Seja GG um grafo com nn vértices e mm arestas. As seguintes afirmações são equivalentes:

  • (a) GG é uma árvore, ou seja, GG é conexo e acíclico.

  • (b) GG é acíclico e m=n1m = n - 1.

  • (c) GG é conexo e m=n1m = n - 1.

  • (d) GG é conexo, mas GeG - e não é conexo, onde ee é uma aresta arbitrária de GG.

  • (e) GG é acíclico e qualquer grafo obtido pela introdução de uma nova aresta em GG é cíclico.

Vale destacar que a afirmação (d) não pode ser aplicada em certos casos, enquanto a afirmação (e) tem duas exceções: TxT_x e T2T_2. Frequentemente, denotamos uma árvore por TT. O conjunto de todas as árvores é denotado por STST, enquanto o conjunto de todas as árvores com nn vértices é representado por TnT_n. Por exemplo, T3={T3}T_3 = \{T_3\} e T6={T1,T2,T3,T4,T5}T_6 = \{T_1, T_2, T_3, T_4, T_5\}, como ilustrado na Figura 6.1.

Propondo-se um exercício simples, temos o seguinte lema importante: todo vértice de grau um é chamado de vértice pendente.

Lema 6.2: Toda árvore com pelo menos dois vértices possui pelo menos dois vértices pendentes.

Prova: Uma árvore TT com mais de dois vértices possui pelo menos uma aresta. Se ee é uma aresta de TT com vértices terminais uu e vv, vamos provar que TT possui um vértice pendente. Suponhamos que nem uu nem vv tenham grau um e consideremos o vértice uu. uu deve ter pelo menos um vizinho adicional, denotado por u1u_1. O vértice u1u_1 é ou pendente, ou possui outro vizinho, u2u_2. O vértice u2u_2 é distinto de vv, caso contrário, TT possuiria um ciclo. Da mesma forma, u2u_2 é pendente ou tem um novo vizinho, u3u_3, e assim por diante. Continuando esse raciocínio e lembrando que o número de vértices de TT é finito, eventualmente encontraremos um vértice de grau um. Aplicando o mesmo argumento ao vértice vv, podemos provar que existe outro vértice pendente em TT.

A partir do Lema 6.2, podemos tirar uma conclusão importante:

Teorema 6.3: Todo par de vértices em uma árvore está conectado por exatamente um caminho elementar.

Uma árvore TT com nn vértices pode ser classificada em dois tipos extremos em relação ao número de vértices pendentes. O primeiro caso corresponde a uma árvore em que existem exatamente dois vértices pendentes, e é conhecida como o caminho. O segundo caso corresponde a uma árvore com n1n-1 vértices pendentes, chamada de estrela. Sua estrutura é dada da seguinte forma: ooooo - o - \dots - o - o, onde oo representa os vértices. A árvore estrela é denotada por K1,n1K_{1,n-1}.

Entre as árvores da Figura 6.1, T1,T2,T3,T4,T5T_1, T_2, T_3, T_4, T_5 são exemplos de caminhos para n=1,2,3,4,5n = 1, 2, 3, 4, 5 e T6T_6 é um exemplo de estrela.

Em relação ao polinômio característico das árvores, podemos aplicar o Teorema de Sachs (discutido no capítulo anterior) às árvores, o que nos leva à seguinte conclusão importante. Como as árvores não possuem ciclos, o valor c(S)=0c(S) = 0 deve ser válido para todos os seus grafos de Sachs. Ou seja, cada grafo de Sachs de uma árvore é composto exclusivamente de componentes K2K_2, que, como já foi abordado, representam combinações de arestas disjuntas, ou matchings.

Consequentemente, para as árvores, há uma correspondência de um para um entre um grafo de Sachs com 2k2k vértices e um matching kk. A quantidade de kk-matchings em um grafo GG é denotada por m(G,k)m(G, k). Podemos então afirmar o seguinte:

Teorema 6.4a: Para toda árvore TT, os coeficientes do polinômio característico de TT obedecem às relações:

  • a2k(T)=m(T,k)a_{2k}(T) = m(T, k), para todo k0k \geq 0,

  • a2k+1(T)=0a_{2k+1}(T) = 0, para todo k0k \geq 0.

Aplicando a definição do polinômio de matching, podemos obter outra forma do teorema acima:

Teorema 6.4b: Para toda árvore TT, o polinômio característico e o polinômio de matching coincidem. Ou seja, o polinômio característico de TT é dado por:

P(T)=i=1n1(Tλi),P(T) = \prod_{i=1}^{n-1} (T - \lambda_i),

onde os termos T3,T5,T2T_3, T_5, T_2 estão relacionados aos exemplos mostrados na Figura 6.1.

Finalmente, devemos observar que, ao analisarmos os grafos G1G_1 e G2G_2, podemos afirmar que, se G1>G2G_1 > G_2 e G2>G1G_2 > G_1, então G1G_1 e G2G_2 são equivalentes no sentido de matching. Se nem uma relação de ordem nem a inversa se mantiverem, dizemos que os grafos são incomparáveis em relação ao matching. Existem pares de árvores que são equivalentes ou incomparáveis em termos de matching, como ilustrado nos exemplos discutidos.

Como a Teoria dos Grupos Aplica-se à Espectroscopia Raman e Infravermelha de Moléculas Centrossimétricas

A teoria dos grupos oferece uma poderosa ferramenta para a análise dos modos vibracionais e das transições espectroscópicas de moléculas, especialmente quando se considera a interação entre a simetria molecular e os espectros Raman e infravermelho. O entendimento desses espectros é facilitado pelo uso das representações irredutíveis dos grupos de simetria das moléculas, que descrevem as propriedades de transformação dos diferentes tipos de vibrações.

A tabela de caracteres do grupo de simetria C2v ilustra como cada representação irredutível desse grupo contém pelo menos uma das formas bilineares fundamentais, como x², xy, etc. Isso significa que as vibrações fundamentais de uma molécula pertencente ao grupo C2v estarão presentes tanto no espectro Raman quanto no espectro de absorção infravermelha (IR), mas com comportamentos distintos. Um exemplo clássico disso é o modo de estiramento simétrico da molécula de CO2, que se apresenta no espectro Raman, mas não no espectro IR. Este fenômeno segue uma regra chamada de "Regra de Alternância IR-Raman", que se aplica a moléculas com simetria centro-simétrica.

A Regra de Alternância IR-Raman afirma que, em moléculas com centro de inversão (simetria centro-simétrica), as funções lineares x, y e z pertencem às representações u, enquanto suas formas bilineares (x², y², z², xy, yz e zx) pertencem às representações g. Essa distinção de simetria implica que os modos fundamentais de vibração ativos no espectro IR não estarão presentes no espectro Raman e vice-versa. Em outras palavras, as vibrações que são ativas no espectro IR não podem ser observadas no espectro Raman e, da mesma forma, as que aparecem no espectro Raman não aparecem no IR.

Esse princípio é ilustrado no caso da molécula de benzeno, C6H6, que pertence ao grupo de simetria D6h. Para o benzeno, dos 30 modos vibracionais, 15 pertencem às representações u e 15 às representações g. Desses modos, 7 são ativos no espectro IR e 12 no espectro Raman. Apenas 5 das 12 representações irredutíveis do grupo D6h são ativas em algum dos espectros, o que sublinha a complexidade e a riqueza dos comportamentos espectroscópicos das moléculas com simetria alta.

A teoria dos grupos também tem implicações diretas na química quântica, especialmente ao se considerar o operador Hamiltoniano de uma molécula. O objetivo central da química quântica é encontrar os autovalores e as autofunções do Hamiltoniano, que descrevem o comportamento energético e a estrutura eletrônica da molécula. A equação de Schrödinger, na forma independente do tempo, é a ferramenta fundamental para esta tarefa. Dentro desse contexto, as representações irredutíveis dos grupos de simetria da molécula ajudam a restringir as possíveis formas dos autovalores e autofunções.

Em particular, o operador Hamiltoniano de uma molécula sempre pertence à representação totalmente simétrica do grupo de simetria dessa molécula. Isso implica que as funções de onda do sistema, que podem ser orbitais atômicas ou combinações dessas, devem se comportar de maneira que preservem a simetria do Hamiltoniano. De acordo com o teorema de Wiegner, o Hamiltoniano molecular comuta com cada elemento do grupo de simetria da molécula, o que garante que a solução da equação de Schrödinger respeite a simetria molecular.

Além disso, a escolha do plano de reflexão de uma molécula pode afetar diretamente as representações e a análise dos seus modos vibracionais. Por exemplo, ao considerar o plano de reflexão σv ou σv', a forma como as coordenadas de equilíbrio das núcleos são manipuladas pode influenciar as propriedades espectroscópicas observadas.

Importante é entender que a teoria dos grupos não apenas fornece uma maneira de organizar e classificar as vibrações e transições espectroscópicas, mas também serve como uma ponte entre a simetria molecular e os conceitos da mecânica quântica. A partir dessa perspectiva, a teoria dos grupos permite uma compreensão mais profunda de como as moléculas interagem com a radiação, seja em espectros Raman ou IR. Cada transição espectroscópica, seja no IR ou no Raman, pode ser associada a uma mudança específica no estado vibracional da molécula, e a simetria da molécula dita as regras de quais modos são permitidos ou proibidos nesses espectros.

O leitor deve ter em mente que a teoria dos grupos é essencial para interpretar corretamente os espectros vibracionais de moléculas com alta simetria. Além disso, a aplicação dessa teoria vai além dos exemplos simples e se estende a sistemas moleculares mais complexos, onde a simetria desempenha um papel crucial no comportamento espectroscópico. A compreensão dos princípios de simetria, como a alternância entre espectros IR e Raman, permite uma análise mais eficaz das propriedades moleculares e pode ser utilizada em diversas áreas da química, física e ciência dos materiais.

Qual a Relação entre a Estabilidade Térmica e a Energia de um Grafo em Sistemas Conjugados?

No campo da teoria dos grafos moleculares, a estabilidade dinâmica desempenha um papel crucial, especialmente no que diz respeito aos sistemas de elétrons π\pi. O modelo HMO (Hückel Molecular Orbital), devido à sua simplicidade, permite que problemas complexos sejam tratados de forma direta. Entretanto, a dependência da energia total dos nn-elétrons do HMO em relação à topologia molecular é suficientemente complexa para gerar uma série de afirmações matemáticas não triviais. Estas relações serão exploradas nos parágrafos subsequentes.

Um ponto fundamental a ser compreendido é que um grafo, enquanto objeto matemático, não possui energia física real. No entanto, como já discutido anteriormente, a energia de ligação dos elétrons π\pi pode ser calculada a partir do grafo molecular. Em aplicações químicas reais, o grafo a partir do qual essa energia é calculada deve corresponder a uma rede de elétrons π\pi quimicamente significativa, e, portanto, sujeita a limitações significativas. Contudo, grande parte dos resultados apresentados neste capítulo permanece válida independentemente dessas limitações, o que nos motiva a introduzir o conceito de "energia de um grafo" como uma generalização matemática formal do que, na prática, é calculado para grafos moleculares.

A energia generalizada de um grafo oferece a vantagem de que muitos dos resultados matemáticos discutidos podem ser aplicados a qualquer grafo. A grande maioria dos sistemas de elétrons π\pi conjugados de interesse químico tem a característica de que todos os orbitais moleculares de ligação são duplamente ocupados e todos os orbitais moleculares antibonding estão desocupados. Em tais sistemas, a equação (7) pode ser expressa como:

E=2i+λiE = 2\sum_{i}^{+} \lambda_i

onde λi\lambda_i representam os autovalores positivos do grafo. Mesmo que alguns orbitais de ligação estejam vazios ou alguns orbitais antibonding ocupados, esta equação ainda se aplica como uma boa aproximação, uma vez que os autovalores correspondentes aos orbitais de ligação mais altos e antibonding mais baixos são geralmente muito pequenos em comparação com a energia total.

Agora, abordando uma importante consequência dessa equação, temos o seguinte teorema:

Teorema 12.1: Para hidrocarbonetos conjugados cuja energia total dos π\pi-elétrons satisfaça a equação (7), a energia é dada por:

E=i+λiE = \sum_{i}^{+} \lambda_i

Este resultado relaciona a energia total dos elétrons π\pi a uma função interessante, mas não simples, dos autovalores do grafo. Vale ressaltar que a expressão à direita da equação (8) é simétrica, ou seja, ela permanece inalterada caso dois autovalores troquem de lugar, uma propriedade matemática notável.

Em moléculas heteroconjugadas, cujas energias dos π\pi-elétrons satisfaçam a equação (7), a energia também pode ser expressa de maneira similar:

E=ihvλiE = \sum_{i} h_v \lambda_i

onde hvh_v é o peso associado ao vértice vv, refletindo a contribuição de cada parte do grafo para a energia total do sistema. Este teorema é relevante, pois ilustra como a energia dos grafos moleculares está profundamente conectada à estrutura matemática subjacente da rede de elétrons π\pi.

Ademais, a função à direita da equação (8) tem uma beleza matemática peculiar, o que, curiosamente, não havia sido suficientemente explorado por matemáticos antes. Esta quantidade, embora abstrata, é bem definida para qualquer grafo. Ela pode ser vista como uma "energia" formal de um grafo, e sua generalização é um passo importante para a compreensão de sistemas moleculares mais complexos.

Um dos resultados clássicos na teoria topológica da energia total dos elétrons π\pi foi obtido por Coulson, em 1940, que estabeleceu uma conexão analítica direta entre o polinômio característico e a energia de um grafo. Isso é formalizado pelo seguinte teorema:

Teorema 12.2: Para um grafo GG com nn vértices e φ(G,x)\varphi(G, x) a primeira derivada do seu polinômio característico, a energia de GG é dada por:

E(G)=+nixφ(G,ix)φ(G,ix)dxE(G) = - \int_{ -\infty}^{+\infty} \frac{n - i x \varphi(G, ix)}{\varphi(G, ix)} dx

Este teorema conecta a estrutura algébrica do grafo com sua energia, revelando a profundidade da teoria dos grafos no estudo da química molecular.

Por fim, a fórmula integral de Coulson, um resultado fundamental para a teoria dos grafos moleculares, relaciona diretamente a energia de um grafo com os autovalores do seu polinômio característico, mostrando uma conexão entre aspectos topológicos e energéticos dos sistemas de elétrons π\pi. A beleza e a aplicabilidade desta fórmula são um reflexo da elegância matemática que permeia a teoria dos grafos no contexto da química molecular.