A crítica e o entendimento do campo de estudos sobre os povos nativos americanos enfrentam desafios não apenas acadêmicos, mas também institucionais e políticos. A questão da competência de professores ou pesquisadores, muitas vezes questionada por aqueles que não compreendem a profundidade da pesquisa indígena, esconde uma perspectiva mais complexa e insustentável. Ao levantar dúvidas sobre a ética de departamentos e a qualificação dos acadêmicos que atuam nessa área, esses críticos não apenas ignoram os méritos acadêmicos de estudos indígenas, mas reforçam narrativas autoritárias que buscam deslegitimar uma área de estudo por questões puramente ideológicas.
Esses ataques não se limitam apenas à academia, mas se entrelaçam com um sistema neoliberal que, frequentemente, tende a reconfigurar o campo das ciências sociais e humanas para que este se adéque aos parâmetros do mercado e ao discurso de "valores universais" neoliberais. Dentro dessa estrutura, a ideia de um analista "objetivo", desvinculado das realidades políticas, sociais e históricas, prevalece, desconsiderando o papel fundamental da pesquisa indígena no entendimento das dinâmicas de poder e colonização.
Nos Estados Unidos, um exemplo claro desse cenário se apresenta na Universidade de Illinois, onde o Programa de Estudos de Povos Indígenas (American Indian Studies) esteve em disputa devido a sua tentativa de transição para um enfoque mais amplo sobre estudos indígenas globais. A recusa em apoiar esse programa dentro da universidade demonstra como a estrutura acadêmica e os espaços de pesquisa estão muitas vezes mais comprometidos com interesses corporativos e políticos do que com a preservação e o desenvolvimento de campos de estudo essenciais, como o dos povos nativos. O espaço acadêmico, muitas vezes, busca deslegitimar áreas que questionam suas fundações e que expõem as contradições dos valores neoliberais em relação ao colonialismo.
Além disso, a crítica à presença de temas como a Palestina nos estudos sobre povos indígenas revela um complexo cenário em que a academia é forçada a lidar com as interseções entre colonialismos passados e presentes. A presença de temas como o de Palestina, quando discutidos no contexto dos estudos indígenas, não apenas coloca em evidência as diversas formas de colonização, mas também expõe um tipo de pressão geopolítica que muitas vezes não é compreendida ou é evitada. A relação entre as lutas de povos indígenas e a Palestina, por exemplo, coloca em questão o papel do colonialismo no mundo moderno e sua intersecção com movimentos políticos contemporâneos, algo que a academia, ao se submeter ao neoliberalismo, prefere não discutir com profundidade.
É fundamental, portanto, compreender que os estudos sobre povos indígenas não são apenas uma forma de preservar a memória histórica ou de promover a diversidade acadêmica. Estes estudos possuem um papel crucial na análise de uma complexa rede de opressões que envolve questões de raça, poder, política e, fundamentalmente, de resistência. Eles nos convidam a reavaliar as narrativas históricas que continuam a ser construídas sobre os colonizadores e colonizados, sobre o "início" e o "fim" de processos históricos que, na verdade, nunca se completaram.
A transição de departamentos de Estudos Indígenas para um foco mais amplo, que incorpora os desafios dos povos indígenas ao redor do mundo, reflete não apenas a necessidade de uma academia mais inclusiva, mas também o desejo de escapar de uma visão colonial que, ainda que velada, continua a dominar muitas das estruturas acadêmicas. No entanto, o confronto com tais visões não é algo simples e muitas vezes resulta em marginalização e isolamento para aqueles que ousam desafiar o status quo.
Além disso, a questão do envolvimento de grupos como os sionistas no debate sobre a colonização traz à tona uma realidade ainda mais tensa. A identificação da colonização de Israel com a de outros movimentos coloniais, incluindo os Estados Unidos, provoca uma série de questionamentos sobre a identidade racial, a relação entre os povos indígenas e as opressões contemporâneas. A questão da "brancura" dos judeus americanos, e a possível complicidade com a colonização, levanta discussões que não se limitam à política internacional, mas que questionam profundamente o papel da academia em apoiar ou deslegitimar essas conexões.
Portanto, além da análise dos eventos que envolvem os estudos indígenas e sua relação com temas como a Palestina, é crucial compreender que a academia deve abraçar um compromisso ético e intelectual que vá além da conformidade com uma agenda neoliberal ou corporativa. A pesquisa sobre os povos indígenas é uma chave essencial para a reconstrução de narrativas históricas mais justas e para a promoção de um entendimento mais profundo sobre as múltiplas formas de colonização e resistência.
A Palestina e os Nativos Americanos: Lições de Descolonização Global
A questão da "existência legítima" de um povo é frequentemente debatida no contexto do conflito israelo-palestino. Contudo, o mais relevante não é o ato de rejeição, mas a reconfiguração das reivindicações palestinas sobre suas terras ancestrais, que transcende questões demográficas para atingir uma dimensão ontológica. Essas reivindicações se alinham com as demandas de povos indígenas ao redor do mundo: autonomia, soberania, autodeterminação e a responsabilidade pela terra. Ao colocar os palestinos como sujeitos de uma geografia contestada, em vez de vítimas de um acesso limitado devido à biologia ou etnia, torna-se possível situar a Palestina em uma conversa global sobre colonialismo de assentamento. Esta abordagem permite que as dimensões do messianismo sionista e do excepcionalismo sejam mais reconhecíveis, e portanto, menos messiânicas e excepcionais do que o discurso dominante gostaria que o mundo acreditasse.
Essa visão não é inteiramente nova, mas é inovadora. Os palestinos têm, ao longo dos anos, tentado (com certo sucesso) levantar suas reivindicações como um povo indígena, tanto no âmbito legal quanto discursivo. No entanto, é importante ressaltar a mudança de perspectiva proposta por Rifkin, que propõe uma abordagem mais imaginativa para aqueles envolvidos na descolonização palestina. O foco aqui é transformar a narrativa, vendo a Palestina como um espaço de disputas geográficas, e não apenas como um caso de acesso negado devido à identidade étnica ou biológica.
Ao conectar as histórias da Palestina com o colonialismo de assentamento global, a história palestina ganha novos contornos, inserindo-se dentro de uma rede de resistência global que se estende desde os nativos americanos até os povos irlandeses. A arte, como mostrado na exposição The Map Is Not the Territory (O Mapa Não É o Território), oferece uma poderosa plataforma para essa conexão. A mostra, que viajou pelos Estados Unidos e Reino Unido, explora as experiências comuns de palestinos, nativos americanos e irlandeses, focando não na novidade ou polemica, mas nas realidades históricas e nos eventos atuais que se desdobram a partir dessas realidades. A exposição desafiou as concepções tradicionais sobre território e identidade, mostrando como os povos indígenas e colonizados não são entidades autossuficientes, mas estão entrelaçados nas complexas redes de poder e espaço que os cercam.
Em um nível mais filosófico, a análise de Gilles Deleuze sobre a condição dos palestinos, feita em uma entrevista com Elias Sanbar, destaca uma transição importante na consciência palestina. Deleuze observa que, após um período de crise, os palestinos atingiram uma nova consciência, onde podem falar "igual para igual" com o mundo. Ele compara essa situação com a dos nativos americanos, sugerindo que tanto palestinos quanto nativos passaram por um processo de deslocamento que não é apenas geográfico, mas ontológico. Ambos os grupos enfrentam uma situação em que seus territórios foram esvaziados, não necessariamente para criar uma força de trabalho, mas para transformar as terras em "espaços vazios", como parte de um projeto de limpeza étnica e de construção de um mito sobre a "terra virgem".
Essa análise, embora provocadora, não é totalmente adequada. Nativos e palestinos não estão simplesmente em exílio, mas vivem em suas terras ancestrais, que foram incorporadas pelos Estados Unidos e Israel, respectivamente, através de processos de colonização. Em muitos casos, os palestinos que vivem nos Territórios Ocupados ou como cidadãos de Israel continuam a ser submetidos a um regime colonial, apesar das variações em relação ao modelo clássico de colonização.
A reflexão de Deleuze pode ser vista como uma tentativa de compreender o desejo colonial que os Estados Unidos e Israel têm por terras "desabitadas", alinhando-se com uma visão bíblica da terra prometida, que exige uma violência racial para torná-la "pura". No entanto, a história de ambos os projetos coloniais não pode ser entendida apenas através da ideia de "esvaziamento" do território; eles também dependem do trabalho dos povos nativos, o que complica a distinção que Deleuze faz entre as dinâmicas de colonização em diferentes partes do mundo.
A conexão entre a Palestina e os povos indígenas não deve ser apenas uma metáfora, mas um ponto de partida para uma análise mais profunda das semelhanças e diferenças entre esses processos de colonização e descolonização. O que podemos aprender a partir dessas comparações é a importância de uma abordagem inter/nacional, que leve em consideração não apenas as especificidades de cada contexto, mas também as convergências nas lutas pela terra, pela autonomia e pela autodeterminação.
Além disso, é fundamental compreender que o processo de descolonização não é linear nem homogêneo. As histórias de resistência, como as dos palestinos e dos nativos americanos, não são apenas narrativas de resistência passiva ou de perda, mas de reinvenção e criação de novas formas de existir no mundo. A arte, o discurso político e as práticas de resistência desses povos devem ser vistos não apenas como respostas ao colonialismo, mas como expressões ativas de novas formas de ser e de habitar o mundo.
A Luta Indígena e a Colonização: Paradoxos e Solidariedades no Contexto Global
A história das nações indígenas e as suas lutas pela terra, identidade e autodeterminação não podem ser compreendidas isoladamente, longe de outros processos de colonização global. O estudo da colonização nos Estados Unidos, especialmente no que diz respeito às populações nativas, revela um padrão complexo de dominação que atravessa diversas esferas: política, social, religiosa e cultural. Mas, mais do que um fenômeno histórico, a colonização continua a se manifestar no presente, por meio de práticas que perpetuam as condições de subordinação, mesmo que de maneira mais sutil.
Os autores e estudiosos contemporâneos, como Alyosha Goldstein e Glen Coulthard, apontam para uma genealogia da colonização que não se limita ao passado, mas molda as relações sociais e políticas atuais. A ideia de um "presente colonial" nos Estados Unidos – um conceito que visa expor como as práticas coloniais continuam a influenciar as dinâmicas de poder e as relações com as populações indígenas – demonstra a continuidade do colonialismo sob uma fachada de modernidade e progressismo. Goldstein, por exemplo, explora como a colonização não apenas destruiu sociedades indígenas, mas também redefiniu os espaços de soberania e de resistência.
No entanto, um ponto essencial nas reflexões atuais é a forma como essas lutas, aparentemente localizadas, encontram paralelismos em outras partes do mundo. A solidariedade entre as nações indígenas e os palestinos, por exemplo, tem ganhado visibilidade, com muitos ativistas e acadêmicos insistindo na importância de uma luta conjunta contra formas similares de opressão colonial. A comparação entre as experiências de ocupação em territórios indígenas norte-americanos e a ocupação da Palestina oferece insights profundos sobre os mecanismos de repressão, exclusão e violência que se repetem ao longo da história. Como aponta Mishuana Goeman, as mulheres indígenas, assim como as mulheres palestinas, têm sido figuras centrais nessa resistência, não apenas como vítimas, mas como líderes, agentes de mudança e vozes críticas.
As lutas das nações indígenas são frequentemente distorcidas ou silenciadas no discurso mainstream, tanto nos Estados Unidos quanto em outras partes do mundo. O processo de "limpeza étnica" em nome de um "progresso nacional" tem sido uma justificativa contínua para a desapropriação de terras e a destruição de culturas. A política de remoção indígena nos Estados Unidos no século XIX e o deslocamento forçado de milhares de nativos americanos são exemplos claros dessa estratégia. Nas palavras de Dale Turner, a imposição de uma visão monolítica de progresso e civilização, à custa das culturas indígenas, constitui uma das maiores tragédias da história moderna.
Esse conceito de colonização, no entanto, não deve ser visto apenas em termos de território. Como Glen Coulthard enfatiza, a luta pela soberania indígena envolve não apenas a recuperação de terras, mas também a reconstrução de identidades e a reafirmação de uma autonomia que resiste à assimilação e ao apagamento. A resistência indígena contemporânea, portanto, é tanto uma luta por território quanto por reconhecimento e valorização de saberes e práticas ancestrais. Assim como na Palestina, onde a terra e a cultura estão profundamente entrelaçadas, a relação do povo indígena com o seu território vai além do simples espaço físico; ela envolve uma cosmovisão que desafia as normas estabelecidas pelo colonialismo.
Além disso, é importante compreender que a luta indígena está inserida dentro de um sistema global de opressões que se manifesta de diversas formas: desde o racismo estrutural até as políticas de "reconhecimento" que, muitas vezes, tentam domesticar a resistência indígena, reduzindo-a a um problema de identidade e não de soberania. Isso é evidente na maneira como os governos e organismos internacionais tratam as demandas indígenas. O movimento pelo boicote a Israel, exemplificado pela campanha BDS, traz à tona questões semelhantes de resistência contra a ocupação e a colonização, revelando uma solidariedade transnacional que, embora surgindo em contextos distintos, compartilha muitos dos mesmos princípios e desafios.
No contexto atual, é necessário que os leitores compreendam que, além da história de colonização, o estudo das lutas indígenas e de outras populações oprimidas deve ser considerado como uma parte integrante da análise política global. As alianças internacionais, como a entre os indígenas da América do Norte e os palestinos, não devem ser vistas como meras comparações, mas como uma expressão de um movimento global mais amplo contra a continuidade da colonização e da ocupação em suas diversas formas.
Em um mundo cada vez mais globalizado, as conexões entre diferentes lutas de colonização, sejam elas em terras indígenas ou sob regimes de ocupação, tornam-se não apenas mais evidentes, mas essenciais para a construção de um futuro mais justo. A resistência contra a colonialidade, com suas múltiplas faces, deve ser entendida como uma luta coletiva, que atravessa fronteiras nacionais, culturais e históricas, unindo as vozes que, há muito tempo, foram silenciadas.
Como o Nacionalismo nos Estudos Indígenas Americanos Se Conectou com a Palestina?
Nos estudos indígenas americanos, a análise do nacionalismo passou a incorporar a questão palestina com uma rapidez notável. A comparação entre os Estados Unidos e Israel se tornou especialmente relevante ao abordar o conceito de "valores", um termo que foi enfatizado por Obama em seu discurso na AIPAC. Menos de um ano após esse discurso, quando o ex-senador dos EUA Chuck Hagel enfrentou críticas como a escolha de Obama para secretário de defesa devido à suposta hostilidade a Israel (uma acusação infundada), Hagel respondeu à crítica proclamando que "a relação da América com Israel é uma que é fundamentalmente construída sobre os valores compartilhados das nossas nações, interesses comuns e ideais democráticos." Estes "valores", é claro, são instáveis – volúveis, também, pois são carregados de tantas exigências explícitas e implícitas. Como indica a passagem de Hagel, existe uma longa tradição de valores compartilhados entre os Estados Unidos e Israel, que envolvem mutuamente os nativos americanos e os palestinos como pré-modernos e indignos de libertação.
Quais são esses valores? Democracia. Modernidade. Laboriosidade. Liberdade. Nobreza. Humanidade. Compaixão. Tanto os nativos quanto os palestinos não só carecem dessas qualidades, como ativamente buscam miná-las. Os valores americanos surgem não apenas de um capitalismo expansionista, mas também das mitologias redentoras da colonização israelense, um fato que levou muitos estudiosos dos estudos indígenas americanos a questionar a precisão das narrativas heroicas do sionismo e a explorar como a atual situação dos palestinos sob ocupação militar contribui para uma nova compreensão da interpretação dos valores americanos pelos povos nativos.
Como observa Kauanui, "A política da indigeneidade tem muito a oferecer para análises críticas do excepcionalismo israelense, pois ele é sustentado e financiado por um excepcionalismo americano que nega a colonização da América do Norte pelos povos nativos." Exames comparativos do colonialismo israelense, especialmente em relação às questões de ocupação, autodeterminação e descolonização dentro do quadro do direito internacional, exigem uma consideração ética por parte dos estudiosos dos estudos indígenas americanos. Enquanto a inclusão da Palestina nos estudos indígenas americanos revela muito sobre as possibilidades mutáveis dos estudos palestinos, especialmente sua relação incômoda com os estudos do Oriente Médio, também ilumina (ou reforça) um conjunto particular de compromissos nos estudos indígenas americanos. Este fato é particularmente verdadeiro quando se considera a política material da descolonização e seu papel na formação de determinadas éticas libertadoras às quais muitos estudiosos e praticantes dos estudos indígenas americanos se apegam.
A análise da Palestina nos estudos indígenas americanos nos força a continuar explorando as culturas e geográficas da indigeneidade. Nesse contexto, a questão da Palestina continua a oferecer ensinamentos valiosos. Nas guerras culturais entre Israel e Palestina, há uma abundante discussão sobre o conceito de indigeneidade. De fato, este se tornou a base moral central para as reivindicações de propriedade geográfica e cultural na chamada Terra Santa, uma realidade evidenciada pelo ex-deputado canadense Irwin Cotler, que proclamou: "Israel é a terra ancestral do povo judeu através do tempo e do espaço. Seu certificado de nascimento origina-se em sua fundação como uma Primeira Nação, e não apenas, por mais importante que seja, em seu certificado de nascimento internacional das Nações Unidas." A declaração de Cotler é notável por diversas razões. Ao apropriar-se da linguagem da indigeneidade ("aborígine", "Primeira Nação"), Cotler posiciona Israel, contra as evidências históricas disponíveis, como uma presença desde a antiguidade e como beneficiário de uma excepcionalidade jurídica com base em uma categorização legal específica.
Embora, conceitualmente, Cotler articule uma variante da reivindicação sionista de posse judaica sobre a Palestina, sua linguagem sugere uma abordagem fora dos lugares comuns do discurso sionista, que normalmente se concentra em queixas históricas (especialmente o anti-semitismo europeu), narrativas promissórias (Deus concedeu a terra aos judeus) e a inevitabilidade da reunificação da diáspora (estivemos aqui no passado e, portanto, temos o direito de estar aqui no presente). No argumento de Cotler, essas narrativas recuam para dar lugar a um novo tipo de raciocínio, no qual Israel é visto como precursor da própria existência dos palestinos, que se tornam os conquistadores, os estrangeiros, os "alienígenas". Este argumento rejeita as evidências históricas da despossessão palestina e, em vez disso, os coloca no papel de agressores, guardiões de seu próprio sofrimento. De maneira mais sutil, ele também despoja os povos indígenas na América do Norte, subordinando suas reivindicações de nação à lógica da conquista ocidental.
Cotler oferece um exemplo do poder da prática multicultural ocidental de se apropriar de qualquer coisa à sua disposição para fortalecer uma estrutura imperial, já que sua proclamação nada sugere que ele apoiaria um nível de autonomia para os povos indígenas do Canadá semelhante à autonomia do Estado israelense. Os sionistas, por sua vez, frequentemente utilizam a linguagem da indigeneidade – "os judeus são indígenas da terra" – para justificar a colonização da Palestina durante o século XX ou para racionalizar o assentamento atual da Cisjordânia. Allen Z. Hertz, por exemplo, declara: "Conceitualmente, o povo judeu é aborígine de sua terra ancestral da mesma forma que as Primeiras Nações são aborígines de suas terras ancestrais nas Américas." Em resposta, os palestinos frequentemente recorrem à mesma linguagem de indigeneidade para contestar as alegações sionistas ou para afirmar uma narrativa moral de pertencimento diante da injustiça do assentamento estrangeiro. O Comitê de Nova Inglaterra para Defender a Palestina descreve o conflito Israel–Palestina da seguinte forma: "É um conflito entre o povo indígena palestino e os europeus que vieram com armas para roubar suas terras e recursos."
Quando sionistas e palestinos fazem uso da linguagem da indigeneidade, não estão apenas sendo técnicos. O termo "Indígena" está carregado de numerosas conotações sobre acesso, pertencimento, biologia, cultura, jurisdição e identidade. A indigeneidade não é simplesmente um direito moral, mas uma categoria legal e política. Acessar essa categoria é posicionar-se como guardião e herdeiro de um território específico. Assim, a apropriação da linguagem indígena de forma tão explícita reconhece os nativos americanos como os legítimos "indígenas" da América do Norte – algo que, na prática, raramente é reconhecido por políticos e comentaristas – e simultaneamente os coloca em um debate externo cujas condições invalidam sua agência. Esse debate invalida a agência indígena, pois raramente visualiza os nativos como comunidades vivas engajadas no trabalho de repatriação ou, ao menos, na luta pela sobrevivência. Quando alguém diz "os judeus são os índios da Terra Santa", a declaração coloca os indígenas em uma postura histórica específica que os torna apenas retóricos, mas não participantes legais ou contemporâneos na luta contra a colonização.

Deutsch
Francais
Nederlands
Svenska
Norsk
Dansk
Suomi
Espanol
Italiano
Portugues
Magyar
Polski
Cestina
Русский