A estimulação bilateral, um conceito essencial na prática de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Meio de Movimento Ocular), baseia-se na alternância rítmica entre os hemisférios cerebrais, criando um fluxo de movimento que remete ao que experimentamos desde o início de nossa vida, no útero. Desde o primeiro som que escutamos, o batimento cardíaco da nossa mãe, até o ritmo da nossa respiração, a estimulação bilateral é uma linguagem que o corpo já conhece de forma intuitiva. Ela proporciona não apenas um senso de relaxamento, mas também auxilia na redução do estresse e da ansiedade, melhorando a concentração e diminuindo a tendência do corpo a reagir impulsivamente com as respostas de luta, fuga ou paralisia.
A estimulação bilateral não tem um "jeito certo" de ser feita, o que permite uma flexibilidade enorme para que você adapte a técnica de acordo com o que se sente mais confortável. Experimentar diferentes formas, como bater os pés de forma alternada ou usar um movimento suave das mãos, pode ser uma forma eficaz de encontrar o ritmo que melhor ressoa com seu corpo e mente. O objetivo é promover uma sensação de calma, estimulando, de maneira rítmica e controlada, ambos os hemisférios do cérebro.
Para começar, pratique os seguintes passos simples para avaliar o efeito calmante da estimulação bilateral:
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Escolha uma forma de estimulação bilateral. Teste diferentes formas para descobrir qual delas é mais confortável para você. Talvez seja necessário experimentar por alguns segundos cada uma delas até que encontre a mais eficaz.
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Combine com respiração. Inicie a forma escolhida de estimulação bilateral e continue por cerca de 30 a 45 segundos, enquanto respira profundamente, inspirando pelo nariz e expirando pela boca. Ao final do tempo escolhido, pare a estimulação. Essa prática pode ser ajustada de acordo com o tempo que você achar necessário para sentir o relaxamento.
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Verifique o impacto. Após praticar, observe como seu corpo e mente reagem. Você se sente mais calmo? Sua mente está mais clara e focada? Essa avaliação pessoal é fundamental para acompanhar os efeitos da estimulação bilateral ao longo do tempo.
Com a prática regular da estimulação bilateral, você começará a perceber um efeito calmante cada vez mais significativo. A chave está na paciência, pois o desenvolvimento dessa habilidade demanda consistência e tempo. Importante também é saber que, caso surjam reações negativas ou sentimentos de insegurança, é recomendável interromper a prática e buscar orientação com um profissional especializado em EMDR.
Além de ser uma ferramenta poderosa para o relaxamento, a estimulação bilateral também tem o potencial de enriquecer as experiências positivas, ampliando a vividez de memórias agradáveis e ajudando a fortalecer pensamentos e sentimentos construtivos. Ao praticar essa técnica enquanto evoca lembranças positivas, você pode transformar e aprofundar a percepção dessas experiências, criando um ciclo de reforço positivo no cérebro. Ao contrário do que ocorre com os pensamentos e sentimentos negativos, que tendem a se fixar e a gerar respostas de estresse, os positivos podem ser ampliados e vivenciados com mais clareza e intensidade.
O uso da estimulação bilateral também é uma ferramenta útil quando se busca superar bloqueios emocionais. É comum que, em momentos de estresse ou quando enfrentamos informações difíceis de processar, a mente se sinta "presa". Esse processo de estagnação pode ocorrer porque o cérebro, ao lidar com emoções intensas, ativa sua defesa, levando à evasão dos sentimentos dolorosos. A estimulação bilateral atua justamente para ajudar o indivíduo a "destravar" esse processo, permitindo que ele avance de maneira mais fluida na exploração e resolução de questões internas.
Quando lidamos com informações difíceis ou traumas do passado, o impacto emocional pode ser avassalador, desregulando o sistema nervoso e tornando as emoções e pensamentos mais difíceis de controlar. Nesse contexto, o EMDR e a estimulação bilateral oferecem suporte importante para retornar ao estado de equilíbrio. Contudo, é essencial que esse processo seja acompanhado por um profissional capacitado, para garantir que o trabalho com as emoções seja feito de forma segura e progressiva.
A dificuldade de encontrar momentos de calma pode ser um reflexo de uma desregulação do sistema nervoso. Muitas vezes, quando nossa história de vida é marcada por experiências difíceis, o corpo se torna excessivamente vigilante, sempre em busca de possíveis ameaças. A prática de técnicas como a estimulação bilateral pode ajudar a restaurar essa sensação de calma, permitindo que o corpo se ajuste novamente ao estado de equilíbrio natural. Esse processo não é imediato e requer tempo e prática. No entanto, ao se envolver de forma consciente com o próprio corpo e mente, você começa a descobrir que momentos de tranquilidade podem ser alcançados de maneira gradativa.
É importante entender que, muitas vezes, nossa percepção sobre o que significa relaxamento pode estar impregnada de expectativas irreais. À medida que praticamos a estimulação bilateral e outras técnicas de regulação, podemos nos deparar com resistências internas, que manifestam sentimentos de desconforto ou a sensação de que não estamos "fazendo certo". Esses momentos de frustração são normais e fazem parte do processo de adaptação. O importante é não desistir e permitir-se vivenciar essas emoções, entendendo que o caminho para o equilíbrio emocional exige perseverança.
Como Usar o Exercício do Contêiner para Controlar Emoções e Pensamentos
O exercício do contêiner é uma ferramenta poderosa que pode ser utilizada tanto em sessões de EMDR quanto fora delas, sempre que você se sentir angustiado, tiver emoções indesejadas, flashbacks ou qualquer outro tipo de perturbação emocional. Seu objetivo não é afastar permanentemente esses sentimentos, mas proporcionar uma pausa temporária, permitindo que você se distancie desses estados emocionais sem, no entanto, suprimí-los completamente. Ele serve como uma forma de dar espaço à mente para se reorganizar antes de revisitar o conteúdo emocional de maneira mais controlada.
Ao praticar o exercício do contêiner, você está essencialmente aprendendo a controlar seus pensamentos e a mudar o estado de sua mente. No início, pode ser desafiador, mas com a prática, se tornará cada vez mais fácil. É recomendável incluir essa prática em sua rotina diária, pois a regularidade a tornará mais eficaz.
Para utilizar o contêiner de forma eficaz, é necessário primeiro definir o que ele será. Pense no objeto que você usará como "contêiner". Feche os olhos ou use uma imagem visual para ajudá-lo a visualizar e detalhar esse contêiner. Pergunte-se: qual a cor dele? Como é a sua textura? Do que é feito? Ele é seguro? Pode ser fechado ou trancado? Existe alguma maneira de expandi-lo ou ele tem um limite para o que pode conter? Esses detalhes são importantes porque ajudam a criar uma sensação de segurança e controle, fundamentais para que o contêiner funcione de maneira eficaz.
Após definir a imagem do seu contêiner, adicione a estimulação bilateral. Esse tipo de estímulo, como descrito no Capítulo 6, ajuda a integrar mais profundamente a atividade cerebral e nervosa, proporcionando maior sucesso no controle dos seus pensamentos. Isso é especialmente importante quando você está lidando com emoções ou pensamentos difíceis. Ao realizar esse exercício, se concentre nos detalhes do seu contêiner enquanto realiza a estimulação bilateral. Observe sua forma, tamanho, textura e sensação de segurança que ele transmite. Ao fazer isso, você está criando uma memória emocional do contêiner que, com o tempo, será cada vez mais fácil acessar quando necessário.
Uma vez que você tenha criado uma imagem clara e detalhada do seu contêiner, o próximo passo é usá-lo para armazenar suas emoções ou pensamentos desconfortáveis. Pense nas situações que gostaria de "guardar" por um tempo – sejam elas emoções, memórias difíceis ou até mesmo pessoas com quem você tem dificuldade de lidar. Ao colocar esses itens no seu contêiner, você pode sentir a necessidade de fazer isso aos poucos, fragmentando o que é mais desafiador. Isso é perfeitamente normal e pode ser útil para desacelerar o processo mental e dar mais foco a cada detalhe.
Após colocar tudo que precisa no contêiner, visualize-o sendo fechado, lacrado ou até trancado, conforme o que você imaginou. Esse fechamento simbólico ajuda a garantir que, por enquanto, você está guardando essas questões, permitindo que se concentre em outras áreas de sua vida sem estar sobrecarregado. Respire profundamente, pare a estimulação bilateral e perceba como se sente. A prática desse exercício regularmente pode proporcionar mudanças subtis, mas significativas, em como você lida com emoções intensas ou desconfortáveis.
Além disso, se você tiver dificuldades em colocar todas as suas emoções ou pensamentos dentro do contêiner de uma vez, não se preocupe. Pode ser útil dividir esses sentimentos em fragmentos e colocar um por um dentro do contêiner, ao invés de tentar lidar com tudo de uma vez. Esse processo de fragmentação ajuda a criar um espaço seguro e organizado dentro da mente, facilitando o controle e a gestão emocional.
Se estiver fazendo esse exercício dentro de uma sessão de EMDR, seu terapeuta também pode ajudá-lo a usar o contêiner para armazenar grandes emoções ou memórias que surgem durante o processo de tratamento. Esse processo de "guardar" emoções no contêiner pode ser especialmente útil se a sessão precisar ser encerrada antes que o problema tenha sido totalmente trabalhado, pois permite que você saia da sessão com uma sensação de segurança e controle.
Por fim, o exercício do contêiner não é uma forma de evitar os problemas, mas de aprender a lidar com eles de uma maneira mais saudável. Ele oferece uma pausa emocional necessária, permitindo que a mente se recupere e se prepare para enfrentar esses desafios de maneira mais equilibrada e consciente.
Como Identificar o Alvo e Sua "Parte Pior" em um Processo Terapêutico
Ao iniciar um processo terapêutico, especialmente em abordagens como o EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares), é essencial que o terapeuta e o paciente escolham um alvo específico para trabalhar. Esse alvo pode ser uma memória ou um evento traumático que tenha gerado sofrimento. O objetivo inicial é identificar o ponto mais crítico dessa experiência, conhecido como "parte pior", que é o momento ou elemento que causa maior dor ou sofrimento emocional.
A tarefa do terapeuta é guiar o paciente na busca por essa parte mais dolorosa, que geralmente está associada a crenças limitantes e à forma como a pessoa interpreta aquele evento. Encontrar essa "parte pior" é um processo crucial porque permite que o reprocessamento seja mais eficaz. Trata-se de um foco, uma ancoragem emocional que, ao ser reprocessada, pode aliviar a intensidade do sofrimento associado.
No entanto, identificar o "pior" não é uma tarefa simples. Muitas vezes, a memória traumática pode ser difusa, com vários momentos negativos misturados, ou até mesmo desconectados. Portanto, é importante que o paciente se concentre não apenas no evento em si, mas também no impacto emocional e corporal que ele continua a ter. O que é mais doloroso? O que vem à mente quando se pensa naquele evento? O que é sentido fisicamente no corpo? A tensão, o aperto no peito ou o nó no estômago podem ser sinais de que a "parte pior" foi identificada.
Ao trabalhar com esses momentos, é necessário também examinar o significado que a pessoa atribui a essas experiências. A interpretação pessoal de um evento — ou seja, a crença negativa que se formou a partir desse evento — desempenha um papel central no sofrimento. Para que o trabalho terapêutico seja completo, é preciso compreender a crença negativa associada à memória, como por exemplo, “não sou bom o suficiente” ou “o mundo é perigoso”. Esta crença muitas vezes é reforçada ao longo da vida, criando um ciclo de sofrimento.
Mas, para cada crença negativa, existe uma crença positiva em potencial. Uma vez identificada a crença negativa, é necessário trabalhar para cultivar e fortalecer uma crença positiva que contraponha a negatividade. A pessoa precisa acreditar que existe uma maneira de superar essa dor e adquirir uma nova perspectiva. Esse é um dos processos terapêuticos mais poderosos, pois permite que a pessoa reescreva a narrativa interna e passe a olhar para a vida com mais esperança e resiliência.
Além disso, ao realizar esse processo, é fundamental que o terapeuta ajude o paciente a reconhecer os efeitos dessa memória em seu corpo. Como é que a "parte pior" se manifesta fisicamente? O estresse, a tensão e as reações somáticas são sinais de que o sistema nervoso está ainda processando a experiência de forma negativa. Assim, estar atento a essas respostas corporais pode ser uma maneira importante de medir o progresso e a eficácia da terapia.
A intensidade do desconforto também precisa ser monitorada. Isso é importante não apenas para determinar o sucesso do reprocessamento, mas também para garantir que o paciente não se sobrecarregue emocionalmente durante a terapia. Quanto mais intenso o distúrbio emocional, mais importante é proceder com cuidado, garantindo que cada etapa seja bem assimilada.
Após identificar a parte mais dolorosa e trabalhar a crença negativa, o próximo passo é realizar uma avaliação do impacto dessa memória no presente. Isso inclui perceber como o evento continua a afetar as emoções, o comportamento e a percepção do indivíduo. Este reconhecimento ajuda a dar forma ao novo caminho que o paciente seguirá, no qual poderá se desprender dos efeitos negativos de sua história e adotar uma nova postura diante da vida.
No processo de reprocessamento, a técnica de estimulação bilateral, usada no EMDR, ajuda a desbloquear o processamento emocional. Durante este processo, a pessoa não deve reviver a experiência, mas apenas notar as mudanças em suas emoções e pensamentos, de forma a permitir a integração dessa nova experiência no seu modo de viver. Esse "não reviver" é crucial, pois impede que o paciente se sinta sobrecarregado novamente pelas emoções associadas ao trauma.
Para que o processo tenha efeito duradouro, também é importante acompanhar a evolução do paciente, reconhecendo os sinais de progresso. Isso envolve observar mudanças nas emoções, no comportamento e na forma como o paciente interage com o mundo. Reconhecer esses avanços, por menores que sejam, é um componente chave para consolidar as transformações ocorridas durante o tratamento.
O ponto mais importante a ser entendido durante esse processo é que o foco do trabalho terapêutico não deve ser a memória em si, mas a sua representação emocional e as crenças que ela gerou. O objetivo é alterar essa representação para que a experiência não continue a ter um impacto negativo no presente. A mudança verdadeira acontece quando a memória é reprocessada e a pessoa consegue olhar para o passado sem ser refém dele.
Como Lidar com os Protetores Internos: Compreendendo as Partes Que Surgem em Resposta ao Trauma
Os protetores internos, de acordo com a Terapia dos Sistemas Familiares Internos (IFS) desenvolvida por Richard Schwartz, são partes de nós mesmos que se formam em resposta ao trauma, com o objetivo de nos proteger de dor emocional, medo ou outros tipos de sofrimento. Essas partes são essenciais para nossa sobrevivência psicológica, e muitas vezes não são reconhecidas, ou até mesmo compreendidas, de forma justa. No entanto, ao começarmos a entender o papel que essas partes desempenham, podemos transformar nossas reações automáticas em recursos poderosos, facilitando a cura e o autoconhecimento.
Dentro dessa estrutura de proteção, existem dois tipos principais de partes: os "gerentes" e os "bombeiros". Ambas as partes têm a função de evitar que as emoções dolorosas ou os traumas sejam vivenciados diretamente, mas o fazem de maneiras diferentes.
As partes "gerentes" são reativas e proativas, tentando evitar qualquer situação ou interação que possa desencadear emoções difíceis. Elas se manifestam de várias formas, como sendo excessivamente analíticas, críticas ou controladoras, com uma alta expectativa sobre o próprio comportamento e ações. Esse tipo de parte pode também ser caracterizado pela tendência a evitar a proximidade com os outros, além de gerar sentimentos de ansiedade ou insegurança. A principal característica do gerente é o desejo de prevenir que qualquer sensação de dor ou desconforto se manifeste.
Por outro lado, as partes "bombeiros" entram em ação de maneira reativa quando as emoções ou os gatilhos se tornam insuportáveis. Elas tentam apagar ou suprimir os sentimentos emergentes, levando o indivíduo a comportamentos impulsivos como o abuso de substâncias, distúrbios compulsivos, dissociação ou até mesmo autoagressão. As ações dos bombeiros buscam, de alguma forma, fazer com que as emoções dolorosas se dissipem, retornando ao estado inicial de "segurança". Um exemplo disso seria uma pessoa, ao ser desencadeada por algo emocionalmente forte, buscar um alívio temporário por meio do álcool, o que, para o bombeiro, é uma tentativa de apagar a dor momentânea.
Embora ambos os tipos de protetores possam usar os mesmos comportamentos, a diferença está em seus objetivos. Enquanto o gerente tenta evitar que a dor surja, o bombeiro tenta apagá-la quando já se manifesta. Esta dinâmica ilustra a complexidade do funcionamento das partes protetoras, que buscam, em última instância, preservar o bem-estar emocional da pessoa, embora frequentemente por meio de métodos que acabam sendo prejudiciais a longo prazo.
Esses protetores carregam uma responsabilidade enorme: eles foram criados para nos proteger de feridas profundas e sentimentos difíceis. Muitas vezes, isso leva a uma sensação constante de estar em modo de sobrevivência, e essa pressão pode se traduzir em cansaço físico e emocional. A resistência, portanto, não é algo que deva ser ignorado. Quando um protetor se manifesta, isso é um sinal claro de que há uma necessidade de proteção, um mecanismo defensivo que foi ativado. Reconhecer e acolher essas partes com compaixão é essencial para poder integrá-las de maneira mais saudável.
Para começar a trabalhar com esses protetores internos, é importante reconhecer as motivações que os alimentam. Esses comportamentos reativos surgem de medos antigos, como o medo de ser rejeitado, o medo da dor emocional ou a tentativa de evitar algo ainda pior. O trabalho de conscientização e aceitação desses protetores pode permitir que a pessoa compreenda melhor os próprios limites e necessidades, além de dar espaço para que o processo de cura aconteça de forma mais profunda e eficaz. A empatia e o respeito por essas partes, longe de representarem uma negação da dor ou do sofrimento, são o primeiro passo para a liberação de padrões que já não são mais necessários.
Em momentos de trabalho terapêutico, como no uso da técnica EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares), é importante ter em mente que, embora as partes protetoras sejam muitas vezes responsáveis por nossas reações mais intensas e dramáticas, elas também desempenham um papel fundamental em nossa sobrevivência. Elas não devem ser atacadas ou suprimidas, mas, sim, compreendidas e respeitadas. O reconhecimento das intenções positivas dessas partes é um passo crucial para a transformação dessas reações, que podem, ao serem trabalhadas adequadamente, se converter em forças de apoio e cura.
Aprofundar-se no entendimento dessas partes pode envolver a exploração de questões como: qual imagem ou pensamento surge quando você considera essa parte protetora em você? O que você diz para si mesmo quando se encontra nesse estado de defesa? Essas questões ajudam a estabelecer uma comunicação com essas partes e começam o processo de cura. A prática da gratidão, ao reconhecer o esforço e a responsabilidade dessas partes, também é um passo importante, pois ajuda a suavizar o julgamento que frequentemente se coloca sobre elas.
Porém, trabalhar com protetores internos não significa apenas reconhecer suas intenções e necessidades. Também envolve a disposição para ir além da superficialidade das respostas e explorar as camadas emocionais mais profundas. O medo que eles sentem, as preocupações que carregam e, principalmente, os sacrifícios feitos em nome da proteção, são pontos que merecem ser reconhecidos e honrados. O alívio não virá de uma abordagem punitiva, mas da aceitação plena e do entendimento de que essas partes, por mais difíceis que possam ser, agem de maneira a nos manter "seguros", ainda que de forma disfuncional.
Ao iniciar este processo, o mais importante é garantir que as partes protetoras se sintam ouvidas, respeitadas e reconhecidas. O caminho para a cura está em ouvir o que essas partes têm a dizer e acolher suas necessidades, sem pressa de descartá-las ou ignorá-las. O processo de integração dessas partes leva tempo, paciência e muita compaixão consigo mesmo. Ao permitir-se entender essas facetas do seu ser, você abre espaço para um novo tipo de reação, mais saudável e mais consciente, que finalmente poderá substituir os mecanismos de defesa automáticos por formas de resposta mais adaptativas e equilibradas.
Como Lidar com o Estresse Corporal: Técnicas e Estratégias de Regulação para Gerenciar a Dor e o Estresse
Respire profundamente, sentindo o ar entrando e saindo do seu corpo, enquanto dedica um momento para refletir sobre o que percebe em seu corpo. Caso tenha dificuldades em conectar-se com seus sentimentos e emoções, tente usar o exercício anterior para ajudar a se conectar com as sensações físicas que está vivenciando. A abordagem de "atingir o estresse no seu corpo" envolve não apenas focar na sensação, mas também identificar os estressores associados a ela. Dentro da EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimento Ocular), é essencial que você trabalhe com cada um desses estressores de forma individualizada.
Quando você se propõe a lidar com o estresse corporal, deve se aproximar dele de maneira mais íntima. No entanto, antes de iniciar esse processo, é necessário garantir que você possua habilidades que ajudem a acalmar e regular seu sistema nervoso, caso sinta-se sobrecarregado. O foco na respiração é uma das formas mais rápidas de ativar o sistema nervoso para que entre no estado de descanso e digestão. Se em algum momento, durante o processo EMDR, você se sentir excessivamente angustiado, pode recorrer a uma das três técnicas respiratórias (nasal, diafragmática ou respiração 3-4-5) explicadas no Capítulo 2. Independentemente do exercício respiratório que você escolher, adapte-o conforme necessário, levando em consideração quaisquer limitações respiratórias. Essas práticas de respiração devem ser usadas frequentemente para ajudar a regular e acalmar quando o estresse começar a tomar conta.
Após estabelecer estratégias eficazes de regulação, você pode passar a focar no estresse de seu corpo, identificando aspectos específicos dessa experiência durante suas sessões de EMDR. Segundo Francine Shapiro, autora de "Eye Movement Desensitization and Reprocessing" (2018), quanto mais completo for o trabalho de targeting (identificação e reprocessamento) de cada um desses aspectos, maior será o alívio proporcionado da dor ou do estresse:
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O evento inicial que gerou a dor ou estresse, ou o que levou a isso
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Sua primeira experiência com a dor ou estresse
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Memórias específicas associadas a esse estresse
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Limitações causadas por esse estresse em sua vida
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Como os outros têm tratado você devido ao estresse ou dor
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Sensações de dor físicas e como se relacionam ao estresse
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Medos futuros relacionados à dor ou estresse
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Sua percepção de si mesmo, conforme ligado a essa dor ou estresse
A cada um desses aspectos, é importante que você escolha uma cognição ou crença positiva para trabalhar, como "Meu corpo é capaz de me curar" ou "Eu tenho força dentro de mim". Lembre-se de discutir isso com seu terapeuta durante a aplicação do EMDR, enquanto trabalha com esses aspectos do estresse ou da dor. Mais informações sobre esse processo podem ser encontradas nos Capítulos 10 e 11.
Porém, em alguns momentos, aproximar-se muito das sensações físicas ou emocionais pode ser avassalador. Quando a dor ou o estresse são intensos, pode parecer que até pensar em enfrentá-los diretamente pode ser desregulador. Caso se identifique com essa sensação, saiba que ainda é possível lidar com o estresse e a dor de maneira segura e controlada. O conceito aqui não é evitar a dor, mas usar estratégias de distanciamento para lidar com ela sem ser consumido por ela.
Essa abordagem pode ser comparada a um cientista que coleta e observa dados, ou seja, você aprende a se distanciar da dor e do estresse, sem necessariamente se expor diretamente a eles. O distanciamento permite que você observe suas emoções e dores de maneira mais controlada e investigativa, ao invés de ser dominado por elas.
Para começar, tente visualizar uma dor física ou um estresse emocional que você está sentindo e que teme enfrentar. Pergunte-se: onde essa dor ou estresse se manifesta em seu corpo? Como você sabe que ela está lá? Descreva-a. Qual é seu tamanho, ela parece grande ou pequena? Ela tem algum formato? Como a dor ou estresse se move ou muda em seu corpo? Sente que ela cresce lentamente, como se fosse uma areia movediça, ou expande-se rapidamente, como um raio? Está associada a alguma temperatura, quente, fria ou morna?
Essas perguntas ajudam a criar uma representação mais clara da dor e do estresse, permitindo que você os explore de maneira mais acessível. Ao combinar essa técnica com estimulação bilateral (veja a seção a seguir), é possível aprofundar ainda mais o seu entendimento.
A estimulação bilateral tem um papel importante nesse processo. Estimular alternadamente o lado direito e o lado esquerdo do corpo ajuda a induzir uma sensação de relaxamento, ativando o sistema nervoso de uma maneira que favorece o equilíbrio e o bem-estar. Essa técnica pode ser aplicada de várias formas, como movimentos oculares, abraço de borboleta, batidas alternadas nos pés ou escuta de batidas binaurais. Essas práticas estimulam o sistema nervoso e ajudam a alcançar um estado harmônico de relaxamento.
Ao combinar a estimulação bilateral com as técnicas de gestão da dor e do estresse, você pode explorar suas sensações físicas e reduzir a sobrecarga que sente. Se ainda não estiver familiarizado com o uso da estimulação bilateral, consulte o Capítulo 6 para aprender como aplicá-la adequadamente.
Para trabalhar com sua dor ou estresse, siga estas etapas:
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Traga à mente a dor ou o estresse que você deseja explorar.
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Respire profundamente enquanto começa a estimulação bilateral.
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Observe onde essa dor ou estresse se manifesta no seu corpo.
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Sinta como ela se apresenta: qual seu tamanho, forma e movimento?
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Tente identificar a temperatura associada à dor ou estresse.
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Envolva-se com a sensação, pensando o que gostaria de fazer com ela (por exemplo, imaginar como dissipá-la, dissolvê-la, etc.).
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Respire profundamente e interrompa a estimulação bilateral. Observe as mudanças que ocorreram.
Essa prática pode ser repetida sempre que você sentir a necessidade de lidar com seu estresse ou dor de forma mais equilibrada. Muitas pessoas acham útil visualizar a transformação da dor ou estresse, por exemplo, respirando-os para fora ou dissolvendo-os. A estimulação bilateral vai reforçar esses sentimentos e ajudar a regular a resposta do seu corpo.
A técnica de tolerância a afeto é uma ferramenta valiosa para lidar com estados emocionais difíceis, como a dor e o estresse, permitindo que você os explore de forma segura e gradual.

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