A ideia da remoção indígena apresentada por Andrew Jackson está entrelaçada com uma visão distorcida e profundamente colonizadora da história. A retórica de Jackson constrói uma noção de "selvageria errante", que se assemelha ao tratamento de povos deslocados, como os judeus na diáspora ou os palestinos na mitologia sionista. No entanto, Jackson utiliza essa imagem para justificar o deslocamento forçado dos nativos, construindo-os como seres nômades, inconstantes, em contraste com a figura do colonizador assentado, que representa estabilidade e civilização. O deslocamento, portanto, não é apenas uma mudança física, mas também um movimento simbólico de supressão da identidade indígena frente ao avanço de uma nova ordem social e econômica, fundamentada no capitalismo e na ideia de progresso.
Jackson, ao sugerir que o governo oferece um "lar novo" para os nativos, ainda com o pagamento das despesas de remoção e assentamento, tenta apresentar a política de remoção como uma ação generosa e altruísta. Contudo, ao fazer isso, ele ignora os custos ocultos dessa ação, que são, na realidade, as consequências devastadoras da limpeza étnica. A tentativa de Jackson de racionalizar o deslocamento dos nativos como um favor não só é uma falácia histórica, mas também um exemplo clássico de como as políticas genocidas são muitas vezes disfarçadas de ações de benevolência. A opressão do colonizador é invisível em sua construção discursiva, sendo delegada à "necessidade" do progresso, enquanto as vítimas são reduzidas a obstáculos temporários a serem removidos.
A figura do "selvagem" errante também é um conceito importante dentro de uma estrutura mais ampla de engenharia demográfica e controle territorial. Jackson e outros colonizadores viam a terra não como um espaço de identidade ancestral, mas como uma mercadoria a ser conquistada e administrada segundo os interesses de uma nova ordem. Quando Jackson fala da remoção como uma ação para "salvar" os nativos da brutalidade da história, ele se esquece de que o próprio colonialismo, impulsionado pela visão expansionista do Destino Manifesto, foi o responsável por essa brutalidade. O conceito de civilização aqui é profundamente contraditório, pois está ligado à destruição da própria civilização indígena, que é desqualificada em nome de uma "nova" ordem americana, supostamente mais justa e próspera.
Ao afirmar que a remoção é um ato de altruísmo, Jackson faz uma comparação entre os nativos e os imigrantes europeus, que, segundo ele, teriam sido bem-sucedidos em refazer suas vidas no Novo Mundo, superando suas origens conflitivas. No entanto, a comparação ignora a realidade de que os imigrantes não estavam sendo deslocados para terras estrangeiras por um poder dominante. Os nativos, por outro lado, não tinham a opção de integrar-se ao novo mundo dos colonizadores. Eles estavam sendo expulsos de suas terras, forçados a abandonar suas tradições e identidades. O que Jackson considera uma oportunidade para "recomeçar" para os nativos era, na verdade, uma condenação ao exílio e ao despojo.
A construção do "bom homem" na fala de Jackson, que sugere que qualquer um que se oponha à remoção é "ruim", é um claro reflexo de uma mentalidade colonial que recusa considerar a violência histórica como uma ação central do próprio colonizador. A oposição à remoção é deslegitimada por Jackson por meio da criação de um binário entre os "bons" e os "maus", sendo o "bom" aquele que apoia a expansão americana e a negação da identidade indígena. Essa simplificação binária é a mesma que alimenta outras ideologias colonialistas, como o sionismo, que veem o "progresso" e a "modernidade" como algo que pode ser construído apenas em detrimento da existência do outro, do subalterno.
A retórica da modernidade, como é apresentada por Jackson, coloca a civilização do capitalismo americano contra a "selvageria" dos nativos. Para Jackson, a "boa" terra é aquela que é transformada, cultivada, organizada de acordo com as leis e valores do novo povo colonizador. As paisagens naturais, como florestas, não são apenas incompreensíveis, mas também "pecaminosas", porque representam um espaço indomado, que se opõe à "civilização" que os colonizadores procuram estabelecer. A imagem de um país próspero, cheio de cidades, fazendas e fábricas, torna-se o símbolo de uma nação destinada a ser "grande", mas essa grandeza se constrói sobre o despojamento e a destruição de culturas e povos originários.
A estratégia retórica de Jackson reflete a lógica de um império emergente, que justifica o extermínio e a remoção como formas de "salvar" os povos indígenas. No entanto, em vez de abordar a verdadeira violência que sustenta esse império, ele apresenta um mundo ideal onde a remoção é uma necessidade para o progresso. O apelo à "humanidade e honra nacional", que ele faz para justificar a remoção, é, na prática, uma distorção, pois ignora que a maior violência já foi cometida contra os nativos ao forçá-los à submissão e ao exílio.
Ao contrário do que Jackson sugere, a verdadeira calamidade não é a presença dos nativos, mas a tentativa de apagá-los, de destruí-los como povos com identidade própria. O reconhecimento dessa violência histórica, que está enraizada nas práticas coloniais, é fundamental para compreender as dinâmicas de poder e dominação que ainda persistem em muitas sociedades atuais. O Destino Manifesto, em suas várias iterações, nos lembra que a civilização que é frequentemente celebrada no Ocidente é, na realidade, sustentada pela violência, pela negação do outro e pelo apagamento das identidades originais dos povos indígenas.
A Revolução que Nunca Acaba: A Luta pela Liberdade e Justiça
A revolução é muitas vezes romanticizada como um movimento triunfante pela liberdade e pela justiça. No entanto, a realidade dessa luta é muito mais complexa e muitas vezes marcada por frustrações e injustiças persistentes. O conceito de revolução, especialmente quando analisado sob a ótica das mulheres indígenas e de outros povos colonizados, revela um panorama de resistência não apenas contra as forças externas de opressão, mas também contra as dinâmicas de violência e silenciamento dentro de suas próprias comunidades.
Quando a poetisa Lee utiliza a expressão "Me diga novamente sobre sua maldita revolução", ela não está apenas questionando os ideais revolucionários que deveriam trazer liberdade, mas está apontando para uma frustração crônica, uma revolta que surge do fato de que, embora o movimento pela liberdade seja central, ele frequentemente falha em abarcar todas as dimensões da opressão. Para Lee, a revolução é incompleta, em grande parte devido às limitações espaciais, como o confinamento em casa e a falta de acesso a cuidados médicos adequados. A opressão não é apenas física, mas também verbal e emocional, com o ato de falar contra a violência dentro das comunidades nativas sendo proibido, uma restrição violenta à própria dignidade.
A ideia de que as mulheres e suas experiências são sistematicamente silenciadas é central nesta discussão. Lee transforma sua frustração pessoal em uma declaração coletiva ao afirmar: "Você e eu somos a resistência", ligando sua identidade à de todas as mulheres que, apesar de serem impedidas de falar, de escrever, de sonhar ou de sentir, continuam a resistir. Ao integrar a si mesma na narrativa, Lee transita do papel de uma personagem para o de uma encarnação viva da revolução. Isso a coloca não como uma mera observadora, mas como uma parte ativa e essencial de um movimento contínuo de transformação social e cultural.
Lee não só denuncia as opressões externas, como as que advêm do colonialismo, mas também ilumina as tragédias internas das comunidades de resistência. Ela menciona figuras como Amal, Einav e Anna Mae Aquash, cujas mortes violentas revelam que o colonialismo e as suas violências não afetam apenas os colonizados diretamente, mas também aqueles que se levantam contra ele, muitas vezes dentro de suas próprias comunidades. A história de Amal, uma adolescente palestina morta por um soldado israelense enquanto lia, e de Einav e Aquash, que morreram por mãos de membros de suas próprias comunidades, é uma metáfora poderosa do quão profundas as feridas do colonialismo são, atravessando não só as fronteiras geográficas, mas também as esferas das relações interpessoais e comunitárias.
É essa complexidade que se reflete na poesia de John Trudell, ativista e poeta Santee Dakota, que em seus trabalhos muitas vezes busca unificar a música e a poesia para criar uma forma de resistência mais visceral e performática. Através de sua música, Trudell expõe as disparidades de classe e a militarização do estado, fazendo uma crítica contundente ao "guerra do homem rico". Esta guerra, que se perpetua pelo mundo afora, serve para concentrar a riqueza e manter as desigualdades em países como Irlanda do Norte, Palestina, Central América, e até mesmo nas reservas indígenas nos Estados Unidos. Trudell conecta a privação material das populações oprimidas à destruição ambiental e social que é intrínseca ao capitalismo imperialista.
O "guerra do homem rico", conforme descrita por Trudell, não é apenas uma guerra entre nações, mas uma luta pela manutenção do status quo, onde a violência é um meio habitual de preservação do poder e da riqueza. A guerra não é um evento esporádico, mas um estado contínuo, refletindo a constante busca dos ricos por mais poder, mais terra, mais controle. A metáfora de "estar morrendo de fome por terra" é particularmente relevante, pois destaca a terra como fonte de sustento vital, algo que foi subtraído das comunidades indígenas e dos povos colonizados. A falta de acesso à terra e aos recursos naturais é uma das formas mais dolorosas de opressão.
Trudell, assim como Lee, compreende a guerra como uma manifestação do imperialismo, uma estrutura global que exige não apenas a exploração de recursos, mas também a destruição das culturas e dos povos que os habitam. Essa guerra não se dá apenas no campo físico, mas também no campo simbólico, onde a resistência das mulheres, por exemplo, se torna uma forma de luta contra o apagamento e a subordinação histórica.
Ao unir as experiências de dor e resistência de diferentes geografias – da Palestina à América Central, passando pelas reservas indígenas e as periferias urbanas – Trudell cria uma interconexão que revela a universalidade da opressão e a necessidade urgente de solidariedade. Não se trata apenas de um movimento local, mas de uma revolução global que desafia as estruturas de poder que perpetuam as desigualdades em nível mundial.
É importante entender que a revolução, em suas formas mais completas, não é uma luta pela simples liberdade, mas pela reconquista de dignidade e de voz. A luta das mulheres indígenas e de outros grupos oprimidos é uma luta que atravessa muitas dimensões – políticas, sociais e culturais – e que, apesar de ser uma luta muitas vezes invisibilizada, é fundamental para a construção de um mundo verdadeiramente justo e igualitário.

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