O Condado de Saline, lar dos chamados Pequenos Osages, estava situado em um local estratégico, cercado por pradarias e próximo ao rio, a poucos quilômetros de onde os rios Grand e Chariton se encontram ao norte. Essa localização não era apenas conveniente para os habitantes locais, mas também para controlar o tráfego dos indígenas e comerciantes franceses que passavam pela região. O principal vilarejo dos Missourias, uma grande cidade de aproximadamente trinta a quarenta acres, estava situada em um local onde seus ancestrais Oneota haviam se estabelecido já em 1350. As casas do vilarejo, de formato cônico, eram cobertas com tapetes de junco trançados, e os moradores se dedicavam à agricultura, caça, pesca e coleta de plantas selvagens. Os cervos, alces, wild turkeys (perus selvagens) e peixes eram abundantes, além da prática de caçadas anuais de bisões a oeste do vilarejo.
Quando o comerciante francês Bourgmont chegou aos Missourias em 1712, é provável que tenha encontrado mercadorias típicas do comércio francês, como contas, facas, panelas, anéis e pulseiras. Os Missourias estavam em contato com comerciantes franceses da região do País de Illinois e do norte do rio Mississippi desde pelo menos a década de 1690, mas foi com Bourgmont que o primeiro francês se estabeleceu permanentemente entre eles. Como outros povos da região, os Missourias recebiam seus visitantes de forma cerimonial, praticando rituais de hospitalidade que, provavelmente, eram semelhantes aos registrados por Nicolas Perrot em suas visitas a parentes próximos dos Missourias, os Ioways. Perrot relatou ser carregado sobre uma pele de búfalo até a tenda do líder da aldeia, onde o chefe realizava uma série de cerimônias, oferecendo-lhe um cachimbo e pedacinhos de língua de búfalo.
Bourgmont, ao ser acolhido de maneira tão solene pelos Missourias, não apenas correspondeu a essa hospitalidade, mas também selou sua ligação com o povo local, casando-se com uma mulher missouria e tendo um filho em 1714. Sua nova posição como parente dos Missourias o obrigava a utilizar seus contatos comerciais para beneficiar sua nova comunidade. Em 1713, ele partiu com sua esposa e outros Missourias para fazer comércio na região do País de Illinois. No entanto, sua estadia entre os Missourias causou indignação entre membros do governo colonial francês, que o acusavam de incitar distúrbios entre os Illinois e os Miamis, ao trazer comerciantes britânicos de várias regiões do leste. O governador da Louisiana, Antoine Lamothe, mandou prender Bourgmont, mas, por volta de 1714, ele estava novamente na aldeia dos Missourias.
Apesar de ser considerado fugitivo, Bourgmont foi contratado pelo governo francês como explorador e diplomata junto às nações indígenas do rio Missouri. Em 1719, ele foi nomeado comandante das forças coloniais e encarregado de uma missão importante: estabelecer um acordo comercial com os espanhóis ou, se isso não fosse possível, construir uma fortificação militar na região. Durante o inverno de 1723-1724, Bourgmont supervisionou a construção do Forte Orleans, em um local estratégico em frente ao vilarejo Missouria. O forte se tornou um centro vital de comércio para os Osages, Pequenos Osages e Missourias, atraindo outros povos nativos em busca de mercadorias e, especialmente, armas e munições.
O contato de Bourgmont com essas diversas nações indígenas não se limitava ao comércio. Ele também usou sua posição para moldar alianças e distúrbios políticos, buscando sempre criar condições favoráveis aos interesses coloniais franceses. Isso se refletiu em suas tentativas de afastar as nações aliadas da França, como os Otoes e Ioways, de formar alianças com seus inimigos, como os Sacs e Sioux. Através de métodos às vezes enérgicos, Bourgmont procurou garantir que as alianças indígenas estivessem alinhadas com as ambições francesas.
O interesse de Bourgmont em expandir a rede de comércio francês também se voltava para o oeste. Ele tentava, de maneira estratégica, conquistar uma aliança com os Apaches das Planícies, conhecidos como Padoucas, que mantinham relações comerciais com os espanhóis, especialmente no comércio de cavalos. A vitória de Bourgmont sobre os Apaches poderia abrir portas para um maior acesso a minas espanholas e portos no Oceano Pacífico. Contudo, os Osages, que também estavam preocupados com o impacto dessa expansão, temiam que isso minasse sua própria posição no comércio ocidental. Nesse contexto, os Osages estavam entre os povos que negociavam a venda de prisioneiros de guerra como escravizados, uma prática já antiga entre os povos indígenas antes do contato com os europeus.
Além disso, o comércio de escravizados indígenas se intensificou com a chegada dos franceses. Na realidade, a escravização de nativos era uma prática muito anterior à chegada dos colonizadores, geralmente envolvendo prisioneiros de guerra ou pessoas capturadas em incursões para outros povos. Com o advento do comércio europeu, no entanto, a dinâmica dessa escravidão se alterou, especialmente nas colônias francesas, que passaram a adquirir mão de obra para suas minas e plantações. Isso resultou em um ciclo de comércio de escravizados indígenas entre os povos nativos e os franceses, com os Osages, Missourias e outras nações realizando trocas frequentes com os colonos franceses.
Em 3 de julho de 1724, Bourgmont partiu de Fort Orleans em uma expedição para fazer acordos comerciais com os Padoucas, levando consigo uma escolta de Missourias e Osages, além de dois Padoucas escravizados. Esse movimento e sua influência diplomática continuaram a marcar a história do comércio e da política colonial no coração da América do Norte.
Com o tempo, essas interações entre os colonizadores e os povos nativos moldaram profundamente as dinâmicas sociais, econômicas e políticas da região. O que muitas vezes é esquecido, no entanto, é a maneira como essas trocas e alianças não eram apenas sobre comércio, mas também sobre a luta pelo poder, a negociação de territórios e, sobretudo, o constante jogo de influência que buscava garantir a sobrevivência e a prosperidade das culturas nativas diante da pressão colonial.
Como a Violência com os Osages Influenciou o Comércio e a Política Colonial
A violência crescente entre os Osages e outros grupos nativos no final do século XVIII, especialmente durante a década de 1790, foi um fator crucial que impactou não só as relações intertribais, mas também as dinâmicas do comércio e as políticas coloniais da época. A presença de mais europeus-americanos nas terras dos Osages e os ataques de tribos como os Kickapoos, Potawatomis, Sacs e Foxes, que atravessavam o rio Mississippi, contribuíram para a intensificação dos conflitos. Esse contexto de violência, exacerbado por uma série de assassinatos e confrontos, culminou em uma série de reuniões e negociações entre os Osages, os governantes coloniais espanhóis e os comerciantes de St. Louis, como os irmãos Chouteau.
Em março de 1800, a morte de dois colonos brancos na região de Arkansas, por membros da tribo Osage, provocou uma resposta direta do governo colonial espanhol. O Marquês de Casa Calvo, governador espanhol em Nova Orleans, emitiu ordens para que um ataque contra os Osages do rio Arkansas fosse conduzido, como uma medida de repressão. Contudo, quando o novo governador de Alta Louisiana, Don Carlos Dehault Delassus, se preparava para executar esse plano, uma delegação significativa dos Osages chegou a St. Louis, com o objetivo de negociar a paz, devolver o responsável pelas mortes e buscar perdão dos espanhóis.
O encontro entre as lideranças osage e os espanhóis teve um impacto crucial, tanto para as relações intertribais quanto para o controle do comércio. Durante as discussões, Delassus expressou gratidão aos Osages por entregarem o responsável pelos assassinatos e usou isso como uma forma de pressionar os Osages a se reunificarem sob uma liderança comum. A proposta de reunir as facções dos Osages foi vista como uma forma de estabelecer um maior controle sobre eles, minimizando os ataques tanto aos colonos quanto a outras tribos. Essa tentativa de reunificação, no entanto, esbarrou na resistência dos jovens guerreiros, que viam na separação das facções uma maneira de manter sua autonomia e enfrentar as pressões externas.
A reunião foi, no entanto, um marco não só para a política dos Osages, mas também para a negociação do comércio. Pierre Chouteau, figura chave do comércio em St. Louis, aproveitou a situação para reforçar sua posição com os Osages e, consequentemente, com o governo espanhol. A estratégia de Chouteau foi rápida e eficaz: ele se posicionou como um defensor do povo Osage e acusou os membros da tribo de mentir constantemente, promovendo a ideia de que a sua interferência foi uma tentativa de evitar a violência em suas relações comerciais. Ao final da negociação, os Osages receberam generosos presentes, incluindo armas, pólvora, metais e outros artigos valiosos, como um sinal de boa fé e para garantir a continuidade das relações comerciais com os Chouteaus.
No entanto, a posição monopolista dos Chouteaus no comércio com os Osages não passou despercebida. Logo, um novo movimento começou a ganhar força. Manuel Lisa, um comerciante de Nova Orleans, em parceria com outros traders descontentes, desafiou o domínio exclusivo dos Chouteaus. Sua petição visava abrir o comércio de peles aos comerciantes de St. Louis, argumentando que as restrições comerciais estavam prejudicando a economia local. No entanto, a resposta das autoridades espanholas foi enfática: a continuidade do monopólio foi defendida, com o argumento de que essa prática poderia trazer mais estabilidade e prosperidade para a região, ao contrário do comércio livre que resultara em caos antes de 1792.
A oposição ao monopólio dos Chouteaus e a movimentação por uma abertura comercial trouxe à tona não apenas disputas econômicas, mas também questões de controle político e estratégico sobre as tribos nativas. A crescente presença de comerciantes e a resistência dos Osages, cada vez mais sofisticados nas suas negociações, representavam uma ameaça ao poder estabelecido e um reflexo das tensões que permeavam as relações coloniais e intertribais.
É importante observar que, embora o governo espanhol tenha defendido o sistema de monopólio como uma forma de controlar a violência e garantir uma gestão mais eficaz das tribos, os comerciantes como Lisa e seus aliados perceberam que a verdadeira chave para o sucesso estava em ampliar o acesso ao comércio, tanto para a sobrevivência econômica das vilas de St. Louis quanto para o fortalecimento das próprias relações com as tribos. O desenvolvimento de uma nova rede comercial independente das antigas práticas monopolistas tornou-se um movimento crescente, com implicações tanto políticas quanto econômicas.
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Como o Governo Colonial Definiu o Destino das Nações Indígenas na América do Norte
A transferência de terras entre as nações indígenas e as potências coloniais ocorreu de forma desordenada e muitas vezes imposta, sendo essencial para a consolidação do poder colonial europeu na América do Norte. Durante o período que se seguiu à compra da Louisiana, um dos principais objetivos do presidente Jefferson era evitar uma corrida caótica por terras por parte dos colonos americanos, ao planejar um assentamento ordenado da região da Alta Louisiana. A ideia era que, até que as terras a leste do rio Mississippi fossem completamente ocupadas, os colonos brancos seriam proibidos de se estabelecer na área recém-adquirida. Assim, a Alta Louisiana seria destinada a um "Território Indígena", onde as populações nativas do leste poderiam ser relocadas.
Esse plano de Jefferson, no entanto, encontrou forte oposição entre as autoridades governamentais, muitas das quais consideravam-no não só desnecessário, mas também irrealista. Rufus King, ex-membro do Congresso Continental e senador de Nova York, alertou que “Nada, exceto um cordão de tropas, será capaz de impedir nosso povo de atravessar o [rio Missouri] e se estabelecer na margem oeste”. A postura expansionista e de ocupação da terra por parte dos colonos, que já se mostrava presente antes mesmo da independência dos Estados Unidos, intensificou-se com a política de remoção indígena. Ao longo do período pós-Revolução Americana, os Estados Unidos adotaram de forma rápida as leis britânicas que regiam os povos indígenas e mantiveram o uso da Doutrina da Descoberta, que permitia que a terra indígena fosse tratada como posse do colonizador.
Entre 1778 e 1868, os Estados Unidos assinaram 367 tratados com as nações indígenas, de acordo com o historiador Francis Paul Prucha, com o objetivo de estabelecer a paz, mas também, frequentemente, para garantir o direito de compra das terras nativas. No final da chamada “era dos tratados”, o governo dos Estados Unidos havia pago cerca de 800 milhões de dólares em valores do século XIX, ao mesmo tempo em que confiscava mais de um bilhão de acres de terras indígenas. Este processo, no qual o governo buscava legitimar suas ações por meio de acordos legais, foi acompanhado por uma política agressiva de colonialismo de assentamento.
A ideia de um "colonialismo de assentamento", como definido pelo historiador alemão Julius Wilm, era fundamentada na crença de que os colonos europeus brancos tinham um direito superior e ordenado à terra por motivos culturais e econômicos, levando ao deslocamento e destruição das populações indígenas. O antropólogo australiano Patrick Wolfe resumiu isso como um processo que "destrói para substituir". Essa mentalidade colonial teve profundas consequências para os povos nativos, sendo o genocídio e a ocupação de terras as duas faces da mesma moeda.
Antes mesmo da independência, os colonos euro-americanos já haviam lançado campanhas violentas para forçar os povos indígenas a deixarem suas terras. Essas ações, muitas vezes realizadas por milícias, visavam destruir qualquer recurso que os nativos possuíssem e que pudesse ser usado para resistir à colonização. Tais ataques, ao invés de combater um exército adversário, tinham como objetivo a erradicação dos povos indígenas, eliminando suas casas, seus campos, seu gado e até mesmo suas famílias. O objetivo era enfraquecer a vontade de luta dos nativos e destrui-los enquanto um povo.
Ao longo do tempo, com o crescimento da população americana e o pequeno tamanho do exército dos Estados Unidos, os colonos passaram a formar exércitos paralelos, como milícias, que realizavam grande parte da violência necessária para a remoção dos indígenas. De acordo com John Joseph Mathews, muitos desses colonos traziam consigo uma memória de violência, um reflexo das experiências anteriores na Europa, especialmente entre os imigrantes escoceses-irlandeses, conhecidos como Ulster Scots. Esses imigrantes, que haviam sido recrutados pelos britânicos para expulsar os agricultores indígenas da Irlanda no século XVII, formaram um grupo significativo de colonos nas regiões do Ohio e do Tennessee. Nos vales do Ohio e do Tennessee, eles abriram clareiras nas florestas, construíram cabanas e mataram nativos, criando uma verdadeira muralha humana de colonização para os Estados Unidos.
Esses colonos, longe de serem os “nobres pioneiros” da mitologia americana, eram frequentemente descritos como indivíduos fora da lei, em busca de uma nova vida nas fronteiras, longe das punições de suas culturas de origem. Em muitas situações, esses colonos sabiam que estavam invadindo terras alheias, mas estavam determinados a lutar pelos seus direitos, esperando que o governo dos Estados Unidos os recompensasse com terras pela “expulsão” dos indígenas. De fato, a expulsão dos povos indígenas da nova fronteira americana não foi apenas uma consequência do movimento de colonização, mas também um objetivo explícito da política colonial, que visava destruir as bases culturais e territoriais indígenas para abrir espaço à ocupação dos colonos.
Ao mesmo tempo, o governo dos Estados Unidos iniciou a remoção dos povos indígenas para o novo território. Antes mesmo que a Alta Louisiana fosse oficialmente transferida para os Estados Unidos, uma delegação de Osages já havia se encontrado com o presidente Jefferson. Jefferson reconhecia a importância de cultivar boas relações com as nações indígenas, como os Osages e os Sioux, mas seu objetivo maior era enfraquecer qualquer resistência das populações nativas, abrindo caminho para os colonos.
Neste contexto, é fundamental entender que, além das disputas territoriais e das trocas de terra, o colonialismo de assentamento nos Estados Unidos não foi apenas uma simples ocupação de terras vazias, mas sim um processo violento e sistemático de destruição e substituição de culturas inteiras. A resistência indígena não era apenas uma luta por território, mas pela preservação de suas identidades, culturas e modos de vida. Assim, a história da colonização nos Estados Unidos revela uma profunda tensão entre a ambição expansionista do novo país e a resistência persistente dos povos indígenas, cujas terras e culturas foram ameaçadas, destruidas e substituídas.
O Impacto da Apropriação Cultural e dos Mascotes Indígenas nas Comunidades Nativas
No estado do Missouri, assim como em várias partes dos Estados Unidos, os mascotes com temas indígenas não se limitam a equipes de esportes profissionais. Uma investigação de 2021, realizada pelo Columbia Missourian, revelou que vinte e oito escolas secundárias no estado possuem mascotes como "Guerreiros", "Índios", "Selvagens" e "Bravos". Quando incluem-se as escolas de ensino fundamental e médio, o número de equipes com mascotes indígenas no Missouri sobe para noventa e sete. A presença desses símbolos tem sido objeto de debate em várias comunidades, onde a luta pela mudança de nomes e logotipos das equipes encontra resistência.
Em Savannah, Missouri, o mascote da escola secundária era "Selvagens". Em 2020, a comunidade se viu dividida sobre a necessidade de mudar o nome e a imagem da equipe. Michaela Lent, uma ex-aluna de Savannah e membro da tribo Cheyenne Arapaho, foi uma das principais vozes contra a representação do mascote. Ela compartilhou como, ao crescer na cidade, sua identidade como indígena era frequentemente desconsiderada, algo que, para ela, refletia a forma como a sociedade via os povos indígenas de maneira superficial e estereotipada. Ela expressou sua frustração ao perceber que a imagem de seu povo, sua família, estava sendo reduzida a um símbolo irrelevante para a cultura e para a história indígena.
Apesar das reclamações, em 2021, o conselho escolar de Savannah votou por manter o nome "Selvagens", embora tenha decidido eliminar as imagens e o logotipo que estavam associados a elementos indígenas. A mudança, embora significativa, foi vista por muitos como uma medida tímida, que não resolvia o problema central de apropriação cultural e de estereótipos.
A apropriação cultural dos costumes indígenas não se limita a mascotes esportivos. Historicamente, os não-indígenas têm se apropriado da identidade indígena de diversas formas. Philip J. Deloria, historiador, explica como os colonos já se vestiam de indígenas no famoso episódio do Boston Tea Party em 1773, uma ação simbólica que visava se alinhar com as ideias de liberdade e resistência. No século XXI, esse tipo de apropriação persiste, com práticas como o uso de cerimônias e símbolos sagrados dos povos indígenas por indivíduos não-indígenas, que buscam explorar essas tradições em busca de status ou lucros pessoais.
No caso do grupo Mic-O-Say, fundado por H. Roe Bartle na década de 1920, a apropriação de tradições indígenas se reflete na utilização de regalias de powwow e na realização de danças por escoteiros, que, na maior parte, não pertencem a nenhuma tribo indígena. Apesar da justificativa de que essas práticas eram uma maneira de "preservar" as tradições indígenas, muitos membros das comunidades nativas consideram essas representações caricaturas desrespeitosas. Misha Maynerick Blaise, escritora e mãe de um escoteiro, questiona por que os não-indígenas deveriam ser os responsáveis por "preservar" as tradições que pertencem aos povos indígenas, sugerindo que a apropriação desses rituais fere o significado religioso e cultural profundo das cerimônias.
Em 2020, em meio a um crescente movimento de conscientização racial, o jornal Kansas City Star escreveu um editorial afirmando que o programa Mic-O-Say desrespeita os indígenas e precisa passar por uma reformulação urgente. Embora haja defensores que argumentem que as intenções do programa não sejam de desrespeitar, mas de honrar as tradições, a opinião predominante é que o programa deve consultar conselheiros indígenas para garantir que os rituais e cerimônias respeitem os valores culturais originais.
Além dos mascotes e das representações esportivas, outra forma de apropriação tem sido a exploração comercial da arte e da cultura indígena. Ao longo das décadas, artistas não-indígenas têm vendido produtos que alegam ser autênticos indígenas, o que leva a uma distorção das tradições culturais. O Indian Arts and Crafts Act de 1990 foi instituído para combater essa prática, tornando ilegal a venda de produtos artísticos que se apresentem falsamente como indígenas. No estado de Missouri, casos como o de Terry Lee Whetstone, que usou documentos falsos para comercializar arte indígena, ilustram a gravidade da situação. Esse tipo de fraude prejudica os próprios artistas indígenas, que enfrentam dificuldades para proteger sua arte e cultura.
Kathy Dickerson, uma artista da tribo Kiowa e ativista na cidade de St. Louis, tem sido uma das vozes mais ativas no combate à apropriação de cultura indígena. Desde 2005, ela tem utilizado seu site e sua plataforma para alertar o público sobre a venda de arte falsa e a exploração de performances que se dizem indígenas, mas que não respeitam os direitos dos povos originais. Além disso, ela fundou o St. Louis American Indian Consortium, uma organização dedicada a monitorar essas práticas fraudulentas e proteger a identidade indígena.
A apropriação cultural vai além de estereótipos e símbolos; trata-se também de um mecanismo econômico que explora a identidade indígena para lucro. Esse fenômeno tem efeitos devastadores nas comunidades indígenas, pois reduz suas tradições a simples mercadorias ou entretenimento para o público em geral. As comunidades têm lutado para reverter esse processo e retomar o controle sobre suas próprias representações culturais, mas esse trabalho é muitas vezes lento e cercado de resistência.
O que se torna claro ao analisar essas questões é que a luta pela preservação da identidade indígena não é apenas uma questão de respeito aos direitos culturais, mas também de assegurar que os povos indígenas possam viver de acordo com suas próprias tradições, sem a distorção e a exploração de sua cultura por outros. As representações de seus povos devem ser feitas por eles mesmos, e qualquer uso de símbolos ou cerimônias indígenas deve ser baseado no consentimento e na colaboração com as próprias comunidades.
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