A governança estatal pode ser comparada a um grande computador, exigindo o uso de tecnologias inteligentes da Internet e sistemas modernos de informação. Estes sistemas devem operar de forma coordenada, seguindo objetivos uniformes e normas concretas, abordando problemas e dissolvendo contradições, proporcionando garantias básicas para inovar as estruturas e mecanismos de governança (Song, 2015). Esse conceito resume a forma como o Estado chinês tem incorporado a computação como parte de sua estratégia política geral. No entanto, quando se fala de propaganda, a compreensão sobre o termo, especialmente na China, apresenta nuances distintas, que precisam ser analisadas com cuidado.

Na China, a palavra "propaganda" não possui as mesmas conotações negativas que ela adquiriu no Ocidente, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, quando passou a ser associada ao regime nazista. Até a década de 1950, diversas organizações ocidentais usavam o termo "propaganda" de maneira neutra, para se referir a informações persuasivas e emocionais que produziam. Na China, a propaganda é vista como uma ferramenta essencial de persuasão e orientação das massas, com um caráter institucionalmente aceitável e, muitas vezes, necessário. Portanto, ao estudar a propaganda computacional, é crucial que os pesquisadores compreendam seu papel dentro da sociedade e da política chinesas, sem aplicar as mesmas interpretações que teriam em contextos ocidentais.

O fenômeno da propaganda computacional na China assume uma forma própria e peculiar, que difere significativamente da observada em países ocidentais, como os Estados Unidos ou países da Europa. Pesquisas recentes indicam que, ao contrário do que ocorre nas redes sociais ocidentais, a automação nas plataformas de mídia social da China não tem se mostrado tão prevalente. No entanto, quando se observa o discurso sobre a China em plataformas como o Twitter, a situação muda. Um estudo sobre 27 hashtags associadas à China e à política chinesa revelou que quase 30% dos 1,1 milhão de tweets analisados provieram de contas que postavam mais de 100 vezes por dia. Essas contas usavam ferramentas automatizadas para disseminar suas mensagens, como pacotes de software de terceiros ("If This Then That", "twittbot.net") ou scripts personalizados (Bolsover, 2017).

Entre essas contas automatizadas, uma parte significativa pertencente a dois grupos coordenados, ambos envolvidos em campanhas contra o governo chinês, publicou uma grande quantidade de conteúdo em mandarim simplificado. O grupo 1989, por exemplo, foi responsável por quase 10% dos tweets, focando-se na lembrança do movimento democrático de 1989, que culminou no massacre da Praça Tiananmen. Já o grupo Pan-Asia, embora menos ativo, também se concentrava na crítica ao regime, utilizando a plataforma para denunciar casos de corrupção, como o esquema Ponzi ocorrido na província de Yunnan.

Essa situação levanta uma questão interessante: a propaganda computacional anti-estatal que circula no Twitter em relação à China não pode ser vista simplesmente como uma resposta ao discurso dominante do governo chinês. Na verdade, ela é parte de uma dinâmica que se estabelece no espaço público digital global, mas voltada principalmente para os chineses fora do país, como estudantes e emigrantes que tentam burlar o "grande firewall" da China. Ao acessar plataformas como o Twitter, essas pessoas acabam se deparando com um espaço dominado por outro tipo de propaganda, muitas vezes igualmente polarizadora, mas de uma perspectiva oposta à do governo chinês.

O fenômeno da propaganda computacional não se restringe a um simples jogo de oposições. Ele precisa ser contextualizado dentro de uma narrativa mais ampla sobre a manipulação da informação. O debate sobre a "fake news" – notícias falsas – e a manipulação da opinião pública não é novidade. As estratégias de distorção da realidade e manipulação da informação sempre foram utilizadas por governos e grupos de poder para controlar a narrativa pública. O termo "fake news", por exemplo, tem sido instrumentalizado tanto por líderes ocidentais, como Donald Trump, quanto por regimes como o chinês, para desqualificar informações indesejadas e fortalecer o controle sobre o discurso público. Quando Xinhua, a agência de notícias oficial da China, se refere a reportagens sobre tortura de prisioneiros políticos como "fake news", fica claro que o termo está sendo utilizado como uma ferramenta de defesa política.

Além disso, é necessário considerar o contexto histórico da manipulação de informações. Embora a tecnologia e as plataformas digitais tenham ampliado a capacidade de disseminar e amplificar a propaganda, a manipulação da informação já existia muito antes da internet. As tecnologias atuais podem ser vistas como uma evolução das estratégias de controle da informação, mas a essência da propaganda, seja ela computacional ou não, permanece a mesma: influenciar e controlar a percepção do público.

O crescimento da propaganda computacional exige uma abordagem cuidadosa. Enquanto alguns governos, como o da Alemanha, têm buscado soluções políticas e legislativas para controlar a propagação de fake news e bots, é essencial que o debate sobre esse fenômeno não se limite a medidas técnicas de regulação. A solução para a manipulação da informação não deve ser apenas o controle, mas também a educação crítica do público, para que os cidadãos possam distinguir fontes confiáveis de desinformação.

Como a Manipulação da Mídia e a Guerra de Informação Afetam a Democracia em Taiwan?

A manipulação da mídia e as operações de guerra da informação têm desempenhado um papel crescente nas democracias contemporâneas, particularmente em contextos geopolíticos sensíveis como o de Taiwan. Este fenômeno não é novo, mas sua escalada nos últimos anos revela as profundezas e os impactos de estratégias que buscam alterar a percepção pública e, em última instância, influenciar os resultados políticos, sem que a população esteja plenamente ciente de tal intervenção.

Taiwan, com sua posição única em relação à China, tem sido palco de uma batalha silenciosa e virtual, onde a guerra da informação se mistura com as operações de desinformação e propaganda. A influência chinesa sobre Taiwan não é apenas militar, mas também cognitiva e psicológica, utilizando uma variedade de técnicas para moldar as narrativas que circulam na mídia e nas redes sociais. Um dos métodos mais eficazes é o astroturfing, onde grupos, muitas vezes financiados ou organizados por governos estrangeiros, tentam criar a ilusão de apoio popular a determinadas ideias ou candidatos, quando, na realidade, esses movimentos não têm raízes genuínas na população.

A tecnologia desempenha um papel fundamental nessa manipulação. Plataformas digitais, algoritmos e bots são empregados para criar campanhas de desinformação que confundem e polarizam a opinião pública. Em Taiwan, as fake news não são apenas um incômodo, mas uma ameaça direta à sua democracia. O governo taiwanês tem se esforçado para combater a disseminação dessas informações, criando sistemas de monitoramento e implementando estratégias para detectar e neutralizar as campanhas de desinformação. No entanto, a velocidade com que as informações se espalham online e a sofisticação dos métodos utilizados tornam essa tarefa quase impossível de ser realizada com total eficácia.

Essas operações de manipulação de informações não se limitam apenas ao campo digital, mas também se estendem para a esfera offline, com infiltração em setores políticos e sociais. Grupos pró-China têm sido identificados organizando protestos, espalhando rumores e promovendo divisões internas com o objetivo de enfraquecer a resistência taiwanesa ao governo chinês. A atuação desses grupos muitas vezes é invisível, tornando difícil para o público identificar quem está por trás desses movimentos e com quais intenções.

A manipulação não se restringe a Taiwan, mas se espalha por várias regiões do mundo, especialmente onde o controle da informação se torna um meio de controle do poder. A China, por exemplo, utiliza seus próprios canais e tecnologias para interagir com outros países e influenciar suas políticas internas, seja direta ou indiretamente. Em muitos casos, o governo chinês não precisa de uma invasão física para conquistar um país; a guerra da informação é suficientemente poderosa para semear desconfiança e alterar a narrativa pública, de modo que o enfraquecimento do inimigo ocorre antes de qualquer confronto físico.

O papel das redes sociais e das plataformas de comunicação digital é crucial neste cenário. Elas têm se mostrado instrumentos poderosos de manipulação, uma vez que permitem a disseminação rápida de conteúdos falsos que, muitas vezes, passam despercebidos até que seja tarde demais. Especialmente em momentos de eleição ou crise política, a quantidade de desinformação cresce exponencialmente. Com isso, os cidadãos passam a questionar a veracidade de qualquer informação que recebam, o que cria um ambiente de incerteza e, frequentemente, de polarização social.

Além disso, é importante destacar que a manipulação das informações pode ser uma estratégia deliberada para minar a confiança pública nas instituições democráticas. Ao enfraquecer a fé das pessoas nas autoridades e nos processos eleitorais, como as campanhas de desinformação, aqueles que orquestram essas operações podem criar uma sensação de desesperança entre os eleitores. Isso resulta na diminuição da participação política e, consequentemente, na diminuição do apoio à democracia em si.

No entanto, o enfrentamento desse problema não é simples. É necessário, mais do que nunca, que os cidadãos desenvolvam uma maior consciência crítica em relação ao conteúdo que consomem nas mídias sociais e tradicionais. A educação digital, que capacita as pessoas a reconhecer e questionar informações falsas ou manipuladas, é um passo crucial para mitigar os efeitos da desinformação. Além disso, governos e plataformas de mídia social precisam trabalhar juntos para criar mecanismos mais robustos de verificação de fatos e para garantir que campanhas de manipulação sejam detectadas e neutralizadas rapidamente.

Portanto, o impacto da manipulação da mídia e da guerra da informação é profundo, não apenas em Taiwan, mas em qualquer sociedade democrática. Ao entender as táticas utilizadas por governos e outros atores para influenciar a opinião pública, os cidadãos podem estar mais preparados para resistir a essas pressões e manter a integridade das suas instituições democráticas. Mais do que nunca, a vigilância, a educação e a ação conjunta entre governos, empresas e sociedade civil são essenciais para proteger o que resta da verdade e da confiança pública.

Como os Erros de Conjunção Influenciam a Adoção de Teorias da Conspiração

Pesquisas demonstraram que a tendência humana de conectar elementos independentes de maneira intuitiva pode levar a erros cognitivos significativos, como o erro de conjunção. Este erro ocorre quando se acredita que eventos mais específicos são mais prováveis do que eventos mais gerais, mesmo quando a lógica indica o contrário. Um exemplo clássico deste fenômeno é a comparação entre as afirmações "Bill é um contador que toca jazz como hobby" e "Bill toca jazz como hobby". Muitos participantes tendem a considerar a primeira afirmação mais provável, embora a segunda seja, na verdade, uma possibilidade mais ampla, sem qualquer restrição adicional. Esse erro, quando replicado em diferentes contextos, revela uma tendência humana de buscar narrativas coerentes, mesmo quando essas narrativas não são logicamente sustentadas.

Esse tipo de falha cognitiva tem implicações profundas, especialmente no campo das teorias da conspiração. Brotherton e French (2014) argumentaram que, em muitos aspectos, as teorias conspiratórias se assemelham a cenários típicos de erros de conjunção. Assim como na situação do contador que toca jazz, as teorias conspiratórias muitas vezes elaboram narrativas mais complexas, nas quais a coincidência de eventos é vista como parte de uma trama coordenada. Por exemplo, algumas teorias que envolvem o assassinato do presidente John F. Kennedy sugerem que um homem com um guarda-chuva, visto minutos antes do atentado, fazia parte de uma conspiração. A crença de que o guarda-chuva estava ligado ao assassinato é um erro de conjunção, pois ele conecta eventos independentes em uma narrativa mais elaborada, sem uma base sólida de evidências.

Essa tendência a cometer erros de conjunção não se limita a teorias conspiranóicas explícitas. Estudos demonstraram que indivíduos propensos à ideação conspiratória também cometem mais erros de conjunção em contextos neutros, como a história de "Bill", o contador. Isso sugere que a suscetibilidade a esse tipo de erro pode ser um viés cognitivo geral, que vai além de simples crenças conspiratórias. Em outras palavras, o erro de conjunção pode ser um indicador de uma tendência mais ampla a ver padrões e conexões, mesmo quando não existem.

A pesquisa também sugere que essa falha cognitiva é particularmente comum entre indivíduos com uma percepção baixa de aleatoriedade. Um estudo de Dagnall et al. (2017) revelou que pessoas com dificuldades em entender a aleatoriedade, como a probabilidade de uma sequência de lançamentos de moeda, eram mais inclinadas a acreditar em teorias conspiratórias. Esse tipo de pensamento probabilístico falho torna-se, assim, um preditor significativo da ideação conspiratória, mais eficiente do que até mesmo a avaliação lógica de probabilidades simples. A tendência de conectar eventos de maneira causal pode ser vista como uma explicação subjacente a esse fenômeno: ao buscar padrões e causas, as pessoas podem construir histórias mais plausíveis, como no exemplo de um acidente de carro que envolve uma combinação de condições meteorológicas adversas e deficiência visual. Uma explicação mais elaborada pode parecer mais plausível do que a soma de causas mais simples e independentes.

Em termos de teorias da conspiração, o erro de conjunção pode criar narrativas que não só conectam eventos, mas também sugerem um mecanismo causal para os mesmos. Essa habilidade de identificar causas torna as teorias conspiratórias mais atraentes, pois elas fornecem uma explicação para os acontecimentos, ao invés de simplesmente apresentar coincidências. O exemplo do "Homem do Guarda-Chuva" no assassinato de Kennedy é ilustrativo. A teoria conspiratória que sugere que o guarda-chuva estava relacionado ao assassinato oferece uma narrativa coesa, enquanto a explicação mais simples — que o guarda-chuva não tem relação com o assassinato — não apresenta uma conexão causal clara, o que dificulta a aceitação.

A busca por explicações causais está fortemente ligada à motivação epistêmica, ou o desejo humano de entender e controlar o mundo à nossa volta. As teorias da conspiração parecem satisfazer essa necessidade de encontrar padrões significativos, especialmente em momentos de incerteza ou perda de controle. Quando as pessoas se sentem impotentes ou desconectadas de sua realidade, a tendência de buscar explicações complexas para eventos incomuns se intensifica. Isso pode ser exacerbado pelo ambiente informacional moderno. A Internet oferece um fluxo incessante de informações, que alimenta essa busca por padrões, enquanto as redes sociais, com seu ritmo acelerado, favorecem decisões intuitivas rápidas, em vez de análises mais lentas e cuidadosas. Em tal contexto, a quantidade de informações disponíveis não necessariamente nos torna mais informados, mas sim mais suscetíveis a conectar eventos de maneira criativa, mas imprecisa.

Porém, é importante notar que a internet e a comunicação digital não são as únicas responsáveis pelo aumento das crenças conspiratórias. Estudos longitudinais, como o de Uscinski e Parent (2014), mostram que, ao longo do tempo, a prevalência de teorias conspiratórias nos meios de comunicação de massa não aumentou de forma significativa, mesmo com o advento da internet. Essa constatação sugere que, embora a tecnologia moderna tenha facilitado a disseminação de ideias conspiratórias, ela não criou um aumento dramático nas crenças de conspiração. O fenômeno, em grande parte, está ligado à forma como a mente humana busca por conexões significativas, independentemente da quantidade de informação disponível.

A interação entre os vieses cognitivos naturais e a transformação do cenário informacional global continua sendo um campo frutífero de estudo. As redes sociais podem não só promover a disseminação de desinformação, mas também intensificar a formação de crenças distorcidas e narrativas conspiratórias. Esse campo de pesquisa continua a ser fundamental para entendermos como as pessoas formam crenças e como essas crenças podem influenciar tanto as atitudes individuais quanto os comportamentos coletivos.