Distúrbios da voz, como a disfonia, podem ter múltiplas origens e desencadeadores. Fatores subjacentes que predispõem ou dificultam a compensação do paciente podem ser psicológicos, de abuso/mal uso da voz, patológicos (orgânicos, locais ou sistêmicos) ou decorrentes de mudanças associadas ao envelhecimento. Esses distúrbios podem surgir quando há necessidade de compensação vocal, por exemplo, em infecções respiratórias associadas a tosse frequente e prolongada, perda auditiva, ronco crônico, refluxo laringofaríngeo (LPR) ou outras condições que afetam o trato vocal. Quando esses fatores não são adequadamente gerenciados, podem levar a um quadro crônico, exigindo intervenções como a cirurgia de medialização da prega vocal, tireoplastia ou reinnervação laríngea.

Entre as patologias neurológicas que afetam a voz, a disfonia espasmódica (SD) se destaca. A SD é uma distonia focal que afeta os grupos musculares da laringe, sendo causada por um distúrbio nas vias neurais centrais, particularmente nos gânglios da base do cérebro. Sua ocorrência é rara, com incidência de 1 para 50.000 a 100.000 pessoas, e pode se manifestar em duas formas principais: a disfonia espasmódica adutora (ADSD) e a abdução espasmódica (ABSD), sendo a primeira a mais comum. A ADSD se caracteriza por uma voz forçada e estrangulada, com a intensificação dos sintomas durante a fala com voz. Em casos mais raros, podem ocorrer formas combinadas de SD. A SD pode também se apresentar associada à distonia generalizada e é frequentemente desencadeada em situações como falar em público, conversar com estranhos ou ao telefone. A disfonia espasmódica abduzida, que representa cerca de 15% dos casos de distonias laríngeas, é mais rara e pode ser acompanhada por sintomas neurológicos adicionais.

A paralisia das pregas vocais também é uma condição que interfere significativamente na produção vocal. Frequentemente associada a acidentes vasculares cerebrais, a paralisia das pregas vocais pode se apresentar com déficits neurológicos adicionais. Um exemplo notável é a síndrome de Wallenberg, que resulta de um infarto medular lateral e leva à paralisia das pregas vocais. Em muitos casos, a paralisia unilateral das pregas vocais é de origem idiopática, ou seja, sem causa identificável. Quando diagnosticada de maneira intraoperatória, a paralisia das pregas vocais pode ser tratada com anastomose ou outras abordagens cirúrgicas.

A Doença de Parkinson também afeta a voz de maneira significativa. Pacientes com Parkinson apresentam tremores vocais e dificuldades

Síndrome de Plummer-Vinson: Diagnóstico e Manejo Clínico

A síndrome de Plummer-Vinson, também conhecida como síndrome de Paterson-Brown-Kelly, descreve uma associação entre disfagia, formação de membranas esofágicas e anemia ferropriva. Essa condição frequentemente afeta mulheres de meia-idade, embora sua prevalência tenha diminuído ao longo dos anos. Os pacientes podem relatar uma história intermitente de dificuldade para engolir sólidos, acompanhada de episódios de aspiração, com sinais e sintomas típicos de anemia ferropriva, como cansaço, glossite, queilite angular, coiloníquia e palidez.

A causa subjacente dessa síndrome é, em parte, atribuída à deficiência de ferro, que prejudica a função muscular do esôfago, resultando em uma diminuição da motilidade esofágica e na formação de membranas que comprometem a passagem dos alimentos. A presença dessas membranas pode ser visualizada em exames contrastados de deglutição, que mostram uma obstrução na parte superior do esôfago. Quando a deficiência de ferro é corrigida, as membranas tendem a diminuir ou desaparecer, melhorando assim a motilidade esofágica e a função de deglutição.

O diagnóstico é baseado principalmente na avaliação clínica, exames laboratoriais que confirmam a anemia ferropriva e exames de imagem, como a deglutição contrastada, que pode evidenciar a membrana esofágica característica. Para avaliar a extensão do comprometimento esofágico, outros exames podem ser realizados, como a manometria esofágica, que avalia a pressão esofágica e pode indicar dismotilidade.

O manejo da síndrome de Plummer-Vinson exige uma abordagem multidisciplinar. A correção da deficiência de ferro, seja por via oral ou intravenosa, é o primeiro passo fundamental. Além disso, o acompanhamento com um fonoaudiólogo é essencial para reabilitar a função de deglutição e evitar complicações como a aspiração e a formação de estreitamentos esofágicos. Em casos graves, pode ser necessário o uso de estratégias compensatórias de deglutição ou até a realização de uma gastrostomia para garantir a nutrição adequada do paciente. O monitoramento contínuo é crucial para avaliar a evolução do quadro clínico e evitar complicações maiores.

Em termos de manejo nutricional, a modificação da consistência dos alimentos pode ser uma estratégia eficaz para facilitar a deglutição e reduzir o risco de aspiração. Alimentos mais espessos, como sopas mais densas ou alimentos em purê, são geralmente mais fáceis de engolir para esses pacientes. Além disso, o controle da doença de refluxo gastroesofágico (DRGE), que pode ser concomitante, também deve ser uma prioridade. O uso de inibidores da bomba de prótons (IBPs) ou alginatos de sódio pode ajudar a controlar os sintomas de refluxo e proteger a mucosa esofágica contra danos adicionais.

Além disso, é importante destacar que, embora a correção da deficiência de ferro e a reabilitação da deglutição sejam fundamentais, a presença de comorbidades associadas, como doenças autoimunes ou outras condições que afetam o trato gastrointestinal, pode complicar o tratamento. Em muitos casos, a avaliação com outros especialistas, como reumatologistas ou gastroenterologistas, pode ser necessária para gerenciar doenças subjacentes que contribuem para o quadro clínico da síndrome.

Deve-se também considerar que o prognóstico pode variar dependendo da gravidade das alterações esofágicas e do tempo de diagnóstico. Pacientes diagnosticados precocemente, antes da formação de complicações mais graves, como estenoses esofágicas, geralmente têm uma recuperação mais favorável. A intervenção precoce, combinada com acompanhamento contínuo, pode evitar a progressão para formas mais debilitantes da síndrome e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Além do tratamento clínico, os pacientes devem ser orientados sobre a importância de uma alimentação equilibrada, a fim de evitar a deficiência de ferro recorrente, e sobre a necessidade de acompanhamento regular para monitorar possíveis complicações a longo prazo. O suporte psicológico também pode ser benéfico, já que a dificuldade para engolir e a mudança nos hábitos alimentares podem afetar significativamente a qualidade de vida e a saúde mental do paciente.

Como Lidar com a Salivação Excessiva em Crianças: Desafios e Abordagens Terapêuticas

A salivação excessiva, ou "babeira", é definida como o derramamento involuntário de saliva além do lábio inferior. Esse fenômeno pode ser um indicativo de disfunções no controle da saliva, que é produzida pelas glândulas salivares e cuja produção é regulada pelo sistema nervoso autônomo, predominantemente pelo sistema parassimpático. Embora a salivação excessiva, ou sialorreia, se refira ao aumento do fluxo salivar, a hipersalivação, por sua vez, está ligada ao aumento da produção de saliva, sem alterações no volume normal produzido.

Em bebês e crianças pequenas, a salivação excessiva é frequentemente observada e pode ser atribuída ao processo de dentição. Contudo, a partir dos quatro anos de idade, a presença de babeira em crianças saudáveis já é considerada anormal, embora seja aceitável até os seis anos em crianças com distúrbios neuromusculares, como a paralisia cerebral. Nessas crianças, o controle neuromuscular da deglutição pode se desenvolver mais lentamente, o que pode explicar a persistência da babeira até idades mais avançadas.

A prevalência de salivação excessiva pode variar entre 37% e 58% nas crianças com paralisia cerebral, sendo que a dificuldade de controlar a deglutição é um dos principais fatores que contribuem para o problema. O processo de deglutição da saliva é uma ação complexa que envolve a coordenação de mais de 25 pares de músculos, e qualquer falha nesse processo pode resultar na incapacidade de reter a saliva dentro da boca, levando à salivação involuntária.

A babeira pode ser classificada em aguda e crônica. A salivação aguda é frequentemente associada a infecções orofaríngeas, como abscesso retrofaríngeo, amigdalite ou epiglotite. Também pode ser provocada por certos medicamentos, como o clonazepam, que estimulam a produção excessiva de saliva. Já a forma crônica, que é mais comum, pode ser observada em crianças com deficiências físicas gerais ou com comprometimento do controle motor oral, como aquelas com paralisia cerebral, deficiência mental severa, paralisia facial ou encefalopatia.

Além da questão estética e social, a babeira pode causar uma série de complicações para a criança. A salivação anterior, quando a saliva escorre da frente da boca, pode causar dermatite oral, infecções recorrentes e mau odor. Já a babeira posterior, que ocorre quando a saliva escorre pela parte de trás da língua, pode aumentar o risco de aspiração, tosse, engasgos e até vômitos, além de complicações mais graves, como pneumonia por aspiração. Em casos mais severos, pode haver distúrbios de desidratação e desequilíbrio eletrolítico.

Além das questões físicas, a babeira também tem um impacto significativo no bem-estar social da criança. A dificuldade em controlar a saliva pode levar ao isolamento social, devido ao constrangimento causado pela condição. O contato físico normal com os pais e cuidadores pode ser prejudicado, e a criança pode se sentir excluída das interações sociais típicas da sua idade. Em alguns casos, a criança pode precisar de trocas frequentes de roupas e babadores, o que compromete ainda mais sua vida cotidiana.

Para avaliar a gravidade da babeira, pode-se utilizar métodos objetivos, como a contagem de trocas de roupas ou babadores ao longo do dia. Existem também escalas específicas para avaliar a intensidade da salivação excessiva, como a Escala de Salivação de Blasco e a Escala de Salivação dos Professores. A utilização dessas escalas auxilia na monitorização do progresso do tratamento.

Quando se trata do diagnóstico e avaliação do tratamento, é fundamental uma abordagem multidisciplinar. A equipe ideal deve incluir, entre outros, terapeutas da fala e linguagem, otorrinolaringologistas, fisioterapeutas, dentistas, pediatras e, em alguns casos, neurocirurgiões e enfermeiros especializados. O primeiro passo é realizar um histórico detalhado do paciente, com foco na frequência e severidade da babeira, além dos efeitos secundários causados por essa condição. Questões como postura, saúde dental, sintomas de infecção nos ouvidos, nariz e garganta, e a condição neurológica do paciente devem ser analisadas cuidadosamente. Também é importante investigar se há sinais de aspiração crônica, como tosse ou engasgos frequentes, principalmente durante a noite.

A avaliação clínica deve incluir a inspeção da saúde bucal, da presença de hipertrofia adenotonsilar, da obstrução nasal, do controle postural e da função neurológica dos músculos responsáveis pela deglutição. Para determinar a causa subjacente da babeira, é crucial descartar outras condições, como refluxo gastroesofágico, que pode resultar em hipersalivação devido à estimulação excessiva das glândulas salivares. O refluxo é uma condição comum em crianças com distúrbios neuromusculares e deve ser levado em consideração no diagnóstico diferencial.

Uma vez estabelecida a causa, um plano de manejo individualizado deve ser formulado. O objetivo é melhorar a qualidade de vida da criança sem comprometer a saúde bucal. O plano de tratamento geralmente segue uma abordagem gradual, que pode incluir várias opções de manejo. Entre as opções de tratamento, destacam-se a fisioterapia para melhorar o controle postural, a correção de causas reversíveis da babeira (como problemas dentários e obstrução nasal), a utilização de dispositivos orais e terapias comportamentais. Em alguns casos, pode-se considerar o uso de medicamentos ou a aplicação de toxina botulínica para reduzir a produção excessiva de saliva. Em casos mais graves, intervenções cirúrgicas podem ser necessárias, como a adenotonsilectomia, caso a hipertrofia das amígdalas esteja contribuindo para a dificuldade respiratória e a babeira.

Além disso, é importante considerar o impacto psicológico da condição tanto para a criança quanto para a família. O tratamento de distúrbios como a babeira envolve não apenas a gestão das complicações físicas, mas também o apoio psicológico necessário para lidar com os efeitos emocionais e sociais da condição.