Nos últimos anos, a integração de cuidados paliativos e ética no treinamento de médicos, especialmente na cardiologia e na cirurgia cardíaca, tem sido uma preocupação crescente. Embora o ensino de ética médica e cuidados paliativos tenha ganhado espaço nos currículos de programas de residência e formação médica, ainda há uma lacuna significativa em termos de aplicação prática desses conhecimentos em situações clínicas complexas. O crescente número de pacientes com insuficiência cardíaca avançada e a utilização de tecnologias como suporte circulatório mecânico, ventilação mecânica e oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) exige que os profissionais da saúde, especialmente cardiologistas e cirurgiões, possuam habilidades éticas robustas para tomar decisões difíceis, muitas das quais envolvem a retirada de tratamentos de suporte à vida.
A questão ética principal em muitas dessas situações gira em torno da decisão de interromper tratamentos que, inicialmente, foram estabelecidos com o objetivo de prolongar a vida, mas que, com o tempo, se tornam incapazes de melhorar a qualidade de vida do paciente. A desativação de dispositivos como desfibriladores cardiovertidores, dispositivos de suporte circulatório mecânico ou ventiladores mecânicos, por exemplo, exige uma avaliação cuidadosa não apenas das condições clínicas, mas também da ética envolvida no processo. A complexidade aumenta quando o paciente decide, de forma informada e consciente, interromper a terapia, mesmo que o prognóstico seja sombrio e a morte iminente.
O consentimento informado, que é a base de toda decisão médica ética, assume um papel central aqui. Pacientes com insuficiência cardíaca avançada e falência múltipla de órgãos, que necessitam de suporte circulatório mecânico, muitas vezes enfrentam o dilema de decidir pela manutenção de tecnologias invasivas ou pela suspensão do tratamento em favor de cuidados paliativos. O processo de retirada de tais dispositivos é muitas vezes percebido como uma decisão que acelera a morte do paciente, mas, na realidade, a decisão de descontinuar o tratamento reflete uma escolha informada sobre a qualidade de vida e o alívio do sofrimento, fatores que muitas vezes são negligenciados em discussões puramente clínicas.
A ética do cuidado no contexto de suporte circulatório mecânico e outras tecnologias avançadas exige que os profissionais de saúde considerem, antes de mais nada, os melhores interesses do paciente. O princípio de beneficência, que visa promover o bem-estar do paciente, e o princípio de não maleficência, que impede a prática de ações que possam causar dano, são fundamentais. Contudo, um desafio contínuo reside na aplicação desses princípios em uma era de tratamentos altamente tecnológicos, onde as opções de tratamento podem prolongar a vida de um paciente sem necessariamente melhorar sua qualidade de vida. A decisão de retirar o suporte mecânico envolve uma reavaliação constante dos benefícios versus os danos, levando em consideração a situação clínica única de cada paciente.
Além disso, a participação ativa dos pacientes e de seus familiares no processo de tomada de decisão é essencial. Quando os pacientes têm capacidade decisional, suas preferências devem ser respeitadas. Isso inclui a possibilidade de optar pela retirada de suporte mecânico, se acreditarem que sua qualidade de vida será mais comprometida com a continuidade do tratamento. Essa decisão, no entanto, deve ser acompanhada de uma explicação clara sobre o que ocorrerá após a retirada do suporte, o que inclui a possibilidade de rápida deterioração clínica.
Outro aspecto fundamental é a educação contínua dos profissionais de saúde em torno da ética médica, especialmente em situações críticas envolvendo tecnologia avançada de suporte à vida. Programas de residência em cardiologia e cirurgia cardíaca devem incluir treinamentos robustos sobre cuidados paliativos e tomada de decisões éticas em contextos de alta complexidade. As equipes de cuidados paliativos devem ser integradas de forma sistemática à equipe clínica desde o início do tratamento, não apenas para quando as opções terapêuticas se esgotam, mas como uma forma de proporcionar cuidados centrados no paciente ao longo de toda a jornada terapêutica.
É importante, ainda, que os profissionais de saúde compreendam a importância de discutir os desejos do paciente em relação ao final da vida de forma antecipada, por meio de planejamento de cuidados avançados. Isso inclui não apenas a decisão sobre a continuidade ou não de tratamentos como suporte circulatório mecânico, mas também a consideração de opções de cuidados de fim de vida, como a sedação paliativa. As diferenças entre sedação paliativa e eutanásia precisam ser claramente compreendidas, pois embora ambas envolvam o alívio do sofrimento, elas são éticamente distintas. A sedação paliativa visa aliviar o sofrimento intenso, enquanto a eutanásia envolve uma intervenção ativa para causar a morte do paciente, o que é um dilema ético que exige um entendimento profundo das leis e normas éticas locais.
Por fim, o treinamento e a prática em ética médica devem ser vistos como um processo contínuo, em que as atualizações científicas e as mudanças nas diretrizes de cuidados paliativos e cuidados com pacientes terminais devem ser regularmente discutidas e incorporadas à formação dos médicos. As equipes médicas devem estar preparadas para lidar com a complexidade emocional e psicológica que envolve a decisão de desativar dispositivos de suporte à vida, sempre com o objetivo de respeitar a dignidade do paciente e proporcionar-lhe uma morte confortável e sem sofrimento desnecessário.
Quais são os principais fatores de risco para o implante de dispositivos de assistência circulatória mecânica?
Os fatores de risco associados ao implante de dispositivos de assistência circulatória mecânica (LVAD) são variados, e sua avaliação pré-operatória é fundamental para o sucesso do procedimento e para a minimização de complicações pós-operatórias. A função ventricular e a geometria do coração, bem como a presença de disfunção valvar e defeitos intracardíacos, devem ser cuidadosamente analisados antes da cirurgia. Particularmente, as arritmias ventriculares podem precipitar uma disfunção do ventrículo direito (VD), o que, por sua vez, impacta diretamente na adequação do implante do LVAD. A gestão pré-operatória dos pacientes com arritmias ventriculares deve envolver a otimização hemodinâmica, o uso de terapia antiarrítmica e, em alguns casos, a ablação.
A função do ventrículo esquerdo (VE) é um dos indicadores cruciais para prever a mortalidade pós-implante. Alterações significativas na fração de ejeção do VE, padrões restritivos de enchimento e um diâmetro final do VE reduzido são associados a um risco aumentado de complicações após o implante. Outros parâmetros relevantes incluem o diâmetro anteroposterior da aurícula esquerda e o diâmetro final diastólico do VE. Estes parâmetros devem ser avaliados de forma detalhada, com a utilização de técnicas avançadas de imagem, como a ecocardiografia 2D e 3D, e o mapeamento da deformação do VE, que oferece uma visão mais precisa da sua funcionalidade.
No que diz respeito ao ventrículo direito, a função pós-implante é um dos maiores preditores de morbidade e mortalidade. A avaliação do VD inclui parâmetros como a excursão sistólica do plano anular tricúspide (TAPSE), a velocidade sistólica do anel tricúspide medida por Doppler de tecido (S′), a fração de área do VD (RVFAC) e o índice de desempenho miocárdico do VD (RIMP). A presença de regurgitação tricúspide (TR) também pode ser um sinal importante de disfunção do VD. Caso haja sinais de dilatação do VD e sobrecarga de fluido, isso pode indicar um aumento da morbidade e da mortalidade.
Quando há insuficiência aórtica (IA), o fluxo sanguíneo retornando ao VE através de uma válvula incompetente pode reduzir o fluxo arterial e prejudicar a perfusão dos órgãos. A IA significativa requer uma abordagem intraoperatória para correção, seja por meio de reparo valvular, substituição por válvula bioprotética ou até mesmo pela sutura das folhetas da válvula aórtica. Além disso, a presença de uma prótese mecânica na válvula aórtica pode ser uma contraindicação relativa ao implante do LVAD devido à sua alta trombogenicidade. Nestes casos, uma troca por uma válvula bioprotética pode ser necessária durante o procedimento.
Antes do implante, é essencial realizar uma triagem para identificar shunts intracardíacos, como o forame oval patente (FOP), que pode ser visualizado por ecocardiografia com Doppler colorido. Um FOP pode se tornar sintomático em pacientes com altas pressões no VE, resultando em um desvio de fluxo da direita para a esquerda e hipoxia. Técnicas como a manobra de Valsalva com solução salina agitada podem ajudar a revelar um FOP oculto, embora deva ser feita com cautela, dado que pode gerar instabilidade hemodinâmica, especialmente em pacientes frágeis.
A avaliação da função renal também desempenha um papel crucial na pré-avaliação de pacientes candidatos ao LVAD. Um eGFR entre 30 e 60 está associado a risco aumentado, e valores abaixo de 30 indicam um risco substancialmente maior. O manejo de fatores de risco modificáveis, como diabetes e hipertensão, deve ser otimizado antes da cirurgia. A utilização de medicamentos nefrotóxicos, bem como o uso de diuréticos, pode levar a desequilíbrios eletrolíticos e arritmias intraoperatórias, representando um risco adicional.
Em relação à função hepática, a sobrecarga volumétrica decorrente da falência do VD pode levar a disfunções hepáticas, o que piora os desfechos pós-operatórios. A avaliação pré-operatória deve incluir testes de função hepática, ultrassonografia ou biópsia, especialmente em pacientes com sinais de doença hepática crônica. Pacientes com cirrose ou com um escore elevado para doença hepática em estágio terminal devem ser considerados contraindicados para o implante do LVAD. A presença de insuficiência mitral (IM) também deve ser monitorada, uma vez que pode afetar a descompressão do VE após o implante, embora a IM geralmente melhore após o procedimento devido à melhoria no débito cardíaco.
O uso de testes de função pulmonar (PFT) pode ser necessário para pacientes com doenças pulmonares crônicas, especialmente aqueles com história de apneia do sono não tratada. A presença de doenças pulmonares crônicas pode dificultar a recuperação pós-operatória, aumentando a dependência de ventilação mecânica e comprometendo a capacidade funcional.
A abordagem pré-operatória deve ser holística e personalizada, levando em conta a avaliação dos sistemas cardíaco, renal, hepático e pulmonar, com o objetivo de otimizar as condições do paciente para o sucesso do implante do LVAD. A análise cuidadosa desses fatores de risco ajudará a diminuir as complicações pós-operatórias e a aumentar a probabilidade de uma recuperação bem-sucedida.

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