A placenta desempenha um papel vital na proteção do feto contra substâncias potencialmente prejudiciais, incluindo medicamentos que a mãe possa utilizar durante a gravidez. Os transportadores placentários, como a glicoproteína-P (P-gp), as proteínas de resistência múltipla a drogas (MRPs) e as proteínas de resistência ao câncer de mama (BCRP), desempenham funções cruciais na modulação da passagem de substâncias entre a circulação materna e fetal. Estes transportadores têm a capacidade de limitar a exposição fetal a compostos xenobióticos, atuando como uma barreira que, muitas vezes, impede que substâncias tóxicas atinjam concentrações perigosas no feto.

A glicoproteína-P, por exemplo, é conhecida por bombear uma variedade de compostos, incluindo antidepressivos e metadona, da circulação fetal para a materna. Isso resulta em uma redução da concentração de tais substâncias no feto, o que pode ser um fator protetor, especialmente no caso de medicamentos que cruzam a placenta com facilidade. Essa função de transporte ativo pode ser de grande importância no contexto de tratamentos farmacológicos durante a gestação, considerando que a variação genética na expressão desses transportadores pode influenciar diretamente a exposição fetal ao medicamento.

Outro fator relevante são as MRPs, que pertencem à família das proteínas ABC e são responsáveis pelo transporte ativo de substâncias no feto. A MRP3, uma das mais expressas na placenta, facilita a transferência de compostos como agentes anticâncer, inibidores da protease do HIV e antibióticos. A localização das MRPs nas membranas apicais e basolaterais pode indicar o transporte ativo entre o feto e a mãe, com implicações para a eliminação de resíduos e produtos potencialmente tóxicos, como a bilirrubina. O estudo da expressão dessas proteínas é fundamental, já que a atividade de MRPs no feto pode alterar o equilíbrio entre a eliminação de substâncias e a manutenção da saúde fetal.

Além disso, as proteínas de resistência ao câncer de mama (BCRP) são expressas na placenta desde o primeiro trimestre e também desempenham um papel na expulsão de muitos compostos exógenos e endógenos, incluindo medicamentos anticâncer e antirretrovirais. A presença dessas proteínas na placenta sugere que elas podem ser alvos importantes para pesquisas que visam entender melhor a dinâmica entre a mãe e o feto. A BCRP também tem sido implicada na regulação da transferência de medicamentos como o metotrexato e a zidovudina, além de medicamentos usados para tratar diabetes gestacional, como o gliburide. Curiosamente, estudos mostraram que, apesar do gliburide ser um medicamento com efeitos adversos potenciais, a sua transferência para o feto é mínima, o que sugere a existência de uma interação complexa entre diferentes transportadores e suas expressões nas células da placenta.

A função da placenta vai além do transporte, envolvendo também o metabolismo de substâncias. Enzimas presentes nas membranas do retículo endoplasmático e mitocôndrias do sinciciotrofoblasto são responsáveis pela biotransformação de compostos em metabolitos, utilizando sistemas como o P450. Este sistema de enzimas, especialmente a CYP19, tem um papel crucial no metabolismo de esteroides, incluindo os necessários para a manutenção da gravidez. A CYP19 também participa da metabolização de medicamentos, como a buprenorfina, que é utilizada para tratar a dependência de opióides. Embora a buprenorfina tenha sido associada à síndrome de abstinência neonatal, o risco é considerado menor do que o do uso de metadona.

As enzimas do grupo CYP1 também desempenham um papel na biotransformação de substâncias, sendo particularmente influenciadas por fatores ambientais, como o tabagismo. A expressão da CYP1A1, por exemplo, é aumentada em mulheres grávidas que fumam, o que pode ter implicações para o desenvolvimento fetal, como o aumento do risco de baixo peso ao nascer e até mesmo defeitos congênitos. A regulação dessa enzima pode ser um ponto importante para entender como fatores externos, como o tabagismo, afetam a saúde do feto e o desenvolvimento da gravidez.

O impacto das enzimas CYP no metabolismo placentário também se reflete na modulação de medicamentos que atravessam a placenta. O metabolismo de substâncias pela CYP3A, a família mais comum de enzimas metabolizadoras de fármacos no fígado, é igualmente relevante. Sua expressão na placenta, embora menos estudada, indica que elas podem ter um papel significativo na modulação da exposição fetal a medicamentos.

É essencial que a compreensão desses sistemas de transporte e metabolização seja mais aprofundada, pois as interações entre medicamentos e transportadores podem ter um impacto direto na saúde fetal. A variabilidade genética dos transportadores pode levar a diferentes níveis de exposição a substâncias durante a gestação, o que exige um acompanhamento rigoroso do uso de medicamentos durante esse período. Além disso, a complexidade das interações entre drogas, transportadores e enzimas destaca a necessidade de estratégias mais personalizadas no tratamento de gestantes, para minimizar os riscos tanto para a mãe quanto para o feto.

Qual a Eficácia dos Anthelmínthicos em Crianças? Triclabendazol, Tiabendazol e Outras Considerações Clínicas

O tratamento com triclabendazol tem mostrado eficácia no combate a infecções parasitárias, como fasciolose e paragonimíase, em regiões endêmicas, especialmente entre as crianças. Este fármaco tem sido bem tolerado nas faixas etárias pediátricas, com poucas reações adversas relatadas. Em contraste com muitos medicamentos antiparasitários, que possuem uma gama de efeitos colaterais em crianças, o triclabendazol tem sido usado de forma segura em doses específicas. Nos Estados Unidos, sua utilização em crianças está restrita aos maiores de 6 anos devido à falta de dados adequados sobre segurança em idades mais precoces.

O tratamento com triclabendazol costuma ser bem tolerado, embora possam surgir efeitos colaterais leves e transitórios, como dor abdominal, cólicas biliares, náuseas, vômitos, febre, hepatomegalia e aumentos temporários nas enzimas hepáticas. Esses sintomas estão geralmente associados a obstruções biliares autolimitadas causadas pelos vermes hepáticos moribundos. Em doses específicas, o triclabendazol é administrado a 10 mg por kg de peso corporal em uma única dose, podendo ser repetido após duas semanas ou seis meses, dependendo da gravidade da infecção. Para casos graves de fasciolose, a OMS recomenda uma dosagem mais alta, de 20 mg por kg, administrada em duas doses separadas por 12 horas.

O tiabendazol, desenvolvido na década de 1960 como um benzimidazol anthelmíntico, foi amplamente utilizado no tratamento de várias infecções parasitárias, incluindo infecções por Strongyloides stercoralis e Trichinella spiralis. No entanto, devido à sua baixa tolerância, especialmente devido a efeitos colaterais gastrointestinais significativos, o tiabendazol foi substituído em muitos casos por medicamentos mais novos, como albendazol e mebendazol. A aprovação do tiabendazol foi descontinuada nos Estados Unidos, mas ainda é utilizado em algumas regiões do mundo.

Embora o tiabendazol continue sendo eficaz no tratamento de infecções como larvas migrantes cutâneas e visceral larva migrans, seu uso em tratamentos de rotina diminuiu devido ao perfil de efeitos adversos. Os efeitos colaterais mais comuns incluem reações gastrointestinais como náuseas, vômitos e dor abdominal, bem como reações neurológicas como tontura e fadiga. Além disso, casos raros de efeitos adversos graves, como síndrome de Stevens-Johnson, hepatite e reações alérgicas severas, têm sido documentados.

A farmacocinética do tiabendazol é relativamente complexa, uma vez que ele é metabolizado rapidamente pelo fígado e eliminado pelos rins, o que implica que deve-se ter precaução ao administrar o medicamento em pacientes com comprometimento hepático ou renal. Devido à sua alta toxicidade, o tiabendazol não é recomendado para uso em crianças com menos de 13,6 kg, e deve ser evitado em mulheres grávidas e lactantes devido aos potenciais efeitos teratogênicos observados em estudos com animais.

Em relação às interações medicamentosas, o tiabendazol pode competir com outros fármacos, como a teofilina, para os locais de metabolismo hepático, o que pode resultar em níveis séricos tóxicos. A monitorização cuidadosa das concentrações de teofilina é, portanto, essencial quando ambos os medicamentos são administrados simultaneamente.

No que diz respeito aos medicamentos mais modernos e amplamente utilizados, como o pirantel pamoato, que foi desenvolvido inicialmente para uso veterinário, este medicamento tem se mostrado eficaz no tratamento de infecções intestinais causadas por nematódeos, como a enterobiose, e é considerado um dos medicamentos essenciais listados pela OMS para o controle de helmintoses intestinais. Utilizado principalmente em programas de controle de parasitas em países da América Latina e Sudeste Asiático, o pirantel pamoato tem se tornado amplamente acessível, especialmente porque está disponível sem prescrição médica.

Embora o triclabendazol e o tiabendazol sejam importantes no tratamento de infecções parasitárias, é fundamental que os profissionais de saúde considerem o perfil de efeitos colaterais e a segurança do paciente, especialmente em crianças e populações vulneráveis. Além disso, a combinação de terapias, como o uso simultâneo de ivermectina para o tratamento de strongiloidíase disseminada, tem sido sugerida, embora os dados sobre a eficácia dessa combinação ainda sejam limitados.

É importante também considerar que, apesar da eficácia comprovada de alguns desses medicamentos, a escolha do tratamento deve ser feita com base no perfil de resistência local e nas condições clínicas do paciente. Medicamentos mais novos e menos tóxicos, como albendazol e mebendazol, geralmente são preferidos em infecções parasitárias comuns, enquanto drogas mais antigas, como tiabendazol, são usadas apenas em casos específicos ou quando alternativas mais seguras não estão disponíveis.

Polimorfismos Genéticos e Suas Implicações no Metabolismo de Medicamentos em Crianças e Adultos

A variabilidade genética nos indivíduos afeta substancialmente a farmacocinética dos medicamentos, ou seja, a forma como o corpo absorve, distribui, metaboliza e excreta as substâncias. Entre os muitos exemplos dessa variabilidade, os polimorfismos em genes responsáveis pela biotransformação de fármacos desempenham um papel crucial na resposta terapêutica e no risco de efeitos adversos. Alguns dos principais genes envolvidos nesse processo são os que codificam as enzimas do sistema de transferência de glicuronídeos (UGTs) e a N-acetiltransferase-2 (NAT2), além de outras enzimas como a tiopurina S-metiltransferase (TPMT).

Os polimorfismos no gene UGT1A4, por exemplo, têm mostrado influenciar a atividade de várias substâncias, com o alelo UGT1A42 resultando em uma atividade catalítica reduzida, enquanto o alelo UGT1A43, por outro lado, pode aumentar essa atividade. Esses polimorfismos são de especial interesse no tratamento de medicamentos como olanzapina e o 25-hidroxivitamina D3, sendo que a variante *3 está associada ao aumento da glucuronidação dessas substâncias. Contudo, a interpretação dos resultados genotípicos em relação ao fenótipo nem sempre é simples, como demonstrado pelos resultados contraditórios de estudos envolvendo lamotrigina, que dificultam uma análise clara da relação entre o genótipo e o fenótipo em crianças.

Outro exemplo relevante é o UGT1A9, cujas variantes podem influenciar a glucuronidação de substâncias como o paracetamol em recém-nascidos que recebem o medicamento por via intravenosa. Um estudo mostrou que a inserção de uma timidina extra no gene UGT1A9 está associada a uma redução de até 42% na formação do glucuronídeo de paracetamol, com implicações clínicas importantes para o tratamento pediátrico. A expressão de UGT2B17, por sua vez, mostra uma variabilidade significativa em crianças e adolescentes, sendo influenciada pelo sexo, idade e variações genéticas. Esta enzima tem um papel essencial no equilíbrio hormonal, especialmente dos andrógenos, mas a falta de estudos aprofundados sobre o impacto da variabilidade de sua atividade na metabolização de medicamentos impede uma avaliação mais precisa de seu efeito nos tratamentos pediátricos.

A NAT2 é uma das enzimas mais estudadas no contexto da farmacogenética. O polimorfismo NAT2 determina a capacidade de acetilar diversas substâncias, como as sulfonamidas, e a sua função pode ser classificada em "rápida" ou "lenta", dependendo do alelo presente. Aproximadamente 50% da população caucasiana e afro-americana tem o fenótipo de metabolizador lento, o que os coloca em maior risco para efeitos adversos relacionados a medicamentos. Em crianças, o processo de maturação do fenótipo NAT2 ocorre nos primeiros anos de vida, o que implica que recém-nascidos e lactentes apresentam predominantemente um fenótipo de metabolizadores lentos, o que pode influenciar a resposta ao tratamento com medicamentos dependentes dessa via metabólica. A utilização de medicamentos que dependem fortemente da atividade da NAT2 deve, portanto, ser realizada com cautela nos primeiros meses de vida, até que a criança atinja uma expressão genética mais estável.

A TPMT, responsável pela metilação de substâncias como a 6-mercaptopurina, desempenha um papel fundamental no tratamento de várias doenças pediátricas, incluindo leucemia linfoblástica aguda, doença inflamatória intestinal e artrite juvenil. Polimorfismos no gene TPMT podem levar a uma atividade reduzida da enzima, o que aumenta o risco de toxicidade associada ao tratamento com medicamentos que requerem a metabolização por esta via. A maioria dos indivíduos tem atividade alta de TPMT, mas cerca de 1 em 300 pessoas possui uma deficiência total ou parcial da enzima, o que pode levar a níveis elevados de metabolitos tóxicos como os nucleotídeos tioguanina. Em crianças, a expressão de TPMT apresenta variações significativas, com estudos sugerindo que em recém-nascidos, a atividade da enzima é maior do que em adultos. No entanto, esses dados podem variar conforme a população e as características individuais, como etnia e características genéticas específicas.

O entendimento desses polimorfismos genéticos é essencial para uma abordagem personalizada no tratamento pediátrico. Além da farmacogenética, é importante considerar outros fatores, como a evolução do metabolismo ao longo da infância e a interdependência entre diferentes vias metabólicas. A forma como esses polimorfismos afetam o metabolismo de medicamentos em crianças é um campo em constante evolução e exige uma abordagem cuidadosa, baseada em evidências científicas. Para um tratamento eficaz e seguro, o profissional de saúde deve sempre considerar a variabilidade genética do paciente, a idade e as características individuais, ajustando as doses de medicamentos quando necessário.