Dentro dos primeiros oito meses de governo, Donald Trump anunciou uma redução de 16.000 servidores federais permanentes, um número que, embora não muito significativo em um contexto de quase dois milhões de funcionários permanentes, representava uma reversão de uma tendência iniciada durante o governo Obama. O movimento de Trump, de certo modo, reiterava uma abordagem republicana clássica, com foco em uma diminuição do tamanho do governo e da regulação, conceitos que já haviam sido defendidos por presidentes anteriores, como Reagan e os Bush. Estes, por sua vez, também tinham como objetivo liberar os mercados da intervenção estatal, uma ideia compartilhada por libertários e defensores do governo pequeno, especialmente desde a década de 1980.

No entanto, é possível argumentar que Trump foi mais eficaz em cumprir esses objetivos do que seus predecessores. Enquanto as administrações de Reagan e Bush enfrentaram críticas quanto à eficácia de suas políticas de desregulação e redução do tamanho do governo, Trump avançou mais assertivamente em suas promessas, agindo de forma mais contundente nos primeiros anos de seu governo. Ele não apenas manteve, mas intensificou o compromisso republicano com um governo menor e mais voltado para o mercado.

A característica mais marcante da agenda de desregulação de Trump foi a sua apresentação pública. Embora o conteúdo da política em si fosse típico do repertório republicano, Trump a apresentou sob a bandeira da expressão “drenar o pântano” (drain the swamp). A frase, originalmente usada durante um comício em outubro de 2016, rapidamente se tornou um dos gritos de guerra mais populares de sua campanha. Embora Trump inicialmente tenha se mostrado cético quanto à eficácia do termo, ele rapidamente abraçou a ideia depois de ver a resposta entusiástica do público. A partir daí, o slogan se espalhou amplamente nas redes sociais, tornando-se um símbolo de sua tentativa de se distanciar das instituições políticas tradicionais.

A ideia de "drenar o pântano" fez parte de uma crítica mais ampla que Trump dirigiu ao sistema político dos Estados Unidos. Ao contrário de outros políticos que falavam do sistema político com respeito, Trump o tratou como se fosse uma máquina viciada, manipulada por uma elite política contra os interesses do povo. Essa rejeição não se limitava apenas a partidos ou políticos em particular, mas se estendia a grupos de interesse, à mídia, aos tribunais e outras instituições que, na visão de Trump, representavam o status quo que precisava ser mudado. Trump chegou até mesmo a questionar o papel do dinheiro na política, acusando a corrupção de ser uma força controladora nas esferas do governo, enquanto ele, ao mesmo tempo, se posicionava como alguém que se opunha ao financiamento externo para sua campanha, embora na prática tivesse sido um grande contribuidor de recursos financeiros a diversas campanhas políticas antes de se lançar na política propriamente dita.

No entanto, as promessas de Trump para reformar o sistema político se chocavam frequentemente com sua própria prática. Sua retórica de “drenar o pântano” se mostrou mais como uma ferramenta para consolidar seu poder e mobilizar a base eleitoral do que um verdadeiro compromisso com mudanças substanciais. Um exemplo claro disso foi a criação da Comissão Presidencial sobre Integridade Eleitoral em 2017, uma iniciativa supostamente voltada para investigar alegações infundadas de fraude eleitoral em 2016. O que se seguiu foi um desastre político, com a comissão envolvida em disputas legais e sendo finalmente desfeita em 2018, sem apresentar nenhum resultado concreto.

Além disso, a figura de Trump não se distanciou de suas próprias ligações com os interesses políticos e empresariais. Durante a campanha, ele insistia que sua riqueza o tornava independente dos financiamentos típicos de campanha, mas, na prática, as contribuições de grandes empresários e super PACs, além das estratégias de arrecadação de fundos, demonstraram a complexidade do seu envolvimento com o próprio "pântano" que alegava combater. Sua relação com lobistas e interesses corporativos continuou a ser uma característica marcante de sua presidência. Em um famoso discurso de Mick Mulvaney, ex-diretor do escritório de gestão e orçamento de Trump, a prática de “pay-to-play” foi explicitamente defendida como uma parte fundamental da política americana, onde os lobistas que contribuem financeiramente para as campanhas têm maior acesso e influência.

A incoerência entre a retórica e a prática de Trump foi amplificada pela forma como ele próprio gerenciou suas campanhas. Ele declarou que não precisava de contribuições externas, mas, ao mesmo tempo, dependia de grandes quantias de dinheiro, muitas vezes de pessoas com interesses em jogos políticos, para financiar sua candidatura. Ele se tornou, de fato, mais um exemplo do "pântano" que dizia querer eliminar. Essa dicotomia se estendeu também ao seu governo, onde, apesar da retórica populista, as ações de Trump refletiram os mesmos interesses que ele anteriormente criticava.

Assim, a promessa de Trump de drenar o pântano, longe de ser uma revolução, mostrou-se uma peça de retórica política com uma agenda mais limitada e, muitas vezes, auto-interessada. Em vez de propor uma reforma radical no financiamento de campanhas, na regulação do lobby ou na redistribuição do poder político, Trump tornou-se parte integrante do sistema que criticava. Sua administração, de fato, abraçou as mesmas práticas que afirmava combater, uma contradição que não passou despercebida para muitos observadores e que continua a ser uma das questões centrais em torno de sua presidência.

Como a Comunicação de Trump Transforma o Jogo Político e a Mídia

Trump, como comunicador, se distingue pela maneira como utiliza a mídia para afirmar sua presença e influenciar a opinião pública. Seu estilo não é apenas uma resposta às expectativas do público, mas uma forma de manipulação estratégica da atenção das massas, seja positiva ou negativa. A política trumpista é, em grande parte, uma construção midiática pensada para maximizar a exposição e os efeitos das declarações públicas. Sua habilidade para gerar polêmica e estabelecer narrativas, ao mesmo tempo que se distorce das convenções e práticas tradicionais, é a chave para entender como ele se comunica e como isso impacta o cenário político global.

A principal característica dessa comunicação é sua personalização. Trump não apenas delega suas estratégias, mas as executa de maneira direta e pessoal, usando seu telefone para guiar as mensagens da administração. Seu controle sobre a narrativa é absoluto, refletindo sua crença de que ele é o melhor líder para gerir a comunicação de sua presidência, algo que ele vê como a parte mais importante de seu governo. Ele entende profundamente o que chama a atenção da mídia, e sabe como oferecê-la de maneira constante. Trump sabe que os jornalistas necessitam de conteúdo, de “cópia” e manchetes, e ele é hábil em fornecer ambos com grande quantidade. Confrontos e desentendimentos, seja com políticos ou outras figuras públicas, são métodos constantes para garantir uma cobertura prolongada. Essa habilidade de gerar “batalhas” públicas, ou “beefs”, serve para prender a atenção do público e gerar dias ou até meses de cobertura.

Além disso, Trump é mestre em provocar opiniões polêmicas que desafiem o convencional. Ele oferece afirmações controversas com a intenção clara de gerar debate e divisões, sabendo que a polarização é uma poderosa ferramenta midiática. Muitas vezes, suas declarações não são acompanhadas de explicações ou justificativas, preferindo o uso de slogans simples como “Construa o muro”, “Tranque-a” ou “Drene o pântano”, que carregam apelo emocional direto. Sua estratégia retórica é imprevisível e focada em criar uma imagem de autenticidade, apresentando emoções e traços de personalidade como raiva, confiança e até arrogância, o que torna sua figura mais “humana” aos olhos do público, em contraste com a atitude reservada e muitas vezes impessoal de outros políticos tradicionais.

Outro aspecto essencial da comunicação de Trump é sua notável capacidade de ser reativo. Através de sua conta no Twitter, ele consegue intervir nas notícias de forma ágil, respondendo rapidamente a qualquer crítica ou história negativa que surja sobre ele. Essa sensibilidade à mídia permite que Trump dirija o ciclo noticioso de acordo com seus interesses, mudando o foco quando necessário. Ele é conhecido por “contra-atacar” diretamente em situações que ameaçam sua imagem, frequentemente utilizando seu estilo combativo e direto. Sua habilidade de se inserir diretamente nas coberturas midiáticas, até mesmo fazendo ligações para programas como o Fox News, exemplifica sua estratégia de manipulação da narrativa em tempo real.

Trump também entende profundamente como dominar a cobertura política da mídia. Ele sabe que certos temas, especialmente os relacionados à “guerra cultural”, são altamente polarizadores e garantem ampla cobertura. Ao expressar posições fortes e frequentemente extremas, ele ativa uma reação emocional nas audiências, o que amplifica ainda mais sua visibilidade. Sua capacidade de usar o Twitter para lançar ataques rápidos e diretos, muitas vezes em letras maiúsculas, é uma das maneiras pelas quais ele gera e mantém a atenção constante.

Sua comunicação não se prende aos padrões convencionais de consistência ideológica ou factualidade. Enquanto outros políticos seguem uma linha de coerência e precisão para se posicionar em relação a questões específicas, Trump se destaca por sua flexibilidade ideológica. Ele pode, por exemplo, fazer elogios a suas próprias políticas fiscais enquanto impõe tarifas e programas de subsídios para neutralizar os impactos econômicos dessas tarifas. Seu comportamento de contradição constante e reversões repentinas de posicionamento se tornam parte de sua identidade pública, um reflexo da constante experimentação com a comunicação política.

O uso do "balão de ensaio" ou "trial balloon" é uma técnica que Trump adotou com frequência. Ele faz declarações que podem ser amplamente contestadas, apenas para observar a reação do público e da mídia antes de tomar uma decisão final. Esse tipo de posicionamento condicional permite que ele navegue sem comprometer sua imagem ou sua base, muitas vezes mudando de opinião com facilidade se perceber que a resposta não é favorável. Sua estratégia de comunicação não busca consistência, mas sim o impacto imediato e a reação do público, o que a torna dinâmica e volátil.

Finalmente, uma das peculiaridades de Trump é sua disposição em aceitar, e até mesmo buscar, críticas. Ao contrário de outros políticos que evitam qualquer cobertura negativa, Trump não só tolera como, muitas vezes, se aproveita dela. Sua filosofia é simples: a atenção, seja boa ou ruim, é valiosa. Para ele, estar no centro das notícias é o objetivo final, pois ele sabe que isso gera valor, tanto para sua imagem pública quanto para suas intenções políticas. Sua abordagem reflete uma visão de que a mídia, mais do que qualquer outra coisa, deve ser manipulada a seu favor, criando um ciclo interminável de cobertura, reação e retaliação.

É importante observar que a comunicação de Trump não é apenas uma questão de estilo pessoal, mas uma estratégia profundamente calculada que visa moldar a percepção pública e manter o foco constante em sua figura. Isso envolve, além das técnicas mencionadas, uma compreensão refinada do comportamento da mídia moderna, das redes sociais e da polarização política. O impacto dessa estratégia vai muito além de suas ações imediatas, afetando os rumos da política contemporânea e a maneira como os líderes mundiais se comunicam com o público.

Como Donald Trump Moldou Sua Estratégia de Comunicação para Dominar a Mídia e o Discurso Político

A comunicação de Donald Trump foi marcada por um estilo incomum e audacioso que desafiou as normas tradicionais de discurso político. Sua principal estratégia, em essência, era clara: obter o máximo de cobertura positiva e minimizar a negativa. Mas o que é peculiar na abordagem de Trump é que ele, frequentemente, optava por gerar controvérsias deliberadas, criando um ambiente onde seu nome estava constantemente nas manchetes. Esta tática tinha um objetivo central: dominar a narrativa. Trump sabia que, ao causar um alvoroço, poderia não apenas garantir atenção, mas reforçar sua imagem como o principal personagem da história política. Em sua ótica, mais cobertura significava menos espaço para seus oponentes, o que gerava um ciclo de atenção constante, que se ampliava a cada nova polêmica.

Sua estratégia de comunicação não era apenas uma ferramenta para a promoção de sua imagem pessoal, mas também para reforçar três mensagens centrais: ele era um líder audaz e decisivo, estava contra o establishment e colocava a América em primeiro lugar. Cada uma dessas mensagens refletia uma construção estratégica de imagem que o posicionava como um outsider, alguém que não fazia parte da estrutura política tradicional de Washington. Embora essa narrativa de "anti-establishment" fosse central durante sua campanha, uma vez na Casa Branca, Trump teve que enfrentar o dilema clássico do outsider que agora precisava governar dentro de um sistema que ele havia prometido destruir. Para sustentar sua narrativa, ele continuou a atacar a política tradicional, os líderes de ambos os partidos, os tribunais, sua própria equipe de governo e, claro, a mídia. Seu confronto constante com essas instituições ajudava a solidificar sua posição como um "rebeldde" que estava constantemente em guerra com um sistema supostamente corrupto.

Outro aspecto fundamental da sua comunicação era o uso de questões divisivas. Trump não se preocupava em alinhar-se com sua base de maneira uniforme, muitas vezes abraçando posições polarizadoras que contrastavam com as opiniões da elite política. Questões como imigração, comércio e correção política eram temas recorrentes que lhe permitiam se apresentar como um líder que defendia os interesses de seus eleitores, sem se preocupar em agradar aos que estavam no topo da hierarquia política. Ele utilizava eventos simbólicos para reforçar essas questões, como sua condenação ao ato de atletas que se ajoelhavam durante o hino nacional em protesto contra a injustiça racial ou sua postura diante dos protestos em Charlottesville, onde não condenou explicitamente os supremacistas brancos. Essas ações, por mais polêmicas que fossem, reforçavam a imagem de Trump como um líder que se opunha à "political correctness" e representava os valores de uma parte significativa da população americana, mais conservadora e menos tolerante com questões de raça.

Trump também se utilizou de um simbolismo feroz em sua comunicação. Ele não só dava ênfase às suas ordens executivas, como a proibição de viagem para cidadãos de países muçulmanos, mas também garantiu que essas ações tivessem uma cobertura midiática constante. Essas ações não eram apenas gestos administrativos, mas símbolos de sua posição como um homem de ação, um presidente que estava constantemente em movimento e que se colocava em oposição direta ao sistema político estabelecido. Sua tática de “assinar um decreto e criar uma notícia” lhe garantia não apenas visibilidade, mas também o controle sobre a narrativa política do momento.

A relação de Trump com a mídia foi marcada por uma atitude agressiva e, por vezes, desdenhosa. Ao rotular as notícias que não favoreciam sua administração como “fake news”, ele estava criando uma separação clara entre sua visão de mundo e a dos meios de comunicação tradicionais. Essa relação ambígua com a mídia não apenas solidificava sua narrativa de "anti-establishment", mas também mantinha a mídia sob constante pressão, provocando respostas rápidas e frequentemente exageradas, o que, por sua vez, alimentava ainda mais sua narrativa de luta contra a elite.

Este estilo de comunicação, por mais desorganizado e aparentemente descontrolado, teve um efeito poderoso. Trump foi capaz de se manter no centro das atenções de uma maneira sem precedentes. Sua estratégia não apenas lhe rendeu cobertura significativa durante sua campanha, mas também, de certa forma, lhe proporcionou uma vitória política que muitos consideravam improvável. No entanto, o grande desafio era saber se essa abordagem poderia, de fato, ser bem-sucedida ao governar, já que não estava claro se ele seria capaz de transformar seu domínio midiático em vitórias políticas duradouras em Washington.

A chave para compreender o sucesso de Trump está, portanto, em sua capacidade de usar a mídia para seu benefício, ao mesmo tempo que desafiava as normas estabelecidas. Seu estilo de comunicação, embora incomum, foi eficaz em construir e manter uma base de apoio sólida. Mas a verdadeira questão era se essa base seria suficiente para permitir-lhe implementar suas políticas de forma efetiva e transformar sua retórica em ações concretas dentro da política americana.

Como a lealdade pessoal superou a experiência no processo de nomeações do governo Trump

O processo de nomeações no governo Trump foi marcado pela prioridade dada à lealdade pessoal em detrimento da experiência política ou ideológica. O presidente, ao contrário de seus predecessores, não valorizava a competência técnica ou o conhecimento especializado, mas sim a fidelidade inquestionável de seus subordinados. Isso se refletiu não apenas na escolha de conselheiros e secretários, mas também na nomeação de familiares e amigos próximos para cargos de alta relevância, um fenômeno que teve implicações tanto na gestão interna da Casa Branca quanto na condução da política pública.

James Comey, ex-diretor do FBI, caracterizou a obsessão de Trump por lealdade como algo “mafioso” (Comey, 2018). Trump rejeitava qualquer figura associada à oposição ao seu governo, como aqueles ligados ao movimento "Dump Trump" de 2016, além de nutrir desconfiança profunda em relação a qualquer pessoa associada aos mandatos de George H. W. Bush ou George W. Bush. Em vez de nomear especialistas republicanos ou insiders de Washington, Trump cercou-se de uma pequena rede de leais aliados de sua campanha de 2016, que, embora competentes em suas respectivas áreas, careciam de experiência governamental significativa. Figuras como Steve Bannon, Michael Flynn, Reince Priebus, Kellyanne Conway e Hope Hicks, que passaram da campanha para cargos no governo, trouxeram com elas um nível de inexperiência e improvisação que se refletiu na dinâmica caótica da administração.

A nomeação de sua filha Ivanka Trump e de seu genro Jared Kushner como assessores de alto escalão foi, sem dúvida, uma tentativa de garantir lealdade, mas não há como negar que ambos careciam de experiência prática no governo. Kushner, por exemplo, passou a acumular responsabilidades em uma vasta gama de áreas políticas nas quais tinha pouco ou nenhum conhecimento, o que expôs a fragilidade da equipe de Trump na administração de assuntos complexos. A lealdade pessoal, portanto, acabou se sobrepondo à competência necessária para enfrentar os desafios diários da Casa Branca.

Além disso, Trump mostrava preferência por figuras públicas e militares que projetassem a imagem de autoridade e sucesso. Sua admiração por generais, como o General James Mattis, e por uniformes militares, ilustra sua tendência de valorizar a aparência de força e disciplina em detrimento da experiência prática. A nomeação de Larry Kudlow, comentarista da NBC, como conselheiro econômico principal, exemplifica o estilo "casting" do presidente, mais interessado na imagem pública do que no conhecimento técnico necessário para os desafios econômicos do país.

Este processo de nomeações, embora centrado na lealdade pessoal e na projeção de uma imagem pública favorável, gerou sérias dificuldades para a governança. O resultado foi uma administração sem uma equipe experiente e sem a capacidade de formar um quadro técnico competente para lidar com as complexas questões políticas e internacionais. A falta de um círculo de especialistas que pudessem oferecer conselhos bem-informados limitou as opções de Trump e a sua capacidade de liderar com eficácia. Em muitos casos, a Casa Branca foi uma arena onde a improvisação e a falta de experiência dominaram, com figuras chave aprendendo à medida que avançavam em cargos de alta responsabilidade.

Além disso, o tratamento ríspido dado a muitos membros de sua equipe exacerbava o problema. Trump era conhecido por humilhar publicamente seus colaboradores, o que levou a uma taxa de rotatividade recorde em seu governo. A demissão ou marginalização de figuras importantes como o procurador-geral Jeff Sessions e o conselheiro de segurança nacional John Bolton geraram um ambiente de trabalho tenso e pouco colaborativo. A desconfiança mútua e o comportamento errático de Trump impediram que sua administração fosse um lugar de inovação ou crescimento, resultando em uma administração com pouca coesão interna e uma constante reconfiguração de sua equipe.

No entanto, parte dessa situação é atribuída à falta de um "exército revolucionário" de políticos e especialistas dispostos a apoiar o governo de Trump. Quando assumiu a presidência, Trump não possuía uma rede de contatos estabelecida ou um grupo de aliados de confiança que pudessem preencher os cargos-chave do governo. Sua rejeição às figuras tradicionais da política e sua postura anti-establishment dificultaram ainda mais o preenchimento de cargos, forçando-o a depender do próprio Partido Republicano. A falta de uma rede própria de apoio resultou em um número significativo de nomeações vindas de dentro do establishment republicano, apesar da retórica antissistema do presidente.

Essa dificuldade em encontrar pessoal qualificado não se limitou apenas aos altos cargos de nomeação. Trump também enfrentou enormes desafios ao tentar preencher as 4.100 vagas do “Plum Book”, um catálogo de posições políticas federais a serem preenchidas por uma nova administração. A ausência de uma rede de apoio e a falta de capacidade para atrair os melhores talentos resultaram em nomeações de figuras ligadas diretamente ao Partido Republicano, que, apesar de suas qualificações políticas, não tinham necessariamente a experiência necessária para lidar com os desafios diários da administração pública.

A dificuldade de Trump em preencher as vagas da administração e a subsequente falta de liderança eficiente na gestão dos departamentos do governo geraram uma governança fragmentada e em grande parte desorganizada. Embora o presidente tenha prometido “desconstruir o estado administrativo”, o que se viu na prática foi uma série de nomeações de republicanos tradicionais para liderar o sistema burocrático que ele havia prometido desafiar, o que acabou fortalecendo o establishment que, inicialmente, ele tentou combater.

Em resumo, o governo Trump foi marcado pela constante luta para equilibrar a lealdade pessoal com a necessidade de experiência técnica. Esse dilema se reflete em uma administração caracterizada pela inexperiência, pela rotatividade e pela falta de coesão interna, o que resultou em dificuldades na formulação e implementação de políticas cruciais. O processo de nomeações foi um reflexo direto de uma governança fragmentada e de uma presidência incapaz de estruturar sua equipe de forma a maximizar a eficácia e a especialização necessária para governar o país.