A crescente busca por soluções sustentáveis no setor energético tem direcionado a atenção para o hidrogênio como uma fonte de energia limpa e eficiente. No entanto, os custos elevados da construção de gasodutos dedicados ao transporte de hidrogênio de longa distância têm sido um obstáculo significativo. Uma alternativa emergente e promissora é o uso de gasodutos de gás natural existentes, seja para transportar uma mistura de gás natural e hidrogênio, seja para convertê-los completamente em gasodutos de hidrogênio. Essa estratégia pode representar um avanço importante na expansão da infraestrutura necessária para o hidrogênio, especialmente quando consideramos que a construção de gasodutos de hidrogênio dedicados ainda é relativamente limitada e de alto custo.

A adaptação de gasodutos de gás natural para o transporte de hidrogênio apresenta diversas vantagens. Em primeiro lugar, a infraestrutura existente pode ser aproveitada, o que reduz significativamente os custos iniciais e o tempo de implementação de novos sistemas. Um exemplo notável foi a construção do primeiro gasoduto de hidrogênio convertido de um gasoduto de gás natural, entre as empresas Dow Benelux e Yara, em 2019. Em outros lugares, como na China, a State Power Investment Corporation iniciou, em 2018, um projeto de demonstração de hidrogênio renovável, misturando hidrogênio verde com gás natural para o abastecimento de caldeiras a gás. Este projeto tem sido operado com segurança por mais de um ano, utilizando uma mistura de até 10% de hidrogênio.

No entanto, o transporte de gás natural misturado com hidrogênio ainda está em fase experimental e de demonstração, e as perspectivas de desenvolvimento em larga escala dependerão de uma análise mais profunda das diferenças físicas entre o hidrogênio e o gás natural. O hidrogênio, por exemplo, possui uma densidade muito mais baixa que o gás natural, mas seu valor calórico por unidade de massa é significativamente maior. Isso implica que, embora o hidrogênio seja mais eficiente em termos de energia por peso, sua compressibilidade e o comportamento durante a combustão exigem uma abordagem diferente no design e na operação dos gasodutos.

Uma das diferenças mais importantes entre os dois gases diz respeito à ignição e à velocidade da chama. O hidrogênio tem uma velocidade de combustão muito mais alta e é mais fácil de ser inflamado do que o gás natural, o que significa que as normas de segurança e os parâmetros de design dos gasodutos de hidrogênio não podem ser diretamente aplicados aos gasodutos de gás natural. O hidrogênio também pode provocar fragilização do metal dos gasodutos, o que requer considerações especiais na escolha dos materiais e no dimensionamento das tubulações.

Em termos de segurança, as propriedades físicas do hidrogênio exigem que a construção de gasodutos para seu transporte seja revista. O hidrogênio pode difundir-se através do ferro e causar o que é conhecido como fragilização por hidrogênio, algo que não ocorre com o gás natural. Esse fenômeno aumenta a necessidade de um projeto específico para os gasodutos de hidrogênio, com materiais capazes de resistir a essas condições sem comprometer a integridade da infraestrutura.

Ademais, as formulações de projeto para gasodutos de hidrogênio incluem um "coeficiente de desempenho do material", que leva em conta os efeitos adversos do hidrogênio sobre as propriedades mecânicas dos metais. O aumento desse coeficiente resulta em um aumento na espessura das paredes dos gasodutos e uma diminuição na pressão de design, o que visa garantir a segurança do sistema. Isso implica que os gasodutos de hidrogênio exigem uma análise mais detalhada para garantir a segurança e eficiência no transporte de hidrogênio em grandes distâncias.

Outro ponto crucial é o desenvolvimento de compressões específicas para o transporte de hidrogênio. Existem diversos tipos de compressores, como os de pistão, centrífugos, membrana e metal hidreto, cada um com suas vantagens e desafios. Por exemplo, os compressores de pistão são bem estabelecidos, mas o hidrogênio exige um design especial devido à sua baixa densidade molecular. Já os compressores de membrana, embora ideais para pressões elevadas, ainda enfrentam dificuldades na produção em larga escala para transmissão de hidrogênio em pipelines de longo alcance. A escolha do tipo de compressor dependerá, entre outros fatores, do tipo de gasoduto e das especificações técnicas exigidas.

É evidente que, embora existam vários desafios técnicos a serem superados, a utilização de gasodutos de gás natural adaptados para o transporte de hidrogênio oferece um caminho promissor para a expansão da infraestrutura de hidrogênio. A adaptação de gasodutos existentes pode acelerar a transição para uma economia baseada em hidrogênio, reduzindo custos e aumentando a flexibilidade da rede energética global. Entretanto, a falta de normas técnicas e a necessidade de novas regulamentações para garantir a segurança e a eficiência dos sistemas de transporte de hidrogênio ainda representam um obstáculo significativo. Assim, é essencial o desenvolvimento de novas tecnologias e a criação de um quadro regulatório que possa atender às exigências específicas do hidrogênio e possibilitar sua integração segura com as infraestruturas de gás natural existentes.

Quais são as vantagens e desafios do uso de transportadores orgânicos líquidos (LOHCs) para o armazenamento de hidrogênio?

Os sistemas de armazenamento de hidrogênio com Transportadores Orgânicos Líquidos (LOHCs) têm atraído crescente atenção devido à sua capacidade de armazenar e transportar hidrogênio de forma segura e eficiente. Esses sistemas funcionam com a ajuda de moléculas líquidas, como o cicloexano, tolueno ou naftaleno, que, ao serem hidrogenadas, carregam grandes quantidades de hidrogênio, permitindo um transporte simples e viável. O cicloexano, por exemplo, pode armazenar até 3 mols de hidrogênio por mol de substância, sendo capaz de fornecer uma fonte abundante de energia quando liberado. Porém, como qualquer tecnologia inovadora, o uso de LOHCs apresenta tanto vantagens quanto desafios que precisam ser compreendidos para garantir seu sucesso.

Entre as vantagens, destaca-se a densidade de armazenamento gravimétrica relativamente alta. O sistema Tolueno/Metilcicloexano, por exemplo, apresenta uma densidade de armazenamento de hidrogênio de 6,2%, o que é consideravelmente eficiente. Além disso, o tolueno possui uma toxicidade menor quando comparado a outras substâncias como o benzeno, tornando o processo de desidrogenação mais seguro. A reversibilidade dos processos de hidrogenação e desidrogenação também é um fator positivo, já que esses podem ser realizados com relativa facilidade, facilitando a recarga e descarregamento do hidrogênio armazenado. A possibilidade de uso desses líquidos em condições ambientes (temperatura e pressão normais) oferece praticidade no transporte, permitindo que sejam utilizados com infraestrutura de transporte de combustíveis já existente.

Entretanto, apesar de suas vantagens, os LOHCs ainda apresentam desafios técnicos consideráveis. O principal problema reside na eficiência do processo de desidrogenação, que ocorre sob condições específicas de alta temperatura e pressão. O calor necessário para a reação de desidrogenação é consideravelmente inferior ao calor liberado quando o hidrogênio é queimado, o que pode levar a um desperdício de energia e a dificuldades no controle térmico. A necessidade de catalisadores eficientes, como os metais de níquel e platina, para promover essa reação, exige altos custos e investimentos em tecnologias de ponta.

Além disso, a pureza do hidrogênio liberado pode ser comprometida pela ocorrência de reações secundárias indesejadas, como a decomposição parcial do material orgânico, o que resulta em impurezas. A eficiência do processo de desidrogenação também é afetada por efeitos de transferência de calor e massa e pelo equilíbrio das reações químicas. O uso contínuo desses sistemas pode causar a degradação dos catalisadores, levando à diminuição da eficiência do processo ao longo do tempo. A destruição da estrutura porosa dos catalisadores sob temperaturas elevadas é um fator crítico, pois pode resultar em carbonização e desativação do sistema.

Outros sistemas, como o sistema N-ethylcarbazole (NEC) / perhidro-N-ethylcarbazole (PNEC), apresentam vantagens em termos de temperatura de operação, pois são compatíveis com as condições ideais de funcionamento das células de combustível. No entanto, a necessidade de aquecer o NEC, devido ao seu ponto de fusão elevado, e a limitada produção industrial dessa substância, são desafios adicionais que dificultam sua adoção em larga escala.

Embora esses sistemas de LOHCs sejam promissores para o armazenamento de hidrogênio, sua adoção comercial ainda depende da superação de barreiras tecnológicas. O desenvolvimento de novos catalisadores mais eficientes, mais baratos e mais duráveis, bem como a melhoria da eficiência das reações de desidrogenação, será fundamental para que esses sistemas se tornem viáveis e competitivos em relação a outras formas de armazenamento de hidrogênio, como o hidrogênio gasoso pressurizado ou o hidrogênio líquido a baixíssimas temperaturas.

Além disso, é crucial entender que o sucesso dessa tecnologia depende de fatores externos, como a capacidade de produção em larga escala dos materiais necessários e a implementação de infraestrutura de transporte adaptada. O potencial de LOHCs para o transporte de hidrogênio de longo alcance, especialmente em países com vastas distâncias entre regiões produtoras e consumidores de energia, é uma das características que poderia revolucionar a forma como o hidrogênio é utilizado como fonte de energia limpa e sustentável. No entanto, a eficiência do sistema dependerá de uma abordagem integrada que considere as necessidades de cada estágio do processo: desde a produção de hidrogênio até seu armazenamento e transporte.