O aprendizado da leitura é uma tarefa desafiadora por si só. Quando se adiciona à complexidade a barreira de um idioma que não é bem compreendido, o desafio se intensifica. Estudos demonstram que as habilidades de alfabetização, uma vez adquiridas, podem ser transferidas para outro idioma. Contudo, muitas escolas ainda ensinam a alfabetização no idioma oficial, ao invés de priorizar a língua materna dos alunos. Um estudo realizado em Papua-Nova Guiné, por exemplo, demonstrou que, quando escolas começaram a utilizar o Tok Pisin – uma língua crioula baseada no inglês, mas língua materna dos alunos – como meio de instrução, os estudantes não só não ficaram para trás no aprendizado do inglês, como superaram suas expectativas acadêmicas, não apenas nas séries iniciais, mas também nas mais avançadas. Esse tipo de resultado foi confirmado por outros estudos semelhantes em diferentes partes do mundo.

Em países com grandes populações imigrantes, persiste o receio de que permitir que as crianças aprendam em suas línguas maternas leve à desunião social, com as comunidades étnicas se recusando a aprender o idioma dominante. A realidade, no entanto, é que os pais imigrantes desejam que seus filhos aprendam o idioma da oportunidade – o idioma dominante – mas sem perder suas raízes culturais e linguísticas. Do ponto de vista linguístico, não há razão para que isso não seja possível. A ideia de que o aprendizado de uma língua adicional pode confundir as crianças é igualmente infundada. Os estudos comprovam que as crianças não precisam abandonar seu idioma nativo para aprender o idioma escolar. Elas podem dominar ambos simultaneamente, sem prejuízos para o desenvolvimento cognitivo ou emocional.

Esse conceito de aprendizado simultâneo de múltiplas línguas entra em choque com uma mentalidade monolíngue que, por décadas, tem dominado as práticas educacionais em muitos países. A mentalidade monolíngue, cunhada por Michael Clyne, defende a ideia de que o monolinguismo é a norma ideal para as nações e que o multilinguismo é estranho e até perigoso. Isso se reflete na resistência de países como os Estados Unidos, onde frequentemente ouvimos frases como: "Este é o país da língua inglesa, fale inglês". Essas ideias têm implicações não apenas para o aprendizado das crianças, mas também para a valorização das línguas que não são consideradas dominantes.

O sucesso educacional em muitas dessas nações é muitas vezes visto como a maestria de um único idioma, geralmente o inglês. Isso pode ser observado nos exames padronizados, onde o foco é na gramática e na sintaxe do inglês padrão. Outras formas linguísticas, que não se alinham com o idioma escolar, são frequentemente marginalizadas e até consideradas inadequadas. Aqueles que falam esses idiomas ou dialetos são vistos como necessitados de correção contínua, tanto gramatical quanto moralmente. No entanto, ao invés de considerar um idioma dominante como o único marcador de sucesso, seria mais proveitoso redefinir o sucesso educacional. O verdadeiro êxito poderia ser medido pela capacidade de usar várias línguas em contextos adequados, refletindo, assim, a rica competência linguística dos alunos bilíngues e multilíngues.

Os benefícios do bilinguismo, especialmente em contextos educacionais, têm sido amplamente documentados. Nos Estados Unidos, por exemplo, a educação bilíngue tem sido um tema polêmico. Historicamente, programas bilíngues existiram, como as escolas de alemão-inglês em Ohio até a Primeira Guerra Mundial, quando sentimentos anti-alemães levaram ao fechamento desses programas. Com a implementação da legislação "No Child Left Behind" nos anos 2000, muitos desses programas foram gradualmente desmantelados. O debate sobre a educação bilíngue nos Estados Unidos é complexo, pois, mesmo quando esses programas estavam em vigor, eles atingiam apenas uma pequena parte dos alunos que poderiam se beneficiar deles. A maioria desses programas eram voltados para a transição rápida dos alunos para o inglês, sem considerar o valor do idioma materno.

As críticas à educação bilíngue muitas vezes emanam de uma visão monolíngue, reforçada por um contexto de imigração e da presença do espanhol nos Estados Unidos. A percepção de que os imigrantes de hoje não estão aprendendo inglês, especialmente os falantes de espanhol, é comum, mas, de acordo com os dados do censo, mais de 80% dos falantes de outras línguas também falam inglês com fluência. Essa ideia errônea sobre a dificuldade dos imigrantes em aprender inglês ignora a realidade de que, em grande parte, as crianças bilíngues têm o domínio de múltiplos idiomas de forma natural, movendo-se entre eles com facilidade. Isso é um reflexo da riqueza linguística que esses alunos trazem para a sala de aula, sendo muitas vezes intérpretes trilingues dentro de suas próprias famílias.

Além disso, é fundamental considerar que a educação bilíngue, especialmente a manutenção das línguas maternas, tem um impacto significativo no desenvolvimento cognitivo das crianças. Estudos demonstram que programas que promovem o bilinguismo aditivo, onde o aluno não perde sua língua de origem ao aprender uma nova, são muito mais eficazes do que os programas de imersão rápida que visam simplesmente substituir o idioma nativo pelo dominante. A educação bilíngue não só contribui para o sucesso acadêmico, como também para a construção de uma identidade mais sólida e resiliente para os alunos, permitindo-lhes navegar entre diferentes culturas de maneira equilibrada e enriquecedora.

Portanto, ao avaliar o sucesso educacional e os resultados de políticas linguísticas, é imprescindível entender que o bilinguismo, quando corretamente promovido, oferece benefícios cognitivos, sociais e culturais imensos. Ele não deve ser visto como uma barreira ao aprendizado, mas como uma vantagem que enriquece a experiência educacional e promove um ambiente mais inclusivo e diversificado.

O Impacto Global do Inglês e o Desafio da Diversidade Linguística

O inglês, hoje, é uma língua falada em quase 75 países e tem desempenhado um papel crucial como língua franca global. Seu uso, no entanto, não se limita apenas ao seu papel tradicional como idioma de comunicação internacional entre falantes de diferentes línguas. Em muitos lugares, o inglês tem se consolidado como língua nativa, especialmente em países como Cingapura, onde a língua é falada em casa, mesmo por gerações que não nasceram no Reino Unido ou nos Estados Unidos. Este fenômeno questiona as tradicionais categorias de "círculo interno" e "círculo externo" do inglês, de acordo com a classificação proposta por Kachru, onde o círculo interno inclui países de língua inglesa, e os círculos externos englobam países que aprenderam o inglês como língua estrangeira.

Além disso, a globalização do inglês tem gerado a criação de novas variedades linguísticas, conhecidas como "New Englishes", que emergem em áreas anteriormente colonizadas pelo Império Britânico. Essas novas formas de inglês, como o inglês nigeriano, têm se afastado das normas britânicas e americanas, influenciadas pelas línguas locais e pelas condições socioculturais específicas de cada país. Embora o número de falantes dessas novas variedades de inglês seja superior ao dos falantes nativos de inglês, a legitimidade dessas formas de inglês ainda é questionada por alguns linguistas. A crítica de que esses novos dialetos não são "verdadeiro inglês" ignora a natureza dinâmica das línguas, que evoluem com o tempo. Cada uma dessas variantes, se os seus falantes assim o desejarem, tem o direito de ser chamada de inglês e deve ser respeitada como tal, assim como as formas faladas em Londres ou Nova York.

O inglês tem sido adotado como língua oficial ou língua de fato em uma quantidade significativa de países. Um exemplo claro do papel do inglês como língua franca global é seu uso no controle de tráfego aéreo, onde a comunicação internacional ocorre exclusivamente em inglês. O setor da tecnologia também utiliza majoritariamente o inglês, e estimativas apontam que cerca de 80% dos artigos científicos no mundo são publicados nesse idioma. Essa realidade se reflete em meu próprio trabalho de edição na década de 1990, onde participei da revisão do "Polish Journal of Soil Science", escrito inteiramente em inglês, embora seus autores e leitores fossem, em sua maioria, falantes nativos de polonês.

Porém, a globalização do inglês não se limita a uma disseminação uniforme de uma única versão da língua. Em algumas partes do mundo, o inglês se entrelaça com outras línguas, criando novas formas de comunicação, como é o caso dos pidgins e crioulos. O fenômeno dos "New Englishes" tem se expandido principalmente em países pós-coloniais, onde o inglês se misturou com as línguas indígenas, criando uma realidade linguística complexa que ainda está em constante evolução.

Em paralelo ao crescimento do inglês, o mundo enfrenta um desafio cada vez maior: a perda de línguas e a extinção de culturas linguísticas inteiras. Estima-se que mais de 3.000 línguas no mundo estejam em risco de desaparecer, representando 41% das línguas globais. Esse número alarmante pode aumentar ainda mais ao longo do século XXI, com previsões apontando que até 90% das línguas do mundo corram risco de desaparecer. A morte de uma língua ocorre quando todos os seus falantes morrem ou abandonam a língua em favor de outra mais dominante, e o idioma deixa de ser usado de maneira significativa em qualquer contexto social.

O desaparecimento das línguas não significa apenas a perda de uma forma de comunicação, mas também a extinção de um patrimônio cultural único. Cada língua carrega consigo uma visão de mundo, uma história e uma identidade. A perda de uma língua é, portanto, um processo profundamente doloroso para a comunidade que a utiliza, pois envolve a perda de parte de sua própria essência e ligação com o passado.

Ainda assim, o futuro não está totalmente perdido. O movimento em defesa das línguas em extinção tem ganhado força, com iniciativas de revitalização e preservação. Em muitas regiões, esforços têm sido feitos para ensinar as novas gerações a língua materna e para reviver práticas linguísticas que estavam à beira da extinção. Em alguns casos, a tecnologia tem se mostrado uma aliada importante nesse processo, com aplicativos e plataformas de ensino que facilitam a aprendizagem de línguas em perigo, mesmo em contextos onde os falantes são poucos.

Entender as complexas dinâmicas da disseminação do inglês e o fenômeno da perda de línguas é essencial para quem se interessa pela preservação da diversidade linguística. A discussão sobre o que significa ser falante de inglês no mundo contemporâneo, sobre a legitimação dos "New Englishes", e sobre a manutenção das línguas ameaçadas, deve ser um ponto central de reflexão para qualquer um que se preocupe com o futuro das línguas e culturas no planeta.