A questão central do ceticismo clássico sempre foi a nossa ignorância sobre o que há no mundo. O ceticismo questiona se podemos saber algo sobre a realidade, dado que, até mesmo o que parece mais evidente, como a existência de mesas, pode ser apenas uma ilusão, um engano produzido por algo além da nossa percepção. Quando o veridicismo aparece como uma resposta a esse ceticismo, propõe que, ao contrário do que os céticos dizem, não estamos completamente em dúvida sobre a existência de coisas como mesas, mas sim sobre o que essas coisas realmente são.
Essa ideia sugere que podemos conhecer a existência de coisas, mas, ao mesmo tempo, nossa compreensão sobre o que elas são – ou seja, sua verdadeira natureza – permanece em questão. A lógica por trás do veridicismo é que, embora saibamos que algo como uma mesa existe, ainda não sabemos com precisão sua verdadeira essência. Portanto, o conhecimento não se trata mais de afirmar que algo existe, mas de entender o que, de fato, esse algo é.
A diferença entre o ceticismo tradicional e o veridicismo é fundamental: enquanto o ceticismo se preocupa com a dúvida sobre a existência das coisas, o veridicismo se concentra na questão sobre o que essas coisas são. Por exemplo, ao aprender que pássaros são dinossauros, a dúvida sobre a cor dos dinossauros deixa de ser relevante – mas isso não resolve a questão de fundo sobre o que realmente sabemos. O mesmo acontece com o conceito de mesas: embora possamos saber que há mesas, não sabemos o que as mesas realmente são, e isso é uma forma de ceticismo mais profunda que permanece intacta mesmo com a aceitação do veridicismo.
Verificar que as mesas existem e que, em um nível mais profundo, sabemos que elas são reais, pode, à primeira vista, parecer que estamos avançando no problema epistemológico. No entanto, isso não resolve o problema fundamental de que ainda não entendemos completamente o que são essas mesas, ou o que as faz ser mesas em primeiro lugar. A verdadeira questão, em termos do ceticismo básico, não é saber se as mesas existem, mas sim entender o que elas são – e isso é um ponto crucial que o veridicismo ainda não resolve. O que o veridicismo faz, em última instância, é mudar o foco do ceticismo para um outro tipo de dúvida, mas não elimina a incerteza epistemológica central que surge quando não podemos afirmar com certeza o que são as coisas que acreditamos serem reais.
Além disso, o veridicismo não resolve o problema das hipóteses céticas mais extremas, como a do "demônio maligno" ou de que estamos vivendo em uma simulação. Embora o veridicismo nos assegure que as mesas, como as percebemos, são reais, ele não elimina as dúvidas sobre a origem de nossas percepções – ou seja, se somos ou não vítimas de alguma ilusão, como uma simulação global. A aceitação do veridicismo simplesmente muda a expressão do ceticismo de uma dúvida sobre a existência para uma dúvida sobre a natureza do que existe.
O que torna essas questões ainda mais desafiadoras é que o veridicismo, ao fornecer uma nova resposta ao ceticismo, não parece oferecer uma solução que reduza a incerteza básica sobre nossa capacidade de conhecer o mundo. Em vez disso, ele simplesmente altera o quadro da dúvida, deslocando-a do domínio da existência para o da natureza das coisas. Portanto, a questão central permanece: sabemos o que é uma mesa, ou apenas que há algo a que chamamos de mesa?
Essas considerações exigem uma reflexão mais profunda sobre a própria natureza do conhecimento e da realidade. A aceitação de que há mesas pode, na verdade, ser uma ilusão tão grande quanto a dúvida sobre sua existência. O ceticismo não é apenas uma questão de saber se as mesas existem ou não; é, antes de tudo, uma questão de saber o que, de fato, sabemos sobre elas e sobre o mundo que nos cerca.
É crucial perceber que a verdadeira problemática do ceticismo não está em questionar a existência de objetos concretos, mas em compreender como nossas percepções e crenças podem ser enganosas. Mesmo com o avanço das respostas que o veridicismo oferece, ainda estamos à mercê da dúvida fundamental sobre a realidade, que permanece uma questão central não resolvida.
A Hipótese Computacional e o Desafio do Conhecimento Fundamental
A hipótese computacional propõe que o universo, em seus níveis mais fundamentais, pode ser entendido como um vasto processo computacional. De acordo com essa ideia, as partículas fundamentais, como quarks, elétrons e fótons, não são entidades independentes, mas sim expressões de um algoritmo subjacente. O que percebemos como forças e partículas são, na verdade, configurações emergentes de um processo computacional que pode ser modelado e simulado. Assim, a hipótese computacional sugere que, em um nível mais profundo, o que chamamos de "realidade" pode ser apenas uma complexa rede de bits em um sistema altamente organizado.
Essa visão não só coloca em questão a natureza do que consideramos fundamental, mas também desafia algumas crenças metafísicas estabelecidas. Por exemplo, a noção de que partículas como elétrons e prótons são entidades fundamentais e indivisíveis pode precisar ser revisada. A ideia de que tudo no universo pode ser descrito por algoritmos computacionais também implica que a ciência, tal como a entendemos, pode ter limitações em seu alcance. Isso ocorre porque, se tudo é um processo computacional, os dados empíricos que coletamos sobre o mundo podem ser manipulados ou até mesmo fabricados por uma inteligência superior, em um cenário que nos remete ao conceito popular de simulação, como o apresentado no filme "Matrix".
No entanto, essa perspectiva também nos leva a uma reflexão importante sobre o conhecimento científico. Em um cenário onde estamos sendo manipulados por máquinas ou uma inteligência superior (como no conceito de "BIV" - cérebro em um vaso), nossa capacidade de adquirir conhecimento verdadeiro sobre a natureza das coisas se torna extremamente limitada. Se não podemos confiar na realidade empírica ao nosso redor, devido à possibilidade de que tudo seja uma simulação, então qualquer conclusão científica se torna, no melhor dos casos, uma tentativa falha de compreender algo que talvez nunca possamos realmente saber.
Apesar dessas implicações filosóficas profundas, é importante distinguir entre diferentes níveis de conhecimento. A ciência, enquanto ferramenta empírica, ainda é capaz de nos proporcionar insights sobre o funcionamento do mundo, mesmo que não nos dê acesso completo à sua natureza fundamental. Por exemplo, sabemos que as mesas são feitas de madeira e que as árvores fazem fotossíntese. Mesmo que toda a nossa experiência seja parte de uma simulação, esses dados podem ser corretos dentro dos parâmetros da simulação. No entanto, se aceitarmos que estamos em uma simulação, torna-se impossível conhecer com certeza a verdadeira natureza dos objetos. Se, por exemplo, uma máquina consegue criar a ilusão de que as árvores e a fotossíntese existem, mas está apenas manipulando nossa percepção, então todo o conhecimento científico está em risco.
A ignorância sobre a natureza fundamental das coisas não pode ser equiparada a uma simples humildade científica. O fato de que talvez nunca possamos conhecer a verdadeira essência das coisas é uma limitação radical que coloca em questão a própria viabilidade da ciência enquanto buscamos entender a realidade. A diferença crucial está na natureza dessa ignorância: ela não é contingente, ou seja, não é uma ignorância temporária decorrente da falta de dados ou da imaturidade do conhecimento científico. Trata-se de uma ignorância que, em princípio, nunca poderá ser superada, o que coloca as nossas capacidades cognitivas em uma posição muito mais vulnerável do que qualquer limitação prática da ciência.
Ademais, as hipóteses que envolvem a natureza fundamental das coisas não podem ser tratadas da mesma maneira que outras questões científicas. O conhecimento sobre a composição química da água, por exemplo, não sofre com os mesmos dilemas. Mesmo se estivermos em uma simulação, a estrutura molecular da água pode ser identificada e estudada. No entanto, as hipóteses que envolvem a natureza última do que é real, como a própria existência de uma realidade além da simulação, são, no mínimo, incertas. É essa incerteza que separa os desafios epistemológicos da ciência tradicional dos desafios filosóficos e metafísicos.
O papel da ciência, ao lidar com o que está além da percepção imediata, é limitado. A hipótese de que vivemos em uma simulação não é apenas uma questão de humildade científica, mas de uma radical revisão de nossa posição no universo. Isso é mais do que uma humildade epistemológica; trata-se de uma profunda reavaliação da própria possibilidade de conhecimento. Mesmo que possamos fazer descobertas científicas sobre os objetos dentro de nossa experiência, essas descobertas não nos garantem, nem de longe, uma compreensão real da natureza fundamental das coisas.
A crítica central ao conhecimento científico baseado na hipótese de uma simulação, ou qualquer teoria que envolva a manipulação da realidade por uma inteligência superior, é que esse tipo de conhecimento se torna infinitamente complexo e talvez até mesmo impossível de validar. A ciência, então, não apenas se limita a descrever o que é observável, mas se vê constantemente em risco de ser manipulada ou distorcida por fatores além do controle humano. Esse tipo de ignoração não é meramente uma falha no conhecimento atual, mas um limite inerente à nossa capacidade de entender a realidade última, se é que essa realidade pode ser conhecida de forma alguma.
O que realmente importa se estamos vivendo em um sonho, simulação ou realidade?
A objeção pragmática à dúvida cética sustenta que, enquanto conseguimos interagir com o mundo de forma coerente — colocar uma xícara sobre a mesa, movê-la, lixá-la, aproximá-la da janela — a questão de estarmos em uma simulação ou sonhando parece irrelevante. Podemos planejar nossos dias, perseguir objetivos, criar relações, independentemente de sabermos se a mesa é "real" ou não. A vida continua funcional. Contudo, essa perspectiva se desfaz ao considerarmos a profundidade das implicações práticas de tal ignorância.
Se você for, por exemplo, um cérebro em uma cuba (BIV – Brain in a Vat), nada garante que qualquer uma das suas ações tenha um impacto real sobre os outros. Seus gestos de afeto, sua generosidade ou mesmo sua indignação moral podem ser manipulados por um sistema que nunca permite que seu efeito transceda seu próprio circuito de ilusão. Talvez todos ao seu redor estejam programados para serem infelizes, independentemente do que você faça. Dentro de uma Matrix, suas ações não mudam o curso da história; você está apenas encenando consequências que não possuem relação causal genuína com as intenções que as motivaram.
Isso altera de forma substancial a relevância prática da dúvida cética: se seus objetivos incluem mudar vidas, influenciar o mundo, ou promover bem-estar, então ignorar se você está numa simulação afeta diretamente a coerência desses projetos. O veridicalismo — a ideia de que podemos conhecer a aparência das coisas sem conhecer sua natureza — não nos livra dessa inquietação. A ignorância sobre se vivemos em uma simulação tem consequências práticas quando nosso valor se ancora na realidade dos outros.
Há também valores não pragmáticos que estão em jogo. Mesmo que se aceite que viver em uma simulação não altera o funcionamento prático da vida, persiste a angústia sobre se aquilo que valorizamos possui qualquer substância. Se tudo é sonho, então o lar, a família, as amizades, são como os elementos de um sonho passado: sentimos que importavam, mas sua falta de realidade ontológica mina seu valor. A questão não é apenas se algo parece importar, mas se há algo, além da aparência, que justifique essa importância.
Não saber se estamos vivendo um sonho pode destruir a estrutura mesma de valor. Se só valorizamos o que nos afeta subjetivamente, então talvez possamos continuar indiferentes. Mas, se valorizamos algo fora de nossas experiências — o outro como outro, o mundo como mundo — então nossa ignorância sobre a natureza do que nos cerca ameaça dissolver o próprio conceito de importância. Pensar que a mesa herdada tem valor por sua história familiar, por sua concretude, e não apenas pela forma como aparece a nós, depende da suposição de que sabemos o que ela é, e não apenas como ela nos parece.
Esse problema, longe de ser novo, ecoa desde os céticos antigos descritos por Sexto Empírico. Eles aceitavam as aparências, mas suspendiam o juízo sobre o que havia por trás delas. A ignorância sobre a natureza intrínseca das coisas, sobre seu verdadeiro ser, já era, para eles, o cerne da inquietação filosófica. Essa ignorância persiste mesmo se aceitamos o veridicalismo: que as coisas se comportam de determinada maneira não elimina o fato de que ignoramos o que elas realmente são.
No pensamento moderno, Hume retoma essa angústia ao perguntar como podemos provar que nossas percepções são causadas por objetos externos. A dúvida não é se percebemos algo, mas se há algo realmente ali que se assemelha à percepção. Em sonhos, loucura ou delírio, a experiência continua, mas seu referente real se dissolve. Nada garante que não estejamos, mesmo agora, nesse estado.
A questão não é apenas epistemológica, mas existencial. Se não sabemos o que as coisas são, não sabemos se elas têm valor, ou se o que nos parece importante é apenas uma construção flutuante dentro de uma ficção. E, nesse caso, o que significa viver com propósito? O que significa amar, decidir, resistir? A dúvida cética, quando levada a sério, não é apenas sobre o conhecimento — é sobre o sentido mesmo da experiência humana.
O Ceticismo e a Estrutura da Realidade: Uma Reflexão sobre o Veridicismo
O ceticismo tradicional, que questiona a existência de objetos externos à nossa percepção, nos coloca diante de uma dúvida fundamental: será que sabemos realmente o que está além das nossas experiências sensoriais? Ou será que apenas projetamos nossas concepções e crenças em um mundo que não podemos conhecer de maneira absoluta? O problema central dessa forma de ceticismo é a incerteza sobre o que existe no mundo externo, além das sensações e percepções que experimentamos.
No entanto, o veridicismo, uma posição filosófica que também tenta abordar o ceticismo, não resolve essa dúvida de maneira tão simples quanto pode parecer à primeira vista. Embora a princípio o veridicismo pareça superar o ceticismo ao afirmar que podemos ter algum conhecimento sobre o que são as coisas – como, por exemplo, saber que há uma mesa na nossa frente –, ele ainda compartilha com o ceticismo uma forma de dúvida fundamental. O veridicismo reformula o problema sem eliminá-lo.
A principal preocupação do veridicismo é o reconhecimento de que, embora possamos saber que existe algo que desempenha o papel causal de uma mesa, isso não nos dá um conhecimento pleno sobre a verdadeira natureza ou essência do objeto. Se, por exemplo, o que estamos experimentando como uma mesa pode ser, na verdade, uma projeção de uma máquina ou de um demônio, nossa compreensão sobre a mesa e o mundo externo permanece limitada. Esse tipo de ceticismo, ao invés de nos libertar da dúvida, apenas a redireciona, mudando o foco de "o que existe" para "o que são as coisas". O problema, portanto, não é resolvido, mas alterado, sem que uma verdadeira solução seja apresentada.
O ponto central aqui é a ideia de que tanto o ceticismo tradicional quanto o veridicismo falham em oferecer um conhecimento definitivo sobre o mundo. Ambos limitam nosso entendimento àquilo que podemos perceber e àquelas possibilidades que não conseguimos excluir, o que, em última análise, leva a uma forma de ceticismo fundamental: não podemos saber o que causa nossas experiências e, portanto, não podemos saber nada sobre a realidade além daquilo que está acessível às nossas sensações.
É importante perceber que o veridicismo, mesmo que reformule a questão do ceticismo, não nos oferece uma maneira de conhecer mais do mundo. Ao contrário do que pode parecer inicialmente, o veridicismo não nos dá mais informações sobre a realidade do que o ceticismo tradicional. Ambos partem do mesmo ponto de partida: não podemos excluir completamente as diversas possibilidades de como nossas experiências podem ser causadas, seja por uma mesa demoníaca, uma máquina, ou qualquer outra coisa. O que muda é apenas a forma de expressar essa dúvida. O veridicismo, por sua vez, nos diz que sabemos que existe uma "mesa", mas não podemos saber qual é a verdadeira natureza dessa mesa – o que nos mantém na mesma posição de incerteza filosófica, só que agora com um novo enquadramento.
É crucial que o leitor compreenda que, ao adotar o veridicismo, não estamos superando o problema do ceticismo, mas apenas reformulando a questão. A verdadeira resolução do problema reside em reconhecer que nossa relação com o mundo externo é intrinsecamente limitada. Mesmo que possamos afirmar que há algo no mundo que desempenha o papel causal de uma mesa, isso não significa que conhecemos a mesa de fato, ou que sabemos o que ela é além de sua representação sensorial.
Além disso, uma questão essencial que emerge dessa discussão é a natureza do "conhecimento" que temos. Se nossa percepção do mundo depende de condições mentais ou de uma realidade estruturada por nossas experiências, então como podemos afirmar que temos um conhecimento objetivo da realidade? A percepção, por mais que nos forneça uma experiência vívida da realidade, nunca poderá ser reduzida a um acesso direto e infalível a essa realidade. O ceticismo básico, tanto na versão tradicional quanto na versão veridicista, nos mostra que o mundo está sempre além do alcance definitivo de nossa compreensão. A verdadeira profundidade do problema do ceticismo, portanto, reside no reconhecimento da falibilidade do nosso conhecimento e na aceitação de que nossa visão do mundo estará sempre, em algum nível, limitada e subjetiva.
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