Os compostos de calcogênio, particularmente os dicalcogenetos de metais de transição, apresentam propriedades estruturais únicas que podem ser ajustadas para um desempenho eletroquímico aprimorado. As técnicas de síntese e as morfologias resultantes desses materiais influenciam significativamente seu comportamento eletroquímico, incluindo a capacidade, a estabilidade cíclica e a capacidade de taxa. Pesquisas recentes demonstraram que a morfologia dos materiais baseados em calcogênio pode ser controlada de forma eficaz através de várias técnicas de síntese. A habilidade de manipular o arranjo atômico e a morfologia desses materiais é crucial para otimizar seu desempenho em baterias, uma vez que isso impacta diretamente a área superficial e a cinética eletroquímica.

A dimensionalidade das nanostruturas de calcogênio também desempenha um papel significativo em suas aplicações eletroquímicas. Para explorar mais profundamente a microestrutura desses nanomateriais, imagens obtidas através da microscopia eletrônica de transmissão com campo escuro de alta angulação (HAADF-STEM) são utilizadas. Este modo da TEM oferece informações sobre a composição química detalhada e sua distribuição ao longo do material nanostruturado por meio de mapeamento. Esses estudos microscópicos ajudam no controle da morfologia dos materiais baseados em calcogênio, permitindo sua engenharia para melhorar métricas de desempenho, como a capacidade específica e as taxas de carga/descarregamento. Além disso, a interação entre os átomos de calcogênio e os íons metálicos pode levar à formação de morfologias complexas que ampliam o desempenho da bateria. Esses arranjos atômicos podem ser estudados ainda mais através da TEM de alta resolução (HRTEM), que fornece detalhes sobre a configuração da rede e a natureza cristalina do nanomaterial.

No desenvolvimento das baterias líquidas de metal (LMBs), uma série de materiais eletrodos sofisticados compostos por calcogênios hibridizados com outros metais têm sido desenvolvidos. Esses materiais contendo calcogênios possuem propriedades excepcionais, tornando-os ideais para aplicação em LMBs. Quando utilizados como cátodos, eles podem limitar a dissolução de polissulfetos e polisselenetos, enquanto, ao serem usados como ânodos, oferecem materiais de ânodo livres de dendritos. Portanto, o desempenho dos materiais eletrodos à base de calcogênios em tecnologias de baterias merece atenção especial.

Os materiais à base de enxofre têm despertado grande interesse como um material promissor para eletrodos devido à abundância de enxofre na Terra, sua inocuidade, baixo custo e alta capacidade teórica. Baterias de enxofre, como as baterias sódio-enxofre (Na||S), lítio-enxofre (Li||S), alumínio-enxofre (Al||S) e potássio-enxofre (K||S), representam várias soluções de armazenamento de energia para atender às necessidades de diferentes aplicações. Contudo, apesar dos avanços no desenvolvimento dessas baterias, a comercialização prática ainda enfrenta desafios técnicos significativos. Obstáculos como a produção de polissulfetos solúveis, que podem se difundir para o eletrólito a partir do cátodo de enxofre, resultando em baixa utilização do enxofre e ciclos instáveis, ainda são problemáticos. Além disso, a eficiência de Coulomb e a rápida degradação da capacidade são prejudicadas pela grande perda de polissulfetos de sódio e a lenta cinética de reação.

Pesquisas adicionais têm sido conduzidas para superar esses desafios. Por exemplo, um estudo demonstrou que alterar intrinsecamente o caminho de reação de um cátodo à base de enxofre com atividades redox adicionais projetadas pode suprimir simultaneamente o efeito de "shuttle" de polissulfetos e aumentar a densidade energética nas baterias Na||S. Ajustando os caminhos de reação eletroquímica da química do enxofre com oxigênio, uma nova química híbrida enxofre-oxigênio foi descoberta, alcançando uma capacidade reversível superior a 1400 mA h g−1, baixa sobrepotencial (~250 mV) e desempenho cíclico estável.

Os materiais à base de selênio também oferecem uma possibilidade intrigante para sistemas de baterias recarregáveis. O selênio pode exibir um movimento mais rápido dos portadores de carga durante o processo de descarga-carga, o que pode levar a uma melhor utilização do eletrodo, atividade eletroquímica e capacidade de taxa. Para melhorar o desempenho eletroquímico, o Se pode ser efetivamente imobilizado tanto fisicamente quanto quimicamente para prevenir a dissolução de polisselenetos e a reação colateral entre os ânions de Se e os eletrólitos. No entanto, a baixa vida cíclica, a eficiência de Coulomb e o custo relativamente alto do selênio, juntamente com a fácil dissolução de polisselenetos e casos graves do fenômeno de "shuttle", dificultam as aplicações de baterias recarregáveis à base de Se.

Diversas abordagens têm sido sugeridas para resolver esses problemas. Por exemplo, um estudo desenvolvido para uma bateria potássio-selênio (K-Se) utilizou um composto confinado de selênio/carbono-policarbonitrilo carbonizado (c-PAN-Se) como cátodo e potássio metálico como ânodo. A bateria K-Se desenvolvida mostrou uma capacidade reversível de 1904 mAh cm−3 após 100 ciclos a 0,2 C e uma retenção de taxa de 89% de 0,1 para 2 C. Outro trabalho demonstrou a importância de ligas de metal líquido contendo WSe2, que, por meio de coordenação e técnicas de adsorção eletrostática, melhoraram o desempenho eletroquímico ao longo de ciclos repetidos de inserção e extração de íons de lítio. A ligas melhoraram a capacidade de reparo de áreas fraturadas na superfície do material de eletrodo e reduziram os processos de oxidação-redução internos. Esses materiais compostos mantiveram uma capacidade de 224,5 mAh g−1 após 500 ciclos a uma densidade de corrente de 1 A g−1.

Em resumo, o desenvolvimento de materiais à base de calcogênios oferece um vasto potencial para a próxima geração de baterias, particularmente em baterias de metal líquido, onde as propriedades únicas desses materiais podem ser totalmente exploradas. Com a evolução das técnicas de síntese e a melhoria contínua da compreensão da estrutura atômica e das interações atômicas nesses materiais, o desempenho das baterias pode ser otimizado, levando a soluções mais eficientes e duráveis para armazenamento de energia.

Como as Baterias de Metal Líquido (LMBs) Estão Transformando o Armazenamento de Energia em Grande Escala

As baterias de metal líquido (LMBs) representam uma inovação significativa nas tecnologias de armazenamento de energia, oferecendo vantagens cruciais para aplicações que exigem alta capacidade, longa vida útil e escalabilidade. Um dos aspectos que tornam essas baterias tão interessantes é a sua configuração de três camadas, que se baseia na diferenciação de densidade entre os materiais utilizados. Este design permite a separação natural das camadas líquidas durante os ciclos de carga e descarga, um processo essencial para a manutenção da estabilidade e eficiência da bateria.

No interior de uma célula LMB, a camada superior é composta por um ânodo de metal líquido de baixa densidade e baixa eletronegatividade. No meio, encontra-se o eletrólito fundido, que atua como um condutor iônico entre o ânodo e o cátodo. Por fim, a camada inferior é formada por um cátodo de metal líquido de alta densidade e maior eletronegatividade. Quando a bateria está em funcionamento, o ânodo de metal líquido sofre oxidação, liberando cátions metálicos e elétrons. Esses cátions se movem através do eletrólito e reduzem o cátodo, formando uma liga líquida entre o ânodo e o cátodo durante o processo de descarga. No processo de recarga, essas reações se invertem, restaurando a bateria ao seu estado original.

Esse princípio de funcionamento permite que as LMBs se destaquem pela sua capacidade de operar em temperaturas elevadas, muitas vezes acima de 350°C. Embora as altas temperaturas possam representar desafios, como o aumento das taxas de corrosão e a necessidade de uma gestão térmica rigorosa, elas também conferem várias vantagens a essas baterias. As LMBs têm custos relativamente baixos devido ao uso de eletrólitos inorgânicos baratos, como sais de magnésio, e sua capacidade de escalar facilmente para atender a necessidades de armazenamento de energia em larga escala.

A pesquisa inicial focou na combinação de materiais como o magnésio e o antimônio (Mg-Sb) para os ânodos e cátodos. A escolha do antimônio se mostrou vantajosa, pois é mais abundante e econômico em comparação com outros metais como o bismuto e o telúrio. Além disso, o magnésio foi escolhido devido ao seu baixo custo, alta abundância, baixa eletronegatividade e compatibilidade com o antimônio e o eletrólito. Um dos experimentos mais notáveis na área resultou em uma célula Mg-Sb que foi capaz de operar a um custo de $230 por kWh, o que estimulou ainda mais o interesse na pesquisa e desenvolvimento de LMBs.

Entretanto, os desafios relacionados ao uso de metais líquidos e altas temperaturas não foram completamente superados. O manuseio térmico e a corrosão de componentes ativos continuam sendo questões cruciais. Além disso, o controle da reatividade dos metais líquidos com os eletrólitos também é uma área de pesquisa importante, pois isso afeta diretamente a reversibilidade das reações eletroquímicas.

Nos últimos anos, a pesquisa tem se concentrado na redução da temperatura de operação das LMBs. Isso levou ao desenvolvimento de metais líquidos como o galium (Ga) e suas ligas, bem como ligas líquidas de sódio e potássio (Na-K), que podem operar em temperaturas mais baixas, em torno de 0-40°C. Entre essas alternativas, os metais líquidos à base de galium apresentam promessas consideráveis, devido à sua segurança e potencial moderado. Apesar dessas promessas, os LMBs de temperatura ambiente ainda enfrentam desafios relacionados à reatividade dos metais líquidos com os eletrólitos, o que limita sua reversibilidade e eficiência.

Além disso, as baterias de metal líquido apresentam algumas características notáveis que as diferenciam de outras tecnologias de baterias. A principal delas é sua capacidade de "autocura". Devido à natureza líquida dos componentes, as LMBs têm a capacidade de corrigir imperfeições físicas ou danos durante o uso, o que pode resultar em uma vida útil prolongada. Esse aspecto torna as LMBs particularmente interessantes para aplicações em larga escala, como o armazenamento de energia em redes elétricas, onde a durabilidade e a confiabilidade são de suma importância.

Outro ponto importante é que as LMBs podem ser dimensionadas para criar pacotes de baterias maiores. Esse recurso de escalabilidade permite que as células individuais sejam empilhadas e conectadas para formar sistemas maiores, atendendo às demandas crescentes de armazenamento de energia de grande escala. Isso abre um leque de possibilidades para a utilização de LMBs em projetos de armazenamento de energia renovável, como em parques solares e eólicos, onde a capacidade de armazenar grandes quantidades de energia é essencial para garantir o fornecimento contínuo.

Por fim, é importante notar que, apesar de todo o progresso alcançado, as LMBs ainda estão longe de ser uma solução totalmente madura para todos os problemas relacionados ao armazenamento de energia. A pesquisa continua a explorar diferentes combinações de materiais e métodos para otimizar o desempenho das baterias, melhorar sua eficiência e reduzir seus custos de produção. As próximas décadas provavelmente testemunharão avanços significativos nesta área, com o potencial de transformar a maneira como armazenamos e utilizamos a energia em uma escala global.