O acoplamento de forças, ou sistema de braços de alavanca, é um conceito fundamental na biomecânica, sendo essencial para o controle de movimentos articulares e o funcionamento adequado de dispositivos ortopédicos e próteses. Em sua definição, um acoplamento de força ocorre quando duas alavancas são unidas por um ponto de pivô, com forças aplicadas nas extremidades de cada uma dessas alavancas. Estas forças provocam uma rotação das alavancas em torno de um eixo imaginário central. O sistema de controle por acoplamento de força possibilita a coaptação de movimentos articulares para resistir à translação da articulação (artrocinemática) ao mesmo tempo que preserva o movimento no plano sagital (osteocinêmática).

No contexto de ortóteses, como aquelas utilizadas para tratar insuficiência do ligamento cruzado craniano (CCL, na sigla em inglês), o acoplamento de forças desempenha um papel crucial. A ortótese deve ser projetada de forma a criar um sistema de acoplamento de força que resista ao movimento cranial da tíbia e à rotação interna da mesma, ao mesmo tempo que preserva tanto a artrocinemática quanto a osteocinêmica da articulação afetada. Isso é possível por meio da aplicação de forças dinâmicas, em que a contração muscular durante a fase de apoio cria uma força dirigida para caudal, que é transmitida através das tiras e conchas da ortótese até a tíbia cranial proximal. Esse tipo de estabilização dinâmica é essencial, pois um ponto de contato estático não seria suficiente para controlar o acoplamento de forças e manter o alinhamento adequado da articulação.

Além disso, o uso de próteses também se baseia no conceito de acoplamento de forças. Quando se trata de uma prótese, a interação entre o membro residual do paciente e a prótese pode ser vista como uma articulação. Nesse ponto de interseção, o membro residual e a prótese estão sujeitos a forças aplicadas devido ao vetor de força de reação do solo (GRF) e ao vetor de força de base de apoio (TBF), cujas direções e magnitudes mudam conforme o paciente avança na marcha. Durante as fases da marcha, o paciente usa o membro residual como uma alavanca com dois pontos de contato com a prótese (um distal e outro proximal). Assim, a rotação das alavancas ao redor de um eixo central imaginário é responsável pela movimentação da prótese, permitindo tanto o controle do movimento do socket da prótese quanto a geração de equilíbrio e propulsão na fase de apoio, além de garantir o necessário afastamento da prótese do solo durante a fase de balanço.

Em um exemplo prático de amputação subtotal com disarticulação antebraquiocárpica, o membro residual, composto pelo rádio e ulna, se comunica com o socket da prótese, proporcionando comprimento ao membro. Durante a fase de swing, o paciente avança a prótese cranialmente por meio da flexão do cotovelo para garantir a devida clearance do solo. Nesse processo, ocorre um acoplamento de força dentro do socket, com os pontos de contato nos aspectos cranial distal e caudal proximal do membro residual. Durante a fase de apoio, a extensão do cotovelo resiste tanto ao momento de flexão do cotovelo gerado pelo vetor de força de reação do solo quanto à tendência do socket de rotacionar caudalmente. Esses pontos de contato em momentos específicos da marcha demonstram como a força dinâmica controlada pode ser aplicada ao longo do processo de movimento para garantir o equilíbrio e a funcionalidade da prótese.

No que diz respeito à fabricação de dispositivos ortopédicos e próteses, a tecnologia tem avançado significativamente, com o uso do design assistido por computador (CAD) e impressão 3D permitindo maior precisão e velocidade na produção desses dispositivos. Esses avanços tecnológicos têm grande importância na personalização dos dispositivos, garantindo que sejam biomecanicamente apropriados e funcionais para as necessidades dos pacientes. A precisão no design e fabricação dos dispositivos ortopédicos e próteses é crucial, especialmente quando se lida com casos veterinários, onde a biomecânica quadrupedal deve ser levada em consideração. Assim, a integração de tecnologias de impressão 3D tem revolucionado a fabricação desses dispositivos, mas a necessidade de uma avaliação clínica rigorosa e uma prescrição adequada por profissionais qualificados continuam sendo essenciais para o sucesso do tratamento.

É importante destacar que, para que um sistema de acoplamento de força seja eficaz, ele deve ser projetado e aplicado de maneira que permita o movimento adequado da articulação ou da prótese enquanto mantém o controle das forças dinâmicas. O equilíbrio entre osteocinêmica e artrocinemática é um ponto-chave para garantir que a articulação ou o membro prostético funcione de forma natural e sem causar danos adicionais ao paciente.

Como Dispositivos Assistivos Facilitam a Recuperação e Mobilidade de Cães com Paraparesia Não Ambulante

A paraparesia não ambulante em cães, particularmente aqueles com paralisia nos membros pélvicos, apresenta desafios significativos tanto para os animais quanto para seus donos. A reabilitação desses pacientes envolve não apenas terapias físicas, mas também a introdução de dispositivos assistivos que permitem a recuperação gradual da mobilidade. Para cães com essa condição, dispositivos como cadeiras de rodas, órteses e outros auxiliares são essenciais para promover a recuperação da função motora e melhorar a qualidade de vida. O caso de um paciente que apresentou paraparesia não ambulante, com movimentos mínimos ou nulos nos membros pélvicos, ilustra bem como a integração desses dispositivos pode levar a uma recuperação significativa.

O uso de cadeiras de rodas, como a cadeira de rodas de três rodas (ou rear-wheel cart), foi fundamental para permitir que o cão desse os primeiros passos com um suporte adequado, favorecendo a mobilização dos membros pélvicos. Embora o cão tenha demonstrado resistência inicial ao uso do dispositivo, com o tempo e a continuidade da fisioterapia, ele foi capaz de dar passos curtos, sem o auxílio da cadeira de rodas, um progresso que destacou a importância do uso contínuo da cadeira no início do processo. O treino com a cadeira facilitou a conscientização sensorial e o fortalecimento dos músculos do tronco, essenciais para a recuperação do movimento independente.

O auxílio de dispositivos como o ‘Help ‘EmUp Harness’™ (HEU) também foi crucial no início do tratamento. Esses dispositivos proporcionam suporte adicional, especialmente para cães com dificuldades de movimentação e controle postural. Além disso, o uso de tiras de compressão para o gerenciamento da ansiedade ajudou a melhorar o engajamento do paciente durante as terapias, permitindo uma recuperação mais rápida da postura ereta e da mobilidade. Esse apoio psicológico é muitas vezes subestimado, mas é um aspecto vital na recuperação funcional dos animais.

A terapia física desempenha um papel igualmente importante. Sessões de liberação miofascial, mobilizações articulares e exercícios terapêuticos realizados em esteiras aquáticas são fundamentais para restaurar a força e a função nos membros pélvicos. O treinamento em ambiente aquático reduz o impacto das articulações e promove a ativação muscular sem a sobrecarga que poderia ocorrer em um ambiente seco. Além disso, terapias de estimulação elétrica neuromuscular (NMES) e laser, como indicadas no caso, são ferramentas valiosas para melhorar o tônus muscular e promover a circulação sanguínea, acelerando o processo de recuperação.

O fortalecimento da musculatura do núcleo e o treinamento para melhorar o equilíbrio em pé são componentes-chave do plano de reabilitação. O paciente em questão começou com sessões de fisioterapia duas vezes por semana, mas a evolução foi notável após um período de intensificação do tratamento. Em cerca de 100 dias, o cão já podia andar por distâncias curtas de forma independente, sem a ajuda de dispositivos auxiliares, um testemunho da eficácia de um programa estruturado de reabilitação física. A capacidade de subir e descer rampas, mesmo com assistência mínima, é outro sinal claro de recuperação funcional.

É essencial entender que a adaptação a dispositivos assistivos não é imediata, e o sucesso do tratamento depende da aceitação gradual do animal, bem como da consistência e diversidade nas abordagens terapêuticas. Embora o uso de dispositivos como cadeiras de rodas e órteses seja frequentemente associado à melhora funcional, o fator psicológico também desempenha um papel crucial. O paciente que demonstrou hesitação inicial acabou superando as limitações impostas pela condição, mostrando que a motivação e o suporte adequado são fundamentais.

Além disso, a escolha de um dispositivo assistivo deve ser personalizada de acordo com as necessidades específicas do animal e seu ambiente doméstico. No caso descrito, a escolha de um modelo de cadeira de rodas com suporte ajustável foi fundamental, considerando o tipo de piso e a necessidade de mobilidade em áreas como o jardim. A instalação de tapetes de borracha e a utilização de botas de tração também são estratégias simples, mas eficazes, para garantir a segurança e evitar escorregões.

Por fim, é importante destacar que o uso de dispositivos assistivos é apenas uma parte do processo. A colaboração contínua entre o veterinário, o fisioterapeuta e os donos do animal é essencial para garantir que o tratamento seja bem-sucedido. Além disso, o acompanhamento contínuo e a adaptação dos planos terapêuticos conforme a resposta do paciente ao tratamento são cruciais para otimizar a recuperação.

Como Tratar Lesões Carpais e Metacarpos em Cães: Uma Abordagem Abrangente

O tratamento de lesões carpais, que podem envolver tenorrrafia ou reanexação com ou sem terapias biológicas, geralmente é seguido de ortótese personalizada e reabilitação. No caso de lesões por hiperextensão do carpo, a abordagem terapêutica dependerá do grau de hiperextensão, das estruturas envolvidas e do nível da lesão. Em casos leves, com mínima hiperextensão, pode-se optar por um manejo conservador. No entanto, o manejo conservador para lesões de grau 3 de hiperextensão do carpo raramente é eficaz, e a artrodesse (fusão do carpo) é indicada para evitar uma progressão da hiperextensão. Dependendo do nível da lesão, a artrodesse pode ser parcial ou pancarpal. A artrodesse parcial é indicada quando há instabilidade envolvendo a articulação carpometacarpal ou carpal média, estabilizando a região enquanto mantém o movimento da articulação radiocarpal. Já a artrodesse pancarpal é mais comum em cães que apresentam instabilidade da articulação radiocarpal.

O procedimento de artrodesse pode ser realizado por meio de estabilização a longo prazo com fixadores esqueléticos externos, placas com parafusos ou pinos internos com fios. A artrodesse pancarpal minimamente invasiva, utilizando uma placa específica e auxílio fluoroscópico, resulta em menor trauma tecidual, menor morbidade e, possivelmente, retorno mais rápido à carga de peso. Há um debate sobre a necessidade de imobilização externa pós-operatória com splinting após a artrodesse do carpo. No entanto, a maioria dos cirurgiões ainda prefere manter a imobilização da fixação por pelo menos 4 a 6 semanas para evitar o movimento dos implantes e a degradação precoce dos mesmos. Radiografias devem ser realizadas a cada 4 a 6 semanas até a 16ª semana após a artrodesse e, depois, a cada 8 semanas até que a fusão seja observada. O tempo de fusão pode variar entre 12 a 24 semanas. A reabilitação funcional dos pacientes começa a partir de 12 a 16 semanas após a cirurgia.

A questão da remoção de implantes após a fusão permanece um tema em aberto, especialmente em cães atletas ou de trabalho. Na opinião do autor, os implantes podem permanecer no local, a menos que haja falha do implante, dor durante o trabalho ou atividade, ou sinais de infecção pós-operatória.

Lesões no metacarpo, especialmente fraturas, são comuns em cães, sendo a fratura dos metacarpos uma das lesões mais frequentes, representando cerca de 41-56% dos casos. A principal causa dessas fraturas é o trauma, embora também existam relatos de fraturas ocasionais após a artrodesse pancarpal. Fraturas do metacarpo ocorrem mais frequentemente nas regiões média e distal dos ossos, e uma distribuição específica foi observada em Greyhounds de corrida, com maior incidência nas fraturas do metacarpo V no pé esquerdo e metacarpo II no pé direito. Isso pode ser atribuído ao estresse repetitivo que leva a fissuras e, eventualmente, à fratura. Se a corrida for realizada em sentido anti-horário (direção oposta), o padrão de fraturas pode ser revertido.

A doença dos sesamoides pode incluir fraturas, fragmentação e sesamoidite. Há uma controvérsia na literatura sobre se as fraturas e fragmentações são processos patológicos distintos ou o mesmo problema. Algumas raças, como Greyhounds de corrida e Rottweilers, são mais suscetíveis a doenças sesamoides, enquanto em muitas outras raças, isso pode ser apenas uma descoberta incidental. Entre as possíveis causas dessa condição estão o trauma, degeneração, distúrbios congênitos de ossificação, osteoartrite causada por forças anormais e osteonecrose devido ao comprometimento vascular.

O diagnóstico de lesões nos metacarpos e sesamoides envolve uma avaliação detalhada. Os cães com fraturas metacarpais podem apresentar graus variados de claudicação, desde não suportar peso nas fases agudas até claudicação intermitente nas fraturas crônicas. Nos casos agudos, pode-se observar inchaço, dor e crepitação à palpação, enquanto nas lesões crônicas, pode-se perceber a formação de um calo ósseo ou tecido fibroso firme no local da fratura. No caso de doenças sesamoides, os sinais clínicos incluem dor, inchaço e limitação do movimento articular, que podem não se manifestar até que haja migração do fragmento da fratura. Em casos crônicos, pode haver espessamento palpável e redução da flexão articular. Radiografias são essenciais para a visualização dessas condições, mas, frequentemente, as projeções radiográficas ortogonais padrão não são suficientes, sendo necessárias vistas oblíquas ou, em alguns casos, tomografia computadorizada.

O tratamento de fraturas nos metacarpos é geralmente baseado em experiência clínica, já que a literatura científica sobre opções terapêuticas específicas é limitada. Diretrizes atuais foram adotadas da literatura humana. A abordagem cirúrgica é recomendada quando há fraturas de dois ou mais metacarpos no mesmo membro, fraturas que envolvem os ossos principais de suporte de peso (metacarpos III e IV), fraturas articulares, fraturas com deslocamento superior a 50%, ou fraturas na base do metacarpo II ou V, especialmente em cães grandes, atléticos ou de trabalho. O tratamento não cirúrgico pode consistir em talas e bandagens modificadas de Robert Jones, podendo resultar em união óssea ou fibrosa em casos agudos. A tentativa de realinhar e aproximar os ossos deve ser feita antes da coaptação externa. Radiografias devem ser feitas a cada 4 a 6 semanas até a consolidação clínica da fratura.

Além disso, é essencial compreender a importância da reabilitação após esses procedimentos cirúrgicos. A recuperação completa não se limita à estabilização das fraturas ou à fusão das articulações, mas também envolve o fortalecimento muscular, a prevenção de atrofias e a restauração da função articular. A reabilitação adequada pode acelerar a recuperação, melhorar os resultados a longo prazo e ajudar os cães a retornarem às suas atividades diárias de forma eficiente e segura.