A vantagem de um telepata em combate é evidente. Ao ter acesso ao que o inimigo está pensando, ele pode antecipar os próximos movimentos, tornando-se uma ameaça formidável. No entanto, essa habilidade, por mais poderosa que seja, pode ser uma maldição. Saber o que o adversário planeja fazer e não poder impedir pode ser um fardo imenso. No meu caso, durante um confronto, a luta não foi apenas física, mas também psicológica. Meu inimigo, um homem que parecia ser destemido, preferiu enfrentar o perigo diretamente, em vez de usar um meio mais seguro e estratégico. Ele poderia ter me matado à distância, de forma rápida e silenciosa, mas escolheu arriscar-se, desafiando-me em combate corpo a corpo.

Eu o enfrentei, e com o impacto do meu golpe, vi claramente em seus olhos o reconhecimento de sua própria morte iminente. A dor de saber que algo é inevitável, mas não ter como evitá-lo, é uma experiência angustiante. Após a luta, enquanto o mar embalava o corpo de meu inimigo, uma estranha sensação me tomou. Mesmo depois de derrotá-lo, eu o respeitava de certa forma. Ele não foi derrotado apenas por sua força, mas por sua escolha emocional. Ele se deixou levar pela raiva, pelo desejo de vingança, o que o tornou vulnerável. Na minha perspectiva, a razão pela qual eu venci era simples: ele não soubera controlar seus sentimentos. Em situações de violência movidas por emoções, as decisões impulsivas podem ser fatais.

Mesmo com a morte de Shandon, a ameaça não desapareceu. Havia uma tensão no ar, e eu sabia que ele não seria o último inimigo a cruzar meu caminho. No entanto, a reflexão sobre ele me levou a um ponto importante: muitos que escolhem a violência movidos por sentimentos não percebem o custo que isso implica. Se a motivação por trás de um ato de violência é pessoal e emocional, isso geralmente leva a um erro estratégico. A raiva e o desejo de vingança podem fazer com que um indivíduo subestime o que está realmente em jogo. Isso foi algo que Shandon não compreendeu até o momento de sua morte.

Após o confronto, a sensação de que a violência nunca é uma solução definitiva se tornou mais clara. Mesmo quando a vitória é alcançada, ela é temporária, e a sombra da próxima batalha sempre estará presente. O ciclo de vingança, de luta e de ressentimento parece não ter fim. A reflexão sobre o que realmente importa, sobre o que é necessário para romper com esse ciclo, se torna crucial.

O encontro com Green Green trouxe à tona outra dinâmica interessante. Ele, como muitas figuras que vivem em constante conflito, parecia imune ao que me afligia. Seu comportamento era calculado, sua inteligência visível em suas escolhas. Porém, mesmo ele, com toda sua perspicácia, não estava livre das consequências das suas ações. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, a vingança de Shandon viria atrás de todos nós. O que me fez perceber uma lição essencial: o ódio é uma energia perigosa, que pode levar a decisões irracionais, mas ao mesmo tempo, é uma força que nunca desaparece completamente. A vingança pode ser adiada, mas não é esquecida.

Nos dias que se seguiram, entre conversas e trocas de ideias com Green Green, me deparei com uma proposta interessante. Ele sugeriu uma forma de resgatar os meus amigos sem a necessidade de confrontar Shandon diretamente. A ideia de evitar um combate sangrento e resolver o conflito sem recorrer à violência imediata parecia tentadora, mas a realidade era que eu sabia que, em algum momento, precisaria enfrentá-lo. Aquele tipo de dilema moral que surge quando se é forçado a tomar decisões que não são apenas sobre o agora, mas sobre o que virá depois.

Ao longo de nossa jornada, ficou claro que o ódio não deve ser alimentado e que há sempre uma escolha, mesmo em situações de extremo perigo. Cada decisão tomada em um momento de raiva pode alterar o curso de uma vida inteira, mas é o controle sobre essas emoções que define o verdadeiro vencedor, não a força bruta ou o ato impulsivo. A verdadeira batalha é contra os próprios sentimentos que nos dominam, contra a necessidade de vingança, e contra a ideia de que a violência é a única solução.

É crucial compreender que, embora o sentimento de vingança seja natural e, por vezes, instintivo, ele pode cegar a razão e tornar qualquer vitória uma derrota a longo prazo. Ao contrário do que muitos pensam, a violência não resolve problemas, ela apenas os perpetua. O ato de escolher outra via — mais racional, mais controlada — é o que pode, de fato, trazer a verdadeira libertação.

Qual o Significado do Sacrifício em um Mundo Despedaçado?

O cenário era desolador, o vento frio cortava como lâminas, e cada passo parecia uma luta contra a própria natureza. O ambiente se assemelhava a uma falha irreversível, onde o tempo e o espaço pareciam se desintegrar aos poucos. Observando de longe, era claro que a luta de cada ser naquele universo estava marcada pela tragédia, e no centro disso, estava o entendimento de um destino inexorável, um sacrifício que, mesmo necessário, trazia consigo a amargura da derrota.

Shandon, esse nome ecoava como um lembrete do inevitável, do que foi, mas não pôde ser. Sua vida, se é que podemos chamá-la assim, havia sido uma sequência de tentativas frustradas, de tentativas em que o mundo lhe roubava o direito de ser mais. Ele não era um homem feito para vencer, mas, sim, para ser parte do cenário, um ator coadjuvante em uma tragédia maior. Como muitos antes dele, foi vítima do sistema ao qual pertencera sem querer, e, ao olhar para trás, a sensação que me invadiu foi um misto de repulsa e piedade. Ele não havia escolhido o jogo errado, ele simplesmente não tinha escolha.

Quando a chuva cessou por um momento e o silêncio tomou conta de tudo, um grito mudo se fez ouvir, vindo das profundezas de um lugar que, para muitos, seria apenas mais uma pedra no caminho. Mas não era uma pedra qualquer; era uma barreira que selava a prisão de Lady Karle, que, mesmo em sua angústia, continuava a pedir por ajuda, tentando desesperadamente se libertar.

“Você está presa, e mesmo assim continua a pedir o impossível”, disse-lhe eu, com uma frieza que beirava o cínico. Não havia mais espaço para boas ações ou gestos de compaixão. Eu já havia dado minha chance, e ela a havia perdido. O destino de cada um estava selado, e ela, assim como Shandon, havia perdido seu momento de redenção. Não havia como voltar atrás. O passado não era algo que podia ser alterado, e, por mais que as palavras pudessem ser doces ou amargas, nada mais poderia mudar a verdade que se impunha diante de nós.

A vida, como a conhecíamos, havia se fragmentado. O mundo agora era um cenário de escombros e dor, onde a luta pela sobrevivência se tornara quase uma obsessão, uma obsessão sem qualquer esperança de resultado positivo. Quando Green apareceu, parecia que o fim de tudo estava perto, e ele, em sua agonia, também desejava algo que pudesse aliviar sua alma – o último rito, a única forma de transitar do sofrimento para a morte com algum tipo de dignidade.

Mas o sacrifício exigido era grande demais. Para oferecer aquilo que ele pedia, eu teria que ceder a algo que eu havia abandonado: a crença na possibilidade de redimir alguém, de dar a outro a chance de recomeçar. Mas eu já havia deixado isso para trás. O preço era muito alto, e não valia a pena pagar. Cada um tinha seu próprio caminho a seguir, e os meus já estavam traçados, no momento em que escolhi abandonar qualquer esperança de reverter o irreversível.

O que restava, então, era a dor, a aceitação do fim, e a tentativa de continuar, mesmo sabendo que não havia mais como voltar atrás. E mesmo que eu fosse capaz de dar a Green o que ele desejava – e eu o fiz, de certa forma – ainda assim, era tarde demais. A realidade que ele desejava reviver não era mais a sua, nem a minha. O que restava eram apenas as lembranças dilaceradas de algo que já se foi.

É preciso entender que o sacrifício, especialmente em um mundo tão quebrado, não é apenas sobre o ato de oferecer algo em troca de outra coisa. O sacrifício, em sua essência, é sobre a aceitação do que não pode ser alterado. É sobre entender que certos momentos da vida não podem ser revertidos, não importa o quanto tentemos. Não há retorno. A morte, o sofrimento, a perda – todos são componentes do mesmo tecido da existência, e tentar escapar deles é apenas adiar o inevitável. Não há salvação além da aceitação do fim.

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