Para compreender a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, é necessário situá-la dentro de uma política contrarrevolucionária branca, que emerge das configurações geográficas específicas do Estado racial dos EUA. Embora acadêmicos e comentaristas políticos já tenham localizado a ascensão de Trump no contexto da supremacia branca, é essencial ampliar a compreensão dessa ascensão ao relacioná-la com o racismo anti-negro e como o Estado racial dos EUA recorre à branquitude como uma forma de prevenir mudanças sociais. Desde o desenvolvimento dos Estados Unidos, a branquitude tem sido um pilar de resistência contra mudanças progressistas e revolucionárias, de tal forma que, em momentos de crise política e econômica, o capitalismo burguês recorre às classes médias e trabalhadoras brancas para amenizar essa crise.
Em 16 de junho de 2015, Donald Trump desceu a escada dourada de sua torre em Nova York para um público entusiasta, acostumado a vê-lo no reality show The Apprentice. Sua aparência refletia todos os elementos da cultura americana contemporânea, obcecada por celebridades. Quando subiu pela escada rolante, em um momento que muitos consideraram a mais improvável candidatura à presidência da história dos Estados Unidos, poucos imaginavam a forma como ele começaria sua campanha. Inicialmente, com um discurso de "Make America Great Again", Trump atacou o perigo da imigração ilegal e da transferência de empregos para o exterior, especialmente para a China. No entanto, esse apelo econômico populista foi ofuscado quando ele declarou: "Quando o México manda seus pessoas, eles não estão mandando seus melhores... Eles estão mandando pessoas que têm muitos problemas, e estão trazendo esses problemas. Eles estão trazendo drogas, eles estão trazendo crime, são estupradores, e alguns, eu imagino, são pessoas boas" (D.J. Trump, 2015). Apesar de suas palavras terem sido amplamente condenadas por democratas e até por alguns republicanos, e sua campanha ter sido inicialmente considerada uma "extremista", com o tempo ficou claro que sua retórica racial estava no centro de sua ascensão.
Nos 18 meses seguintes, ele aperfeiçoaria seu apelo, estendendo sua retórica racista para as cidades norte-americanas, os muçulmanos e outros grupos imigrantes, além de dar continuidade à sua alegação de que Barack Obama não era cidadão dos EUA nem elegível para a presidência. Quando, em 8 de novembro de 2016, a vitória de Trump foi garantida, os líderes políticos dos Estados Unidos estavam atônitos, lutando para entender como ele havia conseguido conquistar a presidência. Ver sua candidatura como um fenômeno isolado seria ignorar as forças mais amplas que moldam a economia política dos EUA e o papel central da raça nesse contexto.
A ascensão de Trump deve ser vista como parte de uma política contrarrevolucionária branca, que se origina de configurações geográficas específicas do Estado racial dos EUA, além de trajetórias históricas de racismo anti-negro. A análise de sua ascensão faz eco a estudos recentes que argumentam que sua popularidade foi alimentada por uma simplificação da identidade, que serviu para desviar a atenção das políticas prejudiciais aos trabalhadores em todo o mundo. Em especial, ao “centrar um corpo masculino ideal, impenetrável, normalizado e heteronormativo branco” como elemento central no sistema político dos EUA, Trump mobilizou uma longa história de supremacia branca, que sempre se posicionou como um bastião conservador contra qualquer mudança progressista ou uma reconfiguração radical da economia política dos EUA.
Historicamente, sempre que a economia dos EUA enfrentou crises econômicas ou políticas, o capitalismo burguês recorreu às classes médias e trabalhadoras brancas para evitar qualquer transformação substancial. Esse padrão se repete ao longo da história do país, e a eleição de Trump não pode ser vista como um acidente, mas sim como uma continuação dessa tradição. Ele conseguiu, assim, conectar sua campanha à supremacia branca e a um populismo branco que motivou sua base de eleitores. Ao fazer isso, ele também promoveu uma política fascista de corpo, que busca preservar a supremacia branca masculina, utilizando o corpo racializado e masculinizado como um proxy para a nação, enquanto aponta os “corpos não brancos e não masculinos” como ameaças à segurança do país, alimentando o medo da “queda branca” e a ideia de fronteiras ameaçadas.
Essa análise da ascensão de Trump não é apenas uma reflexão sobre seu sucesso eleitoral, mas também sobre as implicações desse fenômeno para resistir à política contrarrevolucionária branca e ao impacto que ela tem na construção do Estado racial dos EUA. O desafio de resistir a essas forças deve envolver uma compreensão do papel central que a supremacia branca desempenha nas políticas eleitorais norte-americanas, e da necessidade urgente de enfrentar a política identitária que tem sido usada para materializar e reproduzir as estruturas de poder que sustentam essa supremacia.
O contexto de Trump também deve ser compreendido à luz de uma crise maior, que vem sendo exacerbada pelo neoliberalismo e pelos programas de austeridade, os quais intensificam as desigualdades sociais. Essas políticas têm causado a deterioração das condições de vida de muitas classes trabalhadoras brancas, cujos salários caem, a insegurança no trabalho aumenta, e o estado de bem-estar social se enfraquece. Esse ressentimento e medo, alimentados pela insegurança econômica, fornecem um terreno fértil para o populismo branco, que promete restaurar a "grandeza" dos Estados Unidos, mas ao custo de políticas que marginalizam e excluem grupos não brancos e não masculinos.
Com a mobilização crescente contra Trump, fica claro que a resposta a essa política contrarrevolucionária branca não deve ser apenas uma reação passiva, mas uma ação coordenada que reconheça a interseção de raça, classe e poder nas dinâmicas políticas dos Estados Unidos. Somente ao entender como essas geometrias raciais operam dentro do capitalismo racializado é que será possível desenvolver estratégias eficazes para resistir e criar alternativas progressistas.
Como a Reconstrução Negra de Du Bois Continua a Relevância na Luta Contra o Racismo e a Supremacia Branca
O trabalho de W.E.B. Du Bois em "Black Reconstruction" permanece fundamental para a compreensão das complexas dinâmicas raciais e sociais nos Estados Unidos, ainda que tenha sido escrito há mais de um século. Du Bois não só analisou os eventos pós-Guerra Civil como um marco de resistência negra, mas também desafiou as narrativas dominantes que buscavam minimizar o papel da escravidão na Guerra Civil Americana e, por conseguinte, a construção de uma sociedade racialmente segregada. Como bem apontou David Roediger, a relevância de "Black Reconstruction" se mantém por duas razões principais. A primeira, devido à tentativa de Du Bois de fazer as pazes com a desilusão profunda que caracterizou a era da Reconstrução, quando a promulgação da 13ª, 14ª e 15ª emendas parecia ter aberto uma nova era de liberdade. No entanto, essa aparente liberdade desmoronou sob o peso da "Redenção do Sul", um movimento que restaurou, em grande parte, o poder político da antiga classe plantationista através de sistemas de segregação e trabalho de arrendamento que reescravizaram negros e pobres brancos no sul (Balfour, 2003: 33; Wilson, 2002).
A segunda razão se liga à forma como "Black Reconstruction" se opôs à tentativa de apagar a centralidade da escravidão na Guerra Civil, desafiando a narrativa da "Causa Perdida", que ganhava força nos Estados Unidos da época. A "Causa Perdida" tentou valorizar o Sul e seus líderes confederados, minimizando o papel fundamental da escravidão no conflito. Du Bois resistiu a essa tentativa, desmascarando-a como uma articulação maior da supremacia branca, um movimento que, em nossa época contemporânea, ainda se reflete nas manifestações de grupos supremacistas brancos que reivindicam memorializações confederadas como símbolos de poder político. A resistência de Du Bois é, portanto, um alerta contra a normalização de uma nova supremacia branca, o que, em nossos dias, ganha força através de movimentos políticos de extrema direita, como os observados em Charlottesville, Virgínia, quando protestos a favor de Robert E. Lee e da preservação das estátuas confederadas ganharam apoio de grupos neo-nazistas e supremacistas brancos.
O trabalho de Du Bois, ao recusar a normalização dos discursos sobre os afro-americanos, revela a forma como a história da Guerra Civil foi distorcida para servir aos interesses da supremacia branca. Hoje, esse fenômeno se repete, como evidenciado pelo movimento "birther", que questionou a legitimidade da presidência de Barack Obama, alegando que ele não era cidadão dos Estados Unidos, o que reflete um traço clássico da narrativa da "Causa Perdida". O "birtherismo" não é apenas uma teoria conspiratória; é uma continuação da construção de uma narrativa que descreve os afro-americanos como "estrangeiros" usurpadores da democracia americana. Essa percepção, amplamente disseminada no contexto político atual, busca invalidar a presença de negros na política e na sociedade americana, algo que remonta diretamente às estratégias históricas de deslegitimização de uma cidadania negra plena.
Além disso, "Black Reconstruction" se baseia na tentativa de Du Bois de aplicar uma análise marxista para compreender o racismo nos Estados Unidos. Ele argumenta que a exploração do trabalho negro é a pedra fundamental não apenas da estrutura social do Sul, mas também da manufatura e do comércio no Norte. O sistema de escravidão, ao transformar a liberdade em uma construção racial, enraizou profundamente o racismo nas instituições políticas e econômicas do país. Para Du Bois, a escravidão não era apenas uma condição social, mas uma estrutura racialmente determinada, que se perpetuava nas construções discursivas sobre classe, gênero e sexualidade. Essas reflexões são essenciais para entender a persistência do racismo estrutural nos dias atuais, e como a segregação e a exploração dos negros continuam a ser parte do tecido político e econômico dos Estados Unidos.
O livro "Spatializing Blackness", de Rashad Shabazz, amplia a análise de Du Bois ao discutir como a linha divisória racial, a qual Du Bois analisou em sua obra, também foi construída espacialmente para manter o controle sobre o trabalho negro e policiar a sexualidade negra. A obra de Shabazz oferece uma visão moderna sobre como o racismo anti-negro foi moldado através do espaço, uma perspectiva crucial para compreendermos as formas atuais de violência racial e segregação, especialmente em contextos urbanos e nas políticas de encarceramento. A obra de Du Bois, portanto, não se limita ao passado, mas continua a ser um ponto de partida para refletirmos sobre a estrutura de poder racial que ainda caracteriza a sociedade dos Estados Unidos no século XXI.
Ao longo da história dos Estados Unidos, o racismo não apenas foi uma construção social, mas uma força ativa na formação das instituições e das políticas públicas. Du Bois revelou como o país desenvolveu sua economia, política e sociedade por meio da interseção de raça, classe, gênero e sexualidade, sempre sustentada por uma dependência de supremacia branca. A persistência da violência racista, a repressão ao voto de minorias e a criminalização das comunidades negras e indígenas demonstram como a supremacia branca continua a operar em diversas esferas da sociedade.
É importante que o leitor compreenda que, embora a escravidão formal tenha sido abolida, as estruturas que sustentam a desigualdade racial e social permanecem intactas, manifestando-se em práticas cotidianas e em políticas que limitam o acesso e os direitos dos negros, dos imigrantes e de outras minorias. Isso pode ser visto na crescente violência de grupos supremacistas brancos, na repressão policial contra negros e na perpetuação de narrativas que deslegitimam a cidadania de afro-americanos e imigrantes.
Du Bois, portanto, não apenas nos dá uma lente crítica para analisar o passado, mas também uma ferramenta vital para entender e combater as desigualdades que ainda dominam a sociedade contemporânea. Sua obra não deve ser vista como um relicário do passado, mas como uma análise perspicaz das dinâmicas de poder que moldam o racismo e a supremacia branca no presente.
Como a Crise Econômica e as Percepções Raciais Impulsionaram a Ascensão de Trump nos Estados Unidos
Nos últimos anos, uma série de transformações profundas na economia dos Estados Unidos ameaçou ou destruiu os empregos que sustentavam os trabalhadores das classes média e baixa, que há muito tempo dependiam dessas ocupações para alcançar sua parcela do "Sonho Americano". A crise econômica, exacerbada por décadas de políticas neoliberais, não apenas afetou diretamente o poder aquisitivo dessas camadas sociais, mas também interagiu de forma complexa com questões culturais e raciais, criando um terreno fértil para o crescimento de uma retórica política que se baseava na defesa da supremacia branca e na reação contra o que muitos consideravam uma mudança demográfica ameaçadora.
Ao tentar entender o fenômeno eleitoral de Donald Trump, é essencial ir além da visão simplista que muitos comentaristas oferecem sobre sua coalizão de eleitores. A pesquisa do "Voter Study Group", composta por acadêmicos de diversas orientações políticas, revelou insights cruciais sobre as motivações dos eleitores que apoiaram Trump. Os dados indicam que os eleitores que enfrentaram pressões econômicas contínuas, como o aumento da insegurança financeira, eram mais suscetíveis a se tornar críticos da imigração e do terrorismo, unindo essas preocupações econômicas com visões culturais que reforçavam a ideia de um "EUA ameaçado" por estrangeiros e minorias. Esses eleitores, muitos dos quais haviam votado em Obama anteriormente, apresentavam uma visão negativa sobre a economia em geral e sobre sua própria situação financeira, o que tornava suas opiniões mais receptivas às promessas de Trump de restaurar a grandeza da América.
Além disso, a mesma pesquisa identificou uma correlação entre as crenças de que os negros, ao contrário de outros grupos imigrantes, deveriam conquistar seu espaço na sociedade sem "favores especiais", com fortes associações negativas em relação aos muçulmanos e à imigração ilegal. Essas percepções sobre raça e o status racial dos brancos desempenharam um papel central na mobilização do eleitorado de Trump, pois muitos temiam que a mudança demográfica nos Estados Unidos ameaçasse a posição dominante dos brancos.
O estudo também destaca como o discurso de Trump foi capaz de explorar as profundas relações socioespaciais entre raça e política. O sociólogo Joe Feagin argumenta que uma das principais características do racismo anti-negro nos Estados Unidos é a negação da gravidade das discriminações passadas e a forma como essas histórias continuam a afetar a realidade contemporânea. Essa negação histórica, combinada com uma nostalgia pelo "passado glorioso" de uma América branca, ajudou a tornar o lema de Trump, "Make America Great Again", tão atrativo para uma parcela significativa do eleitorado. A "grandeza" evocada por Trump, no entanto, não era apenas uma promessa de prosperidade econômica, mas também de uma América mais homogênea racialmente, onde os brancos poderiam restaurar sua posição privilegiada na sociedade.
O impacto das políticas neoliberais foi devastador para muitos trabalhadores da classe média e operária nos Estados Unidos. A desregulamentação do setor financeiro e a globalização da produção industrial, impulsionada pela abertura das fronteiras comerciais, criaram um cenário onde as fábricas e empregos bem remunerados que sustentavam o estilo de vida de muitas famílias foram deslocados para fora do país. A liberalização financeira e o aumento da especulação no mercado financeiro resultaram em uma concentração de riqueza nas mãos de poucos, enquanto a classe trabalhadora teve que recorrer ao crédito para financiar seus padrões de vida. Essa dependência do crédito foi uma das principais causas da explosão da bolha imobiliária de 2007, que culminou na Grande Recessão de 2008.
As políticas neoliberais, ao desregulamentar os mercados financeiros e permitir a livre circulação de capital, criaram um ambiente onde as flutuações econômicas se tornaram mais difíceis de controlar. Esse processo de "financeirização" da economia, que favoreceu a concentração de riqueza e o crescimento das disparidades econômicas, teve um impacto devastador nas classes médias e baixas. A crise financeira de 2008 expôs de forma dramática a vulnerabilidade dos trabalhadores e das famílias que haviam investido pesadamente na valorização de seus imóveis, o que resultou em uma enorme perda de patrimônio para milhões de americanos. Essa perda, combinada com a estagnação do crescimento econômico, alimentou ainda mais o ressentimento e o medo entre aqueles que sentiam que sua posição social e econômica estava sendo desafiada por uma nova ordem globalizada e multirracial.
Além disso, o aumento da percepção de que os "estrangeiros" estavam invadindo o país e ameaçando as oportunidades de emprego para os americanos foi um tema central na campanha de Trump. O sentimento de "perda de status racial", como demonstrado em estudos recentes, foi uma das motivações principais para a mudança de apoio de eleitores democratas para republicanos. A ascensão de Trump pode, portanto, ser vista como uma resposta a uma crise existencial sentida por muitos brancos, que temiam que sua posição como grupo dominante estivesse sendo erodida pelas mudanças demográficas e pelas políticas de inclusão social.
A ascensão de Trump e sua retórica política não podem ser compreendidas sem levar em conta a interseção entre as ansiedades econômicas e as percepções raciais que dominaram grande parte do eleitorado. A manipulação dessas ansiedades por meio de uma linguagem que mistura nostalgia, medo da mudança e ressentimento contra as minorias foi uma estratégia eficaz para galvanizar o apoio de uma base que se sentia marginalizada pelas transformações econômicas e sociais do país.
Como o Medo da Perda da Supremacia Branca Impactou a Eleição de Trump
A campanha de Donald Trump foi construída sobre uma visão da identidade branca que se apoia na homogeneidade e estabilidade, apresentando um modelo de corpo masculino branco, heteronormativo e impenetrável. Desde os primeiros momentos de sua candidatura, essa imagem se opôs a tudo o que representava o "outro", seja na forma de imigrantes mexicanos, afro-americanos ou outras minorias. Trump, ao se posicionar de maneira contundente, como no discurso de sua candidatura na Trump Tower, e mais tarde, ao fazer comentários sobre os imigrantes mexicanos, procurava se alinhar a uma visão particular de branquitude que, em muitos aspectos, tocava em medos profundos sobre a perda de um status social e econômico conquistado.
Esse discurso, respaldado por estudos como o da Voter Study Group e da National Academy of Sciences, se direcionava, em grande parte, a eleitores que não apenas estavam economicamente afetados, mas que também nutriam crenças sobre as minorias, especialmente os afro-americanos, percebendo-os como ameaças. As propostas de Trump, portanto, estavam imbricadas numa retórica de solidariedade nacional, que ressoava com os ideais defendidos por Breitbart e outros grupos conservadores. O medo de uma transformação demográfica no país, com o iminente declínio da maioria branca, foi explorado de maneira explícita, como exemplificado pela matéria do Breitbart que, à véspera das eleições, destacava um discurso de Tim Kaine, candidato vice-presidente pelo Partido Democrata, que falava sobre o futuro do país enquanto nação de maioria/minoria.
Esses medos, em muitos casos, estavam ligados àquilo que Roediger chamou de “salário psicológico da branquitude” – um conjunto de benefícios materiais e simbólicos percebidos pela posição privilegiada dos brancos dentro da hierarquia racial. O temor de que qualquer mudança nessa hierarquia pudesse expor a fragilidade dessa supremacia gerava um desejo profundo de proteção dessa posição social. Como Roediger salientou, a supremacia branca se sustenta sobre uma fundação superficial e instável, o que torna muitos brancos dispostos a defendê-la de maneira vigorosa, seja por meios violentos ou políticos.
O Breitbart, veículo amplamente associado à figura de Steve Bannon, amplificava esse medo, promovendo um discurso nativista e supremacista branco. Histórias como a do "fim da maioria branca nos Estados Unidos" ou da "extinção dos homens brancos" eram exemplos de como o veículo usava os receios da classe trabalhadora branca para galvanizar seu apoio. Essas narrativas não só reforçam a ideia de superioridade branca, mas também alimentam um sentimento de insegurança, ao pintar os afro-americanos e latinos como inimigos internos da sociedade americana.
A ideia de que os brancos recebem um "salário psicológico" por sua identidade, como argumentado por Roediger, também se conecta com a história econômica dos Estados Unidos, onde a capacidade de grupos étnicos, inicialmente excluídos da branquitude, de se integrar a esse status garantiu-lhes benefícios sociais e civis. Ao longo do tempo, esses processos se tornaram mecanismos de exploração e manipulação por parte de políticos e capitalistas, que usaram o medo da perda dessa posição privilegiada para mobilizar eleitores.
O papel de Trump, portanto, não pode ser visto como um fenômeno isolado. Ele é parte de um contexto histórico e social mais amplo, onde práticas de supremacia branca são intrinsecamente ligadas à política americana. A ascensão de Trump simboliza uma continuidade de uma narrativa racializada que remonta a mais de 400 anos de supremacia branca nos Estados Unidos, reforçando uma ordem política e econômica que se alicerça em um sistema capitalista racializado. O medo da perda de privilégios econômicos e sociais por parte da classe trabalhadora branca foi uma das chaves para o sucesso da campanha de Trump.
Importante compreender que a ascensão de Trump representa muito mais do que uma simples mudança na política americana. Ela é um reflexo de um legado racializado profundamente enraizado na história do país. Ao longo das eleições, Trump não só se aproveitou das divisões econômicas, mas também das divisões raciais para construir sua base de apoio, utilizando discursos que tocavam nas inseguranças e ansiedades de um setor significativo da população americana. Através de uma retórica de exclusão, Trump não apenas refletiu uma parte da sociedade, mas também a alimentou, intensificando os temores sobre a mudança demográfica, a perda da posição dominante dos brancos e a ascensão de outras etnias no cenário político e social. Essa manipulação do medo tem raízes profundas e precisa ser analisada com atenção, pois ela continua a alimentar a polarização e a resistência à transformação social que ainda é necessária nos Estados Unidos.
Hoe Het Berekenen van de Gemiddelde Duur van Films per Decennium Geholpen Kan Worden Bij Het Begrijpen van Veranderingen in de Filmgroepen
Hoe Inclusief Ontwerpen Kan Bijdragen aan Positieve Gedragsverandering in de Samenleving

Deutsch
Francais
Nederlands
Svenska
Norsk
Dansk
Suomi
Espanol
Italiano
Portugues
Magyar
Polski
Cestina
Русский