O desenvolvimento do turismo na Coreia do Sul reflete uma trajetória marcada por transformações históricas, econômicas e culturais profundas, que revelam como o país soube utilizar seus recursos naturais, históricos e culturais para construir um setor estratégico. Após os impactos da Guerra da Coreia e o longo período de pobreza que se seguiu à ocupação japonesa até 1945, o turismo sul-coreano começou a emergir como um elemento-chave da economia a partir da normalização das relações diplomáticas com o Japão em 1965 e a realização de eventos esportivos e culturais de grande porte.
A dependência inicial do turismo de visitantes japoneses começou a ser superada a partir de 2013, com a crescente importância dos turistas chineses continentais, que se tornaram o principal mercado emissor. Esse movimento se insere num contexto maior, onde eventos globais como os Jogos Asiáticos, as Olimpíadas de Verão e Inverno, e a Copa do Mundo da FIFA atraíram atenção internacional e dinamizaram o turismo, gerando receitas significativas e promovendo a imagem do país no exterior.
A participação do turismo na economia sul-coreana é substancial, representando cerca de 2,8% das indústrias do país e contribuindo com 5,3% do emprego total. A infraestrutura hoteleira e comercial, incluindo hotéis de luxo, duty-free shops, agências de viagem e centros de convenções, está consolidada e em expansão. As cidades nacionais — Seoul, Busan, Jeju, entre outras — destacam-se tanto pela preservação de patrimônios históricos, como os palácios da Dinastia Joseon e o santuário Jongmyo, quanto por seus atrativos modernos, como os distritos comerciais de Myeongdong e Gangnam, que se tornaram ícones culturais e turísticos.
Outro aspecto relevante é a promoção de nichos turísticos estratégicos pelo governo sul-coreano. Isso inclui o fomento ao turismo de K-pop, e-sports, turismo marinho e de ilhas, além do desenvolvimento de programas para turismo patrimonial e médico. A intenção é criar produtos turísticos diversificados e inovadores, capazes de manter o interesse global diante das mudanças no comportamento do consumidor. A iniciativa de posicionar Jeju como polo internacional de educação e de explorar o potencial do turismo inteligente também são exemplos dessa visão estratégica.
O avanço tecnológico e a integração da cultura pop coreana têm exercido papel fundamental na atração de turistas motivados pelo fenômeno global conhecido como “Onda Coreana”. Isso cria uma sinergia única entre cultura, entretenimento e turismo, que transcende a experiência tradicional, tornando a Coreia do Sul um destino que não apenas preserva sua história, mas também se reinventa continuamente.
Por fim, a complexidade do mercado turístico sul-coreano também se revela no contexto das companhias aéreas, onde a fusão de grandes empresas está prevista para fortalecer o setor, enquanto as companhias aéreas de baixo custo enfrentam desafios financeiros agravados pela pandemia de Covid-19. O investimento contínuo na capacitação profissional, com mais de 70 instituições de ensino dedicadas ao turismo e hospitalidade, assegura a qualidade e a sustentabilidade do crescimento do setor.
Além do que foi descrito, é fundamental compreender que o turismo sul-coreano é um exemplo de como uma nação pode articular suas múltiplas dimensões — histórica, cultural, econômica e tecnológica — para construir uma experiência turística multifacetada e resiliente. A interação entre eventos internacionais, políticas governamentais focadas em inovação e a valorização da cultura local forma um ecossistema complexo que se adapta às tendências globais sem perder a identidade. Compreender essas conexões é essencial para captar a profundidade do fenômeno turístico sul-coreano e seu impacto sobre a economia e a sociedade.
Qual é o papel e os limites dos masterplans no planejamento turístico contemporâneo?
Os masterplans de turismo surgiram nas décadas de 1960 e 1970 como resposta à crescente complexidade do desenvolvimento turístico e à necessidade de uma abordagem integrada e sistêmica. Eles se consolidaram como uma tentativa de controlar, organizar e otimizar o futuro do turismo a partir de uma sequência ordenada de eventos, abrangendo desde a definição de metas e objetivos até a formulação de estratégias, planos físicos e implementação. A ambição desses planos era clara: oferecer um modelo abrangente de gestão do destino turístico, articulando oferta e demanda, infraestrutura, acessibilidade, programação de atrações, marketing e qualificação profissional, tudo dentro de um horizonte temporal que poderia se estender por décadas.
Caracterizados por seu escopo nacional ou subnacional, os masterplans buscavam alinhar o desenvolvimento turístico às políticas públicas e às visões estatais sobre o setor, frequentemente orientadas por objetivos econômicos e sociais amplos. A lógica era integradora, tentando incorporar não apenas os impactos diretos do turismo, mas também seus efeitos indiretos e induzidos. Assim, eram concebidos como ferramentas capazes de estruturar o crescimento turístico com racionalidade, previsibilidade e coesão.
No entanto, ao longo do tempo, a eficácia dos masterplans começou a ser questionada. Críticas contundentes apontam que esses planos, muitas vezes, adotam posturas grandiosas, irrealistas e tecnocráticas, alheias às dinâmicas locais e às sensibilidades das comunidades afetadas. Enraizados em sociedades capitalistas, os masterplans tendem a ignorar que o desenvolvimento turístico cria vencedores e perdedores, e que os benefícios frequentemente não são distribuídos de maneira equitativa. A sua abordagem top-down falha em reconhecer a pluralidade de vozes e interesses presentes na sociedade, escutando apenas os atores mais influentes ou com maior poder de articulação.
Outro limite central está na rigidez estrutural dos masterplans. Planejados para ciclos longos, muitas vezes entre 10 a 20 anos, tornam-se obsoletos diante da velocidade com que as transformações tecnológicas, sociais e ambientais ocorrem. A ausência de mecanismos eficazes de monitoramento, avaliação contínua e adaptação estratégica reduz sua relevância prática. A falta de flexibilidade compromete a capacidade de resposta a desafios emergentes, como a crise climática, pandemias ou mudanças no comportamento dos viajantes.
Nas últimas décadas, observa-se uma transição clara no planejamento turístico, especialmente em países como a Áustria, onde a ênfase deslocou-se da elaboração de masterplans tradicionais para abordagens mais dinâmicas, iterativas e orientadas à sustentabilidade. A lógica da “visão de destino” — baseada na inclusão de comunidades locais, na valorização da experiência turística e no uso de ferramentas contemporâneas como Big Data e mídias sociais — vem substituindo os modelos prescritivos e centralizados. A noção de planejamento evolui, deixando de ser meramente física ou estrutural, para se tornar mais ligada à política econômica e social, com foco no envolvimento das partes interessadas e na construção de consensos.
Apesar disso, os masterplans não desapareceram completamente. Ainda são utilizados, sobretudo em contextos onde há forte atuação de agências internacionais ou de governos centrais com visão estratégica do turismo como vetor de desenvolvimento. Nessas situações, mantêm valor como estruturas iniciais de ordenamento, especialmente quando combinados com mecanismos de governança eficazes, participação social significativa e capacidade institucional de revisão contínua.
A experiência de países em desenvolvimento, como a Mauritânia, também mostra como os masterplans podem ser catalisadores importantes de investimentos, valorização do patrimônio cultural e natural, e organização do setor. No entanto, seu sucesso está diretamente relacionado à capacidade de implementação realista, ao enraizamento em contextos locais e à adaptação contínua às mudanças.
A compreensão contemporânea do planejamento turístico exige que ele seja mais do que uma projeção tecnocrática do futuro. Trata-se de um processo político e social, permeado por conflitos, negociações e construções coletivas. A eficácia de qualquer plano dependerá, em última instância, da sua capacidade de integrar múltiplos interesses, respeitar a diversidade de contextos, e operar com flexibilidade em um mundo em constante transformação.
Como a Psicologia Explica o Comportamento Turístico e a Tomada de Decisão?
Desde suas origens, a psicologia se situa na interseção entre a biologia e a cultura, buscando explicar as atividades e experiências individuais. Inicialmente, no século XIX, a psicologia científica focava na experiência consciente, com Wilhelm Wundt estabelecendo o primeiro laboratório para estudar a mente de forma sistemática. Posteriormente, no início do século XX, o foco deslocou-se para o comportamento observável e as relações entre este e o ambiente externo, com o behaviorismo dominando essa fase ao investigar processos de condicionamento e desconsiderar os processos mentais internos. Somente na segunda metade do século passado, a atenção voltou-se para os processos cognitivos, como o pensamento, as emoções e a motivação, dando origem a uma abordagem integrada que une a psicologia cognitiva com a neurociência e a teoria evolutiva.
No campo da psicologia social, o foco recai sobre atitudes, percepções e atribuições, essenciais para compreender as interações entre indivíduos e grupos, o que é particularmente relevante para o estudo do comportamento turístico. As recentes abordagens construcionistas e discursivas destacam a interdependência entre processos mentais internos e contextos externos, tornando a fronteira entre a mente individual e o mundo menos definida.
A aplicação da psicologia ao turismo teve um desenvolvimento híbrido, inicialmente influenciado por outras disciplinas como geografia humana, sociologia, marketing e economia. Estas áreas forneceram quadros conceituais e metodológicos para o estudo da tomada de decisão e do comportamento do turista, mas o olhar psicológico trouxe uma compreensão mais profunda dos processos internos que guiam escolhas e experiências.
A psicologia cognitiva, especialmente, contribuiu para desvendar como os turistas processam informações, selecionam destinos e constroem suas experiências. Mas a dimensão emocional — referida em psicologia como “afeto” — revela-se fundamental tanto para os turistas quanto para os anfitriões. As emoções influenciam diretamente a qualidade subjetiva da experiência turística e moldam comportamentos futuros. Durante uma viagem, a gama emocional pode variar amplamente, incluindo sentimentos positivos e negativos, que afetam a satisfação e a lembrança do evento.
Novas tecnologias e a diversificação dos produtos turísticos intensificaram a complexidade do processo decisório. Hoje, as decisões não são mais lineares e estáticas; evoluem e se adaptam em tempo real durante a experiência, sendo mediadas por informações acessadas instantaneamente, frequentemente via interações “peer to peer” entre turistas. Isso desafia os modelos tradicionais e demanda abordagens dinâmicas, como sistemas complexos e modelagem baseada em agentes, para tentar prever comportamentos e experiências com maior precisão.
Além disso, a construção social das decisões e a maneira como elas são comunicadas e compartilhadas em redes sociais e plataformas digitais transformam o contexto em que a psicologia do turismo se insere. Essa dimensão social amplia o entendimento sobre como fatores externos, culturais e tecnológicos influenciam as decisões individuais e coletivas.
No estudo do comportamento turístico, a psicologia concentra-se em motivação, tomada de decisão e interações sociais — entre turistas, residentes locais, guias e outros atores do setor. A motivação é um elemento chave que explica as escolhas de viagem, enquanto a qualidade das interações molda o significado da experiência turística. Esses processos, por sua vez, influenciam a satisfação e a probabilidade de repetição ou recomendação do destino.
É importante reconhecer que a psicologia do turista não se restringe à aplicação direta da psicologia geral. Trata-se de uma área interdisciplinar, que exige a adaptação e expansão dos conceitos psicológicos para contextos específicos do turismo, considerando a singularidade das experiências, a complexidade dos ambientes visitados e as múltiplas influências socioculturais.
Compreender o papel das emoções, a fluidez das decisões e a interação constante entre indivíduo e ambiente permite uma visão mais rica e realista do comportamento turístico. Isso é essencial para o desenvolvimento de políticas, práticas e produtos turísticos que não só atraiam visitantes, mas também promovam experiências significativas e sustentáveis, respeitando tanto os turistas quanto as comunidades anfitriãs.
Como medir a capacidade de carga no turismo: limites climáticos e sociais para destinos sustentáveis
A capacidade de carga, no contexto do turismo, é definida pela Organização Mundial do Turismo (OMT) como o número máximo de visitantes que um destino pode receber simultaneamente sem causar destruição ao ambiente físico, econômico, sociocultural e sem comprometer a satisfação dos visitantes. Esta definição, embora clara em sua essência, revela-se complexa na aplicação prática, pois a capacidade de carga não é uma medida única e universal, mas um conceito multifacetado que envolve diversas dimensões interrelacionadas.
Tradicionalmente, a capacidade de carga foi usada para determinar taxas ótimas de uso em áreas agrícolas, especialmente na pecuária, para evitar a degradação do recurso natural. Essa origem naturalista influenciou seu desenvolvimento nas pesquisas em turismo, onde o objetivo é evitar a deterioração do destino causada pelo excesso de visitantes. Desde os anos 1960, a capacidade de carga tem sido uma ferramenta importante para entender os impactos do turismo, especialmente diante do fenômeno contemporâneo do overtourism, que traz preocupações sociais, econômicas e ambientais significativas.
A complexidade reside na necessidade de desmembrar a capacidade de carga em diferentes tipos: física, econômica, perceptual, social, ecológica e política. A capacidade física refere-se ao uso máximo do recurso antes que ele se degrade fisicamente; a econômica, ao uso máximo antes que o turismo cause dependência excessiva ou problemas econômicos locais; a perceptual, à percepção dos turistas sobre o nível aceitável de lotação; a social, ao grau de turismo suportável pela população local sem gerar sentimentos negativos; a ecológica, ao uso máximo que não comprometa o meio ambiente; e a política, à intensidade do turismo que não provoque instabilidade social ou conflitos sobre direitos e receitas.
A mensuração da capacidade de carga, no entanto, enfrenta dificuldades práticas e conceituais. Não existe um único indicador que possa quantificar de forma objetiva todos esses aspectos, o que implica na dependência de julgamentos subjetivos e da escolha de variáveis apropriadas para cada contexto. Essa diversidade metodológica gerou a busca por abordagens alternativas, como o modelo de limites de mudanças aceitáveis, que propõe estabelecer, com a participação de stakeholders, indicadores-chave e limites a partir dos quais as mudanças seriam consideradas inaceitáveis. Essa abordagem, ao focar em indicadores qualitativos e quantitativos, desloca a ênfase da contagem pura de visitantes para a avaliação de impactos e percepção.
O conceito tradicional de capacidade de carga enfrentou limitações, especialmente na integração com discursos pós-modernos que valorizam a complexidade, a subjetividade e a diversidade de experiências e interpretações. Contudo, com o avanço da tecnologia e o crescente uso de big data e cidades inteligentes, há potencial para melhorar a coleta e análise de dados em múltiplas dimensões, favorecendo uma gestão mais precisa e dinâmica da capacidade de carga. Assim, a capacidade de carga pode evoluir para um instrumento mais eficaz na promoção do turismo sustentável, especialmente em destinos vulneráveis, como os do Caribe, onde o clima, a pressão social e a fragilidade ambiental impõem limites claros ao crescimento.
Além dos aspectos técnicos e teóricos, é fundamental compreender que a gestão da capacidade de carga envolve negociações políticas e sociais, pois está intrinsecamente ligada ao equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, a preservação ambiental e o bem-estar das comunidades locais. O turismo sustentável depende não apenas de métricas quantitativas, mas também do reconhecimento dos valores culturais, das expectativas dos residentes e visitantes, e da capacidade institucional de implementar políticas eficazes.
É imprescindível considerar que a sustentabilidade turística demanda uma visão integradora e adaptativa, capaz de incorporar as mudanças climáticas, os fluxos migratórios de turistas, as transformações socioeconômicas e as expectativas mutáveis das populações locais e globais. A capacidade de carga, portanto, não é um valor fixo, mas um conceito dinâmico que exige monitoramento contínuo, participação comunitária e flexibilidade para ajustes conforme o contexto evolui.

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