O transporte de carga em MoS2 ocorre tanto por meio dos estados localizados quanto das bandas eletrônicas, o que aumenta a concentração de portadores de carga e a condutividade elétrica. As técnicas de dopagem controlada em materiais de dicalcogenetos de metais de transição (TMDCs) deslocam as tensões de limiar dos dispositivos para um potencial negativo maior no caso de dopagem tipo-n e para um lado positivo maior no caso de dopagem tipo-p. Assim, a redução das resistências de contato favorece a injeção e coleta de portadores de carga, o que, por sua vez, aumenta a corrente e a mobilidade dos portadores. Khan et al. realizaram um estudo detalhado com base em princípios fundamentais para avaliar as propriedades eletrônicas dos TMDCs 2D na presença de defeitos de vacância. Três tipos de defeitos foram considerados nos TMDCs do tipo MX2: (i) vacância X, (ii) vacância X2 e (iii) vacância M. Foi demonstrado que as vacâncias no sistema 2D geram estados defeituosos localizados na estrutura de bandas, o que leva a transições abruptas nas susceptibilidades óticas planas e perpendiculares ao plano.

A separação de estados de banda na presença de acoplamento spin-órbita (SO) é um fenômeno crítico nos TMDCs. Esse acoplamento induz uma divisão da banda de valência, e a degenerescência do ponto K no máximo da banda de valência (VBM) de monolayers de TMDCs é levantada devido ao SOC, enquanto a degenerescência na banda de condução é preservada. Por exemplo, a divisão da energia da banda de valência em MoS2 e MoSe2 de monocamada foi prevista para ser de 160 meV e 180 meV, respectivamente. Esse fenômeno tem grande relevância para a modulação das propriedades eletrônicas e óticas desses materiais, especialmente em dispositivos optoeletrônicos.

Os heteroestruturas de MX2 empilhadas por forças de Van der Waals (vdW) formadas por dois monolayers de MX2, como MoS2 e WS2, possuem tanto gaps diretos quanto indiretos. Quando os máximos e mínimos das bandas de condução e valência estão em camadas separadas, a separação espacial dos pares elétron-buraco pode resultar na formação de excítons ligados com tempos de vida mais longos e possibilidade de condensação. Essas características podem ser úteis em aplicações fotônicas avançadas, como lasers e dispositivos de emissão de luz eficientes em 2D.

A temperatura também exerce influência significativa sobre as propriedades dos materiais semicondutores, incluindo os TMDCs. A dependência da energia da banda em relação à temperatura segue a equação clássica, onde o gap de energia diminui com o aumento da temperatura devido à interação entre elétrons e fônons. A variação da largura de banda dos TMDCs monocamada com a temperatura é um comportamento comum em muitos semicondutores. Esse fenômeno pode ser relevante para o projeto de dispositivos operando em diferentes condições térmicas, especialmente para aqueles que dependem de precisão e controle da energia de banda.

Além disso, a engenharia de tensões em TMDCs tem demonstrado resultados significativos. Devido à composição estrutural e à estabilidade, uma quantidade menor de tensão mecânica pode alterar o gap de banda nos TMDCs, em comparação com materiais como o grafeno. O ajuste de tensão mecânica também pode induzir transições de banda direta para indireta ou de semicondutor para metálico. Os materiais baseados em fósforo negro (BP) mostram uma característica de gap direto independente do número de camadas, o que pode ser vantajoso em dispositivos de emissão e detecção de luz infravermelha.

As propriedades ópticas desses materiais, como absorção e recombinação radiativa, são cruciais para muitas aplicações em dispositivos fotônicos. Quando iluminados com fótons de energia superior ao gap de banda, os TMDCs exibem uma absorção óptica significativa, principalmente nas ressonâncias de gap de banda, que caem nas faixas visíveis e no infravermelho próximo (NIR). Estudos demonstraram que monolayers de TMDCs como MoS2, MoSe2 e WS2 apresentam absorção de até 10% em algumas partes do espectro visível, e até mais de 30% em certos comprimentos de onda.

Em relação à dinâmica dos excítons, monolayers de TMDCs exibem tempos de vida radiativa que variam de alguns picosegundos a nanosegundos, dependendo da temperatura e da estrutura do material. Esses tempos de decaimento mais longos para monocamadas, em comparação com formas mais espessas, oferecem uma maior flexibilidade para controlar os comportamentos óticos e eletrônicos desses materiais em dispositivos optoeletrônicos.

Portanto, a engenharia de defeitos, o acoplamento spin-órbita, as variações térmicas e a modulação mecânica são aspectos essenciais que devem ser considerados no desenvolvimento de dispositivos baseados em TMDCs. A capacidade de manipular essas propriedades abre um vasto campo para o desenvolvimento de tecnologias em áreas como eletrônica, fotônica e energia, proporcionando novos caminhos para dispositivos eficientes e altamente especializados.

Como Filmes Semicondutores de Óxidos e Calcogenetos Estão Transformando a Energia Solar e a Tecnologia Eletrônica

Os filmes semicondutores de óxidos e calcogenetos têm se destacado como materiais-chave em diversas aplicações tecnológicas, principalmente no campo da energia solar e da eletrônica. Eles são altamente valorizados devido às suas propriedades físicas e químicas únicas, que os tornam ideais para uso em células solares, dispositivos optoeletrônicos e outros componentes críticos. A manipulação dessas propriedades, como a condutividade, a eficiência de absorção de luz e a estabilidade térmica, abre caminho para inovações nas tecnologias de energia renovável.

A pesquisa sobre semicondutores de óxidos e calcogenetos cresceu significativamente nos últimos anos, com uma série de avanços que tornaram esses materiais mais eficientes e acessíveis. Materiais como óxidos metálicos e sulfetos de metais de transição têm sido amplamente estudados devido à sua capacidade de absorver luz de forma eficaz e de realizar a conversão energética com alta eficiência. Esses materiais não apenas oferecem excelente estabilidade, mas também são relativamente fáceis de fabricar em grande escala, o que os torna uma alternativa viável para a produção de dispositivos de energia solar de baixo custo.

Em particular, óxidos como o TiO₂ (dióxido de titânio), ZnO (óxido de zinco) e Cu₂O (óxido de cobre) têm mostrado grande potencial em células solares, especialmente em dispositivos baseados em heteroestruturas, onde as camadas de diferentes materiais semicondutores se combinam para melhorar a eficiência geral. Já os calcogenetos, como o CuInSe₂ (selênio de cobre, índio) e o CdTe (telureto de cádmio), se destacam por sua habilidade em capturar uma ampla gama de comprimentos de onda de luz, o que os torna especialmente eficazes em ambientes de baixa luminosidade.

Esses materiais possuem vantagens notáveis no campo dos semicondutores, principalmente devido à sua versatilidade em vários dispositivos eletrônicos, como transistores de efeito de campo (FETs), memórias não voláteis e sensores. Os avanços em técnicas de deposição e epitaxia molecular, como a epitaxia por feixe molecular (MBE), permitiram um controle preciso da estrutura dos filmes, aumentando sua mobilidade eletrônica e melhorando ainda mais a performance dos dispositivos.

No entanto, o desenvolvimento de materiais de alta qualidade e a otimização de processos de fabricação continuam sendo desafios importantes. A estabilidade a longo prazo e a resistência à degradação sob exposição à luz intensa ou à umidade são aspectos críticos que precisam ser cuidadosamente monitorados para garantir a durabilidade dos dispositivos baseados nesses materiais. Embora os calcogenetos tenham mostrado grande potencial em termos de eficiência de conversão de energia, por exemplo, o uso de cádmio em CdTe ainda levanta preocupações ambientais que exigem soluções mais sustentáveis.

A pesquisa continua em busca de alternativas que não apenas melhorem as propriedades elétricas e ópticas, mas que também atendam aos desafios ambientais e econômicos. Isso inclui a busca por novos materiais, como os compostos à base de perovskita, que combinam eficiência com menor impacto ambiental, e técnicas de produção mais ecológicas.

Além disso, é importante notar que a engenharia de materiais em filmes finos também se estende além da energia solar, incluindo áreas como a fotocatálise e os dispositivos de armazenamento de energia. A aplicação desses materiais em sistemas de conversão de energia, como fotocatalisadores para hidrólise da água e produção de hidrogênio, abre novas fronteiras no desenvolvimento de fontes de energia limpa e renovável.

É essencial para os leitores entenderem que o campo dos semicondutores de óxidos e calcogenetos não é apenas promissor, mas também desafiador, e requer uma compreensão profunda das interações entre os materiais e suas propriedades a nível atômico e molecular. A otimização desses materiais não depende apenas de avanços tecnológicos, mas também de uma colaboração interdisciplinar entre física, química, engenharia de materiais e ciências ambientais.