A pesquisa sobre turismo tem se aprofundado cada vez mais no entendimento das interações entre turistas e anfitriões provenientes de diferentes culturas, revelando nuances importantes sobre como fatores culturais influenciam a experiência turística. Estudos transculturais têm mostrado que as percepções e comportamentos de turistas e anfitriões podem ser substancialmente diferentes dependendo de suas origens culturais. A análise desses fatores culturais é essencial para o desenvolvimento de estratégias de segmentação de mercado e desenvolvimento do setor de turismo, permitindo compreender as preferências e valores distintos entre os grupos culturais.

Ao adotar uma abordagem transcultural, os pesquisadores frequentemente utilizam tanto métodos quantitativos, que buscam comparar grupos culturais de maneira estatística, quanto qualitativos, como etnografia e teoria fundamentada, que buscam explorar as complexidades e dinâmicas culturais de forma mais profunda. Um ponto relevante é que, ao investigar as diferenças e semelhanças culturais entre os turistas, as variáveis mais comuns que caracterizam a cultura de um grupo incluem a nacionalidade, o local de nascimento, o país de residência, a etnia e a língua falada. Essas variáveis operacionais ajudam a entender como os turistas de diferentes contextos culturais podem reagir e se comportar de maneira distinta diante de uma experiência turística compartilhada.

Contudo, a ênfase predominante na abordagem etic, que compara grupos culturais de forma geral, tem sido alvo de críticas. Muitos estudiosos argumentam que uma análise emic, que busca compreender os significados e valores de dentro da própria cultura, poderia proporcionar uma visão mais rica e precisa das orientações culturais de diferentes grupos. Isso se reflete na necessidade de não tratar a cultura de uma forma rígida ou universal, mas de entendê-la como um constructo aberto, fluido e flexível, que pode variar de acordo com o contexto e a interação.

Estudos transculturais de turismo frequentemente exploram a comparação entre turistas de diferentes países ou grupos étnicos. Um exemplo clássico é a análise das diferenças culturais entre turistas dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, especialmente no contexto do turismo de aventura ou de fronteira. Esses estudos indicam que o pano de fundo cultural tem um papel fundamental na construção das percepções e comportamentos turísticos. Ao abordar essas comparações, os pesquisadores destacam como normas e valores culturais específicos de cada grupo impactam as escolhas de destino, as expectativas em relação ao serviço e o comportamento social durante a viagem.

Entretanto, à medida que a globalização avança rapidamente e a tecnologia altera a forma como as culturas interagem, as fronteiras entre culturas nacionais e étnicas têm se tornado cada vez mais borradas. O conceito de uma comunidade global, caracterizada por diásporas e cosmopolitismo, desafia as abordagens tradicionais dos estudos transculturais. A necessidade de reformular a cultura de uma variável estática e universal para um conceito mais dinâmico e contextualizado torna-se mais evidente. Estudos futuros deverão ir além das tradicionais dicotomias de turista/anfitrião, eu/outro, nós/eles, buscando compreender a realidade contemporânea dos grupos culturais emergentes e os novos cenários do turismo.

Para avançar nesse campo, os pesquisadores devem adotar métodos de pesquisa mais inovadores e éticos, como a análise de grandes dados (big data), etnografia móvel, rastreamento ocular e gamificação da pesquisa, a fim de entender melhor como as diferentes culturas interagem em ambientes turísticos. Tais métodos podem fornecer insights mais profundos sobre como os turistas e anfitriões se engajam entre si em um mundo em constante mudança.

Além disso, é fundamental que os estudos transculturais no turismo não se limitem apenas a análises de diferenças culturais. Devem também considerar a evolução das culturas, a mobilidade das pessoas e as novas formas de interação que surgem a partir das tecnologias e das novas formas de organização social. O turismo, como fenômeno complexo, não é apenas o encontro de culturas diferentes, mas também o constante movimento e troca de experiências entre pessoas, ideias e valores, que podem se transformar no processo.

Como o Turismo Transforma Economias: O Caso de Andorra e Angola

O turismo tem se consolidado como uma das atividades econômicas mais importantes para muitos países ao redor do mundo, especialmente para aqueles com recursos limitados ou características geográficas que favorecem este setor. Andorra e Angola, apesar de suas enormes diferenças em termos de localização, tamanho e recursos naturais, ilustram o impacto que o turismo pode ter no desenvolvimento econômico e na transformação social.

Andorra, um pequeno país localizado nos Pirineus entre a França e a Espanha, apresenta um modelo de turismo centrado em sua oferta de esportes de inverno, compras e turismo de natureza. Sua economia, com um PIB de 3,15 bilhões de dólares e uma população de pouco mais de 77.000 habitantes, depende fortemente do setor turístico, que é responsável por cerca de 50% do seu produto interno bruto, com 25% desse total gerado diretamente pelo turismo. A principal atratividade de Andorra reside no seu grande estoque de acomodações — 32.000 camas distribuídas em 230 estabelecimentos, majoritariamente hotéis — além de sua infraestrutura voltada para o turismo de esqui, com dois dos dez resorts de esqui mais competitivos da Europa. Andorra também se destaca pela sua acessibilidade, com a maior parte dos turistas chegando por estrada, principalmente da França e da Espanha, e um número significativo de visitantes que vêm para compras, já que o país é conhecido como um paraíso fiscal com preços atrativos.

A implementação de investimentos significativos, como o planejamento de 11 milhões de euros para o desenvolvimento de suas estações de esqui, reflete o esforço do governo para diversificar ainda mais a indústria do turismo, mitigar a sazonalidade e reduzir os impactos das mudanças climáticas. O turismo em Andorra não se limita apenas às estações de esqui, mas também inclui outras formas de lazer e entretenimento, como o trekking e a promoção de eventos culturais. O apoio do governo à criação de novas atrações e eventos, como a expansão de centros culturais e novos roteiros turísticos, como uma trilha circular de 92 km, visa expandir o mercado e oferecer alternativas o ano todo.

Por outro lado, Angola, um vasto país da África Subsaariana, está ainda nos estágios iniciais de um processo de desenvolvimento do setor turístico, depois de décadas de guerra civil que devastaram grande parte de sua infraestrutura. Embora a indústria do turismo tenha se desenvolvido lentamente desde a independência, em 1975, e a criação da primeira administração de turismo no país, as condições para um crescimento robusto ainda estão sendo moldadas. Com uma população de 32 milhões de habitantes e uma grande diversidade de paisagens naturais — desde a costa atlântica até as vastas áreas do deserto do Namibe e da floresta tropical — Angola oferece um grande potencial para o turismo de aventura e o ecoturismo.

Contudo, a infraestrutura turística do país ainda enfrenta grandes desafios. A falta de um setor de transporte eficiente, como estradas e aeroportos adequados, e a escassez de investimentos em infraestrutura de hospitalidade dificultam o crescimento do setor. Apesar dessas dificuldades, o governo angolano tem tentado melhorar o ambiente de negócios com a aprovação de planos de desenvolvimento regional que visam promover o turismo cultural, natural, de sol e praia, e de aventura. O apoio do governo à educação e qualificação no setor também é um passo importante para aumentar a competitividade e a qualidade do turismo no país.

Embora Andorra e Angola compartilhem a mesma noção de que o turismo é uma das principais fontes de receita, seus desafios e abordagens para o setor são muito diferentes. Andorra, com sua economia pequena e altamente dependente do turismo, já estabeleceu um modelo consolidado de desenvolvimento, com investimentos contínuos em infraestrutura e atratividade para turistas de alto poder aquisitivo. Angola, por sua vez, luta para superar os efeitos negativos de um passado recente de instabilidade política e econômica, mas tem um enorme potencial de crescimento devido à sua diversidade natural e cultural.

Em ambos os casos, o turismo não é apenas uma questão de números e fluxos de visitantes, mas também uma estratégia para diversificar economias, criar empregos e promover o desenvolvimento sustentável. Para Andorra, isso significa melhorar a infraestrutura de esqui e atividades de inverno e expandir o turismo cultural e de compras. Para Angola, o foco está em superar as barreiras de acesso e investir em um turismo que respeite a cultura local e as particularidades de suas diversas regiões.

A experiência de Andorra e Angola também ilustra a crescente conscientização sobre a importância de um turismo responsável e sustentável. Andorra, com sua forte dependência do turismo de massa, começa a perceber os impactos da sazonalidade e das mudanças climáticas, e por isso, aposta na diversificação de produtos turísticos. Já Angola, com suas vastas e inexploradas áreas naturais, deve equilibrar o crescimento do setor com a proteção de seus recursos e com o respeito às culturas locais, evitando a massificação do turismo e promovendo práticas mais sustentáveis.

No caso de Andorra, uma questão fundamental é a sua capacidade de se reinventar ao longo do tempo, diversificando seu mercado turístico e investindo em novos produtos que atendam à demanda do turista moderno. A adaptação às mudanças globais e a busca por soluções inovadoras será crucial para manter sua posição competitiva no cenário europeu de turismo.

Quanto a Angola, um passo crucial é criar uma política de turismo clara e sustentável, que leve em consideração as peculiaridades locais e as necessidades dos turistas. Além disso, é fundamental que o país se envolva em estratégias de formação e qualificação de recursos humanos no setor, para que seus cidadãos possam aproveitar ao máximo as oportunidades econômicas que o turismo pode oferecer.

Quem são os principais contribuintes acadêmicos na área do turismo global?

O campo do turismo é caracterizado por sua abrangência e interdisciplinaridade, refletida na diversidade dos pesquisadores e acadêmicos que nele atuam. A lista de contribuintes mencionada revela um panorama global, abrangendo instituições de prestígio distribuídas por diversos continentes e países, como Estados Unidos, Canadá, China, Brasil, Espanha, Austrália, Japão, Coreia do Sul, entre muitos outros. Esse mosaico acadêmico demonstra a complexidade do turismo enquanto objeto de estudo, que demanda múltiplas perspectivas para compreender suas dinâmicas, desafios e impactos.

A presença de universidades de diferentes contextos culturais e econômicos evidencia a necessidade de uma abordagem plural no estudo do turismo. Desde centros acadêmicos em grandes metrópoles como Los Angeles, Hong Kong e Seul até instituições em regiões menos exploradas, como Papua Nova Guiné e Seychelles, cada pesquisador traz uma contribuição única, refletindo realidades locais e globais. Essa diversidade promove um intercâmbio de conhecimento que transcende fronteiras, vital para a compreensão das transformações e tendências mundiais do setor.

Além disso, a colaboração internacional entre pesquisadores fortalece o desenvolvimento de teorias e práticas que consideram aspectos sociais, ambientais, econômicos e culturais. A diversidade dos perfis acadêmicos — desde especialistas em economia, sociologia, geografia, até administração e sustentabilidade — enriquece o campo e contribui para o avanço do turismo como disciplina consolidada e relevante para políticas públicas e estratégias empresariais.

É fundamental compreender que o turismo não é apenas uma atividade econômica ou uma prática recreativa, mas um fenômeno social complexo, que envolve relações de poder, identidade cultural, preservação ambiental e globalização. O conhecimento produzido por essa rede global de pesquisadores permite que se formulem análises críticas e soluções inovadoras para os desafios contemporâneos, como o turismo sustentável, a digitalização das experiências turísticas e a resiliência das comunidades anfitriãs.

Portanto, reconhecer a amplitude e o perfil dos principais contribuintes acadêmicos no turismo é essencial para valorizar a riqueza do debate e das pesquisas no campo. Isso também auxilia o leitor a compreender que o turismo, para ser analisado em sua totalidade, deve ser abordado por meio de múltiplos olhares, que dialogam e se complementam, fortalecendo a compreensão dos impactos e das potencialidades dessa atividade no mundo contemporâneo.

Além do que foi explicitado, é importante destacar que o turismo está intrinsecamente ligado às dinâmicas globais de mobilidade, tecnologia e sustentabilidade, fatores que moldam sua evolução e exigem constante atualização do conhecimento acadêmico. A interdisciplinaridade e a cooperação internacional são imperativos para enfrentar questões emergentes, como as mudanças climáticas, as crises sanitárias globais e as transformações culturais que afetam destinos e turistas. Compreender esse contexto é fundamental para qualquer estudo aprofundado sobre turismo e suas múltiplas facetas.