O tratamento antiviral em recém-nascidos e crianças é uma área de crescente importância, dada a variedade de infecções virais que afetam essa faixa etária e os avanços significativos no desenvolvimento de terapias eficazes. Algumas infecções virais, como a herpes simplex (HSV), o vírus varicela-zoster (VZV) e o citomegalovírus (CMV), apresentam abordagens terapêuticas distintas e exigem cuidados especiais devido à vulnerabilidade dos pacientes, suas respostas imunes e os riscos de complicações de longo prazo. A seguir, discutiremos algumas dessas infecções e os tratamentos antivirais recomendados, com foco em sua aplicação prática.

Infecções neonatais por HSV são frequentemente adquiridas durante o parto, com os sintomas se manifestando principalmente em três formas clínicas: doença confinado à pele, olhos ou mucosas (doença SEM); doença disseminada, com envolvimento de múltiplos órgãos; e doença do sistema nervoso central (SNC). A introdução da aciclovir no tratamento precoce de recém-nascidos afetados por HSV levou a uma redução significativa na mortalidade, principalmente nos casos de doença SEM, que possuem o melhor prognóstico. Contudo, em casos de doença disseminada, a mortalidade pode atingir até 30%, e os sobreviventes de infecção do SNC podem enfrentar sequelas neurológicas graves, mesmo com o tratamento adequado com aciclovir intravenoso seguido de terapia oral. A estimativa mais recente aponta que a incidência da infecção neonatal por HSV varia entre 50 e 60 casos por 100.000 nascidos vivos, um número maior do que o previsto anteriormente.

O tratamento antiviral precoce com aciclovir diminuiu significativamente os casos de doença disseminada e as complicações associadas. Para crianças mais velhas, as infecções por HSV, especialmente a gingivoestomatite primária, são comuns, e embora a aciclovir tópico seja ineficaz, o uso de aciclovir intravenoso em pacientes imunocomprometidos continua sendo recomendado. A encefalite herpética (HSE), embora rara, ocorre com mais frequência após o período neonatal e deve ser tratada com uma terapia intravenosa de aciclovir por 21 dias.

No caso do vírus varicela-zoster, que causa a varicela, a terapia antiviral não é recomendada para crianças saudáveis com menos de 12 anos. No entanto, valaciclovir oral é indicado para crianças com risco elevado de complicações, como aquelas com doenças crônicas subjacentes ou com mais de 12 anos. Em casos de infecção grave ou em pacientes imunocomprometidos, o uso de aciclovir intravenoso é recomendado.

Por fim, a infecção congênita por citomegalovírus (CMV) representa uma das infecções congênitas mais comuns, afetando cerca de 0,5% dos nascimentos vivos nos países desenvolvidos. Embora a maioria dos recém-nascidos com infecção congênita por CMV seja assintomática, aqueles que apresentam manifestações clínicas ao nascimento podem desenvolver sequelas graves, como perda auditiva sensorioneural e atraso no desenvolvimento. A mortalidade em casos de infecção congênita sintomática é de cerca de 5% a 10%, e os sobreviventes frequentemente enfrentam sequelas permanentes.

O tratamento antiviral para o CMV em recém-nascidos é realizado com ganciclovir ou valganciclovir, sendo importante iniciar o tratamento o mais precocemente possível para evitar sequelas permanentes. A terapia antiviral no CMV congênito não é indicada em todos os casos, mas é uma opção importante para os recém-nascidos com manifestações clínicas significativas.

Embora as terapias antivirais tenham melhorado consideravelmente os desfechos clínicos, é crucial que os médicos estejam atentos aos efeitos adversos potenciais, como hepatotoxicidade, pancitopenia e distúrbios hematológicos, que podem ocorrer com alguns medicamentos, como a terbinafina, amplamente usada para infecções fúngicas superficiais, mas que apresenta riscos em pacientes pediátricos. O manejo cuidadoso desses efeitos adversos e o monitoramento contínuo durante o tratamento são essenciais para garantir a segurança e a eficácia das terapias antivirais.

Além disso, é importante que os médicos considerem o contexto clínico de cada paciente ao escolher a terapia antiviral, levando em conta fatores como a gravidade da infecção, o estado imunológico da criança e a presença de comorbidades. O uso de antivirais em crianças deve ser sempre cuidadosamente monitorado, uma vez que as respostas terapêuticas podem variar de acordo com a idade, o desenvolvimento e as condições de saúde subjacentes.

Como a Medicina de Precisão e o Monitoramento Terapêutico de Medicamentos Podem Revolucionar o Tratamento de Pacientes?

A medicina moderna tem sido marcada pela tentativa de aplicar tratamentos eficazes para um paciente “médio”, tomando como base a dosagem padrão recomendada. No entanto, frequentemente, essa abordagem resulta em uma variabilidade significativa na resposta aos medicamentos, tanto entre pacientes quanto dentro de um mesmo paciente ao longo do tempo. Isso ocorre porque a resposta a tratamentos farmacológicos é influenciada por uma série de fatores, como características genéticas, idade, tamanho corporal, condições clínicas e ambientais, além de comorbidades. Especialmente em crianças – e, em particular, nos recém-nascidos – o tratamento com base na dose padrão é desafiador devido às rápidas mudanças dinâmicas em tamanho corporal e fisiologia. Assim, um tratamento que se revele eficaz para um paciente pode não ter o mesmo efeito para outro, tornando urgente a busca por abordagens mais personalizadas.

A medicina de precisão, como resposta a essa variabilidade, propõe o ajuste dos tratamentos farmacológicos de acordo com as necessidades específicas de cada paciente. Essa abordagem considera uma série de fatores individuais, como o genótipo, as características demográficas, o histórico clínico, o ambiente e o estilo de vida, permitindo um tratamento mais direcionado e eficaz. Um dos caminhos mais diretos para personalizar o tratamento é medir objetivamente a resposta do paciente ao medicamento, ajustando a dosagem de forma individualizada. Contudo, a aplicação prática desse conceito se torna difícil, pois a medição direta do efeito terapêutico em muitos casos não é simples nem sempre possível. Esse desafio se intensifica em condições clínicas graves, onde a obtenção de um efeito clínico adequado deve ser feita rapidamente, mas sem ultrapassar os limites de dose que possam gerar efeitos adversos.

A farmacocinética (PK) e a farmacodinâmica (PD) desempenham um papel crucial para a compreensão e o manejo dessa variabilidade. A PK refere-se ao que o corpo faz com o medicamento – ou seja, como ele é absorvido, distribuído, metabolizado e excretado –, enquanto a PD descreve o efeito que o medicamento exerce no corpo. A aplicação de conceitos de PK e PD é fundamental para garantir que a dosagem seja ajustada de maneira a maximizar os efeitos terapêuticos e minimizar os efeitos colaterais. Nos últimos anos, avanços significativos foram feitos no estudo da PK e PD pediátricos, especialmente em neonatos, permitindo um entendimento mais profundo de como o crescimento e o desenvolvimento influenciam a absorção e a resposta a medicamentos.

No entanto, a precisão dos tratamentos em pediatria, especialmente em recém-nascidos, ainda enfrenta muitos desafios. A falta de dados suficientes para definir adequadamente as doses para a faixa etária infantil é um obstáculo importante, e a adaptação das doses baseando-se em dados de adultos nem sempre é segura. Em muitos casos, a dosagem é definida por extrapolação e por um processo de tentativa e erro, que pode ser ineficaz ou até perigoso, principalmente em crianças muito pequenas.

A estratégia de concentração alvo é uma forma de abordagem que tenta melhorar essa personalização. A relação entre o efeito de um medicamento e sua concentração no sangue costuma ser mais confiável do que a relação entre a dose administrada e o efeito observado. O monitoramento terapêutico de medicamentos (TDM, na sigla em inglês) tem como objetivo garantir que as concentrações de medicamento sejam adequadas para atingir a eficácia desejada sem gerar toxicidade. O TDM permite que os médicos ajustem a dosagem de acordo com as variações individuais do paciente, o que é crucial quando se trata de pacientes em que a resposta ao tratamento não pode ser facilmente medida de outra forma.

A personalização do tratamento deve ser vista como um processo contínuo, onde a prática clínica é constantemente ajustada à medida que novas informações são obtidas, permitindo o aprimoramento dos resultados terapêuticos. A implementação da medicina de precisão é especialmente desafiadora em populações pediátricas, devido à grande falta de dados sobre doses, eficácia e segurança para medicamentos usados em crianças. Isso torna necessário um aprofundamento no entendimento das mudanças dinâmicas relacionadas à idade nas características farmacocinéticas e farmacodinâmicas, o que pode resultar em uma dosagem mais precisa e segura.

A adesão ao tratamento, um dos fatores cruciais para o sucesso de qualquer regime terapêutico, também apresenta desafios específicos na pediatria. Crianças, principalmente aquelas com doenças crônicas, podem ter dificuldade em seguir esquemas de medicação complexos, o que pode levar à subexposição ou à superexposição a medicamentos e, consequentemente, à ineficácia ou toxicidade do tratamento. Estima-se que até 50% dos pacientes pediátricos não sigam as orientações de tratamento corretamente, o que pode comprometer gravemente o sucesso terapêutico. A variedade de formulações de um mesmo medicamento e suas diferenças nas características de absorção também podem afetar a eficácia do tratamento.

Para o avanço da medicina de precisão, é essencial que se desenvolvam abordagens baseadas em dados sólidos e personalizados, que considerem a variabilidade entre os pacientes, o que poderá garantir uma terapia mais eficaz e segura para todos, especialmente as crianças e os recém-nascidos. A implementação de estratégias de monitoramento terapêutico, como o TDM, pode representar um avanço fundamental para alcançar esse objetivo, permitindo que a medicina se torne mais precisa, eficaz e segura para as populações mais vulneráveis.