A categorização imediata das pessoas em grupos opostos, como "nós" e "eles", é uma estratégia cognitiva que permite a rápida formulação de julgamentos sociais. A tendência de dividir o mundo entre os “salvos” e os “não salvos” está profundamente enraizada nas crenças de muitos grupos fundamentalistas, como no caso dos cristãos fundamentalistas. A simples aparência de uma pessoa — como uma mulher com roupas que mostram uma quantidade considerável de decote — pode ser suficiente para que ela seja automaticamente rotulada como “não salva” ou “pecadora”. No entanto, essa percepção inicial pode ser distorcida pela falta de uma visão mais abrangente do contexto em que a pessoa se encontra. O fato de alguém estar entrando em um local de música popular, por exemplo, pode ser interpretado como um sinal de desvios de moralidade, mas poderia, de fato, ser uma oportunidade para testemunhar ou evangelizar. A roupa com um crucifixo poderia não ser uma manifestação de fé, mas simplesmente uma escolha de moda. Isso mostra como os estereótipos podem fazer com que as pessoas interpretem informações subsequentes de maneira que reforçam sua visão inicial, mesmo quando ela é incorreta.
Essa resistência em revisar ou ajustar o estereótipo é uma característica das categorizações sociais. Quando um membro de um grupo, por exemplo, um fundamentalista, interage com um não-fundamentalista, as suas características individuais podem enfraquecer os estereótipos prévios, revelando uma complexidade maior. No entanto, essa mudança de perspectiva é difícil, pois os estereótipos são frequentemente alimentados por uma constante exposição a exemplos representativos, e a primeira impressão tende a ser a mais persistente. Além disso, a forma como nos comportamos em relação aos membros de outras categorias também pode reforçar os estereótipos. Por exemplo, ao tratar um muçulmano de maneira hostil ou evitá-lo, um cristão fundamentalista está, na verdade, reforçando a noção de que o "outro" é digno de ser evitado, solidificando a ideia de uma separação irreconciliável.
Os estereótipos, portanto, servem a múltiplos propósitos. Eles não apenas simplificam a interação social, tornando possível julgar rapidamente os outros, mas também fornecem explicações prontas para as ações dos indivíduos. Ao rotular um juiz como arrogante, por exemplo, ou um jornalista como ganancioso, o estereótipo atribui características pessoais negativas a esses indivíduos, ignorando o contexto em que suas ações podem estar inseridas. O comportamento de uma pessoa, em vez de ser visto como resultado de um contexto ou situação específica, é interpretado como consequência de suas disposições pessoais — características que, segundo os estereótipos, definem sua natureza.
Essas atribuições disposicionais são uma ferramenta poderosa para líderes populistas e fundamentalistas, pois facilitam a criação de um inimigo comum. Ao culpar indivíduos ou grupos pelas ameaças existenciais percebidas, esses líderes conseguem mobilizar seus seguidores, consolidando a ideia de um "nós" contra "eles". A narrativa de uma conspiração, que sugere que as elites ou outros grupos estão deliberadamente prejudicando os “bons”, fortalece ainda mais a sensação de que uma luta pela sobrevivência é necessária. A verdade se torna secundária, e as explicações complexas sobre as motivações de diferentes grupos são substituídas por uma história simplificada de bons e maus.
Além disso, essa perspectiva de "nós contra eles" também serve a um propósito mais profundo: questionar os pilares da modernidade. A segmentação da sociedade em diferentes sistemas funcionais, como a ciência, o governo, a religião e a lei, é desconsiderada em favor de uma moralidade binária que reforça a ideia de um conflito eterno entre os justos e os injustos. Os críticos das instituições modernas são frequentemente deslegitimados, vistos como corrompidos ou fracos, enquanto o povo comum é elevado à posição de herói da narrativa.
Dessa forma, o processo de estereotipagem não apenas simplifica o mundo social, mas também facilita a construção de um inimigo. A exclusão de outros grupos torna-se uma característica central, especialmente para os fundamentalistas, que têm uma visão mais absoluta e sectária de sua própria fé. Essa abordagem gera uma dicotomia radical: os membros do grupo fundamentalista se consideram os únicos "certos", e todos os outros, em sua diversidade, são considerados parte do "erro". Para os populistas, embora haja um certo grau de inclusão, sua identidade também se define em termos de uma oposição mais específica a inimigos identificáveis, sejam eles elites ou minorias scapegoat.
Em contraste, os fundamentalistas tendem a ser muito mais exclusivos, criando seitas e subdivisões dentro de sua própria religião, cada uma acreditando que as outras estão erradas. Esse tipo de identidade extremamente diferenciada torna difícil mobilizar um apoio amplo, já que a oposição é nebulosa e sem um inimigo claro, mas, ao mesmo tempo, facilita a criação de um inimigo único: “o mundo” ou “os infiéis”. Para os populistas, por outro lado, a oposição tende a ser mais concreta e focada em grupos específicos, como minorias ou elites poderosas, o que pode gerar uma maior coesão no movimento, já que os adversários são claramente identificados e definidos.
Entretanto, é importante que o leitor compreenda que a dinâmica entre estereótipos e atribuições disposicionais não se resume apenas a um fenômeno de exclusão. O que também está em jogo é uma estratégia de simplificação que permite que as sociedades se orientem diante de um mundo complexo, mas que, ao mesmo tempo, reduz a capacidade de entender as nuances das situações. Quando as identidades são estabelecidas com base em estereótipos rígidos, e as explicações para as ações humanas são atribuídas a características disposicionais, há uma perda de compreensão sobre as variáveis sociais, culturais e econômicas que moldam o comportamento humano. Isso, por sua vez, tende a criar um terreno fértil para a polarização e a hostilidade entre grupos, algo que pode ser explorado de maneira eficaz por aqueles que buscam manipular a percepção pública.
Como o Populismo e o Fundamentalismo Moldam a Política e a Identidade
O populismo e o fundamentalismo, enquanto movimentos políticos e sociais, são frequentemente compreendidos através de um prisma intelectual que tende a ser frio e distante, abordando questões de identidade e motivação de maneira conceitual e analítica. Porém, essa análise, por mais lógica que seja, falha em capturar o calor humano, as emoções intensas que permeiam a adesão a esses movimentos. Ao focar em categorias como "nós" e "eles", a questão da identidade social se torna um campo fértil para o cultivo de emoções primárias e conflitantes, como raiva, medo e vergonha, que moldam tanto a adesão quanto a radicalização dentro dessas correntes ideológicas.
A narrativa central que sustenta tanto o populismo quanto o fundamentalismo gira em torno de uma ameaça iminente. Essa ameaça, essencialmente, é dirigida a "nós", o grupo com o qual os indivíduos se identificam, e é apresentada como fruto de uma conspiração de indivíduos e organizações poderosas, cujas identidades raramente são completamente reveladas. A partir dessa premissa, o "outro", representado por um grupo de pessoas específicas, seja ele estrangeiro ou impuro, torna-se o bode expiatório sobre o qual recai a culpa pela crise que ameaça a sociedade. A natureza impura desses grupos torna o ataque contra eles uma reação justificada, essencial para a preservação da pureza religiosa, cultural ou nacional.
Chegamos então a um ponto de crise, no qual a ação se torna inevitável. A continuidade do status quo é vista como um risco existencial, e a única solução parece ser uma ação decisiva e corajosa para combater a ameaça. Neste momento, os heróis emergem como figuras chave, combatendo o vilão em uma luta pela sobrevivência da integridade do grupo. Para muitos, a resposta à crise exige uma luta constante até a derrota completa do inimigo; para outros, pode ser uma defesa desesperada de seus valores, uma proteção contra o mal representado pela ameaça externa. A vitória, então, se torna uma certeza inevitável, e o retorno a um passado glorioso – uma "era de ouro" – é prometido, onde a autoridade forte e os valores fundamentais seriam restaurados e respeitados.
A conexão entre narrativa e emoção é clara. O sentimento de ameaça gera medo e raiva. O medo advém da possibilidade de um futuro danoso, enquanto a raiva emerge da percepção de que esse futuro é causado pela ganância ou pelo poder do "outro". A vergonha, resultado da humilhação imposta pelo inimigo, alimenta ainda mais a raiva, transformando-a em um impulso para a ação agressiva. O ponto de crise provoca uma mistura de excitação, determinação e apreensão, e a percepção do engano do inimigo desperta o desprezo. Por fim, a expectativa da vitória e do retorno à era dourada traz consigo uma sensação de esperança e alívio.
A relação entre emoções e identidade torna-se ainda mais evidente à medida que esses sentimentos não são apenas uma resposta ao "outro", mas refletem uma dinâmica interna entre a identidade social e o eu individual. O grupo "nós" é internalizado no "eu" de cada aderente, tornando a narrativa profundamente pessoal. Quando um indivíduo se vê como parte de um grupo que é marginalizado ou perseguido, a luta por sua preservação e o retorno à sua era de ouro tornam-se questões de identidade pessoal, não apenas de identidade coletiva. É o "eu" que sente as emoções de raiva, medo, vergonha e, finalmente, de triunfo.
O que está em jogo, portanto, não é apenas uma disputa política ou religiosa, mas a construção e a defesa da identidade pessoal e coletiva. A paixão e a energia que alimentam os movimentos populistas e fundamentalistas podem ser entendidas não apenas por suas ideologias ou objetivos políticos, mas também pela força emocional da narrativa que eles carregam. O apelo desses movimentos reside na maneira como eles tocam nas emoções mais profundas e nas necessidades de pertencimento e autoafirmação dos indivíduos.
Para os adeptos dessas ideologias, a narrativa não é apenas sobre a luta contra um inimigo externo, mas sobre a afirmação de seu próprio valor e dignidade diante de um mundo que parece ameaçar sua identidade. Ao envolver questões de moralidade, pureza e ameaça existencial, essas narrativas transformam-se em apelos poderosos à ação. E, à medida que essas narrativas ganham força, tornam-se cada vez mais difíceis de desafiar, pois tocam nas fibras mais sensíveis da psique humana, desafiando não apenas a lógica, mas também as emoções mais viscerais e pessoais.
A importância da identidade na construção desses movimentos e a maneira como a narrativa influencia as emoções de seus membros são cruciais para entender sua persistência e seu impacto. Além disso, compreender que o apelo não se dá apenas pelo conteúdo ideológico, mas pela conexão emocional que ele oferece, pode ajudar a desvendar o porquê de muitas pessoas estarem dispostas a abraçar tais ideologias com tanta intensidade, muitas vezes ignorando a razão em favor de um sentimento de pertencimento e propósito.
Como as Teorias da Conspiração Influenciam o Populismo: O Caso das Redes Sociais e a Presença Digital de Trump
O uso das redes sociais por Donald Trump durante sua presidência é um exemplo claro de como as plataformas digitais podem ser moldadas para reforçar narrativas de confronto e divisão. Trump, com sua habilidade de manipular as percepções públicas, fez das redes sociais uma ferramenta essencial para consolidar seu poder e atacar aqueles que considerava inimigos, seja o establishment político ou a imprensa tradicional. As acusações, geralmente veiculadas em sua conta no Twitter, estavam frequentemente envoltas em teorias da conspiração que alimentavam o medo, a raiva e a desconfiança entre seus seguidores.
Entre as teorias mais notórias divulgadas por Trump estavam as acusações contra a suposta tentativa dos Democratas de "roubar" a eleição presidencial, alegações de conluio com a Rússia e ataques à mídia como uma força corrupta e manipuladora. Trump usava sua conta no Twitter não apenas para fazer declarações provocativas, mas também para dar eco a teorias mais radicais, muitas vezes re-tweetando afirmações que envolviam desde círculos secretos de pedofilia até a ideia de que os ataques terroristas eram planejados para manipular a opinião pública. Ele nunca deixava claro se essas alegações eram de sua autoria ou de outras fontes, mas a simples repetição ajudava a normalizar tais ideias, criando um ciclo de desinformação.
O fenômeno das teorias da conspiração não pode ser apenas explicado por traços de personalidade de Trump, como narcisismo ou paranoia, embora esses elementos também desempenhem um papel importante. A ideia de que um indivíduo superior está sendo atacado por forças ocultas pode ser reconfortante para aqueles que se sentem ameaçados por mudanças sociais ou políticas. Contudo, uma explicação mais profunda se encontra na psicologia social, onde as teorias da conspiração funcionam como um mecanismo de construção da identidade. Ao identificar um inimigo comum e omnipresente – um "Eles" contra "Nós" – a coesão interna do grupo é reforçada. O "Nós", nesse contexto, é a comunidade de seguidores que acredita estar sob ameaça de um poder oculto e que, por isso, deve se unir contra esse inimigo.
Esse processo não é exclusivo do caso Trump. As redes sociais, especialmente o Twitter, desempenham um papel fundamental na maneira como as narrativas se espalham e se solidificam. A comunicação digital permite que a ideologia populista cresça com uma velocidade assustadora, criando bolhas de desinformação onde os seguidores se alimentam exclusivamente de mensagens que reforçam suas crenças preexistentes. As redes sociais não são apenas plataformas para comunicação, mas se tornaram um campo de batalha onde se travam disputas sobre a verdade e a realidade.
As teorias conspiratórias também têm uma função prática no contexto populista: elas ajudam a criar um "nós" coeso e contra um "eles" indefinido e perigoso. Além disso, essa divisão facilita a construção de uma identidade coletiva, onde os seguidores não apenas se veem como membros de uma comunidade, mas como defensores de uma causa maior. Trump, ao se colocar como o único capaz de proteger a nação e defender os valores tradicionais, conseguiu tornar-se o líder de um movimento popular que é alimentado pela sensação de estar sendo constantemente atacado.
Um exemplo claro dessa dinâmica pode ser observado na maneira como Trump utiliza suas vitórias nas redes sociais como símbolos de sucesso. Ele constantemente se posiciona como um vencedor, destacando suas conquistas enquanto coloca seus opositores no papel de perdedores. Esse contraste entre "vencedores" e "perdedores" é um recurso comum nas campanhas populistas, onde a narrativa da luta contra as elites é central para a construção de uma imagem de poder.
Além disso, é importante considerar o papel dos algoritmos de redes sociais na amplificação dessas mensagens. Embora a inteligência artificial ainda não tenha sido completamente estudada no que diz respeito ao impacto que ela tem na polarização política, já se sabe que ela contribui significativamente para a segmentação de mensagens. Isso significa que os indivíduos são expostos a um número crescente de conteúdos que reforçam suas crenças preexistentes, criando um ciclo vicioso de radicalização.
No entanto, a proliferação de teorias da conspiração não é um fenômeno exclusivo do populismo de direita. Ele também pode ser observado em outros movimentos políticos, principalmente em tempos de incerteza social e econômica. A crise da modernidade, onde os indivíduos sentem-se desamparados e desorientados, pode levar ao aumento da crença em explicações simplistas e conspiratórias para fenômenos complexos.
O impacto das teorias da conspiração na política global, especialmente com o uso das redes sociais, é um fenômeno que merece atenção. A forma como os líderes populistas exploram essas narrativas não só altera o debate político, mas também tem o potencial de enfraquecer as instituições democráticas, criando um ambiente de constante conflito e desconfiança. Com a crescente dependência das plataformas digitais, a sociedade precisa desenvolver uma consciência crítica sobre a maneira como as informações são manipuladas e difundidas.
É preciso entender, além das teorias da conspiração em si, o mecanismo de construção da identidade que elas promovem. O apelo à coesão grupal e o fortalecimento de uma visão dicotômica da sociedade ("nós contra eles") são centrais para o crescimento do populismo nas redes sociais. Portanto, enquanto as redes sociais e a desinformação continuam a evoluir, a sociedade deve buscar não apenas entender o conteúdo das teorias da conspiração, mas também os processos psicossociais que as sustentam.
A Crise Fundamentalista nos Estados Unidos e a Fragilidade da Identidade Social
A crise atual do fundamentalismo protestante nos Estados Unidos ilustra fraquezas intrínsecas ao movimento reacionário em seu conjunto: a dificuldade de encontrar um equilíbrio entre diferenciação e integração, os conflitos psicológicos de identidade e valores que surgem, e a falha dos líderes em manter o protótipo fundamentalista. Para compreender o dilema fundamentalista, é necessário voltar à história recente, especialmente aos anos 80, quando Jerry Falwell, líder importante desse movimento, percebeu que o fundamentalismo estava se afastando tanto das tendências culturais da sociedade americana que corria o risco de perder grande parte de seus fiéis e atrair poucos novos seguidores.
Falwell, junto com outros líderes fundamentalistas, decidiu integrar-se com evangélicos não fundamentalistas em um movimento que visava combater a revolução cultural dos anos 60. Eles buscavam restaurar a posição excepcional da América como a "luz de Deus sobre uma colina", reafirmando valores tradicionais de família e fé. Contudo, esse movimento não apenas envolveu uma certa integração com os evangélicos, mas também envolveu uma aliança com políticos conservadores do Partido Republicano e da Nova Direita. A definição básica do "Nós" fundamentalista, formada pelos poucos fiéis contra os hereges e o mundo, começou a ser diluída à medida que se abriam para heréticos evangélicos e o mundo político. A pureza do "Nós" foi comprometida, e a reação foi profunda: muitos fundamentalistas mais radicais rejeitaram essa tentativa de fusão.
O objetivo expansivo de restaurar uma "América Cristã" logo foi reduzido à concentração em questões mais específicas: aborto, direitos de gays e mulheres, oração nas escolas e "liberdades religiosas", como o direito das instituições religiosas de excluir pessoas LGBT em nome de suas crenças. Presidentes republicanos, como George W. Bush, continuaram a manter o apoio dessa base evangélica/fundamentalista, fazendo gestos em direção a essas questões. No entanto, a crise fundamentalista se acentuou quando o movimento precisou lidar com a escolha de Donald Trump, um homem cujos valores e estilo de vida eram a antítese da pureza e santidade que se esperava dos fiéis fundamentalistas.
Trump, embora fosse moralmente distante dos preceitos religiosos do fundamentalismo, foi abraçado por seus líderes, que recorreram a precedentes bíblicos para justificar seu apoio. Eles argumentaram que, assim como o imperador persa Ciro ajudou os israelitas em sua opressão, Trump poderia fazer o mesmo, mesmo sendo um "pecador". A narrativa de pecado, arrependimento e salvação — central para o evangelismo — foi aplicada à figura de Trump. Isso, entretanto, não escondeu o fato de que o movimento fundamentalista estava diante de uma crise profunda de identidade. A sua estrutura ideológica começou a mostrar rachaduras, com instituições famosas, como as universidades Liberty e Bob Jones, enfrentando dificuldades financeiras e culturais.
O fundamentalismo enfrentava outra grande crise: a necessidade de definir claramente quem pertenciam ao "Nós" e quem eram os "Eles". Como se poderia manter uma identidade forte quando as fronteiras entre "fiéis" e "hereges" se tornaram tão tênues? A falta de líderes que pudessem servir como modelos prototípicos aumentou a sensação de desorientação. A estrutura identitária que sustentava o movimento começou a enfraquecer.
No contexto mais amplo das crises sociais e políticas que atravessam os Estados Unidos, o fundamentalismo se viu incapaz de oferecer aos seus seguidores uma identidade sólida e coerente. A crise da identidade do "Nós" fundamentalista não é apenas uma questão de purificação religiosa ou de valores morais, mas também de sobrevivência política. Quando o movimento se compromete demais com a política partidária, suas raízes doutrinárias começam a se enfraquecer, e a purificação que define qualquer movimento religioso ou ideológico começa a ser diluída, tornando a própria identidade do movimento vulnerável.
Por fim, é importante entender que a crise do fundamentalismo protestante nos Estados Unidos reflete um fenômeno mais amplo dentro de qualquer movimento reacionário: o desafio de preservar uma identidade social clara e distinta em face de pressões externas e internas. A crise do "Nós" não é apenas sobre um grupo religioso, mas sobre qualquer movimento que dependa de uma separação bem definida entre os membros e os outros, entre o "Nós" e os "Eles". Essa identidade deve ser coerente e capaz de se adaptar às transformações da sociedade sem perder suas características essenciais. No caso do fundamentalismo, isso não ocorreu, e as fissuras que se abriram são uma lição valiosa sobre a fragilidade de movimentos que se baseiam em fronteiras rígidas e inflexíveis.
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