As distorções, rumores, inverdades, desinformações e difamações, coletivamente chamadas de DRUMS (Distortions, Rumours, Untruths, Misinformation and Smears), têm se tornado onipresentes no ambiente digital, caracterizando-se por uma série de fenômenos interligados, mas sem uma essência comum que os una completamente. Essa variedade de formas pode ser observada como uma rede de semelhanças sobrepostas, um conceito que remonta à teoria do "reconhecimento familiar" proposta por Ludwig Wittgenstein. Cada um desses fenômenos pode assumir uma forma distinta, mas todos compartilham a capacidade de enganar, confundir e prejudicar a sociedade. Em vez de uma única característica que os define, eles se conectam através de várias semelhanças, sem que haja uma essência única e universal. Para entender como esses fenômenos impactam a sociedade, é útil dividi-los em seis categorias, que variam de acordo com o grau de ameaça que representam.
A primeira categoria é talvez a mais ameaçadora: as mentiras distribuídas deliberadamente para subverter a sociedade. Essas são parte de campanhas de desinformação organizadas, que buscam minar as instituições democráticas, como eleições, e gerar desconfiança em torno das autoridades estabelecidas. Um exemplo claro disso pode ser observado nas operações de influência de países como a Rússia, que têm realizado campanhas de desinformação para desestabilizar governos e eleições em diversas partes do mundo, como nas repúblicas bálticas, na Europa Central, na França e nos Estados Unidos.
A segunda categoria envolve a criação de inverdades com o objetivo de obter lucro financeiro, como no caso das "casas de desinformação" da Macedônia que, durante as eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016, fabricaram histórias falsas para atrair tráfego e gerar receitas publicitárias. Essas histórias não tinham uma agenda política específica, mas o impacto delas na sociedade foi igualmente prejudicial, pois contribuíram para a desinformação em massa e a polarização.
A terceira categoria refere-se à desinformação gerada por jornalistas que atuam de maneira imprudente ou negligente. Esse tipo de erro, embora não tenha intenções malévolas, pode ter consequências devastadoras, como ocorreu no caso do jornal britânico The Sun, que publicou inverdades sobre os fãs do Liverpool durante a tragédia de Hillsborough em 1989. Nesse caso, a imprensa, movida pela pressão de se distanciar de um incidente vergonhoso envolvendo a polícia, propagou mentiras que mancharam a reputação de muitas pessoas e geraram um enorme sofrimento.
A quarta categoria trata da distorção de fatos para fins políticos. Um exemplo recente disso é a retórica de Donald Trump, que rotulou qualquer notícia que o contradissesse como "notícia falsa", sem se importar com os fatos subjacentes. Além disso, durante o referendo do Brexit no Reino Unido, os defensores da saída da União Europeia recorreram a táticas de manipulação de dados, como alegações exageradas de que o país perderia imensas quantias de dinheiro ao pagar à União Europeia, ou que seria invadido por refugiados e imigrantes.
A quinta categoria refere-se à interpretação divergente dos mesmos fatos, baseada em vieses ideológicos. A maneira como diferentes grupos políticos percebem e discutem os mesmos eventos pode ser profundamente influenciada por suas crenças ideológicas, levando a versões completamente opostas dos mesmos acontecimentos. Por exemplo, um conservador pode ver uma nova lei de imigração como uma medida positiva para a segurança nacional, enquanto um liberal pode vê-la como uma violação dos direitos humanos.
A sexta e última categoria refere-se à criação de histórias falsas para fins de entretenimento ou sátira. Embora muitas vezes inofensivas, essas histórias podem ser interpretadas como verdadeiras por pessoas desavisadas, como aconteceu quando o The Onion, um site satírico, publicou uma notícia falsa sobre o líder norte-coreano Kim Jong Un sendo eleito o homem mais sexy de 2012, o que foi posteriormente repassado por meios de comunicação oficiais da China como uma história verdadeira.
Entre todas essas categorias, as mentiras deliberadamente espalhadas para subverter a sociedade, nas categorias 1 e 2, são as mais perigosas. Elas têm o potencial de destruir a confiança pública, enfraquecer as democracias e, em casos extremos, até provocar conflitos. Por outro lado, categorias como a desinformação proveniente do jornalismo descuidado (categoria 3) ou as diferenças interpretativas baseadas em vieses ideológicos (categoria 5) são mais difíceis de combater, já que muitas vezes não envolvem má-fé, mas sim uma discrepância nas interpretações da realidade. No entanto, isso não significa que devamos ignorar essas formas de desinformação, pois elas também podem ter um impacto negativo na forma como as sociedades lidam com questões públicas.
A criação de fake news para fins satíricos (categoria 6) pode ser vista com maior leveza, mas também não deve ser subestimada. Quando alguém acredita em uma piada como se fosse um fato verdadeiro, isso demonstra a vulnerabilidade das pessoas à desinformação e à manipulação, mesmo quando não há intenção de enganar.
É fundamental que, ao lidar com qualquer uma dessas formas de desinformação, a sociedade compreenda que as consequências podem ser amplas e imprevisíveis. O impacto de notícias falsas não se limita apenas à propagação de informações incorretas, mas também pode afetar a confiança nas instituições, desestabilizar relações sociais e exacerbar divisões políticas. Por isso, é essencial desenvolver uma abordagem crítica em relação às informações consumidas, estar atento às fontes de notícias e entender como os diferentes tipos de desinformação podem moldar o nosso entendimento do mundo.
Como a Rússia Está Moldando a Opinião Pública na Europa: Lições do Impacto das Operações de Desinformação
A Rússia tem demonstrado uma capacidade alarmante de influenciar os processos eleitorais e a opinião pública na Europa, utilizando táticas de desinformação e manipulação digital de forma precisa e bem planejada. A recente experiência da França, por exemplo, evidenciou um padrão claro de como as operações de influência são conduzidas. No caso francês, o Kremlin recorreu ao mesmo modus operandi utilizado nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016: hacking, divulgação de e-mails e documentos alterados pouco antes da data eleitoral. Essa estratégia não foi apenas uma tentativa de minar a confiança pública nas instituições democráticas, mas também um esforço direto para afetar os resultados eleitorais. A gravidade do impacto dessas ações pode ser medida pela natureza da desinformação disseminada e o tempo estratégico de sua liberação.
O que é ainda mais significativo é que a Rússia não cometeu o mesmo erro duas vezes. A flexibilidade da guerra da informação permite que o Kremlin evolua e adapte suas táticas com rapidez e criatividade. Isso sugere que se a Rússia tivesse tentado usar os mesmos métodos na Alemanha, a resposta poderia ter sido igualmente eficaz. Contudo, a natureza interconectada das infraestruturas de segurança e informação na Europa exige que as nações do continente, em conjunto, se preparem para defender suas democracias e valores contra essas ameaças cada vez mais sofisticadas.
Países da Europa Ocidental, especialmente aqueles como a França e a Alemanha, agora estão mais conscientes do alcance e da profundidade dessas operações, e a colaboração internacional se tornou essencial para o sucesso de qualquer resposta eficaz. A cooperação entre estados, sociedade civil e setor privado deve ser a pedra angular da construção de uma defesa sólida contra a influência hostil. Neste contexto, as lições adquiridas por aqueles que enfrentaram diretamente as campanhas de desinformação, como as repúblicas da Europa Oriental, são vitais. Esses países já vêm resistindo à agressão do Kremlin há mais tempo e podem oferecer valiosos insights sobre como melhorar a resiliência frente a esse tipo de ameaça.
Além disso, é crucial que os países europeus não se limitem a uma abordagem reativa. A criação de estruturas institucionais robustas, capazes de monitorar, identificar e responder rapidamente a operações de desinformação, deve ser uma prioridade. Embora a França e a Alemanha tenham sido os principais alvos até agora, todos os estados da União Europeia precisam estar preparados para enfrentar esses desafios. A resistência contra as influências externas não se limita a uma questão de segurança cibernética, mas envolve também uma vigilância constante das narrativas públicas e a proteção da integridade dos processos eleitorais.
A experiência de outros países, como a República Tcheca, que se tornou líder no combate à desinformação russa, deve ser compartilhada e implementada por todos os membros da UE. A união de esforços e a troca de experiências podem ser decisivas para mitigar os efeitos dessas campanhas de desinformação, que, por sua vez, podem desestabilizar sociedades inteiras e comprometer os princípios fundamentais da democracia.
A ameaça não se limita apenas ao impacto direto de uma eleição ou a uma manipulação pontual de eventos. A capacidade de semear desconfiança, polarizar a sociedade e enfraquecer as instituições democráticas a longo prazo é um dos maiores perigos que a desinformação representa. A Rússia tem se mostrado mestre nessa arte, usando uma combinação de fake news, conteúdos polarizadores e campanhas coordenadas nas redes sociais para atingir seus objetivos.
O cerne desse desafio é que a desinformação não apenas manipula percepções, mas também destrói a confiança nas fontes de informação tradicionais e nas instituições que garantem a transparência e a justiça. Para combater isso, é fundamental que os governos europeus, em parceria com organizações independentes e especialistas em segurança, invistam em estratégias preventivas, não apenas reativas. A educação midiática, a promoção de um jornalismo ético e a criação de mecanismos de verificação de fatos desempenham papéis essenciais nessa luta.
Além disso, é imperativo que as democracias europeias reconheçam que a guerra da informação não se limita à esfera digital. O fortalecimento da coesão social e o engajamento cívico também são fundamentais para fortalecer as defesas contra as influências externas. O apoio e a colaboração contínuos entre os cidadãos, as autoridades públicas e as empresas privadas são, portanto, indispensáveis para criar uma resistência eficaz contra essas campanhas.
Por fim, a maior lição a ser aprendida com a experiência da França e da Alemanha é que a preparação e a ação proativa são as únicas formas de garantir a segurança das democracias europeias. A apatia e o adiamento de uma resposta organizada podem levar a consequências irreparáveis. O tempo para agir é agora, e o futuro das democracias europeias depende da criação de uma defesa robusta contra essas ameaças insidiosas.
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