A microscopia eletrônica de varredura (SEM) é amplamente empregada para caracterizar estruturas com dimensões superiores a 10 nanômetros, sendo capaz de oferecer resoluções espaciais entre 1 e 10 nm. Para contornar essa limitação, recentes avanços metodológicos têm permitido quebrar a barreira dos 10 nm, ampliando significativamente o potencial analítico do SEM. Um exemplo marcante é a técnica desenvolvida por Villarrubia et al., que utiliza um modelo físico para ajustar a intensidade medida em função da posição, possibilitando reconstruções tridimensionais de padrões de SiO₂ com resolução subnanométrica — um salto quase dez vezes maior do que o padrão tradicional.

A evolução para o microscópio eletrônico de varredura com emissão por campo (FESEM) traz melhorias substanciais, principalmente devido à utilização de um canhão de emissão por campo, que gera feixes eletrônicos mais finos e estáveis. O design do canhão, especialmente os modelos Schottky in-lens e os de “cold gun”, determina a qualidade do feixe e, consequentemente, a resolução alcançada, que pode chegar a cerca de 1 nm. O FESEM não apenas minimiza a carga acumulada nas amostras, mas também permite maior corrente e menor tamanho do ponto do feixe, elementos cruciais para a análise detalhada de nanomateriais como nanoflores, nanosheets e nanopartículas. O estudo das propriedades morfológicas de nanosheets de dissulfeto de molibdênio (MoS₂), por exemplo, demonstrou que as características elétricas, magnéticas e optoeletrônicas desses materiais dependem intimamente do método de síntese e da estrutura obtida, aspectos que o FESEM revela com grande precisão.

A aplicação do FESEM estende-se ainda à análise de filmes finos depositados por eletrodeposição assistida por ultrassom, evidenciando mudanças morfológicas significativas como a formação de nanoplacas e estruturas em forma de bastões, demonstrando a influência das ondas ultrassônicas no crescimento das nanostruturas.

Em paralelo, a microscopia de sonda de varredura (SPM) engloba técnicas como a microscopia de tunelamento por varredura (STM) e a microscopia de força atômica (AFM), que utilizam pontas extremamente finas, com diâmetro na escala atômica, para mapear a topografia e propriedades eletrônicas das superfícies. A STM, em particular, emprega uma ponta metálica condutiva que varre a superfície, monitorando a corrente de tunelamento resultante da aplicação de uma voltagem entre a ponta e a amostra. A variação dessa corrente possibilita a reconstrução de imagens atômicas com resolução lateral de 0,1 nm e resolução em profundidade de 0,01 nm. Para garantir essa precisão, os sistemas STM são montados em dispositivos antivibração sofisticados, eliminando interferências que poderiam comprometer a acurácia dos dados.

Duas modalidades operacionais predominam na STM: o modo de corrente constante, que ajusta a altura da ponta para manter constante a corrente de tunelamento, e o modo de altura constante, que mantém a altura da ponta e a voltagem fixas enquanto monitora variações na corrente relacionadas à densidade de carga local. Este último é preferido para varreduras em áreas maiores devido à sua rapidez.

Estudos de caso exemplificam o poder dessas técnicas. A STM foi utilizada para investigar o crescimento de filmes ultrafinos de ouro depositados sobre substratos de molibdênio, revelando estruturas em degraus com larguras na faixa de dezenas a centenas de nanômetros. Outro estudo analisou a formação de múltiplas camadas de 4-aminotiofenol (4-ATP) sobre ouro modificado com iodo, demonstrando a evolução da organização molecular de cadeias a partir de moléculas individuais, informação crucial para o desenvolvimento de métodos avançados de extração em fase sólida.

Compreender o funcionamento e limitações das técnicas de microscopia em escala nanométrica é essencial para explorar plenamente as propriedades dos nanomateriais. A relação entre o método de preparação da amostra, as condições operacionais do equipamento e a interpretação correta dos dados determina a eficácia na caracterização, que por sua vez impacta diretamente no avanço tecnológico e científico em áreas como optoeletrônica, catalise, spintrônica e desenvolvimento de sensores. Além disso, a constante inovação no desenho dos detectores, fontes de emissão e modos de operação, abre possibilidades para aplicações ainda mais precisas e multifacetadas, exigindo do leitor uma visão crítica e integrada dos processos envolvidos.

Como são sintetizados os nanofios metálicos e semicondutores: métodos, propriedades e aplicações

O crescimento de nanofios metálicos, especialmente de ouro e prata, tem atraído grande interesse devido às suas propriedades únicas e potencial em diversas áreas tecnológicas. A síntese de nanofios de ouro pode ser realizada por deposição eletroquímica em substratos de óxido, permitindo a obtenção de estruturas ultrafinas verticalmente alinhadas com diâmetros da ordem de 6 nm. Outra técnica amplamente empregada é a dieletroforese, na qual uma diferença de potencial aplicada entre dois eletrodos imersos em uma solução contendo ouro, como HAuCl4 em n-hexano, estimula o crescimento dos nanofios entre esses eletrodos. Esta abordagem oferece controle preciso sobre a forma macroscópica e o posicionamento dos nanofios, embora o crescimento individual seja frequentemente irregular e com baixa direcionalidade. A distância entre os eletrodos influencia a densidade de empacotamento e o grau de alinhamento dos nanofios, com espaçamentos menores promovendo maior alinhamento. Além disso, tensões elétricas elevadas reduzem o tempo necessário para o alinhamento e induzem a formação de nanopartículas maiores e nanofios policristalinos.

Os nanofios de prata são especialmente valorizados por sua elevada condutividade elétrica e excelente transporte térmico, propriedades superiores a muitos outros metais de transição. Eles são também cruciais para aplicações em espectroscopia de espalhamento Raman potencializado por superfície (SERS), onde superfícies nanostruturadas de prata amplificam a detecção e estudo de moléculas adsorvidas. Assim como no ouro, a síntese dos nanofios de prata pode ser realizada com ou sem a utilização de templos, que geralmente consistem em estruturas duras e porosas como polímeros, wafers de silício e alumínio anodizado (AAO). Métodos sem templos envolvem a redução assistida por surfactantes do óxido de prata na presença de sementes de platina, conhecido como método poliol.

A evolução no crescimento de nanofios semicondutores tem sido extraordinária desde as primeiras investigações realizadas pela Hitachi na década de 1990. A diversidade dos materiais semicondutores sintetizados abrange sistemas elementares, compostos, óxidos funcionais, nitretos e carbetos. Dentre esses, destacam-se os nanofios de silício, germânio, compostos III-V como GaAs e InP, bem como óxidos como ZnO e TiO2. O silício, devido à sua importância central na microeletrônica, tem sido objeto de estudo por décadas, com avanços recentes focados em nanofios verdadeiramente nanométricos, cuja síntese utiliza técnicas como deposição química de vapor (CVD), ablação a laser e métodos baseados em solução. A micrografia eletrônica mostra nanofios de silício alinhados verticalmente, cuja morfologia pode ser controlada pela temperatura de crescimento e catalisadores metálicos.

O germânio apresenta vantagens significativas em relação ao silício, incluindo maior mobilidade de portadores de carga e maior raio de Bohr excitônico, o que favorece aplicações em baterias de íons-lítio, transistores de efeito de campo e dispositivos optoeletrônicos. A síntese do germânio segue rotinas similares às do silício, envolvendo CVD, epitaxia por feixe molecular e métodos templados.

O óxido de zinco (ZnO) destaca-se por seu amplo gap de banda, alta mobilidade eletrônica e elevada luminescência à temperatura ambiente, o que o torna ideal para detectores fotônicos, sensores e lasers ultravioleta. Sua síntese abrange técnicas como evaporação térmica, deposição assistida por óxido metálico (MO-CVD), ablação a laser em alta pressão e síntese aquosa, incluindo métodos hidrotermais e sol-gel. O uso do sol-gel combinado com templos duros permite a formação de nanofios alinhados in situ, aproveitando a simplicidade e baixo custo desses processos.

Os nanofios de dióxido de titânio (TiO2) possuem propriedades químicas e físicas únicas, com aplicações que vão desde eletrodos para baterias e células a combustível até fotovoltaicos e supercapacitores. As técnicas de crescimento incluem CVD, eletrodeposição e síntese solvotérmica/hidrotermal, esta última realizada em autoclaves de alta pressão, utilizando substratos condutores ou isolantes.

Compreender as especificidades de cada método de síntese, as características estruturais dos nanofios e suas propriedades elétricas, ópticas e químicas é fundamental para a integração destes nanomateriais em dispositivos avançados. A escolha do método e material depende não apenas das propriedades finais desejadas, mas também da compatibilidade com as tecnologias existentes e das condições experimentais disponíveis. Além disso, a influência dos parâmetros como temperatura, tensão aplicada, presença de catalisadores e tipo de substrato revela-se crucial para o controle do alinhamento, morfologia e desempenho funcional dos nanofios.

A compreensão profunda das interações físico-químicas durante a síntese e crescimento dos nanofios, bem como o impacto das suas propriedades dimensionais e cristalinas na aplicação tecnológica, é essencial para avançar no desenvolvimento de nanodispositivos eficientes e confiáveis. Dessa forma, a pesquisa contínua e a inovação nos métodos de produção, aliadas ao estudo detalhado das propriedades dos nanofios, abrirão caminho para novas fronteiras na nanoeletrônica, optoeletrônica e outras áreas emergentes da nanotecnologia.