As câmeras são componentes essenciais em sistemas de percepção robótica, desempenhando papel fundamental na geração de uma representação visual do ambiente ao redor. Em sua forma mais simples, uma câmera padrão possui um sistema óptico que foca a luz em uma matriz plana de fotosítios, chamada plano de imagem, resultando em uma representação bidimensional de uma cena tridimensional. Este processo é frequentemente descrito pelo modelo de câmera pinhole ou perspectiva. A combinação dessa câmera com um espelho de forma curvada, que reflete os raios de luz de um grande campo de visão para o plano de imagem, dá origem a sistemas óticos catadióptricos. A partir do uso de espelhos parabólicos, hiperbólicos ou elípticos, é possível construir câmeras omnidimensionais com um campo de visão de 360° no plano horizontal e mais de 100° em elevação. Câmeras desse tipo são úteis em diversas aplicações robóticas, como a localização e navegação de robôs móveis, uma vez que o campo de visão panorâmico fornecido por essas câmeras permite um entendimento mais amplo e preciso do ambiente.

Por outro lado, sensores de visão 3D, como as câmeras RGB-D, oferecem um nível adicional de percepção ao combinar imagens ópticas com um mapa de profundidade. Tais sistemas funcionam através de duas tecnologias principais: luz estruturada e tempo de voo. No sistema de luz estruturada, um par de câmera e projetor emite um padrão de luz conhecido e calcula a profundidade ao comparar a deformação do padrão refletido pela cena com sua forma original. Este sistema opera, em geral, no infravermelho para evitar que o padrão seja visível ao olho humano. Em câmeras RGB-D baseadas em tempo de voo, a informação de profundidade é obtida através da medição do tempo que a luz leva para viajar até o objeto e retornar ao sensor. Essas câmeras são fundamentais em várias aplicações de robótica, como mapeamento 3D e interação dinâmica com o ambiente.

A inteligência de um robô, por sua vez, é crucial para a execução de tarefas complexas. Ela é implementada como software, que roda em uma unidade de processamento, formando a arquitetura de controle do robô. Essa arquitetura pode ser organizada de várias formas, com destaque para duas abordagens principais: a arquitetura deliberativa e a arquitetura reativa. Na arquitetura deliberativa, existe uma clara separação entre o planejamento de ações e sua execução (pensar antes de agir). O planejamento de tarefas gera uma sequência de etapas que permitem atingir um objetivo específico, como pegar e mover um objeto. O sistema então gera um movimento de referência para guiar o robô ao longo dessa sequência, ajustando sua trajetória e realizando o controle necessário para seguir com precisão as instruções.

No entanto, uma arquitetura reativa não envolve planejamento. Em vez disso, ela responde a estímulos específicos do ambiente de forma imediata e automática, como um reflexo. Essa abordagem é inspirada em sistemas biológicos, como o comportamento de insetos, que respondem diretamente aos estímulos sem uma representação do ambiente ou do estado anterior. A principal vantagem da arquitetura reativa é a rapidez de resposta, já que não há necessidade de planejamento, enquanto a arquitetura deliberativa, embora mais lenta, pode produzir planos mais eficientes e ótimos sob vários critérios, como o consumo de energia e o tempo de execução.

A maioria dos sistemas robóticos modernos adota uma arquitetura híbrida, que combina as vantagens de ambas as abordagens. No nível superior, utiliza-se uma abordagem deliberativa para o planejamento de tarefas e trajetórias, enquanto no nível mais baixo, para funções como evitar colisões ou recuperar o robô de uma queda, usa-se uma arquitetura reativa. Dessa forma, o robô pode reagir de maneira rápida a mudanças no ambiente enquanto mantém a capacidade de executar tarefas mais complexas de maneira eficiente.

Além da arquitetura de controle, o modo de operação do robô também depende do tipo de controle utilizado pelos atuadores. Em robôs controlados por velocidade, como manipuladores de base fixa, os motores de servomecanismo atuam com loops de controle de baixo nível que geram comandos de torque para os atuadores a partir de referências de velocidade. O controle kinemático transforma essas velocidades de referência do espaço das articulações para o espaço da tarefa, onde o robô opera. A posição do final do manipulador, ou a "pose" do efetor final, pode ser obtida através de sensores, como câmeras externas ou codificadores de movimento.

Em robôs controlados por torque, o controle é mais direto, com uma unidade de controle única gerando comandos de torque baseados nas forças desejadas no sistema. Esse tipo de controle é necessário quando há uma ênfase maior na dinâmica do sistema, em vez de apenas seguir trajetórias predefinidas. A escolha entre controle por velocidade ou por torque depende das necessidades da tarefa e do tipo de interação que o robô deve ter com seu ambiente, sendo que ambos os métodos têm suas aplicações específicas.

Por fim, ao lidar com arquitetura de controle, é importante entender que os robôs modernos geralmente operam com um conjunto de módulos que processam dados sensoriais em tempo real e ajustam o comportamento do robô com base nessas informações. Isso implica em uma constante interação entre os sensores, atuadores e a unidade de controle, permitindo que o robô execute tarefas complexas de maneira eficiente e adaptável. A integração dos componentes sensoriais, como câmeras e sensores de profundidade, com o sistema de controle, permite que os robôs modernos tomem decisões informadas sobre como interagir com o mundo, levando a um desempenho significativamente melhorado em diversas aplicações práticas.

Como planejar trajetórias com suavização de trajetos e caminhos circulares

Quando se planeja trajetórias em um espaço cartesiano, é comum encontrar transições abruptas entre diferentes segmentos, o que pode gerar descontinuidades na velocidade e aceleração. Essas descontinuidades podem ser evitadas ao adotar uma técnica de suavização, que permite uma transição suave entre os pontos de início e fim de cada segmento de trajetória.

Em um exemplo simples, considere-se dois segmentos de trajetória, definidos por dois pontos: um ponto inicial p1p_1 e um ponto final p2p_2, com velocidades V1V_1 e V2V_2, respectivamente. A transição entre esses segmentos, sem uma suavização, resultaria em uma mudança abrupta nas velocidades de p1˙=σ1k1\dot{p_1} = \sigma_1 k_1 para p2˙=σ2k2\dot{p_2} = \sigma_2 k_2 no instante TmT_m, onde TmT_m é o tempo no qual os segmentos se conectam.

Para evitar essa mudança brusca, pode-se definir um intervalo de suavização de duração ΔT\Delta T, centrado no instante TmT_m. Durante esse intervalo, é possível adotar uma aceleração constante que vai transitar suavemente entre os dois segmentos de movimento, resultando em uma trajetória de suavização p(t)p(t). Essa trajetória é descrita pela equação:

p(t)=p(t1)+k1V1(tt1)+(tt1)22ΔT(k2V2k1V1),t[t1,t2]p(t) = p(t_1) + k_1 V_1 (t - t_1) + \frac{(t - t_1)^2}{2 \Delta T} \left( k_2 V_2 - k_1 V_1 \right), \quad t \in [t_1, t_2]

A partir dessa equação, podem ser determinadas as distâncias d1d_1 e d2d_2 entre os pontos intermediários pmp_m e os pontos de início e fim da suavização, respectivamente. O resultado da suavização será uma trajetória que se aproxima do ponto intermediário, mas não o atravessa (isso é conhecido como "overfly"), criando uma curva suavizada que conecta os dois segmentos de forma contínua e sem descontinuidades.

No exemplo ilustrativo, onde temos os pontos pi=(0,0,0)p_i = (0, 0, 0), pm=(2,3,1)p_m = (2, 3, 1) e pf=(6,0,3)p_f = (6, 0, 3) com velocidades V1=1V_1 = 1 e V2=2V_2 = 2 [m/s], foi definido um intervalo de suavização ΔT=1.93\Delta T = 1.93 s, que corresponde a 30% do tempo nominal de movimento T=6.43T = 6.43 s. A partir disso, as distâncias d1=0.97d_1 = 0.97 m e d2=1.93d_2 = 1.93 m são determinadas, com a trajetória resultante passando pelo ponto intermediário mas não através dele.

Além disso, pode-se optar por escolher diretamente o valor das distâncias d1d_1 ou d2d_2 como parâmetros de projeto e calcular o intervalo de suavização ΔT\Delta T correspondente. Outra abordagem é definir a magnitude da aceleração constante de suavização p¨\ddot{p} e calcular o valor de ΔT\Delta T com base nisso. Se houver limites nas componentes da aceleração, como limites máximos ai,maxa_{i, max}, a duração mínima do intervalo de suavização pode ser determinada de forma direta. Isso é importante em cenários práticos onde as condições físicas, como a capacidade de aceleração de um robô, impõem restrições.

Além da suavização de trajetórias lineares, o planejamento de trajetórias pode envolver caminhos circulares, uma aplicação comum em diversas áreas, como a robótica e o controle de veículos autônomos. Um exemplo de trajetória circular é um círculo no plano z=0z = 0, com centro em C0=(x0,y0,0)C_0 = (x_0, y_0, 0) e raio rr. As equações paramétricas para esse círculo são dadas por:

p(s)=C0+r[cos(2πs+ϕi),sin(2πs+ϕi)]p(s) = C_0 + r \left[ \cos(2\pi s + \phi_i), \sin(2\pi s + \phi_i) \right]

Onde s[0,1]s \in [0, 1] é o parâmetro de trajetória e ϕi\phi_i é o ângulo inicial do ponto pi=(xi,yi,0)p_i = (x_i, y_i, 0) no círculo. O círculo pode ser percorrido no sentido anti-horário, e a partir das equações paramétricas, é possível derivar a velocidade e a aceleração ao longo do caminho.

A aceleração de uma trajetória circular contém duas contribuições: uma tangencial, alinhada com a direção da trajetória, e uma centrípeta, que é perpendicular à trajetória e responsável pela curvatura do caminho. A curvatura da trajetória circular é dada por κ=1/r\kappa = 1/r, onde rr é o raio do círculo.

Para determinar a trajetória de um círculo em R3\mathbb{R}^3, pode-se utilizar uma transformação homogênea que permite expressar o círculo em um novo sistema de coordenadas. Para isso, definem-se três pontos não alinhados no espaço, como os pontos AA, BB e CC, e a partir deles determina-se o plano que contém esses pontos. O círculo pode então ser ajustado para passar por esses três pontos, e suas equações paramétricas são derivadas em função dos parâmetros geométricos do plano e da posição dos pontos.

A escolha de um plano específico para o círculo permite que a trajetória seja descrita de maneira precisa, mesmo em um espaço tridimensional. A velocidade e a aceleração ao longo dessa trajetória circular também podem ser ajustadas de acordo com as necessidades da aplicação, levando em consideração a curvatura e o raio da trajetória.

Ao planejar trajetórias, seja em linha reta ou circular, é importante considerar o contexto do problema, como as limitações físicas dos sistemas, as velocidades máximas e as acelerações permitidas. Além disso, a escolha do parâmetro de suavização ΔT\Delta T ou das distâncias d1d_1 e d2d_2 tem um impacto direto na qualidade e eficiência do movimento planejado. Isso se aplica tanto a robôs industriais quanto a veículos autônomos, onde a precisão e a suavidade das transições entre diferentes trajetórias são cruciais para a performance e segurança do sistema.

Como Derivar o Modelo Dinâmico de Manipuladores Robóticos Usando a Formulação de Euler-Lagrange

No desenvolvimento de modelos dinâmicos de sistemas robóticos, um dos métodos mais amplamente utilizados é a formulação de Euler-Lagrange. Este método é baseado em considerações de energia, e a equação resultante fornece uma descrição completa do comportamento dinâmico do sistema. Ao aplicar este método, uma sequência de coordenadas generalizadas é escolhida, a partir da qual a função Lagrangiana do sistema é definida como a diferença entre a energia cinética total TT e a energia potencial UU, ou seja, L(q,q˙)=T(q,q˙)U(q)L(q, \dot{q}) = T(q, \dot{q}) - U(q), onde qq são as coordenadas generalizadas e q˙\dot{q} suas velocidades correspondentes.

A equação que rege o movimento do sistema pode ser obtida pela derivação do Lagrangiano em relação às coordenadas qq e suas derivadas q˙\dot{q}. A equação de movimento é expressa como:

ddt(Lq˙i)Lqi=ξi,i=1,,n\frac{d}{dt} \left( \frac{\partial L}{\partial \dot{q}_i} \right) - \frac{\partial L}{\partial q_i} = \xi_i, \quad i = 1, \dots, n

onde ξi\xi_i representa as forças generalizadas não conservativas que atuam no sistema. A equação pode ser reescrita na forma vetorial:

ddt(Lq˙)Lq=ξ\frac{d}{dt} \left( \frac{\partial L}{\partial \dot{q}} \right) - \frac{\partial L}{\partial q} = \xi

Esse formalismo é universal e se aplica a sistemas robóticos de diferentes tipos, como manipuladores e robôs móveis, com ênfase em manipuladores neste contexto específico.

Para um manipulador serial com nn graus de liberdade (DoF), as coordenadas qq representam os ângulos das articulações, e as forças ξ\xi incluem os torques do atuador, as forças dissipativas de atrito nas juntas, bem como os torques resultantes de forças de contato entre o manipulador e o ambiente. A equação acima descreve como essas forças se relacionam com as posições, velocidades e acelerações das articulações, permitindo a derivação das equações dinâmicas do manipulador.

Como exemplo, considere um sistema simples com um único elo, movendo-se sob a ação da gravidade e sendo acionado por um motor através de um sistema de engrenagens. Neste sistema, o motor é caracterizado por uma inércia ImI_m e um coeficiente de fricção viscosa BmB_m. A relação de redução de engrenagem, nrn_r, amplifica o torque gerado pelo motor ao refletir a rotação do motor na rotação da articulação do manipulador. O modelo dinâmico pode ser expresso como uma equação diferencial de segunda ordem que leva em consideração as contribuições do torque de atuador, das forças dissipativas de fricção, e da energia potencial devido à gravidade.

Para o sistema com um único elo, a energia cinética é composta pela contribuição devido à movimentação do elo e pela contribuição dos atuadores. A energia cinética total TT é dada pela soma das energias cinéticas de cada elo TiT_i e de cada motor TmiT_{mi}, sendo que a energia cinética de cada elo é determinada pela sua massa mim_i e pela velocidade de seu centro de massa, enquanto a energia cinética do motor é determinada pela sua inércia e pela velocidade angular.

O modelo dinâmico resultante, então, incorpora não apenas a energia cinética e potencial, mas também os torques dissipativos, permitindo a análise precisa do comportamento dinâmico do sistema. No caso de sistemas mais complexos, como manipuladores com múltiplos elos, as equações de movimento podem ser resolvidas numericamente, levando em conta as interações entre as diferentes partes do sistema e as forças externas.

Para sistemas mais complicados, como manipuladores de múltiplos graus de liberdade, o método de Euler-Lagrange permite derivar um conjunto de equações que descrevem o comportamento dinâmico do sistema em termos das suas variáveis generalizadas. Em muitos casos, essas equações podem ser resolvidas simbolicamente, fornecendo um modelo fechado que pode ser utilizado para a análise de propriedades dinâmicas gerais, bem como para o design e análise de esquemas de controle.

No entanto, a formulação de Euler-Lagrange tem algumas limitações. Quando as interações entre diferentes elos do manipulador se tornam muito complexas, as equações resultantes podem ser difíceis de resolver diretamente. Nesse caso, a formulação de Newton-Euler, que é baseada no princípio do equilíbrio inercial de forças e momentos ao longo da estrutura, pode ser mais eficiente. A abordagem de Newton-Euler tem como principal vantagem a forma recursiva das equações dinâmicas, que é especialmente útil para resolver problemas de dinâmica direta e inversa, além de ser adequada para implementação em tempo real em sistemas de controle baseados em modelo.

Ao implementar um modelo dinâmico de um sistema robótico, é fundamental ter em mente que as equações resultantes podem ser sensíveis a parâmetros como a inércia dos motores, as forças de atrito e a geometria do manipulador. Pequenas variações nesses parâmetros podem levar a grandes diferenças no comportamento dinâmico, especialmente em sistemas não lineares. Portanto, a precisão na modelagem de cada componente é crucial para garantir que o modelo dinâmico reflita com precisão o comportamento real do sistema. Além disso, a aplicação de técnicas de controle eficazes depende da compreensão detalhada desses modelos, o que torna a formulação de Euler-Lagrange uma ferramenta indispensável na análise e controle de manipuladores robóticos.