Após a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos em 2017, cientistas mexicanos de renome alertaram, na revista Science, que a postura negativa da administração em relação aos mexicanos poderia afetar não apenas as relações sociais, mas também o campo acadêmico da ciência. Em uma carta curta, mas impactante, eles reafirmaram a importância da colaboração internacional no avanço do conhecimento científico, citando que um terço de mais de 100.000 artigos acadêmicos coescritos por mexicanos com colegas estrangeiros desde a década de 1940 eram frutos da parceria com cientistas norte-americanos. Essa correspondência recebeu centenas de respostas de apoio, demonstrando a preocupação global com a possível desconexão científica que surgiria com as políticas de Trump.

A ascensão de Trump gerou um clima de incerteza entre os cientistas, principalmente devido às suas declarações sobre a mudança climática, qualificada por ele como um "fraude". Com a posse, as expectativas de uma abordagem anticiência se concretizaram: o feed de Twitter da Agência de Proteção Ambiental (EPA) foi desativado por um mês, e Scott Pruitt, um cético notório do aquecimento global, foi nomeado administrador da agência. Como resposta, surgiram contas de Twitter de cientistas dissidentes de órgãos governamentais, como o Departamento do Interior e a NASA, que passaram a representar os especialistas preocupados com a orientação política do governo. Além disso, muitos cientistas, temendo pela integridade dos dados climáticos gerados sob os auspícios da NASA e da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), iniciaram o trabalho de "resgate de dados", buscando manter a integridade das informações contra possíveis tentativas de obstrução.

Embora a administração Trump tenha sido vista como um retrocesso para a ciência, é mais útil perceber esses desenvolvimentos como reflexos das tensões estruturais presentes na ciência contemporânea, especialmente em um sistema onde a dependência do financiamento federal coloca os cientistas em uma posição de vulnerabilidade. A crítica de Lazcano e outros cientistas revela a preocupação constante com a facilidade com que políticas governamentais podem restringir o acesso à colaboração internacional, aos dados científicos e à liberdade acadêmica. Este dilema não é novo, nem se limita à era Trump, mas é um reflexo de um problema histórico mais amplo sobre o acesso ao conhecimento científico.

O cerne da questão reside no modelo de financiamento científico, baseado em um sistema linear que prioriza a pesquisa "básica" ou "pura" — que visa avanços tecnológicos e crescimento econômico — em detrimento de áreas como as ciências ambientais, que frequentemente destacam consequências negativas do progresso, como as mudanças climáticas e a poluição industrial. Este modelo se origina da visão expressa por Vannevar Bush em 1945, com seu "Science: The Endless Frontier", que almejava a ciência voltada para a inovação, a cura e o crescimento. Embora este modelo tenha sido amplamente adotado, ele entra em conflito com as ciências ambientais, cujos achados muitas vezes desafiam o status quo econômico e tecnológico.

A ciência ambiental, por sua própria natureza, oferece uma crítica constante às operações humanas dentro dos ecossistemas. Muitos estudiosos, como Paul Sears, consideraram a ecologia como um campo subversivo, pois ela questiona diretamente os efeitos das ações humanas sobre o planeta. No entanto, apesar do grande volume de pesquisa financiada pelo governo sobre questões ambientais, não há garantias de que essas descobertas estejam acessíveis ao público, especialmente quando suas conclusões se opõem aos interesses de um governo ou de uma administração política.

O bloqueio de acesso a dados científicos tornou-se uma prática recorrente sempre que as descobertas científicas entram em confronto com as opiniões políticas, como se viu durante a presidência de Trump. Mas o problema da exclusão do conhecimento científico não é exclusivo de momentos políticos específicos. Desde a Segunda Guerra Mundial, o governo federal tem tido o poder de restringir o acesso público aos resultados da pesquisa financiada por impostos, frequentemente justificando essas restrições em nome da segurança nacional. Grande parte dos dados climáticos coletados pela NOAA e pela NASA, por exemplo, foi originalmente destinada a fins militares e de inteligência, e só mais tarde foi disponibilizada para outros usos científicos.

Esse cenário remonta aos tempos da Guerra Fria, quando a ciência militar dos Estados Unidos era uma das mais avançadas do mundo, com enormes investimentos em pesquisa e infraestrutura global. Após o fim da Guerra Fria, durante uma fase de abertura política, foi criado o programa "Medea", que buscava a desclassificação de dados ambientais para fins científicos. Porém, mesmo com iniciativas como essa, o acesso a dados críticos continuou sendo limitado, refletindo a natureza estratégica da ciência quando está intimamente ligada aos interesses políticos e militares.

O que se pode aprender com isso é que a interseção entre ciência, política e segurança é uma constante. Embora as administrações mudem, as barreiras ao acesso à ciência — especialmente quando se trata de temas controversos como mudanças climáticas e questões ambientais — não desaparecerão com a saída de um único presidente. O controle governamental sobre o fluxo de informações científicas e a possibilidade de bloqueio da divulgação de dados permanecem como um desafio central para a ciência moderna, especialmente no campo das ciências ambientais.

Como o Acesso Controlado aos Dados Científicos Moldou a História da Pesquisa Climática e da Ciência

Durante a Guerra Fria, um dos maiores desafios para o avanço da pesquisa científica foi o controle rigoroso sobre o acesso aos dados essenciais, especialmente quando esses dados podiam ter implicações tanto militares quanto civis. O caso dos dados do programa Medea é emblemático nesse contexto, pois foi necessário autorizar um número limitado de cientistas a acessar informações confidenciais, o que, em última instância, revelou a importância do controle de dados para fins de segurança nacional. Esses dados, ao serem desclassificados, ajudaram a criar uma visão mais ampla sobre questões climáticas e oceanográficas, mas apenas depois de serem cuidadosamente analisados e tratados pelo aparato de segurança do governo.

Nos anos seguintes, essa abordagem rigorosa de controle de dados científicos continuou a influenciar a forma como a ciência era conduzida nos Estados Unidos e em outros lugares. A nacionalização da pesquisa e a sua utilização estratégica para fins de segurança se tornaram normas. A Agência de Inteligência de Defesa (DIA), o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) e a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), por exemplo, tiveram de ajustar suas práticas de compartilhamento de dados, muitas vezes priorizando as necessidades de segurança antes do interesse público. Mesmo as descobertas mais importantes para o estudo do clima, como as medições feitas por satélites e submarinos, estavam inicialmente restritas ao círculo fechado das autoridades de segurança nacional.

O impacto dessa realidade foi profundo. Nos anos 60 e 70, as teorias sobre tectônica de placas e o espalhamento do fundo do mar, essenciais para entender os processos geológicos e ambientais, foram resistidas, especialmente em países como a União Soviética, onde o acesso restrito aos dados oceânicos fez com que a aceitação das novas ideias fosse retardada. Esses dados, em grande parte oriundos de fontes militares e confidenciais, não estavam disponíveis para o público ou para os cientistas que não tinham autorização de segurança, o que impôs limitações ao desenvolvimento de teorias e, consequentemente, ao entendimento do clima e dos oceanos.

Além disso, o contexto político da Guerra Fria gerou uma situação paradoxal. Embora muitos cientistas tivessem acesso exclusivo a dados valiosos, a tendência era que esses mesmos cientistas, no entanto, se apresentassem publicamente como defensores da colaboração internacional e da troca aberta de informações. Em muitos casos, isso se mostrava uma estratégia de manter uma imagem de integridade científica, enquanto as informações cruciais eram mantidas longe dos olhos públicos e da comunidade científica global. A alegação de que certos dados poderiam comprometer a segurança nacional foi uma justificativa constante para essa falta de transparência.

O exemplo de Roger Revelle, oceanógrafo de renome que se recusou a participar de grupos de lobby político para influenciar decisões sobre as águas internacionais, exemplifica a postura de muitos cientistas da época. Revelle acreditava que a melhor forma de influenciar a política científica era manter-se afastado de questões que pudessem envolver interesses conflitantes, especialmente quando essas questões poderiam comprometer o acesso a dados e a continuidade de suas pesquisas. Para ele, manter uma postura "objetiva" e independente era mais eficaz do que se envolver em disputas políticas.

Entretanto, essa limitação do acesso e a falta de visibilidade para certos dados e descobertas criaram um ambiente em que a ciência poderia ser facilmente manipulada para atender aos interesses de governos e militares. O caso de J. Robert Oppenheimer, que teve sua autorização de segurança revogada após se opor ao desenvolvimento da bomba de hidrogênio, demonstra como a ciência, quando desassociada do poder político, pode ser severamente restringida. Oppenheimer, um dos maiores cientistas nucleares da história, viu sua carreira estagnada justamente porque suas visões não se alinhavam aos interesses políticos do governo dos Estados Unidos na época.

Na década de 1970, um número crescente de cientistas começou a questionar a opacidade no compartilhamento de dados e a interferência política no campo da pesquisa. Alguns deles, como membros do Comitê Presidencial de Ciência, se opuseram publicamente às políticas do governo em relação à guerra do Vietnã e ao sistema de mísseis antibalísticos. Suas declarações tornaram-se um desafio direto à administração de Richard Nixon, que optou por desmantelar o comitê de aconselhamento científico, percebendo-o como um obstáculo às suas decisões políticas.

Este episódio destaca um tema importante: a luta pela autonomia científica. Embora os cientistas estivessem envolvidos em importantes descobertas e avanços, muitos se viam constantemente sob pressão para alinhar suas pesquisas com os interesses políticos e militares. A construção de uma ciência independente e acessível ao público foi, portanto, um desafio contínuo, não apenas por conta da falta de transparência, mas também pela constante necessidade de lidar com as dinâmicas de poder dentro e fora das instituições científicas.

Ademais, o impacto de restrições financeiras e orçamentárias sobre órgãos de pesquisa, como ocorreu na EPA nos anos 1980, também não pode ser subestimado. Sob a administração de Ronald Reagan, a drástica redução de recursos destinados à pesquisa científica foi uma das maneiras de enfraquecer o poder de agências que estavam em desacordo com a ideologia governamental. Essa estratégia não só prejudicou o avanço das ciências ambientais, mas também diminuiu a capacidade do governo de conduzir políticas baseadas em dados científicos.

Ao refletir sobre esses aspectos, é fundamental compreender que o acesso a dados científicos não é apenas uma questão de compartilhar informações, mas envolve questões de poder, controle e interesses estratégicos. O debate sobre a transparência e a independência da ciência continua sendo um dos maiores desafios da atualidade, especialmente quando se trata de questões ambientais globais e climáticas. O entendimento sobre o clima e os oceanos, portanto, não pode ser visto apenas como um esforço científico, mas como um campo profundamente entrelaçado com dinâmicas políticas e de poder.