A política de alocação de terras nos Estados Unidos, instituída por meio da Lei Dawes de 1887, teve um impacto profundo e devastador sobre as comunidades indígenas. Essa política visava dividir as terras tribais em lotes individuais, promovendo a ideia de que a posse privada de terras seria um caminho para a “civilização” dos povos nativos. O objetivo era transformar os indígenas em proprietários individuais, assimilando-os à sociedade americana e enfraquecendo as estruturas sociais e culturais tradicionais.
O processo de alocação não foi simples, tampouco equitativo. Em muitos casos, os registros dos nativos, como os feitos nas famosas “Dawes Rolls”, estavam longe de ser precisos. A inclusão ou exclusão de indivíduos nesses registros tinha um efeito direto sobre seus direitos à terra. A questão da identidade foi profundamente distorcida, com os nativos americanos enfrentando não apenas a perda física de suas terras, mas também um ataque direto à sua identidade cultural e social. A partir dos registros, surgiram figuras chamadas de "Indígenas de cinco dólares", um termo pejorativo utilizado para descrever aqueles que, por diversas razões administrativas, foram considerados indígenas apenas na documentação, sem qualquer vínculo real com a cultura ou a comunidade.
Além disso, a criação de novos territórios e reservas, como a que aconteceu com a nação Ioway nos anos 1870 e 1880, obrigou muitos povos nativos a se deslocar para áreas de difícil acesso, afetando seu modo de vida e suas relações com o ambiente. Esse processo de deslocamento forçado não era isolado, mas parte de uma estratégia de controle territorial que visava submeter os povos indígenas ao domínio estatal e federal. Para os Ioways, por exemplo, uma parte da nação foi forçada a se mudar para Oklahoma, onde novas reservas foram estabelecidas, e a outra permaneceu em Kansas e Nebraska, enfrentando diferentes tipos de dificuldades sociais e econômicas.
Ao longo das décadas, muitos indígenas resistiram ao processo de alocação e tentativa de assimilação. O movimento das sociedades indígenas americanas, como a Society of American Indians, buscava lutar pela preservação de suas identidades e pela autonomia de suas tribos. No entanto, enfrentavam uma luta constante contra a marginalização e a perda de soberania tribal. O século XX viu o desmantelamento dessas organizações em grande parte devido a fatores externos e a uma crescente pressão governamental, além de controvérsias internas, como a disputa sobre o uso do peyote, que para alguns simbolizava a resistência cultural.
Importante compreender que a alocação de terras não foi apenas uma questão de divisão de território, mas também uma tentativa de controle sobre o destino das nações indígenas. A imposição de uma visão europeia de propriedade, com o conceito de posse privada de terras, foi, na prática, uma violação das formas de uso coletivo da terra praticadas pelas comunidades nativas. Essa mudança forçada em sua relação com a terra teve impactos geracionais, afetando a forma como os povos nativos se viam e se organizavam.
Ao analisar a história da alocação de terras, é essencial também refletir sobre os legados dessa política. O processo de perda de terras não foi apenas uma questão de deslocamento físico, mas também o desmantelamento de sistemas sociais complexos e profundamente enraizados nas tradições e na espiritualidade dos povos indígenas. O impacto cultural e psicológico dessa transformação continua a reverberar até hoje.
Como a Transição da Cultura Woodland para a Cultura Mississippiana Transformou as Comunidades do Vale do Rio Mississippi
A transição da cultura Woodland para a cultura Mississippiana, ocorrida há mais de mil anos, representou uma transformação radical na organização social, cultural e material das comunidades que habitavam o vale do Rio Mississippi. Entre as mudanças mais evidentes, destaca-se uma notável evolução na cultura material, que incluiu o uso de cerâmica temperada com conchas, o arco e flecha, as casas com paredes de trincheira e os cachimbos de pedra em forma de cotovelo e efígie. Essas inovações estavam associadas a uma maior intensificação da agricultura de milho, ao aumento do comércio e intercâmbio entre regiões, ao surgimento de comunidades permanentes e ao desenvolvimento de estruturas públicas. Além disso, a estratificação social passou a se tornar um aspecto visível e fundamental da organização dessas sociedades.
A partir de 1000 d.C., surgiram algumas grandes comunidades, centradas em torno de montes cerimoniais, que gradualmente começaram a se desenvolver no vale do Rio Mississippi. A maior dessas comunidades foi Cahokia, localizada a apenas sete milhas a leste da atual cidade de St. Louis. Não se sabe exatamente qual era o nome dado pelos habitantes originais a Cahokia, mas o nome atual deriva da confederação Cahokia dos Illinois, que habitava a região no momento do contato europeu no século XVII. Situada nas férteis terras agrícolas de American Bottom, Pauketat descreveu Cahokia como “o cinturão de milho da América antiga”. A cidade era um centro cerimonial e sede do governo local.
Antes de 1000 d.C., Cahokia já havia abrigado mais de mil pessoas, muitas das quais possivelmente migraram de pequenas aldeias vizinhas. Contudo, o Cahokia do início do século XI era provavelmente um local etnicamente homogêneo, onde a língua falada e as tradições culturais eram compartilhadas por todos. No entanto, no meio do século XI, algo dramático aconteceu e alterou radicalmente o curso da história dessa cidade. Embora as causas exatas desse evento sejam desconhecidas, muitos estudiosos sugerem que foi um acontecimento militar ou natural que impulsionou uma acelerada transformação da cultura Mississippiana. Uma das teorias mais discutidas é a de que uma supernova que iluminou o céu do hemisfério norte durante dois dias, em julho de 1054, pode ter sido o estopim para essa mudança. Para os Mississipianos, que observavam atentamente o sol, a lua e as estrelas, um evento astronômico dessa magnitude teria uma enorme importância simbólica e religiosa.
Independentemente da causa exata, a transformação de Cahokia foi rápida e profunda. Durante a década de 1050, a antiga cidade foi destruída e, em seu lugar, uma nova cidade cerimonial foi planejada com grandiosidade. O centro cívico e cerimonial de Cahokia foi agora caracterizado pela construção de uma imensa Praça Grande, com quase cinquenta acres, equivalente a trinta e cinco campos de futebol americano modernos. A praça foi nivelada artificialmente com terra e cascalho, tornando-se o local de grandes festas, cerimônias religiosas e jogos cerimoniais como o chunkey. Ao redor da praça, as vizinhanças eram compostas por casas de trincheira, todas com telhados de colmo de forma íngreme, organizadas em bairros que possuíam suas próprias praças menores e grupos de montes.
No norte da Praça Grande, ergue-se o Monte dos Monges, a estrutura pré-colombiana mais imponente da América do Norte, com 30 metros de altura. Este monte colossal, composto por 730.000 metros cúbicos de terra, argila e calcário, foi dividido em quatro plataformas principais. No topo, existia uma casa de conselho, possivelmente o local de decisões políticas e cerimoniais, enquanto no segundo nível havia um pequeno monte cônico que servia como o eixo que organizava toda a cidade. A construção do Monte dos Monges é um marco da grandiosidade da cultura Mississippiana. Durante muito tempo, acreditou-se que sua construção tenha durado séculos, mas recentes escavações indicam que foi erguido rapidamente, em várias fases separadas, entre os séculos XI e XII. Durante essas fases, o monte enfrentou sérios problemas de erosão, evidenciando a rapidez com que o projeto foi executado.
Ao sul da Praça Grande, um caminho elevado, com cerca de 800 metros de comprimento, ligava a praça a plataformas de oferendas, vários montes funerários e terminava no Rattlesnake Mound, um grande monte de terra. O território ao redor de Cahokia também passou por uma reorganização, substituindo as antigas aldeias Woodland por fazendas individuais e comunidades agrícolas nodais. A necessidade de uma fonte confiável de alimento para a crescente população urbana levou a uma intensificação da agricultura nas áreas vizinhas.
Cahokia, por volta de 1150, possuía uma população estimada entre dez mil e quinze mil pessoas. Esse aumento demográfico refletia a centralização da vida política, religiosa e econômica em torno de um único centro urbano, que se tornou o maior da América pré-colombiana. A arquitetura e os espaços cerimoniais, como os grandes montes e praças, não só serviam a rituais e cerimônias religiosas, mas também refletiam uma organização social cada vez mais estratificada. A expansão da cidade também alterou a paisagem ao seu redor, com os montes funerários e as construções sendo modificados para adequar-se às novas necessidades.
É importante entender que, além das inovações materiais e arquitetônicas, o processo de urbanização e centralização política de Cahokia teve profundas implicações sociais e culturais. A crescente complexidade das relações comerciais, o surgimento de uma classe dominante e a redefinição de espaços sagrados e públicos evidenciam um desenvolvimento social em camadas, algo distante das estruturas mais simples que caracterizavam as comunidades Woodland. Esse processo não ocorreu de maneira linear, e cada mudança na paisagem física e social de Cahokia foi acompanhada de ajustes na organização política e religiosa. Ao mesmo tempo, a expansão das práticas agrícolas e o controle sobre os recursos naturais foram essenciais para sustentar essa complexidade crescente.
Como os Osages Enfrentaram a Mudança de Poder em Louisiana e o Impacto nas Relações com os Colonizadores
Em junho de 1802, o governador da Louisiana, Manuel de Salcedo, recebeu uma proposta de comerciantes liderados por Lisa e seus parceiros. Eles prometeram ao governador, em troca do comércio exclusivo com os Osages, construir um moinho de água com dois moinhos de pedras, capaz de produzir farinha da mesma qualidade das fabricadas pelos anglo-americanos. Este moinho, segundo eles, teria grande utilidade para a região de Alta Louisiana, uma vez que reduziria a dependência das farinhas produzidas por empresas americanas. Lisa e seus associados também garantiram que o moinho melhoraria o decadente estado da agricultura em torno de St. Louis. Em 12 de junho, Salcedo, acreditando que a proposta beneficiaria a coroa, decidiu anular o contrato exclusivo dos Chouteaus com os Osages, transferindo-o para Lisa e seus parceiros por um período de cinco anos.
Embora os Chouteaus tenham ficado surpresos com o cancelamento abrupto de seu contrato, logo perceberam que a nova decisão não os excluía completamente do comércio com os Osages. Eles mantiveram seu contrato para fornecer o Forte Carondelet e outras instalações do governo na Louisiana e continuaram a negociar com os Osages que não habitavam os rios Missouri e Osage, o que lhes permitia manter comércio com os Osages do rio Arkansas. Pierre Chouteau, sentindo-se liberado de qualquer obrigação em relação à Espanha, imediatamente reverteu seus esforços anteriores para persuadir os Osages do rio Arkansas a se mudarem para o norte, para viver na aldeia de Pawhuska. Em vez disso, pediu aos Osages de Pawhuska que se deslocassem para o sul, para as aldeias de Clermont II ou Big Track. Embora não quisesse desafiar Clermont II pela autoridade, Pawhuska optou por permanecer no rio Osage. No entanto, cerca de três mil Osages, ou metade dos Grandes Osages, se mudaram para a região das Três Bocas, no rio Arkansas.
No decorrer do século XVIII, os Osages foram uma potência indomável, mantendo sua posição de domínio nas pradarias ao longo da fronteira oeste da Louisiana espanhola. Sob os regimes francês e espanhol, os Osages exerceram grande influência sobre os rios Osage e Arkansas. Sua força militar os permitiu proteger suas terras contra outras nações indígenas e colonos franceses. Sua força econômica lhes dava controle sobre o comércio de peles e escravizados indígenas, criando um mercado internacional que beneficiava os Chouteaus. No entanto, no alvorecer do século XIX, a força dos Osages estava em declínio. A expansão de suas aldeias e a fragmentação de sua liderança devido ao envolvimento com os Chouteaus enfraqueceram a nação, que se preparava para enfrentar seu maior desafio: a chegada dos norte-americanos.
Desde 1795, a coroa espanhola concluiu que não seria capaz de manter o controle total sobre a Louisiana. O custo da administração dessa vasta colônia se tornara proibitivo, e a região se tornava cada vez mais difícil de defender contra os britânicos, os americanos, e outras nações indígenas invasoras. Durante a década de 1790, a Espanha havia tentado várias vezes devolver a colônia à França, mas foi somente com os planos de Napoleão Bonaparte para restaurar um império francês na América do Norte que o acordo foi concretizado. O Tratado de San Ildefonso, assinado em 1º de outubro de 1800, cedeu a Louisiana de volta à França, mas os cidadãos da colônia só tomaram conhecimento disso em 1802. Nesse momento, os Estados Unidos estavam prestes a assinar um tratado em Paris que tornaria o território parte da nova nação. O longo período de reivindicações coloniais europeias no coração da América do Norte estava chegando ao fim, e a vida de indígenas e europeus na região estava prestes a sofrer mais uma transformação radical.
A reação dos Osages a essa mudança de poder foi carregada de desconfiança e resistência. Quando Big Track, líder dos Osages, soube que os Estados Unidos haviam "comprado" o território da Louisiana, ele se recusou a acreditar na notícia. Furioso, jogou a carta que Pierre Chouteau lhe enviara no fogo, duvidando da veracidade da informação. Caso fosse verdade, disse Big Track, eles cessariam o comércio em St. Louis, preferindo negociar com os britânicos a fazer negócios com os americanos. Segundo o historiador Louis F. Burns, isso provavelmente foi uma ameaça vazia dos Osages, esperando que tal postura levasse os americanos a fazer concessões para a nação indígena. No entanto, os Osages seriam desiludidos.
Alguns grupos indígenas, como os Ioways e algumas facções dos Sacs e Foxes, tomaram conhecimento da transferência de terras por meio de despachos escritos enviados por Meriwether Lewis, que estava iniciando sua expedição com William Clark e o Corpo de Descobrimento. Por conta da presença de um intérprete britânico, a reação inicial dessas tribos foi negativa em relação aos americanos. Para corrigir essa visão, o Capitão Amos Stoddard, que estava encarregado de formalizar a posse da Louisiana pelos Estados Unidos, viajou até o rio Des Moines para reunir-se com os Ioways, Sacs e Foxes. Durante o encontro, Stoddard contou com a ajuda do tenente espanhol Carlos Dehault Delassus, que havia sido instruito a anunciar a mudança de forma mais favorável aos nativos, dizendo-lhes que o "novo pai", os americanos, garantiria proteção e prosperidade.
Esse processo de transição foi marcado por uma série de interações e negociações tensas, onde as promessas de proteção e manutenção das tradições indígenas foram, muitas vezes, ignoradas ou desfeitas por uma nova ordem de poder que se estabelecia na região. O domínio americano sobre o território da Louisiana trouxe consigo uma nova realidade que ameaçava a autonomia e o modo de vida dos povos indígenas, que, ao longo dos anos, se veriam forçados a reavaliar suas alianças, resistências e estratégias de sobrevivência. A história dos Osages durante esse período é um exemplo claro da complexa dinâmica de poder entre colonizadores e povos indígenas, uma luta contínua pela preservação de suas terras e culturas frente ao avanço inexorável das potências europeias e, mais tarde, dos Estados Unidos.

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