O tratamento da acne é um processo que exige paciência e consistência, pois os resultados visíveis dos tópicos podem levar de dois a três meses para aparecerem. É fundamental entender que a acne costuma apresentar fases de piora e melhora, especialmente nas primeiras semanas após iniciar ou retomar o uso dos medicamentos. Essa oscilação — geralmente de três a quatro semanas — não deve desmotivar o paciente, que precisa manter a rotina de tratamento mesmo quando parece que a pele está piorando. Muitas prescrições tópicas podem causar irritação, por isso recomenda-se o uso de limpadores e hidratantes suaves, como CeraVe ou Cetaphil, para minimizar desconfortos.

No entanto, os tratamentos tópicos têm limitações, principalmente para lesões mais profundas, que geralmente exigem abordagens adicionais. Uma preocupação comum dos pacientes é a hiperpigmentação pós-inflamatória (PIH), que indica que a acne ainda não está totalmente controlada. É crucial explicar que essa descoloração pode durar até doze meses após a resolução das lesões, e que a melhora deve ser avaliada mês a mês, não dia a dia. O controle ativo da acne é o que eventualmente eliminará essas manchas.

Para casos leves a moderados, o tratamento geralmente começa com retinoides tópicos, como a tretinoína. Embora tradicionalmente indicados para comedões não inflamatórios, eles também têm efeito contra a inflamação, beneficiando a maioria dos pacientes. A adaptação ao uso é importante, pois podem causar descamação, especialmente em áreas onde a pele se dobra. A aplicação deve ser noturna, em quantidade pequena, e acompanhada de hidratação. O peróxido de benzoíla (BPO) é eficaz contra pápulas inflamatórias, ajudando a prevenir cicatrizes, mas pode manchar roupas, exigindo cuidados na aplicação. A clindamicina tópica é especialmente indicada para acne nas costas, embora seu uso isolado não seja recomendado. Ácidos azelaico e salicílico, além de opções mais recentes como o clascoterona e a dapsone tópica, ampliam as alternativas, cada uma com indicações específicas e limitações de uso, como a necessidade de espaçar aplicações para evitar reações adversas.

Para casos moderados a graves, o uso de antibióticos orais é frequente, sempre associado a tratamentos tópicos para melhorar os resultados e evitar a resistência bacteriana. Doxiciclina é o mais comum, mas alternativas não fotossensibilizantes como cefalexina e trimetoprima-sulfametoxazol também são usadas. O espironolactona é uma opção eficaz para acne hormonal, especialmente em mulheres com síndrome dos ovários policísticos, embora tenha efeitos colaterais que devem ser monitorados, como alterações menstruais e aumento da diurese.

Nos quadros severos, a isotretinoína é o tratamento mais eficaz, com potencial curativo e redução permanente das glândulas sebáceas. O regime costuma envolver doses acumulativas de 120 a 150 mg/kg, embora doses maiores possam ser necessárias para remissões prolongadas. A isotretinoína é lipossolúvel, deve ser tomada com alimentos gordurosos (exceto algumas formulações específicas), e seu uso requer cuidados rigorosos quanto à gravidez, efeitos colaterais e fotossensibilidade. As reações adversas, como ressecamento de pele, lábios e olhos, dores musculares e alterações de humor, são comuns, mas manejáveis. Após o tratamento, procedimentos estéticos como dermoabrasão e laser podem ser considerados para cicatrizes, porém somente alguns meses depois.

Além dos tratamentos tópicos e sistêmicos, os contraceptivos orais combinados são frequentemente usados para acne hormonal, por sua capacidade de diminuir a produção de andrógenos e a atividade da 5-alfa redutase. Eles também regulam o ciclo menstrual, o que pode ser benéfico para muitas mulheres. No entanto, seus riscos — incluindo trombose, câncer e complicações cardiovasculares, principalmente em mulheres fumantes e acima de 35 anos — devem ser avaliados com cuidado antes da indicação.

É essencial compreender que o sucesso no tratamento da acne não depende apenas da prescrição correta, mas do entendimento do paciente sobre o tempo necessário para ver resultados, o manejo das expectativas quanto a possíveis efeitos colaterais e a importância da manutenção do cuidado mesmo após a melhora visível. A adesão rigorosa ao tratamento, a paciência diante das fases iniciais de piora e a colaboração ativa com o dermatologista são os pilares para alcançar a remissão duradoura da acne e a melhora da qualidade de vida.

Além disso, é importante para o leitor reconhecer que a acne é uma condição multifatorial e complexa, que envolve fatores genéticos, hormonais, ambientais e imunológicos. Portanto, o tratamento deve ser personalizado e ajustado conforme a resposta do paciente, levando em consideração não apenas a gravidade clínica, mas também aspectos emocionais e sociais associados à doença. O acompanhamento contínuo e a orientação sobre cuidados diários da pele complementam o tratamento medicamentoso, ajudando a prevenir recaídas e minimizar o impacto da acne na autoestima.

Como Diagnosticar e Manejar a Síndrome de Stevens-Johnson e Condições Relacionadas?

A Síndrome de Stevens-Johnson (SJS) e a Necrose Epidérmica Tóxica (TEN) são condições dermatológicas graves, frequentemente desencadeadas por medicamentos, e cuja identificação precoce é essencial para o manejo eficaz. A suspeita clínica deve considerar o histórico de uso de drogas, incluindo medicamentos de venda livre como anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). A presença de pródromos gripais e o comprometimento das mucosas são quase constantes e servem como indicativos importantes. A pele dolorosa, com poucas lesões alvo e mucosite acompanhada de eritema conjuntival são sinais típicos; prurido intenso, por outro lado, sugere diagnósticos alternativos.

As bolhas sobre máculas começam a surgir em torno do terceiro dia, com piora entre os dias três e seis. Caracteristicamente, o rosto, tórax, costas e ombros apresentam lesões graves, enquanto mãos e pés tendem a ficar relativamente preservados, embora possam apresentar lesões dispersas. As pernas frequentemente são poupadas, salvo a região plantar. As lesões costumam ter aspecto escuro, por vezes com aspecto alvo. O curso natural da doença apresenta melhora significativa por volta do sétimo dia e, com tratamento precoce, a reepitelização pode ocorrer em duas semanas ou menos.

A presença de sintomas relacionados à deglutição, como engasgos e regurgitação, indica possível envolvimento faríngeo, que requer atenção. O sinal de Nikolsky, em que a pele se desprende ao simples atrito, demonstra necrose ativa, sendo mais útil para direcionar o manejo do que para diagnóstico definitivo. A biópsia cutânea, preferencialmente com imunofluorescência direta, é fundamental para descartar outras patologias, como dermatite herpetiforme linear (LABD).

No manejo, o estágio da doença dita a conduta. Fases tardias, sem inflamação ativa ou dor cutânea, geralmente não demandam intervenções agressivas, especialmente se o paciente já estiver em unidade de queimados. A imunossupressão é indicada preferencialmente na fase inicial, quando há erupções cutâneas ativas. Medicamentos como etanercept, ciclosporina, corticosteroides endovenosos e imunoglobulina intravenosa (IVIG) são utilizados conforme a disponibilidade e perfil do paciente, lembrando que a IVIG isolada não é recomendada. O objetivo central do tratamento é acelerar a reepitelização, prevenindo superinfecções e complicações respiratórias secundárias à aspiração.

A antibioticoprofilaxia permanece controversa, sendo reservada para casos com alta extensão corporal afetada ou evidência clínica de infecção. Avaliação criteriosa da área corporal comprometida, mucosas e documentação adequada são essenciais para o acompanhamento. O escore SCORTEN é largamente empregado para estimar mortalidade, embora apresente limitações, especialmente em pacientes idosos.

Outras condições que mimetizam SJS, como o Eritema Multiforme (EM) maior, também requerem atenção. Este se associa mais com infecções virais, como herpes simples e micoplasma, do que com drogas, apresenta curso mais prolongado, com lesões que se desenvolvem até o oitavo dia e podem persistir por até duas semanas. As lesões são papulares, muitas vezes com prurido e bolhas menos confluentes, geralmente acometendo mãos e pés de forma mais intensa do que o tronco. A inflamação perilesional é mais evidente no EM, diferentemente da necrose total da SJS. O manejo inclui etanercept e corticosteroides, e investigação etiológica viral é necessária.

O RIME (erupção mucocutânea reativa infecciosa) é outra entidade que pode ser confundida com SJS, afetando preferencialmente pacientes jovens e caracterizando-se pela exclusividade do comprometimento mucoso, sem envolvimento cutâneo extenso.

Além dos aspectos clínicos e terapêuticos, é fundamental reconhecer as particularidades do SJS/TEN induzido por imunoterapia, cuja resposta ao tratamento pode divergir do padrão clássico, com inflamação persistente e evolução atípica.

É imprescindível que o leitor compreenda que o manejo dessas síndromes exige abordagem multidisciplinar, incluindo dermatologistas, oftalmologistas, urologistas e outros especialistas conforme a extensão do acometimento. A atenção rigorosa à hidratação, controle da dor, suporte nutricional (frequentemente via sonda nasogástrica), e prevenção de infecções secundárias são pilares do cuidado. A compreensão da fisiopatologia, dos sinais precoces e das fases evolutivas da doença é crucial para evitar complicações graves e reduzir a mortalidade.

Como Diagnosticar e Tratar Complicações Dermatológicas Relacionadas à Necrose e Vasculopatias

A necrose de pele pode ser desencadeada por uma série de condições médicas e tratamentos, e compreender suas manifestações e diagnóstico é crucial para o manejo eficaz desses casos. Entre as causas mais significativas de necrose cutânea, destacam-se reações a medicamentos, como a administração de anticoagulantes, e condições associadas a distúrbios vasculares, como a calcifilaxia, uma complicação grave em pacientes com insuficiência renal crônica.

A púrpura fulminante, uma reação vascular grave, não é uma entidade clínica isolada, mas um padrão de resposta observado em diversos contextos, como bacteremia por Pseudomonas, descolamento placentário e malignidades, especialmente em idosos. As manifestações cutâneas podem incluir bolhas e áreas necrosadas expostas, com risco elevado de complicações infecciosas. Nesses casos, a abordagem inicial inclui cuidados com as feridas, como o uso de SSD (Sulfadiazina de prata) e gazes Xeroform, aplicados uma vez ao dia. Se a pele necrosada aderir à roupa de cama, uma camada generosa de Aquaphor aplicada sobre almofadas de proteção pode ser útil. O exame infeccioso é essencial, e se houver alteração no estado mental, é indicado realizar uma ressonância magnética cerebral para avaliar possíveis infecções no sistema nervoso central, além de uma biópsia da pele, que evidenciará vasculopatia.

Em pacientes que estão em uso de warfarina, pode ocorrer necrose cutânea, geralmente dentro de uma semana após o início do tratamento. A condição é paradoxal, pois embora a paciente tenha um INR (índice normalizado internacional) supraterapêutico, o risco de trombose permanece elevado devido à diminuição dos anticoagulantes naturais, como as proteínas C e S. A suspensão abrupta da warfarina não é recomendada, pois isso pode reverter os efeitos da anticoagulação e gerar um intervalo sem proteção, aumentando o risco de trombose. Nesses casos, a heparina pode ser indicada para estabilizar a condição até que a warfarina seja ajustada de forma segura.

O diagnóstico de complicações associadas ao uso de heparina deve incluir a investigação de trombocitopenia induzida por heparina (HIT), que exige a interrupção imediata do medicamento. Além disso, pode ser necessário investigar sinais de endocardite bacteriana, uma complicação grave, cujas manifestações cutâneas incluem lesões de Janeway, nódoas de Osler e hemorragias subungueais, sendo essencial realizar uma ecocardiografia para confirmar o diagnóstico.

Outra condição frequentemente associada a distúrbios vasculares é a calcifilaxia, que, embora comumente observada em pacientes com insuficiência renal crônica, pode ocorrer também em pacientes não urêmicos. A calcifilaxia se caracteriza pelo depósito de cálcio nas paredes dos vasos sanguíneos, o que leva à isquemia e necrose dos tecidos. Os primeiros sinais incluem uma rede de eritema e pequenas úlceras, com a progressão para úlceras secas e de difícil cicatrização, tipicamente em áreas como extremidades inferiores, mama e abdômen. O diagnóstico é feito por ultrassonografia ou biópsia, sendo a ultrassonografia a melhor opção, pois permite uma avaliação menos invasiva, especialmente dos vasos de pequeno calibre na junção dermo-subcutânea. A biópsia, embora mais invasiva e dolorosa, pode ser necessária em alguns casos.

No manejo da calcifilaxia, o tratamento inicial envolve o uso de tiossulfato de sódio (STS), que age como quelante do cálcio, prevenindo a progressão da calcificação vascular. No entanto, o tratamento pode ser desafiador devido aos efeitos colaterais do STS, como náusea e acidose metabólica, sendo crucial monitorar esses efeitos, especialmente em pacientes em hemodiálise. Em casos de progressão, pode ser necessário considerar a troca de hemodiálise para diálise peritoneal. Além disso, a pentoxifilina, um agente anti-inflamatório, pode ser utilizada para melhorar o fluxo sanguíneo nas áreas afetadas.

A abordagem clínica requer atenção contínua aos níveis de cálcio, fósforo e albumina séricos, além de monitoramento dos níveis de paratormônio (PTH), particularmente em pacientes com doença renal crônica. Alterações nos níveis de fósforo, mais do que os de cálcio, são um indicador importante para o risco de calcifilaxia.

É fundamental compreender que, mesmo com o uso de tratamentos específicos, a prevenção e o diagnóstico precoce permanecem as ferramentas mais eficazes para lidar com essas complicações dermatológicas. A identificação de fatores de risco, como a transição para a diálise, uso de anticoagulantes e histórico de doenças cardíacas, pode ajudar a reduzir a incidência e a gravidade dessas condições.