A utilização de modalidades físicas na reabilitação de lesões e na recuperação funcional tem sido amplamente estudada, com foco na Terapia de Laser de Baixa Intensidade (LLLT) e na Estimulação Elétrica Neuromuscular (NMES). Ambas as técnicas têm mostrado resultados significativos em diversos contextos, como na reabilitação de amputados militares, no tratamento de tendinite de De Quervain, na recuperação de lesões musculares e articulares, e no manejo de condições como osteoartrite e dor crônica. Embora cada uma dessas abordagens tenha mecanismos de ação distintos, seus efeitos sinérgicos na modulação da dor, redução da inflamação e aceleração do processo de cicatrização são inegáveis.

A LLLT, por exemplo, tem sido estudada por sua capacidade de aumentar a produção de colágeno e reduzir o estresse oxidativo em tecidos danificados, como observado em modelos experimentais de lesões cutâneas e osteoartrite. Em um estudo, foi demonstrado que a aplicação de laser de baixa intensidade (904 nm) contribui para a regeneração celular e promove um ambiente propício para a cicatrização de feridas em modelos de diabetes, aumentando a resistência à tração do tecido cicatricial. Além disso, a LLLT também tem mostrado reduzir os níveis de estresse nitrogenado, uma condição comum em processos de inflamação crônica, promovendo um equilíbrio biológico que facilita a recuperação das células e tecidos danificados.

Em paralelo, a Estimulação Elétrica Neuromuscular (NMES) tem sido utilizada para restaurar a função muscular em pacientes com lesões neuromusculares, como as decorrentes de acidente vascular cerebral (AVC), lesões no ligamento cruzado anterior (LCA) ou em situações de imobilização prolongada. A NMES tem demonstrado sua eficácia ao melhorar a força muscular, aumentar o torque articular e ajudar na recuperação da amplitude de movimento. Um estudo mostrou que a combinação de NMES com LLLT pode acelerar o processo de cura muscular após lesões no joelho, estimulando tanto a regeneração do tecido muscular quanto a revascularização local, promovendo um efeito sinérgico na recuperação funcional.

As terapias fotobiomoduladoras, como a LLLT, são particularmente eficazes em processos de inflamação crônica, como em condições de osteoartrite. O efeito anti-inflamatório da LLLT pode ser observado pela redução da expressão de citocinas inflamatórias e pela indução de uma resposta mais favorável à reparação tecidual. Essa abordagem tem sido aplicada não apenas na medicina humana, mas também na medicina veterinária, mostrando benefícios significativos na cicatrização de feridas em cães e no tratamento de osteoartrite em modelos animais.

Além disso, os efeitos combinados da LLLT com técnicas de fisioterapia, como alongamentos e exercícios de força, têm sido amplamente discutidos em estudos de reabilitação muscular. A combinação de estimulação elétrica com fotobiomodulação pode ser usada para melhorar a recuperação de funções motoras em pacientes com lesões musculares, como os casos de espasticidade muscular após um AVC. Esses métodos proporcionam alívio da dor, restauram a função muscular e, em muitos casos, reduzem o tempo de recuperação após cirurgias ortopédicas.

É importante compreender que, embora esses tratamentos apresentem muitos benefícios, sua eficácia depende de parâmetros específicos de aplicação, como a intensidade do laser, a duração da estimulação elétrica e o protocolo de tratamento adotado. A personalização do tratamento, ajustando esses parâmetros às necessidades individuais do paciente, é fundamental para maximizar os resultados. Além disso, a escolha da técnica mais adequada pode variar conforme o tipo de lesão, o estágio da recuperação e as condições clínicas do paciente, o que exige uma avaliação cuidadosa por parte dos profissionais de saúde.

Em relação à prática clínica, o uso dessas tecnologias exige não só a correta aplicação dos dispositivos, mas também o acompanhamento contínuo do progresso do paciente, monitorando tanto os efeitos imediatos quanto os resultados a longo prazo. A literatura científica reforça que, embora ambos os métodos sejam eficazes isoladamente, sua combinação pode oferecer uma abordagem mais robusta para acelerar a recuperação e melhorar a funcionalidade muscular em condições complexas.

A busca por um tratamento eficaz deve, portanto, considerar a combinação dessas abordagens, não apenas para reduzir a dor e a inflamação, mas também para melhorar a regeneração celular e a recuperação funcional, o que é essencial em processos de reabilitação física. Assim, as terapias de laser de baixa intensidade e a estimulação elétrica neuromuscular não devem ser vistas como alternativas, mas como complementos eficazes dentro de um programa de reabilitação personalizado e integrado.

Como a biomecânica e os materiais influenciam a eficácia dos dispositivos veterinários ortopédicos e protéticos

No cerne da fabricação de dispositivos veterinários ortopédicos e protéticos (V-OP), técnicas como moldagem a vácuo e impressão 3D têm papel fundamental apenas na produção física da peça. Entretanto, o simples fato de se conseguir fabricar um dispositivo não garante o sucesso terapêutico. O elo essencial reside na colaboração estreita entre o veterinário prescritor e o fabricante especializado, o que cria uma base ideal para a aplicação eficaz do V-OP, independentemente do método empregado.

Os materiais utilizados para a confecção dessas soluções devem equilibrar características como resistência, elasticidade, flexibilidade, durabilidade, compressibilidade e resiliência. Tradicionalmente, o carbono laminado tem se destacado por sua excelente relação resistência-peso, superando outros materiais como o polipropileno, que apesar de ser extrudado em folhas e apresentar alinhamento molecular superior aos filamentos utilizados na impressão 3D, está sendo progressivamente desafiado pelos avanços em materiais de impressão. Atualmente, polímeros como o ácido poliláctico (PLA), acrilonitrila butadieno estireno (ABS) e poliuretano termoplástico (TPU) ganham espaço, com o TPU oferecendo a mais alta resistência à tração, rasgo e abrasão entre os elastômeros termoplásticos. Além disso, alguns TPUs modernos atendem aos rigorosos padrões regulatórios para contato com a pele humana, abrindo novas possibilidades para dispositivos médicos e esportivos veterinários.

A impressão 3D democratiza a fabricação, possibilitando a criação de designs assistidos por computador sem as complexas habilidades exigidas pelos métodos tradicionais. Contudo, essa acessibilidade traz riscos, pois indivíduos sem conhecimento adequado em biomecânica, anatomia e patologias veterinárias podem produzir dispositivos inadequados, causando potencial dano ou atrasando tratamentos corretos. A supervisão veterinária rigorosa é imprescindível para evitar tais problemas.

A biomecânica e a patomecânica são disciplinas essenciais para compreender como forças estáticas e dinâmicas alteram o funcionamento corporal, especialmente em casos de doenças ou lesões neuromusculares e esqueléticas. Elas oferecem a base para o desenvolvimento e aplicação de dispositivos V-OP que atuam externamente para corrigir ou compensar essas alterações. No entanto, a introdução de um dispositivo ortopédico ou protético não substitui a necessidade de reabilitação funcional. A reeducação do corpo — incluindo músculos, nervos e cérebro — é vital para que o paciente recupere independência e funcionalidade, prevenindo complicações que podem levar ao sofrimento e até à eutanásia precoce.

O sucesso terapêutico depende da sinergia entre o tratamento físico conduzido pelo clínico, o suporte mecânico fornecido pelo dispositivo e a coordenação do plano de reabilitação. Profissionais de reabilitação devem entender profundamente o propósito, funcionamento e limitações do dispositivo, além de identificar rapidamente eventuais complicações para minimizar o tempo em que o paciente fica sem o dispositivo. Veterinários, por sua vez, devem dominar os objetivos de curto e longo prazo da reabilitação, assim como os princípios biomecânicos dos exercícios terapêuticos. Fabricantes precisam estar alinhados com o diagnóstico e metas terapêuticas para garantir ajustes e modificações precisas e oportunas. A troca contínua de informações e o trabalho multidisciplinar são cruciais para maximizar conforto, resistência e funcionalidade do paciente.

A perda ou disfunção de um membro em quadrúpedes apresenta desafios biomecânicos únicos, distintos daqueles observados em bípedes. A carga assimétrica sobre membros remanescentes e a perda de potência flexora plantar e palmar impactam diretamente na locomoção, embora ainda haja lacunas na quantificação desses efeitos em pacientes veterinários. Em humanos, compensações cinéticas e cinemáticas em amputados são amplamente estudadas, evidenciando que tais adaptações frequentemente resultam em sobrecarga e deterioração progressiva de articulações, músculos e coluna vertebral. Em animais, essas compensações podem levar a dores crônicas, redução da qualidade de vida e, por consequência, à eutanásia precoce.

O entendimento aprofundado dessas implicações biomecânicas justifica a crescente importância de dispositivos ortopédicos e próteses, bem como a adoção de amputações parciais ou eletivas que possibilitem o uso dessas tecnologias. As alterações mecânicas decorrentes da amputação ou disfunção comprometem a mobilidade e afetam a saúde a longo prazo, reforçando a necessidade de intervenções que promovam equilíbrio e funcionalidade sustentáveis.

Compreender os mecanismos das alterações biomecânicas e sua influência no manejo clínico, a escolha criteriosa de materiais adequados e o reconhecimento da imprescindibilidade da reabilitação integrada são fundamentos para o avanço efetivo dos dispositivos veterinários ortopédicos e protéticos. O futuro exige não apenas inovações tecnológicas, mas também a construção de equipes multidisciplinares alinhadas para assegurar que cada paciente possa usufruir dos benefícios máximos desses recursos.

Além disso, é crucial que o leitor compreenda que o desenvolvimento e a aplicação eficaz dos dispositivos V-OP não se limitam à produção do equipamento. A avaliação detalhada do paciente, a correta indicação e o acompanhamento contínuo são determinantes para o sucesso terapêutico. A complexidade do sistema musculoesquelético e neurológico impõe que a tecnologia esteja sempre integrada a estratégias personalizadas de reabilitação, sob supervisão especializada. Só assim será possível evitar complicações decorrentes de uso inadequado, compensações biomecânicas prejudiciais e limitações funcionais que comprometam a qualidade de vida dos pacientes veterinários.

Como Avaliar e Diagnosticar Distúrbios Ortopédicos no Membro Torácico: Uma Abordagem Detalhada

A observação cuidadosa da marcha de um paciente é uma ferramenta essencial para o diagnóstico de problemas nos membros torácicos. O movimento do paciente pode ser analisado de forma mais eficaz quando ele é visualizado com os pés visíveis, o que permite observar com mais precisão qualquer alteração sutil na locomoção. A gravação de vídeo, tanto em velocidade normal quanto em câmera lenta, é especialmente útil para detectar mancar sutil, permitindo ao clínico perceber nuances que poderiam passar despercebidas a olho nu (Millis & Janas, 2021). Para uma avaliação completa, é fundamental observar o paciente tanto ao caminhar como ao trotar, movendo-se em direção ao clínico e se afastando dele, enquanto é observado de ambos os lados. Além disso, o movimento para baixo em uma ladeira ou escada pode ser útil, pois durante essas atividades, os membros torácicos atuam como força de frenagem, o que pode evidenciar a presença de alterações funcionais nos membros (Millis & Janas, 2021).

A alteração do padrão da marcha, como o aumento ou diminuição da amplitude de movimento nas articulações do ombro, cotovelo e carpo, deve ser cuidadosamente registrada. Quando o paciente caminha sobre barras cavaletti, por exemplo, é possível avaliar a flexão do cotovelo e do carpo de maneira mais detalhada. Distúrbios como o encurtamento do comprimento da passada e o arrastar dos pés são comuns em casos de claudicação nos membros torácicos, pois o paciente limita a flexão dos cotovelos e carpos durante a locomoção. Além disso, a ataxia ou o arrasto dos dedos podem ser indicativos de comprometimento neurológico (Duerr, 2020a, p. 6; Millis & Janas, 2021). A expressão "down on sound" também é útil na observação da claudicação dos membros torácicos, já que os cães levantam a cabeça para transferir as forças do membro torácico doloroso, abaixando-a à medida que transferem o peso para o membro contralateral ou para os membros pélvicos (Millis & Janas, 2021).

A avaliação física do paciente deve seguir um protocolo consistente e metódico para garantir um diagnóstico preciso. Essa abordagem pode ser realizada tanto em posição de pé quanto deitado, sendo preferível que a contenção seja mínima para não interferir no comportamento natural do paciente. É fundamental comparar os membros contralaterais durante a avaliação, o que pode ser mais eficaz quando o paciente está em pé (von Pfeil & Duerr, 2020, p. 33). O exame deve começar com uma palpação suave da coluna cervical, seguida por uma palpação dos membros torácicos, começando da região proximal e indo em direção à distal. Durante essa palpação, o clínico deve observar assimetrias no tônus muscular, inchaço de tecidos moles ou efusão articular, e identificar possíveis áreas de dor. A medição da circunferência dos membros em pontos específicos também pode ser realizada neste momento, já que a atrofia muscular associada a doenças ortopédicas pode ser um reflexo de desuso. Para isso, o uso de um medidor especializado, como o girômetro de Gulick, pode ser eficaz para medir a massa muscular e a circunferência do membro (Clarke et al., 2020).

Toda avaliação ortopédica deve incluir uma avaliação neurológica básica, que, embora não seja o foco principal, fornece informações cruciais para o diagnóstico completo do paciente. Além disso, a avaliação da amplitude de movimento passiva (PROM) é fundamental para medir a osteocinética das articulações do ombro, cotovelo, carpo e articulações digitais. Essa avaliação envolve o movimento passivo dos segmentos ósseos em torno do eixo articular, realizado pelo clínico. Cada articulação tem um "end-feel" específico, ou seja, uma sensação detectada pelo clínico ao alcançar o extremo da amplitude de movimento passiva (Edge-Hughes et al., 2023). Alterações na qualidade dessa sensação podem indicar a presença de lesões articulares ou musculares. A medição objetiva da amplitude de movimento pode ser realizada por meio de goniometria, uma ferramenta confiável para determinar a ROM em cães (Jaegger et al., 2002).

A palpação diagnóstica vai além da palpação inicial e tem como objetivo examinar as estruturas moles e a cinemática articular do membro torácico para chegar a um diagnóstico funcional (Edge-Hughes et al., 2023). Durante essa palpação, o clínico aplica pressão manual para estabilizar a origem do músculo enquanto realiza movimentos passivos para estiramento muscular. Isso permite observar limitações de movimento, interações das articulações associadas e pontos de dor (Edge-Hughes et al., 2023). A articulação das superfícies articulares, ou "arthrokinematics", também é um aspecto importante a ser analisado, e a mobilização passiva da articulação ajuda a identificar crepitação, hipermobilidade ou hipomobilidade articular, além da presença de dor (Foster, 2020, pp. 77-78).

Em alguns casos, os testes especiais são necessários para ajudar o clínico a identificar a área geral ou a estrutura específica lesionada. Embora nenhum teste seja 100% conclusivo, qualquer desconforto ou resistência ao teste deve ser cuidadosamente anotado, pois isso pode direcionar ainda mais a avaliação e o diagnóstico.

A partir dos achados físicos da avaliação, um diagnóstico funcional pode ser desenvolvido. Este diagnóstico considera a localização precisa da lesão, os tipos de tecidos envolvidos e a cronicidade das alterações clínicas observadas. A localização deve ser descrita de maneira detalhada, utilizando os pontos anatômicos específicos para garantir a precisão do diagnóstico e orientar o tratamento subsequente.

Ao concluir o exame e o diagnóstico, é importante lembrar que a recuperação do paciente não depende apenas da identificação das lesões, mas também da avaliação de fatores relacionados ao movimento, à musculatura e à função articular. A compreensão detalhada dos padrões de movimento e da biomecânica de cada paciente permitirá que o tratamento seja mais direcionado e eficaz, contribuindo para uma recuperação mais rápida e com menores riscos de complicações a longo prazo.

Qual é o papel da medicina esportiva e da reabilitação canina no cuidado dos cães ativos e trabalhadores?

A medicina esportiva e a reabilitação canina se tornaram áreas essenciais no cuidado veterinário, especialmente com o aumento da prática de esportes e atividades físicas por cães de diferentes idades, origens e propósitos. Com o reconhecimento da Medicina Veterinária Esportiva pela American Veterinary Medical Association em 2010, essa área se consolidou como uma especialidade importante dentro da profissão veterinária, dedicada à reabilitação, diagnóstico e tratamento de lesões complexas que acometem cães. Cães de trabalho, como os cães policiais e assistentes, e cães atletas, que participam de competições, enfrentam desafios específicos. Além disso, cães que levam vidas ativas, correndo com seus donos ou praticando atividades recreativas, também podem sofrer os efeitos do desgaste físico com o tempo.

O avanço desta especialidade tem sido impulsionado pela troca de conhecimentos entre a medicina veterinária e a medicina humana. A colaboração entre essas áreas resultou em inovações nas abordagens ortopédicas, neurológicas, de fisiologia do exercício, nutrição e reabilitação para o benefício de todos os cães, independentemente de sua profissão ou nível de atividade. De fato, as melhorias no entendimento dos fatores que afetam a saúde física dos cães, incluindo a fisiologia muscular, o controle motor e as necessidades nutricionais, têm sido um dos principais fatores para o sucesso dessa integração de especialidades.

O desenvolvimento de tratamentos baseados em evidências e a aplicação de novos conhecimentos sobre fisioterapia e reabilitação têm ajudado muitos cães a retornarem à sua atividade física de maneira segura e eficaz. A prática de medicina esportiva para cães requer uma abordagem multidisciplinar, com a colaboração de veterinários, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e outros profissionais de saúde animal. A reabilitação física, por exemplo, envolve não apenas o uso de terapias físicas, mas também a compreensão do papel das lesões e dos tratamentos adequados para promover a recuperação e prevenir o agravamento de problemas musculoesqueléticos.

Além de cães de esporte e trabalho, a medicina esportiva canina também atende cães mais velhos que enfrentam as dificuldades do envelhecimento, como a artrite, que pode resultar em dor crônica e perda de mobilidade. Nesses casos, o trabalho conjunto entre os profissionais de saúde, com foco em reabilitação, torna-se fundamental para manter a qualidade de vida desses animais. A reabilitação física, aliada a ajustes nutricionais e terapias de exercício, visa garantir que os cães mantenham a mobilidade por um longo período, o que é essencial para aqueles que mantêm um estilo de vida ativo.

A expansão dessa área não se limita apenas àqueles que já estão envolvidos em atividades esportivas, mas também inclui cães que, por meio de programas de treinamento e reabilitação, podem melhorar a sua condição física e emocional. O objetivo não é apenas tratar lesões ou doenças, mas também prevenir o surgimento de problemas a longo prazo e otimizar o desempenho físico do animal, seja em um ambiente de trabalho ou em competições.

A ciência e a prática clínica da medicina esportiva canina estão em constante evolução. Profissionais como veterinários especialistas em esportes caninos, fisioterapeutas e outros especialistas têm desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento de novas técnicas de diagnóstico e tratamento que são aplicadas a pacientes de todas as idades. A constante atualização das práticas, bem como a utilização de novos equipamentos terapêuticos e técnicas de reabilitação, garantem que a medicina esportiva canina continue avançando para o benefício da saúde e bem-estar dos cães.

A medicina esportiva canina deve ser considerada parte integrante do atendimento veterinário para cães ativos e de trabalho. É uma especialidade que exige uma constante atualização, colaboração entre diferentes áreas e um compromisso com a qualidade de vida do animal. Além disso, é importante que os profissionais do setor não apenas atendam a cães com lesões evidentes, mas que também implementem estratégias de prevenção, com a finalidade de evitar danos futuros e promover a longevidade e a saúde do cão.

É imprescindível que os veterinários e os profissionais de saúde animal reconheçam a importância de uma abordagem integrada para a reabilitação de cães ativos. Isso envolve não apenas um diagnóstico preciso, mas também o desenvolvimento de planos de tratamento individualizados, que considerem as necessidades específicas de cada animal, suas condições físicas e seus objetivos.

A formação contínua é um ponto central para garantir que os profissionais da área possam aplicar as melhores práticas e métodos de tratamento, sempre baseados nas mais recentes evidências científicas. Isso não se limita apenas ao tratamento de lesões, mas também à compreensão dos processos fisiológicos que afetam o desempenho físico e a recuperação do cão. O trabalho conjunto com os donos dos cães, que devem ser educados sobre as necessidades de seus animais, também é crucial para garantir o sucesso no tratamento e na manutenção de um estilo de vida saudável e ativo para seus cães.

Quais são os efeitos da nutrição e suplementação em cães atletas durante exercícios prolongados?

A fisiologia do exercício em cães de trabalho, como os cães de trenó, de busca e resgate, e de detecção, apresenta respostas bioquímicas e metabólicas extremamente complexas, que exigem intervenções nutricionais de alta precisão. Pesquisas ao longo das últimas décadas vêm demonstrando que tanto a composição da dieta quanto o uso de suplementos específicos influenciam diretamente o desempenho físico, a recuperação muscular e a manutenção da homeostase metabólica em situações de esforço extremo.

Estudos conduzidos com cães de trenó, especialmente em contextos de corridas prolongadas como as de 1.000 milhas, revelam que há um aumento expressivo na oxidação de carboidratos, o que implica na necessidade de reposição eficiente de glicogênio muscular após o exercício. A suplementação com carboidratos no pós-esforço mostrou acelerar essa reposição e contribuir para a recuperação metabólica. Além disso, a ingestão adequada de lipídios, especialmente em dietas com alta densidade energética, parece fundamental para otimizar o metabolismo aeróbico, considerando a resistência prolongada exigida desses cães.

A ingestão proteica durante os períodos de treinamento intensivo está associada a alterações bioquímicas significativas, incluindo modulações nos níveis de triglicerídeos e no metabolismo do nitrogênio. Dietas com concentrações variáveis de proteínas e gorduras impactam diretamente a resposta hematológica, a temperatura corporal e os perfis de gases sanguíneos, conforme observado em estudos com retrievers submetidos a exercícios programados. A manipulação dietética, portanto, vai além da manutenção da massa corporal e alcança um papel funcional na adaptação fisiológica ao exercício.

Vitaminas como a E e a C têm sido investigadas quanto à sua capacidade de atenuar o estresse oxidativo induzido pelo exercício, com resultados mistos. Em cães de corrida, a administração de antioxidantes demonstrou potencial na redução de danos musculares, embora em algumas raças, como os galgos, a suplementação com vitamina C tenha sido associada à redução do desempenho atlético. Esses dados sugerem uma relação dose-dependente e espécie-específica dos efeitos antioxidantes, sendo necessário considerar a intensidade do exercício e a condição basal do animal.

Em relação aos minerais e eletrólitos, as exigências aumentam drasticamente durante atividades físicas prolongadas, especialmente em ambientes de alta temperatura. Estratégias de hidratação adequadas, inclusive com soluções eletrolíticas orais, foram eficazes na prevenção de desidratação moderada em cães com diarreia hemorrágica, o que reforça a aplicabilidade desses métodos também em contextos de exercício. A homeostase eletrolítica é essencial para a função neuromuscular e cardiovascular, sendo a sua manutenção um ponto crítico em regimes de trabalho físico intenso.

Há ainda evidências do impacto de nutracêuticos no desempenho e recuperação de cães de trabalho. Compostos como a astaxantina, o extrato de mexilhão verde (Perna canaliculus) e o óleo de peixe rico em ácidos graxos ômega-3 mostraram efeito positivo em parâmetros inflamatórios e no suporte articular. Em cães diagnosticados com doença articular degenerativa, esses suplementos proporcionaram alívio sintomático e melhora na sustentação do peso, comparável em alguns casos ao uso de anti-inflamatórios convencionais.

A resposta mitocondrial ao exercício de resistência também foi alvo de investigação. Cães altamente aeróbicos, como os huskies e malamutes de trenó, apresentaram um aumento na capacidade respiratória mitocondrial após corridas prolongadas. Isso indica uma adaptação fisiológica que envolve não apenas o sistema cardiovascular, mas também uma otimização do metabolismo oxidativo celular, o que reforça a importância de estratégias alimentares que sustentem a função mitocondrial.

Por fim, é relevante considerar os riscos associados à alimentação inadequada em cães de alto desempenho. Casos documentados de contaminação alimentar por Salmonella em canis militares, com origem em rações comerciais, evidenciam a necessidade de controle rigoroso da qualidade dos alimentos fornecidos. Dietas mal formuladas ou contaminadas podem comprometer gravemente a saúde dos animais e sua capacidade de desempenho.

É importante que o leitor compreenda que a nutrição esportiva em cães não se resume à oferta de calorias elevadas, mas sim ao equilíbrio meticuloso de macro e micronutrientes, associados a um conhecimento profundo da fisiologia do exercício canino. A suplementação, longe de ser uma solução mágica, deve ser fundamentada em dados científicos e adaptada às condições específicas de trabalho, à raça, à idade e ao estado clínico do animal. A individualização da dieta é essencial, assim como a avaliação contínua dos efeitos da intervenção nutricional sobre o desempenho e a saúde do cão.