Quando se trata de prescrição de exercícios para pacientes com doenças cardíacas ou pulmonares, a fórmula de Karvonen para calcular a Frequência Cardíaca Alvo (FCA) é amplamente utilizada para definir a intensidade do exercício. Um exemplo prático pode ser dado para uma pessoa de 50 anos, com uma frequência cardíaca de repouso (FCR) de 60 batimentos por minuto (bpm), que deseja realizar atividades físicas com uma intensidade de 50% da reserva da frequência cardíaca.
Primeiro, é necessário calcular a Frequência Cardíaca Máxima (FCM), utilizando a fórmula:
FCM = 220 – idade.
No caso do exemplo, para uma pessoa de 50 anos, a FCM seria 170 bpm.
Em seguida, a Reserva de Frequência Cardíaca (RFC) é obtida subtraindo-se a FCR da FCM:
RFC = 170 – 60 = 110 bpm.
Agora, aplicando a intensidade desejada de 50%, temos:
50% de RFC = 110 × 0,5 = 55 bpm.
A Frequência Cardíaca Alvo será a soma da RFC com a FCR:
FCA = 55 + 60 = 115 bpm.
Portanto, a frequência cardíaca alvo para essa pessoa seria de 115 bpm durante o exercício com 50% de intensidade.
Para pacientes que utilizam betabloqueadores, a fórmula de Karvonen pode ser menos adequada, já que esses medicamentos reduzem a resposta do coração ao exercício. Nesses casos, um método alternativo é definir a FCA como sendo 25 bpm acima da FCR, dependendo da condição cardíaca do paciente. Assim, para um paciente com uma FCR de 60 bpm, a FCA seria 85 bpm.
Quando se observa a prescrição de exercícios para pacientes com condições cardíacas ou pulmonares, é fundamental considerar as diferenças nas abordagens. A tabela a seguir oferece uma visão geral das recomendações de exercício para reabilitação cardíaca, pulmonar e condicionamento físico geral:
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Frequência de exercício: Para reabilitação cardíaca e pulmonar, a recomendação é de 3 a 5 vezes por semana. Para a manutenção do peso e perda de peso, os programas podem ser mais frequentes, chegando a 5-7 vezes por semana.
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Intensidade: Para a reabilitação cardíaca, a intensidade do exercício deve estar entre 40% e 60% da reserva da frequência cardíaca (RFC), enquanto na reabilitação pulmonar, a intensidade pode ser um pouco mais baixa, com a utilização da Escala de Dificuldade Respiratória de Borg para monitorar a percepção de esforço do paciente.
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Tempo: O exercício aeróbico deve durar entre 30 e 60 minutos, acumulando pelo menos 150 minutos por semana. Para a reabilitação pulmonar, o tempo de exercício pode ser ajustado conforme a condição do paciente.
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Tipo de exercício: Caminhada, ciclismo e natação são frequentemente recomendados, com treinamento de força sendo integrado à rotina de reabilitação, envolvendo exercícios para os membros superiores e inferiores.
Além disso, é fundamental que o paciente seja monitorado durante o exercício para garantir que não haja complicações. A monitorização da frequência cardíaca, da respiração e, no caso dos pacientes com doenças pulmonares,
Como as Deficiências Pós-UCI Afetam a Recuperação dos Pacientes e a Qualidade de Vida
O avanço da medicina intensiva nas últimas décadas proporcionou uma significativa melhoria no número de sobreviventes de doenças críticas. Contudo, muitos desses pacientes enfrentam distúrbios afetivos, deficiências físicas e/ou cognitivas decorrentes do tempo que passaram na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Esses déficits não são temporários e, frequentemente, persistem por longos períodos após a alta hospitalar, gerando uma demanda crescente por reabilitação multidisciplinar. O impacto dessa condição é extenso, afetando não apenas o paciente, mas também suas famílias e a sociedade, acarretando em um ônus econômico considerável.
O caso de um paciente, o Sr. Tan, ilustra a complexidade dessa realidade. Ele foi internado com hipertensão, diabetes mellitus, asma e dislipidemia, após uma cirurgia para drenagem de um grande furúnculo nas costas. Durante sua estadia na UTI, desenvolveu pneumonia associada ao ventilador e foi intubado por duas semanas. Após a extubação bem-sucedida, o paciente continuou apresentando disfunções físicas e cognitivas, o que dificultou sua recuperação. Doze semanas depois, ele recebeu alta, mas ainda necessitava de assistência para realizar algumas atividades básicas do dia a dia. Um ano após a alta, apesar de ser capaz de cuidar de si mesmo em casa, não conseguiu retomar seu trabalho como taxista devido a problemas persistentes, incluindo transtornos depressivos e ansiosos. Esse quadro é um exemplo claro do que se denomina Síndrome Pós-UCI (PICS, na sigla em inglês).
A Síndrome Pós-UCI é um conjunto de sintomas novos ou agravados que afetam a saúde física, cognitiva e mental do paciente, tanto durante sua estadia na UTI quanto após a alta. Além disso, as famílias e cuidadores também podem apresentar novos ou aumentados problemas de saúde mental, sendo isso denominado Síndrome Pós-UCI-Família (PICS-F). A conscientização limitada sobre essas condições pode levar a uma diminuição significativa da qualidade de vida, aumentando o sofrimento de todos os envolvidos.
O impacto da PICS é vasto e variado. Estima-se que entre 25% a 80% dos sobreviventes de UTI apresentem deficiências físicas, enquanto 30% a 80% sofram com comprometimentos cognitivos. Em relação à saúde mental, entre 8% e 57% desses pacientes desenvolvem doenças psiquiátricas. Além disso, cerca de 50% dos pacientes que estavam empregados antes da internação na UTI enfrentam a perda de sua capacidade de trabalhar após a alta. Aproximadamente 25% dos pacientes necessitam de assistência para atividades cotidianas até seis meses após a alta hospitalar.
Deficiência Física e a Fraqueza Adquirida na UCI
Um dos aspectos mais comuns e debilitantes da recuperação de pacientes críticos é a fraqueza adquirida na UCI (ICUAW, na sigla em inglês). Estima-se que cerca de 43% dos pacientes desenvolvam essa condição, que pode ser atribuída a diversos mecanismos patofisiológicos, como atrofia muscular, disfunção muscular e desnutrição. A inatividade prolongada e a síndrome inflamatória relacionada ao estado crítico também contribuem para o agravo da fraqueza muscular. O comprometimento pode afetar não apenas os músculos periféricos, mas também os respiratórios e até os responsáveis pela deglutição. Isso resulta em um quadro de incapacidade para realizar tarefas diárias, como se alimentar, se vestir e até respirar adequadamente.
A avaliação da função muscular é essencial para entender a gravidade da fraqueza adquirida na UCI. Testes manuais de força muscular e estudos eletrofisiológicos, como a electromiografia (EMG), são utilizados para diferenciar entre neuropatia e miopatia críticas. Além disso, a avaliação da força muscular respiratória, por meio de pressões inspiratórias e expiratórias máximas, bem como o uso de ultrassonografia para medir a excursão e a espessura do diafragma, são fundamentais para monitorar a recuperação.
Comprometimento Cognitivo: O Delirium e Seus Efeitos
Outro aspecto crítico na recuperação dos pacientes após uma internação prolongada na UCI é o comprometimento cognitivo, frequentemente relacionado ao delirium. O delirium é uma condição caracterizada por distúrbios no nível de consciência, com prejuízo na atenção e cognição, que se desenvolve de maneira aguda e flutuante. Sua prevalência em pacientes críticos pode atingir até 31%. Existem subtipos distintos de delirium, sendo o tipo hipoativo o mais comum, associando-se frequentemente a piores desfechos. Este tipo de delirium, mais discreto, pode passar despercebido, o que dificulta seu diagnóstico precoce e tratamento adequado.
O delirium tem uma associação forte com o comprometimento cognitivo pós-UCI, podendo resultar em déficits de memória, concentração e outros aspectos importantes da função cognitiva. Além disso, os pacientes que experienciam delirium apresentam um risco maior de complicações durante a internação, como aumento do tempo de internação na UTI e no hospital, além de custos mais elevados.
Aspectos Psicológicos e a Reabilitação Multidisciplinar
A síndrome pós-UCI também envolve um componente psicológico significativo. Pacientes que passaram por tratamentos intensivos frequentemente enfrentam quadros de ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), que surgem ou se intensificam após a alta hospitalar. Esse impacto psíquico é sentido não só pelo paciente, mas também pelos familiares e cuidadores, que podem desenvolver sintomas semelhantes. O cuidado psicológico, portanto, deve ser uma parte essencial da reabilitação pós-UCI, envolvendo tanto apoio direto ao paciente quanto suporte à família.
É importante ressaltar que a reabilitação após a UCI deve ser multidisciplinar, envolvendo médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e assistentes sociais. A recuperação não se limita ao aspecto físico, mas também envolve a reabilitação cognitiva e emocional, garantindo que o paciente recupere sua capacidade de realizar atividades diárias e reintegrar-se ao trabalho e à vida social.
A conscientização sobre a Síndrome Pós-UCI e suas manifestações, tanto no paciente quanto na família, é essencial para garantir um tratamento mais eficaz e uma melhora real na qualidade de vida dos sobreviventes de doenças críticas. A abordagem precoce e integrativa pode reduzir significativamente os efeitos a longo prazo dessas condições, melhorando a recuperação e diminuindo o sofrimento contínuo de todos os envolvidos.

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