A pesquisa sobre terapias farmacológicas neuroprotetoras para recém-nascidos com asfixia perinatal continua a se expandir, com diversas substâncias sendo investigadas quanto à sua capacidade de proteger o cérebro contra os danos causados pela hipóxia-isquemia (HI). Embora vários compostos tenham sido testados, os resultados clínicos nem sempre são conclusivos, e a aplicação de tais terapias na prática clínica ainda enfrenta barreiras substanciais.

O uso de alopurinol, um inibidor da xantina oxidase, tem mostrado potencial neuroprotetor, especialmente no contexto da fase inicial de reperfusão após a HI. Esse efeito se deve ao fato de que o alopurinol reduz a formação de radicais livres (O2-) que surgem durante a reoxigenação. Estudos clínicos que utilizaram alopurinol intravenoso em neonatos pós-asfixia sugerem efeitos benéficos a curto prazo sobre biomarcadores cerebrais, e até mesmo em desfechos de desenvolvimento a longo prazo, principalmente em bebês com asfixia moderada. Contudo, a revisão Cochrane de 2008 não foi capaz de confirmar sua eficácia de maneira robusta, devido ao tamanho limitado das amostras e à aplicação tardia do tratamento, que foi administrado até 4 horas após o insulto. A pesquisa atual continua a explorar o uso de alopurinol, com um grande estudo europeu (ALBINO) investigando seu impacto quando administrado até 45 minutos após o nascimento.

Outro candidato promissor para neuroproteção é o xenônio, um gás nobre que antagoniza o receptor NMDA e tem propriedades antiapoptóticas. Embora tenha demonstrado passar rapidamente pela barreira hematoencefálica e não apresente efeitos cardiovasculares adversos, sua aplicação como terapia única em neonatos não mostrou resultados conclusivos. No entanto, quando combinado com a hipoterapia moderada, o xenônio tem mostrado potencial. Seu uso, porém, é limitado por seu custo e pela necessidade de sistemas especializados para administração. Em contrapartida, o argônio, outro gás nobre com propriedades neuroprotetoras, surge como uma alternativa mais acessível e fácil de implementar, sem necessidade de sistemas complexos de ventilação.

Em relação ao uso de melatonina, um hormônio neuroendócrino com efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, a pesquisa tem sugerido um potencial benefício, especialmente no contexto de hipoxia-isquemia. A melatonina é capaz de atravessar a placenta e a barreira hematoencefálica fetal, o que a torna uma candidata atraente para intervenções terapêuticas. Estudos iniciais em neonatos demonstraram melhorias neurológicas associadas ao uso de melatonina combinado com hipoterapia, embora esses estudos ainda sejam limitados e não confirmem de forma definitiva seus efeitos neuroprotetores.

A inibição seletiva das enzimas NO sintase (NOS) também é uma estratégia promissora, dada a evidência de que a ativação das isoformas nNOS e iNOS após a asfixia perinatal pode contribuir para o dano neuronal. A combinação da inibição dessas isoformas, logo após o nascimento, demonstrou o maior potencial de proteção contra lesões cerebrais devido à formação de peroxinitrito, um agente prejudicial que resulta da reação entre o óxido nítrico (NO) e o radical superóxido (O2-). O estudo de 2-iminobiotina, um inibidor seletivo de nNOS e iNOS, mostrou-se promissor em modelos experimentais, e atualmente está sendo estudado em neonatos humanos.

Topiramato, um anticonvulsivante que age através da inibição dos receptores de glutamato, tem mostrado efeitos neuroprotetores, principalmente em estudos experimentais com animais. Seu mecanismo inclui a inibição de canais de sódio, bloqueio de correntes de cálcio de alta voltagem, e a proteção das mitocôndrias contra a transição de permeabilidade, o que o torna uma opção potencial para a proteção cerebral em neonatos com asfixia.

No entanto, a aplicação clínica dessas terapias ainda enfrenta desafios, principalmente no que diz respeito à janela terapêutica e à dosagem apropriada. Além disso, é fundamental entender a interação entre essas substâncias e outras terapias utilizadas, como a hipoterapia, que já é uma abordagem amplamente estabelecida no tratamento da asfixia perinatal. Estudos bem projetados e com amostras maiores são necessários para confirmar os efeitos desses tratamentos e determinar os melhores protocolos de administração.

É importante destacar que, enquanto essas terapias estão sendo investigadas com promissores resultados experimentais, a eficácia clínica em neonatos ainda precisa ser validada em estudos mais rigorosos. A neuroproteção farmacológica não é uma solução única, mas sim uma abordagem que deve ser personalizada, considerando o contexto clínico do recém-nascido e as características individuais do caso. Além disso, deve-se lembrar que o tempo é um fator crucial na aplicação dessas terapias, com a janela terapêutica frequentemente sendo estreita e exigindo intervenções rápidas e bem coordenadas para evitar danos permanentes ao cérebro.

Quais são as particularidades da farmacocinética e dos efeitos adversos da eritromicina em crianças e bebês?

A eritromicina, um antibiótico da classe dos macrolídeos, apresenta uma ampla difusão nos líquidos intracelulares e tecidos corporais, exceto no líquido cefalorraquidiano (LCR) e no sistema nervoso central (SNC). A concentração do antibiótico no fluido do ouvido médio (FOM) atinge cerca de 50% da concentração sérica, sendo essa concentração suficiente para inibir organismos altamente sensíveis, como Streptococcus pyogenes e Streptococcus pneumoniae, mas possivelmente insuficiente para tratar otite média causada por Haemophilus influenzae. A administração oral de eritromicina leva a concentrações adequadas nas amígdalas, o que é relevante para o tratamento de infecções respiratórias superiores.

Em crianças com conjuntivite por Chlamydia trachomatis, a concentração de eritromicina no fluido lacrimal é praticamente igual à do soro sanguíneo, o que evidencia uma boa penetração do medicamento nos tecidos. Além disso, a eritromicina se concentra nas células leucocitárias polimorfonucleares humanas, proporcionando atividade contra patógenos intracelulares. Em recém-nascidos com infecção por C. trachomatis, estudos mostraram que a administração oral de 10 mg por kg de eritromicina resulta em concentrações séricas similares entre as formulações estolato e etilsuccinato.

Em relação à farmacocinética, a eritromicina é amplamente metabolizada no fígado e excretada pela bile, com uma pequena quantidade excretada na urina. Aproximadamente 80% a 90% da eritromicina no sangue está ligada às proteínas plasmáticas, e o medicamento atravessa a placenta, embora as concentrações fetais sejam significativamente mais baixas que as maternas. Em neonatos, a absorção do antibiótico pode ser retardada, sem que a alimentação influencie sua biodisponibilidade. A farmacocinética da eritromicina não é substancialmente alterada em casos de disfunção renal ou hepática, e ajustes de dosagem raramente são necessários.

Quanto à dosagem, o regime usual de eritromicina para crianças varia entre 30 a 50 mg por kg por dia, divididos em duas a quatro doses. Em casos de infecções graves, pode ser administrada por via intravenosa, com dosagem de 15 a 50 mg por kg, também dividida em quatro doses. A administração intravenosa deve ser feita lentamente, a fim de minimizar os riscos de arritmias cardíacas. Para recém-nascidos, a dose recomendada é de 10 mg por kg, com frequência ajustada conforme a idade.

No entanto, a eritromicina não está isenta de efeitos adversos. Os efeitos mais comuns são distúrbios gastrointestinais, como dor abdominal e náusea, sendo possível que esses efeitos se relacionem à atividade pró-cinética do medicamento no trato gastrointestinal. Um efeito adverso raro, mas significativo, é a associação entre a exposição precoce à eritromicina e o risco aumentado de estenose pilórica hipertrofia infantil, com risco até oito vezes maior em neonatos entre 3 e 13 dias de vida. Também foram relatados efeitos alérgicos, como febre, erupções cutâneas, dor nas articulações e síndrome de Stevens-Johnson, além de disfunção hepática reversível, com aumento de transaminases, colestase e icterícia.

Outros efeitos adversos incluem perda auditiva neurossensorial reversível, especialmente em pacientes com função renal prejudicada, e tromboflebite associada a infusões intravenosas. Estas reações podem ser atenuadas com a diminuição da taxa de infusão e/ou redução da concentração de eritromicina na solução. A administração intravenosa também está relacionada à toxicidade cardíaca, com risco de bradicardia, hipotensão e arritmias, incluindo a síndrome de Torsades de Pointes, que pode levar ao arresto cardíaco.

As interações medicamentosas também são um ponto crucial no uso da eritromicina. O antibiótico é um inibidor potente das enzimas do citocromo P450, aumentando a exposição e a toxicidade de vários medicamentos. Isso inclui interações com estatinas, como lovastatina e sinvastatina, medicamentos que prolongam o intervalo QT, como fluconazol e posaconazol, além de interações significativas com anticonvulsivantes, imunossupressores e anticoagulantes. A administração concomitante de eritromicina pode aumentar as concentrações de teofilina, ciclosporina e digoxina, entre outros, o que requer monitoramento rigoroso.

É importante compreender que, embora a eritromicina seja eficaz para diversas infecções, seu uso deve ser cuidadosamente monitorado, especialmente em populações vulneráveis, como recém-nascidos e crianças pequenas. A interação com outros medicamentos e a monitorização dos efeitos adversos são cruciais para a segurança do paciente. Por isso, é fundamental considerar as especificidades da farmacocinética da eritromicina e os potenciais efeitos adversos ao planejar sua utilização clínica.

Como a Terapia com Tetraciclinas e Cloranfenicol Pode Impactar o Tratamento de Infecções Graves: Efeitos, Doses e Cuidados Necessários

O uso de antibióticos como as tetraciclinas e o cloranfenicol continua sendo fundamental no tratamento de várias infecções bacterianas. Entretanto, o emprego desses medicamentos exige atenção especial devido aos seus efeitos colaterais, interações medicamentosas e a necessidade de doses ajustadas para diferentes faixas etárias e condições de saúde. A seguir, exploramos em detalhes os aspectos mais importantes do uso dessas classes de antibióticos, os cuidados a serem tomados, e as potenciais complicações que podem surgir durante o tratamento.

As tetraciclinas, especialmente a doxiciclina e a minociclina, são antibióticos amplamente usados para tratar uma variedade de infecções bacterianas. A administração oral de minociclina em crianças com mais de 8 anos segue uma dosagem de 4 mg por kg no primeiro dia, seguida por 2 mg por kg a cada 12 horas. Quando a via parenteral é necessária, a doxiciclina é preferida. Para adultos, a dosagem intravenosa inicia com 200 mg, podendo ser administrada em uma ou duas doses no primeiro dia, e seguida de 100 a 200 mg diários. Para crianças, a dosagem intravenosa de doxiciclina começa com 4 mg por kg, administrado em duas doses iguais, e a dose de manutenção diária é de 2,2 mg por kg.

As tetraciclinas não estão mais disponíveis para administração intravenosa nos Estados Unidos, mas em locais onde ainda são comercializadas, a dose diária para adultos pode variar de 500 mg a 1 g, distribuída em doses divididas a cada 6 a 12 horas, com doses máximas de até 2 g em infecções graves.

Quando se considera a aplicação tópica de tetraciclinas, é importante destacar que elas não são recomendadas, exceto para uso local nos olhos, onde pomadas e suspensões oftálmicas de tetraciclinas como a tetraciclina hidroclorada, a clortetraciclina hidroclorada e a oxitetraciclina hidroclorada estão disponíveis.

Como qualquer medicamento, as tetraciclinas apresentam efeitos adversos, com os mais comuns relacionados ao trato gastrointestinal. Náuseas, vômitos, desconforto abdominal e distúrbios gástricos são frequentemente observados, mas geralmente desaparecem quando o medicamento é interrompido. Além disso, as tetraciclinas podem causar colite associada ao uso de antibióticos. A administração com alimentos pode reduzir o desconforto gástrico, mas é essencial evitar o uso concomitante com produtos lácteos, pois isso pode prejudicar a absorção do medicamento.

Outro efeito adverso raro, mas grave, é a hepatotoxicidade, que pode se manifestar por sintomas de doença hepática semelhante à

Quais são os impactos do uso de tenofovir durante a gravidez e pós-parto?

O uso de antirretrovirais durante a gravidez tem sido amplamente estudado, especialmente no que diz respeito ao tenofovir, uma droga de escolha no tratamento da infecção por HIV. Estudos recentes revelam uma série de aspectos importantes sobre a farmacocinética e os potenciais efeitos do tenofovir em mulheres grávidas e seus recém-nascidos. O tenofovir disoproxil fumarato (TDF) é comumente utilizado para prevenir a transmissão vertical do HIV, mas seu impacto sobre a saúde materna e infantil ainda é objeto de pesquisa.

A farmacocinética do tenofovir durante a gravidez, especialmente no que se refere à transferência placentária e a sua presença no sangue umbilical, tem sido bem documentada. Pesquisas como as de Hirt et al. (2009) demonstram que a concentração plasmática de tenofovir nas mulheres grávidas é significativamente alterada, com variações que podem influenciar a eficácia do medicamento e a exposição do feto ao fármaco. Em estudos envolvendo neonatos, observa-se que o tenofovir é detectado em concentrações reduzidas nas primeiras horas de vida, embora a exposição fetal possa ser relevante, dado o efeito prolongado da droga no organismo.

Além disso, a exposição fetal ao tenofovir tem gerado preocupações sobre possíveis efeitos adversos no desenvolvimento fetal e infantil. Estudos como os de Denneman et al. (2016) e Liotta et al. (2016) indicam que o uso de tenofovir durante a gravidez pode estar associado ao crescimento fetal e infantil prejudicado, com menores índices de peso ao nascer e crescimento linear. Embora a maioria dos estudos não tenha encontrado uma correlação direta entre o uso de tenofovir e defeitos congênitos graves, os efeitos sobre o crescimento continuam sendo uma preocupação significativa para os profissionais de saúde.

Outros estudos, como o de Ransom et al. (2013), sugerem que a administração de tenofovir pode resultar em um crescimento infantil normal, especialmente se o medicamento for administrado corretamente, com a monitorização adequada da saúde da mãe e do bebê. No entanto, um acompanhamento contínuo é recomendado para garantir que não haja consequências de longo prazo para a saúde da criança, já que efeitos mais sutis podem surgir com o tempo.

Em relação ao tenofovir alafenamida (TAF), uma versão mais recente e potencialmente menos tóxica do tenofovir, também tem se tornado um ponto de interesse. Pesquisas como as de De Clercq (2016) e Sax et al. (2014) demonstram que o TAF pode ser uma alternativa mais segura durante a gravidez, com menores efeitos adversos em comparação ao TDF. Estudos adicionais sobre a farmacocinética do TAF durante a gravidez são necessários para confirmar sua eficácia e segurança a longo prazo, mas os dados iniciais são promissores.

Porém, além dos aspectos farmacocinéticos e de segurança imediata, é crucial que as mães grávidas com HIV tenham acesso a um suporte clínico contínuo. Isso inclui o monitoramento regular das concentrações de medicamentos e dos parâmetros de saúde fetal, além de avaliações constantes sobre o crescimento do bebê e a necessidade de intervenções específicas. O uso de antirretrovirais em mulheres grávidas deve ser uma decisão cuidadosamente ponderada, levando em conta os benefícios de prevenção da transmissão vertical do HIV e os potenciais riscos para o desenvolvimento fetal.

Além disso, o contexto de cada paciente é crucial, uma vez que variáveis como a saúde geral da mãe, o estágio da infecção por HIV e a presença de comorbidades podem influenciar as escolhas terapêuticas. O aconselhamento adequado, aliado ao monitoramento rigoroso, constitui a base para um tratamento seguro e eficaz. A compreensão de que os efeitos do uso de antirretrovirais durante a gestação podem ter um impacto duradouro na saúde da criança sublinha a importância de um acompanhamento longo após o nascimento, considerando tanto os aspectos físicos quanto psicológicos do desenvolvimento infantil.

Como a Monitorização Farmacocinética Otimizada Pode Melhorar o Tratamento de Doenças Inflamatórias Intestinais em Crianças

A monitorização terapêutica de medicamentos (MTM) tem se mostrado uma ferramenta valiosa para personalizar o tratamento de doenças inflamatórias intestinais (DII), especialmente em pacientes pediátricos que recebem terapias biológicas. A MTM pode ser usada de maneira "reativa" para avaliar se os níveis do medicamento no sangue estão suficientemente elevados para evitar uma recaída, caso o paciente apresente sintomas sugestivos de perda de resposta ao tratamento. Um estudo conduzido por Minar et al. demonstrou a utilidade da avaliação reativa da concentração de fármacos em crianças com Doença de Crohn (DC), que apresentaram suspeita de falha terapêutica. Dentre as 72 crianças analisadas, 25 (35%) apresentaram níveis subterapêuticos do medicamento e necessitaram de aumento na dosagem. Após o ajuste, observou-se uma melhoria significativa nas taxas de remissão após 6 meses.

Contudo, confiar exclusivamente na MTM reativa pode limitar a capacidade de otimizar proativamente os parâmetros farmacocinéticos (PK) do infliximabe. Em um estudo pediátrico envolvendo 50 pacientes com DII em uso de infliximabe, a maioria dos pacientes necessitou de infusões mais frequentes ou doses mais altas do que o regime padrão para alcançar concentrações terapêuticas adequadas. A MTM proativa, por sua vez, envolve a obtenção periódica das concentrações séricas durante o tratamento, mesmo na ausência de sintomas ativos. Quando os níveis são encontrados abaixo do desejado, o tratamento pode ser ajustado de forma antecipada, garantindo que o paciente mantenha uma concentração terapêutica constante.

Um estudo de grande escala, o ensaio clínico TAXIT, investigou a eficácia do ajuste de doses proativo com base nas concentrações do infliximabe em adultos com DII. Os pacientes foram inicialmente otimizados durante a indução do medicamento, e então aleatoriamente atribuídos a dois grupos: um com doses baseadas nos níveis do fármaco e outro com doses baseadas no estado clínico. Embora o estudo não tenha mostrado uma superioridade da dosagem orientada pela concentração para alcançar remissão após um ano, os pacientes do grupo com ajuste proativo apresentaram menos episódios de exacerbações durante o tratamento. Contudo, há uma preocupação de que a duração do estudo não tenha sido suficiente para identificar uma diferença significativa nos resultados clínicos a longo prazo.

Em contraste, outros estudos retrospectivos sobre o infliximabe e o adalimumabe sugerem que a MTM proativa pode permitir a identificação precoce de pacientes com concentrações subterapêuticas, aumentando as chances desses pacientes permanecerem em remissão. Uma meta-análise recente não encontrou evidências suficientes para afirmar que a MTM, em qualquer uma de suas formas, leva a taxas superiores de remissão clínica. Contudo, observou-se que a MTM reativa pode gerar benefícios econômicos e pode ajudar a manter a durabilidade dos efeitos terapêuticos dos anti-TNFα, quando comparado à MTM proativa.

Além disso, um ponto relevante é se a MTM proativa é tão eficaz quanto a terapia combinada (uso de biológicos com imunomoduladores) para aumentar os níveis do medicamento e prevenir a formação de anticorpos anti-fármaco. Mesmo com o uso de estratégias combinadas, a terapia precoce com anti-TNFα não demonstrou, em alguns estudos, ser eficaz na prevenção de complicações ou da necessidade de intervenções cirúrgicas em crianças com formas estritivas de Doença de Crohn.

O impacto da terapia biológica sobre o risco de complicações pós-operatórias também é um tema emergente, com alguns estudos sugerindo que o uso de infliximabe antes da cirurgia pode estar associado a um aumento no número de complicações. Contudo, outros estudos não encontraram esse risco aumentado com o uso pré-operatório de agentes anti-TNFα, vedolizumabe ou ustekinumabe, evidenciando a necessidade de mais pesquisas, especialmente em populações pediátricas.

O desenvolvimento de novos medicamentos para o tratamento da DII pediátrica está em expansão, com várias terapias em diferentes estágios de pesquisa. O etrolizumabe, um anticorpo anti-β7 integrina, está em ensaios clínicos de fase 3 em adultos e já iniciou um estudo de farmacocinética e segurança em crianças, visando gerar dados mais precisos para o uso pediátrico. Além disso, pequenas moléculas como o tofacitinibe, um inibidor das Janus quinases (JAK), estão sendo investigadas como alternativas aos biológicos, devido ao seu custo inferior, ausência de imunogenicidade e administração oral. No entanto, esses medicamentos ainda não foram avaliados adequadamente em crianças.

Outro avanço interessante é o uso do transplante de microbiota fecal (TMF) no tratamento de DII, especialmente devido à disbiose associada à doença. Estudos têm mostrado taxas de remissão de 23% a 33% em pacientes com colite ulcerativa (CU) e de 56% a 78% em pacientes com Doença de Crohn, embora esses resultados variem consideravelmente devido à falta de controle adequado nos estudos. Embora haja uma crescente evidência de que a disbiose possa ser um fator relevante na DII, ainda não está claro se ela é uma causa primária ou secundária da doença. Por isso, a efetividade do TMF dependerá da persistência do tratamento ou da eliminação da causa primária da disbiose.

A rápida evolução no tratamento da DII pediátrica exige a realização de estudos bem estruturados para esclarecer as melhores práticas de dosagem e uso de novos medicamentos. Além disso, será fundamental monitorar a segurança de longo prazo das crianças tratadas com essas terapias inovadoras, especialmente quando utilizadas de forma combinada. A modelagem farmacocinética e farmacodinâmica, com base em dados de ensaios em adultos, provavelmente terá um papel importante na adaptação e eficácia desses tratamentos para a população pediátrica.