Os medicamentos administrados via oral passam pelo efeito de primeira passagem, o que significa que eles são rapidamente metabolizados ou alterados ao atravessar a mucosa intestinal ou o fígado após a absorção. Dessa forma, o composto original é encontrado em concentrações mais baixas na circulação sistêmica em comparação com a administração intravenosa, enquanto os metabólitos se tornam a forma predominante do fármaco circulante. Exemplos de medicamentos que apresentam alta extração incluem lidocaína, propranolol, ácido acetilsalicílico e isoproterenol. Por outro lado, fármacos com limitação de capacidade exibem baixas taxas de extração (<20%) e baixa depuração metabólica intrínseca. A depuração hepática depende do grau de captação hepática e metabolismo, sendo independente do fluxo sanguíneo hepático.
Fármacos limitados pela capacidade podem ser subdivididos em dois grupos: os sensíveis ao vínculo com proteínas e os insensíveis ao vínculo. No caso dos medicamentos sensíveis ao vínculo, como a clindamicina, a taxa de extração se aproxima da concentração do fármaco livre (E = fB). Assim, fatores que aumentam a fração do fármaco livre, como a diminuição da ligação a proteínas plasmáticas, aumentam a depuração hepática. Por outro lado, medicamentos insensíveis ao vínculo, como o cloranfenicol, exibem taxas de extração muito menores do que a do fármaco livre, o que implica que a depuração hepática depende exclusivamente da depuração intrínseca, independentemente da ligação proteica.
Mudanças ontogenéticas e patofisiológicas no fluxo sanguíneo hepático, na tensão de oxigênio portal, nas alterações do vínculo proteico e nas atividades das enzimas metabolizadoras afetam os processos associados à depuração hepática. Durante a infância, mudanças significativas nos processos fisiológicos e bioquímicos que regem a disposição dos medicamentos ocorrem, com destaque para o sistema enzimático do citocromo P-450 (fase I) e a conjugação (fase II), que são discutidos de forma mais detalhada no Capítulo 4.
A eliminação dos medicamentos geralmente ocorre pelos rins, mas, em casos mais raros, também pode ocorrer por exalação ou excreção biliar. A excreção renal depende não apenas da filtração glomerular, mas também da reabsorção tubular e secreção tubular. A quantidade de fármaco eliminada é influenciada pela extensão da ligação às proteínas e pelo fluxo plasmático renal. Caso este último permaneça constante, uma maior ligação proteica resulta em uma menor fração filtrada. A maturação da função renal e seus fatores covariantes no que tange à depuração do fármaco são abordados no Capítulo 12.
A farmacodinâmica no período neonatal não visa atingir um perfil de concentração-tempo específico, mas sim tratar ou prevenir uma doença ou risco específico, evitando efeitos colaterais desproporcionais. A suposição de que uma exposição sistêmica semelhante àquela associada à ação desejada em adultos produziria uma resposta similar em neonatos frequentemente se revela equivocada. A principal causa dessa variabilidade refere-se às diferenças na farmacocinética (PK), mas, além disso, diferenças na fisiologia neonatal também podem gerar variações na farmacodinâmica (PD) populacional. Há uma escassez de informações sobre como o desenvolvimento humano e o crescimento, em conjunto com a presença de doenças, impactam a farmacodinâmica. Tais diferenças podem resultar em variações na eficácia, potência ou toxicidade, pois mudanças no funcionamento e na expressão dos receptores, bem como no status da doença, podem alterar a resposta a uma dada concentração de fármaco.
Talvez o maior obstáculo e desafio ao caracterizar os aspectos farmacodinâmicos do desenvolvimento seja a medição dos efeitos dos medicamentos, utilizando indicadores válidos de resultados ou biomarcadores.
Os recém-nascidos apresentam diferenças relevantes na disposição de medicamentos em comparação aos adultos em todos os processos farmacocinéticos. Além da idade, fatores fisiopatológicos também contribuem para a variabilidade na disposição dos medicamentos. O foco deste capítulo foi, principalmente, a absorção e distribuição, ilustrando sua relevância para a farmacoterapia neonatal.
O conceito de farmacocinética, quando aplicado à população neonatal, exige uma adaptação dos modelos de dosagem convencionais, levando em conta o processo de maturação dos órgãos envolvidos na metabolização e eliminação dos fármacos. Além disso, o impacto da modulação do metabolismo, que ocorre de forma distinta em neonatos, também não pode ser negligenciado, visto que pode alterar significativamente a eficácia terapêutica e a segurança do tratamento.
Ainda mais crucial, é compreender que os neonatos não devem ser tratados com a mesma abordagem terapêutica utilizada em adultos. O cuidado na escolha das substâncias e na definição das doses para esse grupo etário é fundamental, pois qualquer erro pode resultar em complicações severas, dado que seu sistema fisiológico é imaturo e pode reagir de maneira imprevisível. Dessa forma, o entendimento profundo da farmacocinética e farmacodinâmica durante o desenvolvimento neonatal é indispensável para a condução adequada da terapêutica medicamentosa.
Como a Monitorização Terapêutica de Medicamentos Pode Revolucionar o Tratamento Pediátrico
A monitorização terapêutica de medicamentos (TDM) tem se mostrado uma ferramenta essencial na prática médica, especialmente em pediatria, onde a precisão no ajuste de dosagens pode ser crucial para o sucesso do tratamento e a segurança do paciente. Embora o conceito de TDM não seja novo, sua aplicação e evolução nas últimas décadas têm transformado significativamente a abordagem de muitos tratamentos pediátricos, particularmente em condições crônicas, doenças graves e no uso de medicamentos com margens terapêuticas estreitas, como os anticonvulsivantes.
Um dos maiores desafios na pediatria é a enorme variabilidade fisiológica entre os pacientes, que muitas vezes se traduz em uma diferença considerável na absorção, distribuição, metabolização e excreção dos medicamentos. Isso é ainda mais complexo em recém-nascidos e lactentes, cujas funções fisiológicas ainda estão em desenvolvimento. Essa variabilidade pode levar a respostas inesperadas ao tratamento, com risco de toxicidade ou falta de eficácia. A TDM, ao permitir a medição precisa dos níveis plasmáticos dos fármacos, ajuda os médicos a ajustar a dosagem de forma mais personalizada, melhorando o controle da doença e minimizando os efeitos adversos.
A importância da TDM não pode ser subestimada quando se fala em medicamentos como os anticonvulsivantes, cujas concentrações no sangue precisam ser mantidas dentro de uma faixa terapêutica estreita. O monitoramento regular dessas concentrações garante que o paciente esteja recebendo o tratamento ideal, evitando tanto subdosagem quanto intoxicação. Em crianças com epilepsia, por exemplo, a observância da adesão ao tratamento pode ser um desafio significativo, e a TDM pode oferecer dados críticos sobre o cumprimento do regime terapêutico e a eficácia do medicamento.
Além disso, a TDM não se limita ao acompanhamento de fármacos conhecidos. Em tratamentos complexos, como o transplante de órgãos, onde os imunossupressores são empregados para evitar a rejeição, o monitoramento rigoroso dos níveis de medicamentos como o micofenolato é fundamental para evitar efeitos adversos graves. Em pediatria, isso é particularmente delicado, pois o desenvolvimento renal e hepático das crianças interfere diretamente na forma como esses medicamentos são processados no corpo.
Entretanto, a aplicação de TDM em pediatria apresenta desafios adicionais. A escassez de estudos sobre farmacocinética pediátrica e a falta de modelos padronizados para prever as concentrações sanguíneas de medicamentos em diferentes faixas etárias tornam a implementação da TDM ainda mais complexa. Modelos farmacocinéticos baseados em dados populacionais têm sido fundamentais para superar essas limitações. Esses modelos permitem prever com maior precisão como um fármaco será processado no corpo de uma criança com base em parâmetros como peso, idade gestacional e maturação dos órgãos. Tais abordagens são essenciais para otimizar os regimes de dosagem, especialmente em recém-nascidos e crianças pequenas, cujos processos fisiológicos variam muito.
Os avanços no uso de TDM também estão sendo impulsionados pela tecnologia. O desenvolvimento de softwares e sistemas de modelagem que utilizam algoritmos de farmacocinética e farmacodinâmica está tornando o processo de ajuste de dosagem mais rápido e preciso. A farmacometria, que utiliza simulações para prever os efeitos de diferentes dosagens, está ganhando destaque, tornando-se uma ferramenta indispensável na farmacologia pediátrica. A integração desses modelos com a TDM oferece uma abordagem robusta para o ajuste de tratamentos, promovendo a personalização da terapia e melhorando os resultados clínicos.
Além disso, a TDM não deve ser vista apenas como uma ferramenta de monitoramento, mas também como um meio de promover a educação dos pais e cuidadores. A adesão ao tratamento é um fator crítico em muitas condições pediátricas, e a TDM pode ajudar a evidenciar o impacto real das decisões terapêuticas. Quando os níveis plasmáticos dos medicamentos são ajustados com base em monitoramento contínuo, os responsáveis pelos pacientes podem ver de forma clara o efeito de uma dosagem otimizada, o que pode contribuir para um maior comprometimento com o tratamento.
É essencial que os profissionais de saúde compreendam as nuances da farmacocinética pediátrica, pois a diferenciação entre as faixas etárias é crucial para uma dosagem eficaz. Crianças não são simplesmente adultos em miniatura, e os neonatos, em particular, possuem características fisiológicas únicas que exigem abordagens específicas para garantir a segurança e a eficácia do tratamento medicamentoso. O conhecimento detalhado do desenvolvimento farmacocinético e farmacodinâmico em diferentes estágios de crescimento é a chave para um tratamento bem-sucedido.
Além disso, é importante lembrar que, apesar de todas as vantagens que a TDM pode oferecer, sua implementação deve ser feita com cautela. O custo dos testes, a necessidade de formação contínua de profissionais e a falta de infraestrutura em algumas instituições de saúde são obstáculos que ainda precisam ser superados para garantir que todos os pacientes pediátricos tenham acesso a esse tipo de monitoramento. A conscientização sobre esses desafios, assim como a busca por soluções inovadoras e acessíveis, é crucial para expandir o uso da TDM na pediatria.

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