Ao longo dos últimos anos, o desenvolvimento de software passou a adotar novas estratégias de controle de exposição, com o objetivo de melhorar a implementação de novos recursos sem comprometer a experiência do usuário. Dentre essas estratégias, destacam-se o "dogfooding" e o "dark launching", ambos com vantagens e desafios próprios, mas que, quando utilizados corretamente, podem otimizar tanto a qualidade do produto quanto o processo de desenvolvimento.
O "dogfooding" se refere ao uso interno de uma versão pré-lançamento do software pelos próprios desenvolvedores e funcionários da empresa. O termo vem de "eat your own dog food" (comer sua própria ração de cachorro), e tem como premissa o princípio de que, se a equipe de desenvolvimento realmente utiliza o software que cria, ela estará mais ciente de seus problemas e necessidades. No entanto, essa prática pode apresentar alguns desafios. O primeiro deles é a falta de alinhamento entre a percepção de qualidade da equipe interna e a dos usuários finais. A equipe de desenvolvimento tende a ter expectativas mais altas do que os usuários comuns, o que pode resultar em feedbacks que priorizam problemas que, embora sejam importantes, não são urgentes. Por outro lado, os feedbacks podem ser mais escassos se os funcionários tiverem expectativas mais baixas, o que pode levar a um número de falhas não reportadas que impactariam negativamente os usuários finais.
Além disso, a utilização de versões incompletas ou em fase de teste pode gerar uma percepção de qualidade distorcida, onde os membros da equipe acabam por se acostumar com problemas que os usuários, ao experimentar o produto, não aceitariam tão facilmente. Em alguns casos, o próprio uso constante do software pode levar à tolerância a falhas que, para os usuários, seriam inaceitáveis, prejudicando a eficácia do processo de testes.
O "dark launching", por sua vez, surge como uma variante mais estratégica e, em muitos casos, mais eficaz do que o "dogfooding". Em vez de expor os usuários a uma versão incompleta do software, o "dark launching" permite que novos recursos sejam introduzidos no ambiente de produção, mas de maneira invisível para os usuários. A estratégia envolve ativar o código sem que o usuário perceba qualquer mudança na interface ou funcionalidade. Um exemplo clássico de "dark launch" ocorreu com a introdução do Facebook Chat, em 2008, quando a empresa implementou o novo recurso de chat, mas sem tornar visível o elemento da interface, permitindo testar a funcionalidade em larga escala sem afetar a experiência do usuário. Esse método permite que os desenvolvedores monitorem o desempenho e identifiquem problemas antes de tornar o recurso acessível ao público geral.
Entretanto, a prática de "dark launching" não é isenta de desafios. O principal deles é que os usuários podem interagir com os novos recursos de maneira diferente do que os desenvolvedores preveem. Isso pode resultar em comportamentos inesperados ou falhas que só se manifestam quando o recurso é finalmente exposto ao público. Esse método, portanto, geralmente é combinado com um "staged rollout", no qual o lançamento do recurso é gradual, permitindo que os desenvolvedores ajustem o produto com base no feedback de um número restrito de usuários antes de expandir para todos.
O uso do "dark launching" pode ser particularmente eficaz em ambientes DevOps, onde a automação e a infraestrutura como código são essenciais para o sucesso da operação. Em um cenário DevOps, as equipes de desenvolvimento têm acesso a ambientes de produção virtualizados, que permitem testar e iterar de maneira rápida e eficiente. As mudanças no ambiente de produção podem ser feitas de forma controlada e escalável, o que permite que a introdução de novos recursos seja mais ágil e menos arriscada.
A evolução das plataformas também tem um impacto profundo na maneira como os testes são realizados. A transição para ambientes virtuais e o uso de containers e cloud computing alteraram a maneira como os desenvolvedores lidam com os testes de software. Ferramentas como "Infrastructure as Code" (IaC) possibilitaram a criação e configuração de ambientes de desenvolvimento de forma automatizada e repetível, permitindo que os desenvolvedores construam ambientes de produção em suas próprias máquinas. Isso não só facilita a criação de ambientes mais próximos do ambiente real de produção, mas também reduz a probabilidade de erros humanos, tornando o processo de teste mais eficiente e seguro.
Ao mesmo tempo, a adoção de ferramentas de gerenciamento de configuração, como Puppet, Chef, Ansible e SaltStack, tem permitido que as equipes de desenvolvimento gerenciem de forma mais eficiente a infraestrutura e as configurações do sistema, garantindo que as mudanças sejam feitas de maneira controlada e sem prejudicar a estabilidade do sistema. O uso dessas ferramentas possibilita que os desenvolvedores implementem alterações com um nível de confiança maior, sabendo que cada mudança foi testada e validada antes de ser aplicada ao ambiente de produção.
Por fim, é importante compreender que, no contexto atual do desenvolvimento de software, as equipes devem ser capazes de realizar testes contínuos e em tempo real, utilizando todas as ferramentas e práticas de que dispõem, para garantir que os novos recursos atendam às necessidades dos usuários sem comprometer a qualidade do produto. Ao adotar estratégias como o "dogfooding" e o "dark launching", juntamente com a automação e a infraestrutura moderna, as empresas podem acelerar o desenvolvimento de novos recursos enquanto garantem a confiabilidade e a segurança de seus sistemas.
Como o Gerenciamento de Configuração e Infraestrutura como Código Facilitam a Automação de Processos
Quando se trata de automação de infraestrutura, o gerenciamento de configuração é uma das práticas centrais que permite que equipes de TI mantenham ambientes de servidores, aplicativos e sistemas operacionais consistentes e atualizados. Ferramentas como Puppet, Chef, Ansible e SaltStack são essenciais nesse processo, cada uma oferecendo uma abordagem única para implementar e gerenciar a infraestrutura como código (IaC). Estas ferramentas não apenas reduzem a sobrecarga operacional, mas também aumentam a confiabilidade, a segurança e a escalabilidade dos sistemas.
O gerenciamento de configuração é crucial para manter um ciclo de vida controlado e eficiente da infraestrutura. A utilização dessas ferramentas ajuda a automatizar tarefas como instalação de pacotes, atualização de softwares, monitoramento de serviços e muito mais. Além disso, garante que as configurações aplicadas sejam sempre as mesmas em todos os servidores, minimizando a possibilidade de erros humanos. Embora o conceito de "infraestrutura como código" (IaC) tenha se tornado um padrão para muitas organizações, é fundamental entender as diferenças e as características específicas de cada ferramenta.
Puppet, por exemplo, utiliza scripts chamados manifests, escritos em Ruby e com a extensão de arquivo .pp. Esses manifests são agrupados em módulos, que ajudam a organizar o código. Um exemplo simples de um manifesto do Puppet para instalar o Apache seria a execução de comandos para atualizar pacotes, instalar o Apache2 e garantir que o serviço esteja em execução. A arquitetura do Puppet é baseada em um modelo cliente-servidor, no qual o mestre emite instruções para os agentes instalados nos servidores. Isso permite uma administração centralizada e eficaz.
Já o Chef se baseia em receitas, que também são escritas em Ruby e armazenadas com a extensão .rb. Cada receita pode ser agrupada em um cookbook. O Chef segue um modelo similar ao Puppet, mas com a flexibilidade de operar em modos cliente-servidor ou stand-alone (chef-solo). O script do Chef para instalar o Apache, por exemplo, definiria uma lista de tarefas e configurações, especificando os pacotes a serem instalados e seus parâmetros, como portas e protocolos.
Ansible, por outro lado, utiliza playbooks escritos em YAML, um formato de texto mais simples e legível. Diferentemente do Puppet e do Chef, o Ansible não necessita de um servidor dedicado para funcionar, pois pode ser executado a partir de um único nó usando SSH para se comunicar com os servidores remotos. A simplicidade do Ansible está em sua capacidade de executar tarefas de forma direta e eficiente, sem necessidade de agentes ou dependências complexas, o que o torna particularmente rápido e fácil de configurar.
SaltStack, escrito em Python, é uma ferramenta que oferece a possibilidade de utilizar diferentes tipos de módulos para gerenciar configurações. Através de módulos de estado, é possível garantir que a infraestrutura esteja sempre em conformidade com o que foi especificado. SaltStack também adota a arquitetura cliente-servidor, conhecida como master e minion, o que permite uma execução eficiente e controlada das tarefas. A configuração do Apache no SaltStack, por exemplo, seria declarada em um arquivo com a extensão .sls, detalhando o estado desejado dos pacotes e serviços.
Embora essas ferramentas apresentem variações em termos de sintaxe, arquitetura e flexibilidade, todas elas visam facilitar o gerenciamento de sistemas complexos. A escolha da ferramenta depende das necessidades específicas de cada organização, levando em consideração fatores como a escala do sistema, a facilidade de implementação e a capacidade de automação em diferentes cenários.
Além das diferenças de sintaxe e arquitetura, outra distinção importante entre essas ferramentas é a maneira como elas lidam com a "infraestrutura como código". Enquanto o Puppet e o Chef adotam uma abordagem mais declarativa, onde se especifica o que deve ser feito e a ferramenta se encarrega de como fazer, o Ansible tende a ser mais procedural, com uma sequência de comandos claros e diretos. SaltStack oferece um meio-termo, com sua flexibilidade na escolha da linguagem e na definição de estados.
Outro aspecto essencial que deve ser considerado é o impacto da automação no gerenciamento de containers. O conceito de containers, como o Docker, revolucionou a maneira como as equipes gerenciam a infraestrutura. Containers são uma forma de virtualização a nível de sistema operacional, permitindo que várias instâncias de um aplicativo sejam executadas de maneira isolada, sem a sobrecarga dos tradicionais ambientes virtuais baseados em máquinas físicas. Diferente das máquinas virtuais, que contêm sistemas operacionais completos, os containers compartilham o mesmo núcleo do sistema operacional, o que os torna mais leves, rápidos e fáceis de implantar.
Ferramentas de gerenciamento de configuração como Puppet, Chef, Ansible e SaltStack desempenham um papel importante na automação e orquestração de containers. Elas podem ser utilizadas para configurar e manter containers em diferentes ambientes, garantindo que os aplicativos sejam executados de maneira consistente, seja em desenvolvimento, teste ou produção.
É importante compreender que a escolha de uma ferramenta de gerenciamento de configuração não deve ser feita apenas com base nas diferenças técnicas entre elas, mas também levando em consideração a cultura da equipe e o tipo de infraestrutura que se deseja implementar. Em alguns casos, uma ferramenta pode ser mais adequada para um determinado ambiente, enquanto em outros, outra ferramenta pode oferecer maior flexibilidade ou facilidade de uso.
Ao adotar qualquer uma dessas ferramentas, as equipes devem também estar atentas à evolução do ecossistema de infraestrutura como código e automação. Novas funcionalidades, integrações com outras tecnologias, e aprimoramentos na capacidade de gerenciar diferentes tipos de recursos (como containers ou microservices) podem ser determinantes na escolha da ferramenta certa para cada organização.
Como Definir uma Estratégia de Testes Eficaz em um Ambiente DevOps?
A definição de uma estratégia de testes em um ambiente DevOps pode parecer desafiadora, dado o grande número de práticas disponíveis e a pressão para liberar versões de software com maior frequência. Em muitas organizações, não se adota um único conjunto de práticas para todos os casos. Ao invés disso, as equipes de desenvolvimento e operações escolhem um conjunto de práticas que atendem melhor às suas necessidades específicas, levando em consideração a realidade de cada organização.
Em um contexto onde se busca uma cadência mais regular de lançamentos, a avaliação contínua do produto por meio de testes permanece essencial. Contudo, a natureza desses testes também precisa evoluir, alinhando-se à frequência das liberações. O feedback rápido se torna um elemento crucial, e ele só pode ser alcançado se houver canais de comunicação bem estabelecidos entre as equipes de desenvolvimento e operações. DevOps propõe uma visão além da equipe de desenvolvimento, o que coloca à prova a forma como obtemos e utilizamos o feedback sobre nossos produtos. Se conseguirmos obter um feedback rápido e enriquecido da equipe de operações, como isso impacta a necessidade de testes antes da liberação?
Jerry Weinberg afirmou que “qualidade é valor para alguém”. Esse conceito é fundamental, pois, em última instância, quem mais importa na avaliação de qualidade do produto é o usuário. Se for possível permitir que o próprio usuário realize testes, é possível obter uma opinião direta sobre a qualidade do produto, vinda do principal stakeholder. Essa abordagem pode ser difícil de aceitar para o profissional de testes, especialmente aquele que já foi considerado a "voz do usuário" dentro da equipe de desenvolvimento. Por outro lado, o objetivo é sempre liberar um produto no qual se tenha confiança. Liberar constantemente um software com problemas evidentes, mesmo que para um pequeno grupo de usuários, pode prejudicar a reputação da organização. O foco deve ser construir soluções que atendam às expectativas dos usuários, de modo que o feedback deles seja sobre o valor do produto, e não sobre seus problemas. Nesse contexto, a automação de testes surge como uma solução eficaz para garantir a qualidade do produto.
A automação pode ser mais ágil do que a checagem manual repetitiva, mas seu custo de desenvolvimento e manutenção não pode ser ignorado. Quando a velocidade de lançamento é uma prioridade, pode não ser vantajoso investir tanto tempo na criação de automações de testes pré-lançamento como se fazia no passado. A estratégia de automação em um ambiente DevOps deve ser pragmática. Deve-se ter automação suficiente para apoiar a tomada de decisão sobre o lançamento, sem que ela se torne um obstáculo para o processo.
Para determinar os detalhes de uma estratégia de testes em DevOps para sua organização, é essencial abordar o risco de maneira mais ampla, repensar a pirâmide de testes, e avaliar o papel do tester, que está em constante transformação. A documentação da estratégia de testes, bem como a adaptação dos processos à realidade da equipe, são peças fundamentais nesse processo.
É comum ouvir a frase “todos os testes são baseados em risco” no desenvolvimento de software. No entanto, conversas focadas especificamente no risco podem ser relativamente raras. Muitas vezes, assumimos que sabemos quais são os riscos e que compartilhamos as mesmas opiniões sobre eles, criando assim uma oportunidade para erros. Quando nossas suposições estão erradas, decisões equivocadas podem ser tomadas, afetando não apenas os testes, mas também o próprio produto. A falta de uma avaliação clara e compartilhada sobre os riscos pode gerar discussões intermináveis sobre a priorização de tarefas. Em processos iterativos como o DevOps, essas discussões sobre risco precisam ser ativamente cultivadas. Realizar workshops regulares sobre risco pode ser uma excelente maneira de alinhar e confirmar o entendimento de todos sobre as prioridades de testes.
No contexto do DevOps, a frequência das liberações aumenta, o que amplia as oportunidades de surgirem problemas, embora o tamanho das mudanças seja, em tese, menor, o que possibilita localizar e corrigir falhas mais rapidamente. Porém, é importante entender até que ponto a organização está disposta a tolerar problemas em produção. Embora ninguém goste quando algo dá errado, uma reflexão mais profunda pode revelar que, na prática, as pessoas estão dispostas a aceitar diversos tipos de falhas, desde que elas sejam rápidas de resolver. É nesse momento que se torna necessário fazer uma avaliação realista do apetite por risco de cada equipe, ajudando a moldar a estratégia de testes de acordo com a aceitação de problemas em produção.
Uma técnica útil para abordar o risco de forma interativa em workshops é a utilização de questionários adaptados que ajudem os participantes a refletir sobre os níveis de rigor nos testes. Quando se pergunta às equipes onde acham que o produto se encontra no que diz respeito ao rigor dos testes, as respostas podem revelar as opiniões de cada um sobre a qualidade atual e sobre como desejam que os testes evoluam no futuro. Essa abordagem facilita a identificação de divergências nas percepções de risco e ajuda a iniciar discussões produtivas sobre como melhorar as práticas de testes.
Além disso, é essencial entender os tipos de riscos específicos que podem surgir durante o desenvolvimento e a liberação do software. Ao identificar e documentar esses riscos, é possível priorizá-los e elaborar estratégias para mitigar os mais críticos. Para garantir uma visão abrangente sobre os riscos, é recomendável comparar as conclusões com fontes externas, como o modelo de teste baseado em risco heurístico de James Bach. Esse tipo de abordagem proporciona uma visão holística, que leva em conta a diversidade de perspectivas e áreas de risco, como funcionalidade, compatibilidade, segurança, desempenho e outros.
Por fim, ao realizar um workshop de risco, é possível obter uma lista de riscos detalhada, que pode ser classificada por ordem de importância. A partir dessa lista, a equipe pode traçar um plano de mitigação dos riscos mais significativos, criando um backlog de riscos priorizado. Esse processo é fundamental para criar um ambiente de desenvolvimento ágil e com um ciclo de vida de software mais seguro e previsível.

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