Ao analisarmos as atitudes de diferentes grupos ideológicos em relação a gênero e raça, emerge um padrão claro e persistente: a diferença entre como esses grupos veem os negros e como veem as mulheres. Ainda que tanto o sexismo quanto o racismo possam coexistir no mesmo espectro ideológico, seus níveis de aceitação, suas formas e intensidades variam de forma relevante.

Entre os apoiadores fervorosos de Donald Trump, o racismo aparece como um marcador mais visível e determinante de identidade política do que o sexismo. As respostas desses indivíduos a afirmações como “os negros só precisam se esforçar mais” ou “os negros recebem mais do que merecem” mostram índices consistentemente mais altos de concordância em comparação com conservadores que não veneram Trump. A correlação estatística é significativa e forte, refletindo uma visão clara de que os negros são percebidos como "outsiders", como outros, como uma ameaça simbólica à ordem social valorizada por esse grupo.

No entanto, quando se trata das mulheres, o cenário é mais ambíguo. Os índices de sexismo, ainda que presentes, mostram correlações menos intensas e, em muitos casos, estatisticamente insignificantes. A crença de que “as mulheres não são tão talentosas quanto os homens” é aceita por apenas 20% dos veneradores de Trump — um número baixo, embora maior do que entre liberais. A afirmação contrária — “a noção de que as mulheres são menos capazes está errada” — é aceita por uma maioria clara, mesmo entre os trumpistas. Isso não significa ausência de sexismo, mas indica que ele opera em outras camadas, menos diretas, mais simbólicas e paternalistas.

O chamado sexismo benevolente é o terreno mais fértil entre esses grupos. Uma parcela significativa dos conservadores trumpistas — 74% — concorda que “as mulheres devem ser protegidas e estimadas pelos homens”, número apenas levemente inferior aos 79% dos conservadores não trumpistas. Trata-se de uma visão de gênero que, embora aparentemente positiva, reifica uma estrutura de poder tradicional: o homem como protetor, a mulher como vulnerável. A mulher é valorizada, sim — mas como objeto de cuidado, e não como agente autônoma.

Esse padrão é ainda mais evidente quando se observa a percepção do status atual das mulheres. Enquanto 80% dos liberais concordam que “os homens ainda têm uma vida mais fácil do que as mulheres”, apenas 40% dos trumpistas pensam o mesmo. A ideia de que a igualdade de gênero já foi alcançada ou mesmo superada é uma crença amplamente difundida entre os conservadores de direita — o que deslegitima políticas de equidade e silencia discussões sobre desigualdade estrutural.

Já as atitudes em relação aos negros são muito mais duras. Apenas 19% dos trumpistas concordam que “a discriminação impede os negros de avançarem”. Por outro lado, 62% acreditam que “os negros só precisam se esforçar mais”. A negação da discriminação estrutural, combinada com a crença na meritocracia pura, é um traço marcante desse grupo. E, ao contrário do sexismo benevolente, não há qualquer tentativa de suavizar ou romantizar essas percepções.

É significativo que, embora haja um aumento de preconceitos de ambos os tipos conforme se caminha da esquerda à extrema-direita, os índices de racismo mostram variações muito mais pronunciadas e estatisticamente significativas do que os de sexismo. Isso sugere que a raça continua sendo uma fronteira simbólica mais rígida e determinante na definição do “nós” e do “eles” entre os trumpistas.

Mesmo quando as diferenças entre conservadores trumpistas e não-trumpistas são sutis — como no caso do sexismo — elas ainda revelam camadas importantes da psicologia política desse grupo. Os trumpistas veem a si mesmos como mais extrovertidos, mais agradáveis, menos neuróticos e até mais abertos do que os outros grupos — uma autopercepção positiva que pode alimentar sua resistência a

Quais são as características comportamentais dos diferentes tipos de adoradores de Trump?

Ao examinar os comportamentos pessoais e atitudes políticas dos adoradores de Trump, surgem padrões interessantes que distinguem um grupo específico: os defensores do Tea Party. Este grupo, mais do que outros tipos de seguidores, se destaca em uma série de comportamentos considerados, muitas vezes, hedonistas ou irreverentes para com normas sociais estabelecidas. Fumam mais, consomem pornografia com mais frequência, são mais propensos a beber álcool, a jogar, a apostar grandes quantias e a fazer piadas de teor inadequado. Esse comportamento, em muitos aspectos, reflete uma mentalidade mais libertária, frequentemente associada ao movimento Tea Party, que preza pela liberdade individual, muitas vezes desafiando convenções sociais e políticas.

Enquanto os defensores do Tea Party exibem esses comportamentos de maneira clara e consistente, outros tipos de adoradores de Trump não apresentam uma identidade comportamental tão distinta. Os "securitarians" – aqueles mais preocupados com a proteção da sociedade e da segurança – são geralmente mais conservadores em seus comportamentos, evitando comportamentos como o consumo excessivo de álcool ou o jogo. De fato, os securitarians se destacam como o grupo mais regrado, sendo os menos propensos a se envolver em atividades que possam ser vistas como indisciplinadas ou hedonistas.

A análise dos dados também revela que, embora todos os grupos de adoradores de Trump compartilhem algumas semelhanças em comportamentos como o porte de armas e o gosto por caçar ou pescar, essas preferências não se traduzem em grandes diferenças significativas entre os grupos. A posse de armas, por exemplo, é comum em todos os tipos, com uma ligeira tendência para que os defensores do Tea Party se destaquem, mas sem grandes discrepâncias. De forma semelhante, a prática de caçar ou pescar nos últimos cinco anos é relativamente baixa entre todos os adoradores de Trump, independentemente do tipo.

Quando os comportamentos analisados não se referem ao estilo de vida, mas a atitudes mais extremas e hipotéticas sobre como reagiriam diante de um político com o qual discordam profundamente, os defensores do Tea Party mais uma vez se destacam. Eles se mostram mais propensos a realizar ações radicalmente políticas, como recusar o serviço a um político em seu restaurante, espalhar rumores prejudiciais, ou até mesmo participar de manifestações violentas. Essas atitudes revelam uma disposição maior para agir de forma radical e desafiadora quando se trata de proteger seus valores ou combater o que percebem como ameaças a seu modo de vida.

Por outro lado, os securitarians se destacam pela sua moderação e autocontrole, sendo menos inclinados a se envolver em comportamentos destrutivos ou antiéticos, mesmo quando se trata de questões políticas intensas. Enquanto os seguidores do Tea Party são mais propensos a ir às ruas em protestos ou se envolver em atividades que poderiam ser vistas como transgressoras, os securitarians são mais focados em garantir a segurança interna e a proteção da ordem social, demonstrando um comportamento mais regrado e menos impulsivo.

É importante destacar que, enquanto os comportamentos mais radicais podem ser atribuídos a ideologias específicas ou a contextos políticos particulares, a verdadeira compreensão de como diferentes grupos de adoradores de Trump se comportam e reagem a eventos políticos depende da interação entre suas atitudes pessoais e suas crenças políticas. A separação entre aqueles que buscam proteção e ordem (os securitarians) e aqueles que buscam liberdade e individualismo (os defensores do Tea Party) é essencial para entender a complexidade do apoio a Trump e suas implicações sociais.

Ao analisar esses dados, é fundamental perceber que os comportamentos não são apenas reflexos de atitudes políticas, mas também de uma identidade cultural mais ampla, que envolve questões de liberdade, controle e a percepção do papel do indivíduo na sociedade. Essas diferenças podem oferecer insights não só sobre o apoio a Trump, mas sobre as dinâmicas políticas mais amplas que estão moldando a sociedade contemporânea.

Como as Preferências Sociais e Políticas Influenciam a Identidade Autoritária: Uma Análise Crítica

O conceito de autoritarismo tem sido amplamente discutido no contexto político, particularmente na análise de movimentos políticos contemporâneos, como o apoio a figuras como Donald Trump. Altemeyer (1988) propôs que os alvos da agressão autoritária podem ser variados e imprecisos, afirmando que "os alvos da agressão autoritária podem ser qualquer um", mas esta visão parece desconsiderar o fato de que as agressões autoritárias são muitas vezes direcionadas a grupos específicos, considerados uma ameaça à segurança interna, como imigrantes ou opositores políticos. A segurança percebida, muitas vezes, leva os grupos securitários a direcionar suas ações de forma estratégica, visando preservar o status quo e os valores internos de sua comunidade.

Pesquisas indicam que, mesmo entre liberais, certos tipos de ações, como boicotes a estabelecimentos de adversários políticos ou até mesmo protestos como greves, são mais comuns. Embora essas práticas sejam frequentemente associadas aos liberais, elas refletem um comportamento social que envolve a preservação de um determinado padrão moral e ético. Essa diferenciação entre a direita e a esquerda, frequentemente, se observa nas atitudes em relação ao conceito de democracia. A lealdade à democracia, por exemplo, pode ser posta em risco quando questões como redistribuição de renda ou proteção ambiental entram em conflito com a manutenção de valores democráticos.

A relação entre autoritarismo e comportamentos políticos é complexa e não necessariamente implica uma simples linearidade entre a personalidade de um indivíduo e suas crenças políticas. O comportamento autoritário é frequentemente acompanhado por uma tendência a discriminar socialmente, o que se reflete no apoio a políticas que promovem uma maior exclusão de "outros". No entanto, a pesquisa sugere que as preferências sociais e políticas têm um papel predominante na formação de atitudes autoritárias, mais do que uma predisposição puramente individual.

É crucial compreender que a personalidade não é o único determinante das atitudes políticas. Em vez disso, o comportamento político de um indivíduo muitas vezes reflete suas preferências sociopolíticas, com a identidade social sendo um fator fundamental. O cérebro humano é amplamente moldado para responder a estímulos sociais, como evidenciado pela maneira como as pessoas escolhem amigos e parceiros com base em alinhamentos sociopolíticos mais do que com base em características pessoais. As preferências políticas são, portanto, tão essenciais para nossa identidade quanto nossas características mais pessoais.

Além disso, em um contexto de crescente polarização política, a adoção de atitudes autoritárias é frequentemente uma resposta a ameaças percebidas à ordem social e econômica. A segurança, tanto em termos físicos quanto ideológicos, emerge como uma prioridade para os indivíduos com um perfil mais autoritário. O apoio a figuras como Trump não deve ser visto como um fenômeno meramente circunstancial ou de um jogo de imagem, mas como um reflexo de uma orientação profundamente enraizada contra outsiders e em favor da preservação de uma identidade considerada "autêntica" ou "protegida". Trump, por exemplo, tem uma longa história de aversão aos outsiders, evidenciada desde suas primeiras posturas contra os acusados injustamente de crimes na década de 1980, o que sugere uma genuína inclinação autoritária, ao invés de uma mera estratégia de manipulação política.

Com isso, fica claro que a identificação com ideologias autoritárias vai além de uma simples reação às políticas de um líder, mas envolve uma série de fatores psicossociais e históricos que modelam as atitudes de um indivíduo. Em última análise, a compreensão dos apoios autoritários não pode ser reduzida a categorias simplistas, como racismo ou xenofobia, mas deve ser vista em um contexto mais amplo de segurança social, identidade política e a manutenção de valores coletivos.