de fenômenos de espalhamento, que podem comprometer a interpretação dos dados. Além disso, a correta seleção do caminho óptico e o conhecimento das limitações instrumentais são essenciais para a obtenção de resultados confiáveis. A adequação das condições experimentais, como a diluição da amostra ou o uso de instrumentos com trajetos ópticos reduzidos, deve ser sempre considerada para evitar artefatos e garantir a fidelidade da análise espectrofotométrica. Também é importante reconhecer que a absorção molecular e o espalhamento da luz coexistem em muitas amostras biológicas, demandando abordagens analíticas que possam distinguir e quantificar esses processos para uma interpretação precisa dos dados.

Quais são as bases e os legados fundamentais na ciência da fluorescência?

As “regras” propostas aqui se mantêm firmes, e acredito que aqueles leitores que demonstrarem interesse constante pela fluorescência e continuarem a trabalhar e estudar nessa área acabarão por descobrir casos excepcionais por conta própria, podendo até revelar novos fenômenos inéditos. É importante destacar que este texto não abarca todos os temas ou sistemas relacionados à fluorescência; uma simples busca na base PubMed retorna centenas de milhares de artigos, que abrangem centenas ou até milhares de sistemas diferentes. Por isso, é possível que o sistema favorito do leitor não tenha sido citado. Minha escolha de exemplos recaiu frequentemente sobre meu próprio trabalho, não por considerá-lo universalmente fascinante, mas por ser o que conheço em profundidade. Também destaquei muitos dos estudos de Gregorio Weber, não apenas pela minha familiaridade, mas pelo impacto singular de suas contribuições.

Devo reconhecer a dívida intelectual e pessoal com aqueles que me apoiaram, direta ou indiretamente, na escrita deste livro. Gregorio Weber foi um mestre não apenas da fluorescência, mas da vida, ensinando por meio do exemplo, personificando a maneira ideal de cientistas interagirem: com cortesia, generosidade, bom humor e humildade. Ele foi a maior inspiração científica da minha trajetória. Igualmente, tive a sorte de conhecer e colaborar com inúmeros cientistas excepcionais, como Enrico Gratton, que lidera um laboratório de referência em metodologias avançadas de fluorescência, formando gerações de pesquisadores e contribuindo decisivamente para o avanço do campo.

Durante meus anos como estudante e pesquisador, convivi com colegas que se tornaram pilares da área, tais como Bernard Valeur, Antonie Visser, Joseph Lakowicz, entre outros, cujas contribuições continuam a moldar o panorama da fluorescência. Também sou grato aos meus alunos, pós-doutorandos e colaboradores que enriqueceram minha pesquisa, oferecendo perspectivas e engajamento essenciais. Entre eles, Joseph Albanesi, Juan Brunet e Michael Anson foram interlocutores valiosos em inúmeras discussões profundas sobre os mais variados temas científicos.

A passagem do tempo e as perdas de colegas queridos como John Eccleston e Robert Clegg deixaram marcas, reforçando a dimensão humana por trás da ciência. O apoio de pessoas dedicadas, como a estudante Carissa Vetromile, responsável pela revisão e elaboração de figuras, ou Marcin Bury, que contribuiu com fotografia e ilustrações, mostra a importância do trabalho coletivo para a construção do conhecimento. Também é essencial reconhecer o suporte financeiro de agências como a National Science Foundation, National Institutes of Health, e a American Heart Association, além do apoio institucional da Universidade do Havaí, que propiciou um ambiente intelectual propício à pesquisa.

Ao longo dos anos, eventos como workshops organizados por Beniamino Barbieri e o contato com estudantes durante as palestras foram oportunidades para esclarecer ideias e aperfeiçoar o conteúdo. Em momentos simples, como as longas viagens de ônibus até o campus universitário, encontrei tempo para ler e escrever, refletindo sobre o caminho trilhado. A colaboração e encorajamento de Sandra Kopels foram fundamentais, não apenas no projeto deste livro, mas na minha vida, inspirando um esforço constante pela excelência e melhorando o cotidiano de todos ao redor.

Na segunda edição, mantive os princípios básicos da fluorescência, que não mudaram, mas acrescentei esclarecimentos e atualizações importantes. O avanço tecnológico trouxe à tona ferramentas como os fasores, tanto de tempo de vida quanto espectrais, que ganharam destaque e mereceram capítulo dedicado. Métodos inovadores em microscopia, como técnicas de super-resolução e análise de moléculas individuais, foram amplamente ampliados. A contínua invenção de fluoróforos novos, com propriedades diversas, também exigiu atualização dos conteúdos, assim como a inclusão de referências mais recentes para aprofundamento.

Desde a primeira edição, perdemos vários gigantes da fluorescência — Kazuhiko Kinosita, Ludwig Brand, Ken Jacobson, Roger Tsien e outros — cujas contribuições transformaram a ciência e deixaram legados indeléveis. Muitos questionaram o título “Introdução à Fluorescência”, considerando o nível avançado de alguns temas. Contudo, dada a amplitude e complexidade das metodologias modernas, este livro é apenas uma porta de entrada para o vasto universo que a fluorescência representa.

Além do conhecimento técnico e histórico, é fundamental entender que a ciência da fluorescência é um campo vivo, dinâmico e colaborativo, marcado por interações humanas e trocas intelectuais que ultrapassam o laboratório. O aprendizado não se limita a fórmulas e experimentos, mas envolve ética, generosidade e o reconhecimento do esforço coletivo. O verdadeiro avanço na área não é apenas o produto da curiosidade individual, mas da construção de uma comunidade científica respeitosa, aberta e inovadora.

Como as Técnicas Fluorescentes Revolucionaram a Medição de pH In Vivo

A medição de pH em células vivas representa um desafio significativo, principalmente devido à complexidade dos sistemas biológicos e à dificuldade de introduzir métodos de medição precisos em ambientes dinâmicos. O desenvolvimento de eletrodos de microeletrônicos com pontas rebaixadas na década de 1970 foi um avanço importante, permitindo medições em células vivas, mas com um longo caminho até alcançar as metodologias modernas. Atualmente, várias técnicas estão sendo empregadas para medir o pH dentro de organismos vivos, com destaque para métodos de imagem por ressonância magnética (MRI), ressonância paramagnética eletrônica (EPR), tomografia por emissão de pósitrons (PET), imagem fotoacústica (PAI) e métodos ópticos. Esses métodos têm se destacado pela sua capacidade de realizar medições não invasivas e em tempo real, sem a necessidade de danos celulares significativos.

A introdução de sondas fluorescentes para medições de pH in vivo, particularmente na década de 1980, foi um marco. Um exemplo notável é o BCECF (2’,7′-bis-(2-carboxietil)-5-(e 6)-carboxifluoresceína), que se tornou popular devido ao seu valor de pKa de 7,0, bem ajustado ao pH normal do citoplasma (~6,8 a 7,4). Essa sonda, administrada na forma de um éster acetoximetílico, é capaz de atravessar a membrana celular, sendo posteriormente ativada por esterases dentro da célula, o que resulta na liberação de um fragmento fluorescente. O BCECF exibe mudanças tanto na absorção quanto na emissão, dependendo do pH do ambiente, o que o torna uma ferramenta poderosa para estudos celulares em tempo real.

Além do BCECF, outros corantes fluorescentes com diferentes faixas de pH também foram desenvolvidos, como os corantes Oregon Green, LysoSensor Yellow/Blue DND-160 e SNARF. Esses corantes se tornaram comuns em estudos de pH intracelular devido à sua sensibilidade e excelente discriminação espacial e temporal. Os corantes fluorescentes oferecem uma vantagem importante sobre outros métodos, pois são altamente sensíveis, capazes de detectar mudanças muito pequenas no pH com alta resolução. No entanto, a medição de intensidade de fluorescência, embora útil, apresenta uma limitação: ela depende da concentração local do corante, o que pode afetar a precisão dos dados.

Para superar esse problema, métodos ratiométricos foram desenvolvidos. Os corantes SNARF, por exemplo, permitem uma abordagem ratiométrica eficaz. Esses corantes possuem múltiplos picos de excitação e emissão, permitindo que a diferença na intensidade de fluorescência seja usada para determinar com precisão as concentrações de íons de hidrogênio, independentemente da quantidade de corante presente. Esses corantes foram preparadas em formas permeáveis à membrana, como ésteres de diacetato ou acetoximetilo, para facilitar sua entrada nas células e a medição precisa dos pH intracelular.

Nos últimos anos, o desenvolvimento de técnicas como a microscopia de fluorescência com medições de tempo de vida (FLIM) tem proporcionado avanços ainda maiores. A principal vantagem das medições de tempo de vida sobre a intensidade de fluorescência é que elas são independentes da concentração do fluoróforo. Isso significa que os dados obtidos por FLIM não são influenciados por variações na quantidade de corante presente, resultando em medições de pH mais precisas. Estudos utilizando o BCECF para observar o gradiente de pH na camada mais externa da pele humana exemplificam esse avanço. Embora a intensidade de fluorescência tenha se mostrado difícil de usar devido às variações de concentração do corante, as medições de tempo de vida corrigiram essa limitação e permitiram a obtenção de mapas de pH mais precisos.

Além disso, pesquisas recentes têm explorado o uso de pontos quânticos de carbono (carbon dots - CDs) modificados para sensoriamento de pH intracelular. Esses CDs exibem mudanças graduais em seu tempo de vida fluorescente ao longo de uma faixa de pH de 2,6 a 8,6, tornando-os uma ferramenta interessante para medições em células vivas. A simplicidade de sua introdução nas células, por meio de incubação direta, e a baixa autofluorescência das células em comparação com os CDs tornam essa abordagem particularmente promissora para estudos celulares.

O uso de sondas fluorescentes pH-sensíveis para a medição in vivo ainda está em constante evolução, com o desenvolvimento de novos materiais e tecnologias que continuam a ampliar as possibilidades de monitoramento em tempo real das condições fisiológicas. Além dos corantes clássicos e sondas fluorescentes de proteínas, como os sensores pH-ratiométricos baseados em proteínas fluorescentes mutantes de GFP, novas estratégias estão sendo exploradas para melhorar a resolução e a precisão dos métodos, como a utilização de moléculas inteligentes que se ligam seletivamente a regiões específicas das células e tecidos. Essas inovações oferecem um enorme potencial para estudos em biologia celular, farmacologia e medicina, permitindo um nível de análise mais detalhado dos processos biológicos fundamentais.

É importante que o leitor compreenda que a medição de pH em sistemas vivos não se limita à escolha do corante ou sonda fluorescente. A escolha de um método apropriado depende de vários fatores, incluindo a natureza do ambiente biológico em questão, a resolução espacial e temporal necessária para o estudo, e os requisitos para a aplicação da técnica (como a invasividade ou a necessidade de medições de longo prazo). Além disso, é crucial considerar que, apesar do avanço das técnicas, ainda existem limitações nos métodos disponíveis, como a interferência de outros componentes celulares ou a dificuldade de obter medições precisas em ambientes altamente dinâmicos. Isso significa que, ao escolher uma técnica, é necessário avaliar cuidadosamente todos os aspectos experimentais envolvidos para garantir a obtenção de resultados confiáveis e significativos.