Os sensores baseados em ondas acústicas de superfície (SAW), propostos inicialmente por Wohltjen, têm demonstrado grande potencial na detecção de gases e substâncias químicas devido às suas propriedades únicas de interação com a superfície dos materiais piezoelétricos. O funcionamento básico desses sensores envolve a utilização de um substrato piezoelétrico, como o quartzo tipo ST, que, quando combinado com transdutores interdigitalizados, possibilita a criação de ondas acústicas de superfície do tipo Rayleigh. Estas ondas são extremamente sensíveis a variações de massa ou propriedades acústicas dos materiais que interagem com elas, o que os torna ideais para a detecção de gases em fases gasosas, bem como para analisar compostos orgânicos em camadas finas de polímeros não condutores.

A detecção de massas, teoricamente, pode ser feita com uma sensibilidade até 3×10^-15 g. Na prática, sistemas SAW com uma frequência de 100 MHz apresentam limites de detecção típicos da ordem de 250 pg/cm². No entanto, quando essas estruturas de sensores possuem condutividade elétrica adequada, um efeito acústoeletrotrônico adicional pode ocorrer, o que, em muitos casos, resulta em uma sensibilidade muito superior, particularmente para sensores de gás. Esse efeito ocorre devido ao acoplamento eletromecânico do material piezoelétrico, expresso pelo coeficiente de acoplamento K2, que é a razão entre a energia armazenada no campo elétrico e a energia mecânica.

É importante ressaltar que a condução elétrica da camada ou estrutura do sensor precisa ser cuidadosamente ajustada à área de interação acústoeletrotrônica, um aspecto que será discutido mais detalhadamente no Capítulo 3. Além disso, a estabilidade dos sensores de ondas acústicas de superfície tipo Rayleigh é amplamente influenciada pelo coeficiente de temperatura do substrato piezoelétrico utilizado. Pequenas flutuações de temperatura, que podem ser da ordem de 0,01-0,1 °C, podem provocar mudanças significativas na velocidade de propagação das ondas superficiais, afetando diretamente a precisão do sensor.

No entanto, a utilização de substratos piezoelétricos menos sensíveis, como o quartzo ST, pode ajudar a mitigar esse efeito, embora isso implique em um menor fator de acoplamento eletromecânico. Em compensação, substratos com esse comportamento reduzido diminuem a probabilidade de ocorrência de efeitos acústoeletrotrônicos, que são cruciais para a alta sensibilidade do sensor.

Além dos efeitos básicos de massa e acústoeletrotrônicos, alguns sensores baseados em SAW também exploram as interações que ocorrem quando a viscosidade das camadas de polímero utilizadas no sensor sofre alterações, um fenômeno relativamente raro e mais difícil de ser observado. Este tipo de interação, embora presente, ocorre principalmente devido às mudanças nos parâmetros de viscosidade dos elementos sensores, como, por exemplo, polímeros condutores ou materiais de carbono como nanotubos de carbono (CNTs).

Quando se trata de configuração de estruturas de sensores, é importante notar que, para garantir a sensibilidade máxima, os elementos sensoriais devem ser produzidos em forma de filmes finos, com espessura muito menor do que o comprimento de onda da onda acústica propagada. Para sistemas com comprimento de onda maior (como no caso das ondas SAW com comprimento de onda na ordem de 50-100 μm), novas configurações estruturais podem ser aplicadas. Estruturas de múltiplas camadas, com espessuras que podem chegar até centenas de nanômetros, ainda cumprem o requisito de ter uma espessura muito inferior ao comprimento de onda da onda superficial.

No entanto, tentativas anteriores de utilizar camadas metálicas simples, como camadas de paládio para a detecção de hidrogênio, não obtiveram resultados satisfatórios. A análise mais detalhada desse problema revelou que as camadas metálicas simples, aplicadas sobre o substrato piezoelétrico, limitam a detecção a apenas mudanças na massa ou parâmetros elásticos da camada metálica, uma vez que o campo elétrico da onda acústica de superfície que induz as interações acústoeletrotrônicas é reduzido a zero nessas condições.

Para possibilitar a utilização eficaz do efeito acústoeletrotrônico, é necessário deslocar a camada metálica para uma posição acima da superfície do cristal a uma distância da ordem de centenas de nanômetros, o que cria interações acústoeletrotrônicas mais fortes. Esse tipo de estrutura em camadas tem mostrado resultados promissores, com confirmações de interações acústoeletrotrônicas que são muito mais significativas do que a detecção de massa simples.

A introdução de camadas de buffer é fundamental para a criação dessas estruturas de camadas, com a camada de buffer desempenhando não apenas uma função geométrica, mas também absorvendo as moléculas de gás adsorvidas pela camada catalítica e ampliando a superfície ativa através de um fenômeno chamado expansão superficial. Este desenvolvimento envolve a busca constante por novos materiais e configurações estruturais para sensores gasosos, como polímeros condutores (polipirrol, polianilinas), nanotubos de carbono (CNTs) e estruturas em duas camadas, como polianilina-WO3.

Além das ondas de Rayleigh, existem outros tipos de sensores acústicos que utilizam modos de onda distintos, como o modo SH-APM (Shear-Horizontal Acoustic Plate Mode), proposto para trabalhar em fase líquida, e as ondas Lamb (Flexural Plate Waves), que são particularmente eficazes na detecção em fases líquidas. Embora esses sensores tenham menor sensibilidade em comparação aos sensores SAW baseados em Rayleigh, eles ainda apresentam aplicações importantes, como na determinação da viscosidade de líquidos e em biossensores, onde a detecção de mudanças no comportamento acústico pode indicar reações bioquímicas.

Como as Estruturas Sensoras com SAW Detectam Gases e a Influência dos Materiais na Sensibilidade

A interação de camadas sensoriais com diferentes gases tem sido um tópico amplamente explorado no desenvolvimento de sensores acústico-elétricos, especialmente no que diz respeito à detecção de hidrogênio e outros gases como NO2. O método de onda acústica superficial (SAW) é uma das abordagens mais promissoras para a criação de sensores altamente sensíveis, capazes de detectar gases em concentrações muito baixas. Contudo, a eficiência de detecção pode ser influenciada por diversos fatores, incluindo a composição do material sensor e a interação desse material com os gases alvo.

Ao se considerar a interação de camadas com o hidrogênio, foi registrado um fenômeno de redução na condutividade superficial quando as camadas entraram em contato com esse gás. Dependendo do parâmetro acustoeletrocrítico do sensor, essa interação pode reduzir a velocidade da SAW, o que se traduz em mudanças nas frequências medidas. No entanto, em alguns casos, essas interações podem não ocorrer de forma significativa, uma vez que o hidrogênio não provoca alterações substanciais na condutividade elétrica do material, como pode ser observado em camadas finas de ftalocianina de cobalto (CoPc). Nesses casos, as mudanças na frequência da SAW não são expressivas o suficiente para gerar uma resposta sensorial detectável.

Entre os materiais investigados para a detecção de hidrogênio, o óxido de tungstênio (WO3) não se mostrou eficaz. Camadas finas desse material, quando expostas ao hidrogênio em condições ambientais, não apresentam alteração nem na frequência diferencial nem na resistência, o que limita a aplicabilidade dessa estrutura para detectar o gás. Esse fenômeno é similar ao observado em camadas finas de paládio e ftalocianina, onde as mudanças nas propriedades materiais são pequenas e não resultam em detecção eficaz.

Em contraste, os resultados obtidos com camadas finas de ftalocianina de cobre (CuPc) indicam que esse material tem uma tendência maior para absorver hidrogênio. Quando a temperatura de interação é aumentada, as mudanças na frequência se tornam mais evidentes, com um máximo de ~350 Hz em torno de 70 °C. Porém, mesmo com essa melhoria, os resultados não são suficientemente satisfatórios para um uso eficiente em sensores de hidrogênio. A detecção de outros gases, como o NO2, demonstrou resultados mais promissores, com camadas de ftalocianina de chumbo (PbPc) apresentando uma grande resposta a concentrações muito baixas de NO2. O aumento na concentração de NO2 no ar gerou variações na frequência de até 3 kHz, mostrando uma interação extremamente forte entre o PbPc e as moléculas de NO2, o que torna esse material adequado para a detecção de gases em concentrações de até 640 ppb.

Porém, a regeneração das camadas sensoriais de PbPc após a detecção de NO2 é um processo demorado, que pode levar desde várias horas até vários dias, dependendo das condições ambientais. Uma solução para acelerar esse processo foi proposta através de ciclos repetidos de aquecimento e resfriamento da estrutura sensorial entre 70–80 °C, reduzindo significativamente o tempo de regeneração para cerca de 1500 segundos, uma melhoria substancial em relação ao processo natural, que pode levar dias.

A detecção de hidrogênio continua sendo um desafio devido à pequena variação das propriedades materiais das camadas sensoriais simples. Mesmo o uso de paládio, que é um dos materiais mais eficientes para a absorção de hidrogênio, não tem mostrado resultados satisfatórios, com apenas interações massa-elásticas pequenas, que não interferem substancialmente na propagação das ondas acústicas. A solução encontrada para aumentar a sensibilidade a hidrogênio foi o uso de estruturas bilayer, compostas por camadas de materiais que, individualmente, não apresentam uma interação significativa com o hidrogênio. Essas estruturas bilayer, como as compostas por ftalocianina e óxido de tungstênio (WO3) cobertas por uma camada fina de paládio, têm se mostrado extremamente eficazes, amplificando as respostas sensoriais.

Um exemplo notável é a estrutura composta por uma camada de ftalocianina de cobre (~80 nm) e uma camada de paládio (~18 nm). Esta estrutura demonstrou uma mudança máxima de frequência de 500 Hz para uma concentração de hidrogênio de 4%, o que representa uma interação muito forte com o gás. As respostas rápidas, da ordem de segundos, e as pequenas mudanças na resistência elétrica indicam que a principal interação observada é de natureza massa-elástica, com a absorção de hidrogênio alterando as propriedades elásticas da estrutura sensorial. Essa resposta rápida é especialmente importante para a detecção de gases explosivos como o hidrogênio, onde tempos de resposta mais rápidos são cruciais para a segurança.

Além disso, a configuração das camadas bilayer permite uma interação mais eficaz e uma maior sensibilidade em relação aos materiais individuais, oferecendo uma vantagem significativa no desempenho de sensores de gás, especialmente quando comparado a sistemas de camadas simples. O uso de camadas bilayer é, portanto, uma solução inovadora e eficiente para superar as limitações encontradas nas estruturas sensoriais tradicionais.

É fundamental, ao se desenvolver sensores de gás com base em SAW, entender como diferentes materiais interagem com os gases de interesse e como essas interações afetam as propriedades do sensor. A escolha do material da camada sensorial, sua estrutura e a temperatura de operação desempenham um papel crucial na eficiência do sensor. Além disso, é importante considerar o tempo de regeneração do material sensorial e a velocidade de resposta do sensor, principalmente para aplicações que exigem alta precisão e tempos de resposta rápidos, como no caso da detecção de gases explosivos como o hidrogênio.

Como a Iluminação LED Afeta a Sensibilidade e Estabilidade dos Sensores SAW com Filmes de rrP3HT

Os sensores SAW (Surface Acoustic Wave) têm se mostrado uma plataforma promissora para a detecção de gases, com vantagens como alta sensibilidade e baixa temperatura de operação. No entanto, a escolha da fonte de iluminação e o tipo de material ativo utilizado nas estruturas sensoras desempenham um papel crucial no desempenho desses sensores. Neste contexto, a interação entre a luz e os filmes finos de polímeros, como o rrP3HT, revela aspectos interessantes sobre a estabilidade, sensibilidade e os processos de degradação dos materiais.

Ao realizar experimentos com fontes de luz LED, observa-se uma variação significativa na resposta do sensor de acordo com o comprimento de onda da luz. A ativação do sensor utilizando luz azul (~460 nm), por exemplo, resultou em grandes deslocamentos de frequência, evidenciando um aumento de sensibilidade. No entanto, esse tipo de ativação também está associado a uma maior degradação do filme de polímero devido ao processo de foto-oxidação, particularmente quando a luz tem um comprimento de onda menor, como a luz azul. A degradação do filme de polímero é observada de maneira mais acentuada sob a iluminação de luz azul, sendo significativamente menor quando a ativação ocorre com luz em comprimentos de onda mais longos, como luz amarela (~590 nm), verde ou vermelha. Este efeito pode ser atribuído a processos fotoquímicos que dependem da energia fornecida pela luz, com a foto-oxidação sendo mais pronunciada em comprimentos de onda menores, como o azul.

Um ponto crucial que surge das comparações experimentais é que, embora a luz azul induza o maior deslocamento de frequência, a estabilidade do sensor, medida pelo coeficiente de deslocamento de frequência ao longo do tempo, é mais favorável quando ativado por luz amarela ou vermelha. O teste com luz amarela (aproximadamente ~590 nm) e intensidade de ~57,1× 103 lx revelou um aumento significativo na sensibilidade relativa do sensor, particularmente para concentrações de DMMP (dimetilmetilfosfonato) no ar. A maior sensibilidade relativa observada foi de ~340 para a luz amarela a uma temperatura média de ~27,7 °C, um valor considerável considerando a modulação da intensidade de luz.

Além da variação de comprimento de onda, a intensidade da iluminação também desempenha um papel importante na resposta do sensor. A sensibilidade do sensor não é determinada apenas pela cor da luz, mas também pela intensidade com a qual a luz atinge o filme de polímero. Com intensidades mais baixas de luz, observa-se que a ativação pela luz amarela ainda mantém uma boa resposta, com deslocamentos de frequência notáveis, o que indica que essa ativação pode ser ideal para aplicações que exigem alta sensibilidade com menor intensidade de iluminação.

Em termos de sensibilidade em relação ao número de fótons, as medidas indicam que a estrutura de sensor com filme de rrP3HT possui uma sensibilidade superior em curtas distâncias de comprimento de onda, como observado com a luz azul. Porém, a luz amarela oferece uma sensibilidade quase idêntica à de outra estrutura de sensor, SilPEG1.4, em termos de número de fótons, sugerindo que a luz amarela oferece um ponto de equilíbrio entre sensibilidade e estabilidade.

Outro fator importante a ser considerado é o tempo de resposta do sensor, que foi estimado em menos de 5 segundos para atingir 90% do valor do estado estacionário para concentrações de 2 ppm de DMMP. Isso indica que a estrutura do sensor é suficientemente rápida para detectar mudanças de concentração em um intervalo de tempo curto. No entanto, o tempo para atingir o estado estacionário completo é mais longo, com um valor estimado de ~100 segundos, o que é importante para aplicações que exigem uma resposta completamente estabilizada.

Além disso, a estabilidade a longo prazo e a repetibilidade dos sensores ativados por LED revelam que, em comparação com fontes de luz branca ou lasers LED, as fontes LED puras apresentam uma deriva térmica mais baixa do sinal de frequência e uma degradação menor do filme de polímero em comprimentos de onda mais longos. A estabilidade e a repetibilidade dos testes, realizados em ciclos sucessivos de dosagem de DMMP, mostraram que o sensor mantinha uma performance consistente ao longo do tempo, com um coeficiente de aumento de frequência de ~0,92 Hz/min.

Por fim, os experimentos realizados com transdutores elétricos planos cobertos por uma camada fotocondutora de polímero também reforçam a ideia de que a interação acústoeletromagnética pode ser otimizada com o uso de luz, com parâmetros como a condutividade elétrica da superfície do filme de polímero sendo ajustados em função da ativação com diferentes fontes de luz. A estimativa do parâmetro acústoeletromagnético (ξ) indicou como a eficiência da interação acústica pode ser influenciada pela iluminação.

A partir desses dados, fica claro que a escolha da fonte de luz é crucial para otimizar o desempenho dos sensores SAW com filmes de rrP3HT. Sensores ativados por luz amarela apresentam um equilíbrio entre alta sensibilidade e boa estabilidade, sendo uma opção promissora para a detecção de DMMP e possivelmente outros gases. A resposta do sensor pode ser ajustada não apenas pelo tipo de luz, mas também pela intensidade e pelo tempo de exposição, tornando essas variáveis essenciais na implementação de dispositivos de detecção eficientes e de longo prazo.