A integração de formas diferenciais em variedades diferenciáveis constitui uma das áreas mais fascinantes da geometria diferencial, especialmente quando lidamos com a interação de campos vetoriais e estruturas métricas, como a métrica de Riemann. Em particular, a compreensão do comportamento de um campo vetorial sobre uma subvariedade e a ligação entre a orientação da variedade e as propriedades dos fluxos de vetores são essenciais para o entendimento de como a massa ou carga se propaga através de um sistema dinâmico.

Seja w1(p),w2(p),u(p)w_1(p), w_2(p), u(p) uma base positiva de TpR3T_pR^3, então u(p)u(p) é ortogonal a w1(p)w_1(p) e w2(p)w_2(p). Isso implica que a normal positiva em UU é dada pela equação (2.7). A propriedade de que w1×w2=vEGF2w_1 \times w_2 = v \sqrt{EG - F^2} em UU segue diretamente do exemplo (XI.5.3(f)), como observado na seção anterior. Este resultado é um exemplo claro de como a integração de formas diferenciais pode ser aplicada na análise de fluxos em variedades, permitindo entender as dinâmicas que regem as mudanças em sistemas físicos.

Quando consideramos uma subvariedade MM de uma variedade NN, a situação torna-se mais interessante. Um campo vetorial vv de NN ao longo de MM é uma aplicação v:MTNv : M \rightarrow TN, tal que v(p)TpNv(p) \in T_pN para pMp \in M. Importante notar que v(p)v(p) não precisa ser um vetor tangente a MM, ou seja, o campo vv nem sempre é um campo vetorial sobre MM. Para vv ser considerado um campo vetorial suave de NN ao longo de MM, deve satisfazer condições de continuidade e suavidade em relação às coordenadas locais que descrevem as variedades.

Em uma variedade riemanniana (N,,)(N, \langle \cdot, \cdot \rangle), se MM for uma hipersuperfície orientada, existe exatamente um campo vetorial suave v=vMv = v_M de NN ao longo de MM, com as seguintes propriedades:

  • v(p)TpMv(p) \in T_pM para pMp \in M;

  • v(p)=1|v(p)| = 1 para todo pMp \in M;

  • Se (v1,,vm)(v_1, \dots, v_m) é uma base positiva de TpMT_pM, então (v(p),v1,,vm)(v(p), v_1, \dots, v_m) é uma base positiva de TpNT_pN.

Esse campo vv, conhecido como normal positiva de MM, é crucial para a definição de fluxos através de uma superfície orientada, especialmente quando se deseja calcular o fluxo de um campo vetorial através de uma hipersuperfície em uma variedade riemanniana.

A ideia do fluxo de um campo vetorial através de uma superfície ou hipersuperfície envolve a medição da quantidade de "massa" ou "carga" que passa através de uma região dada em um intervalo de tempo. Consideremos um elemento de área vetorial dFxdF_x anexado ao ponto xx em MM. O fluido que flui para fora dessa área, na direção da normal positiva, pode ser descrito em termos de um cilindro inclinado com base dFxdF_x e altura proporcional ao produto escalar (v(x,t)vF(x))(v(x,t) | v_F(x)). Esse modelo é útil para descrever fluxos em sistemas físicos, onde o transporte de massa ou carga é relevante para a dinâmica do sistema.

Mais formalmente, o fluxo de um campo vetorial vv através de uma hipersuperfície MM é dado pela integral do produto escalar (vv)(v | v) ao longo de MM, o que especifica a taxa de variação da quantidade de massa (ou carga) que sai de MM em um dado momento tt. Este tipo de integração tem amplas aplicações, desde a modelagem de fluidos até a análise de campos eletromagnéticos em física.

Quando se lida com fluxos em variedades pseudo-Riemannianas, a situação é análoga, mas com algumas modificações devido à assinatura da métrica. Por exemplo, se (N,g)(N, g) é uma variedade pseudo-Riemanniana e MM é uma hipersuperfície de NN, o fluxo de um campo vetorial vv através de MM pode ser descrito pela integral do campo vetorial sobre MM, desde que a integral seja bem definida. Esse tipo de fluxos é fundamental em muitas áreas da física teórica, como a relatividade geral, onde o estudo de fluxos de energia e matéria é central.

Esses conceitos também estão intimamente ligados ao teorema da transformação para a integral de Lebesgue. O teorema garante que, se ff é uma difeomorfismo orientador entre MM e NN, então uma forma nn-dimensional uu é integrável em NN se e somente se fuf^* u é integrável em MM. Esse teorema fornece a base para a equivalência entre integrais em diferentes coordenadas e é fundamental para a realização de cálculos práticos em geometria diferencial.

É importante destacar que o estudo da integração de formas diferenciais e dos fluxos de campos vetoriais sobre variedades não é apenas uma questão teórica. As aplicações práticas desses conceitos são vastas, abrangendo desde a modelagem de fenômenos físicos como o fluxo de fluídos e o transporte de carga, até o entendimento de estruturas geométricas complexas que surgem em várias áreas da matemática e da física.

Como Aplicar o Teorema de Fubini para Formas Diferenciais e Integração em Variedades

O m-forma w(,q)(b1,,bn)w(\cdot, q)(b_1, \dots, b_n) é integrável sobre MM para cada tupla (b1,,bn)(b_1, \dots, b_n) de vetores em TqNT_qN. Neste contexto, a forma yw(,q):=(b1,,bn)Jw(,q)(b1,,bn)y w(\cdot, q) := (b_1, \dots, b_n) J' w(\cdot, q)(b_1, \dots, b_n) pertence a ΛnTN\Lambda^n T^*N. Este desenvolvimento leva a uma analogia útil do Teorema de Fubini para formas diferenciais.

Suponhamos que ww seja uma ££-forma integrável sobre LL. As três afirmações seguintes são válidas: (i) w(p,)w(p, \cdot) é integrável sobre NN para XMX_M-quase todo pMp \in M, e w(,q)w(\cdot, q) é integrável sobre MM para XNX_N-quase todo qNq \in N; (ii) A m-forma yw:=pyw(p,)y w := p \cdot \wedge y w(p, \cdot), que é definida XMX_M-a.e., é integrável sobre MM, e a n-forma yw:=qyw(,q)y w := q \cdot \wedge y w(\cdot, q), definida XNX_N-a.e., é integrável sobre NN.

A prova pode ser desenvolvida da seguinte maneira. Considere (v,U)(v, U) como uma carta positiva de MM com v=(x1,,xm)v = (x_1, \dots, x_m), e (v^,V)(\hat{v}, V) como uma carta positiva de NN com v^=(y1,,yn)\hat{v} = (y_1, \dots, y_n). Assim, (x,W):=(V×V^,U×V)(x, W) := (V \times \hat{V}, U \times V) é uma carta produto positiva de LL. Supondo que w:=adx1dxmdy1dynw := a dx_1 \wedge \dots \wedge dx_m \wedge dy_1 \wedge \dots \wedge dy_n seja integrável sobre WW, então xax^* a pertence a L1(V(U)×V^(V),Xm+n)L^1(V(U) \times \hat{V}(V), X_{m+n}), o que segue diretamente do Teorema X.6.9. A partir daí, podemos aplicar a condição de integrabilidade, obtendo que xa(x,)x^* a(x, \cdot) pertence a L1(V^,Xn)L^1(\hat{V}, X_n) para XMX_M-quase todo xv(U)x \in v(U), e que a integral dupla sobre os espaços resultantes é válida.

Em outras palavras, para (p,q)U×V(p, q) \in U \times V e v1,,vmTpUv_1, \dots, v_m \in T_pU, segue-se que w(p,)(v1,,vm)=a(p,)dx1dxmdy1dyn(v1,,vm,,,)=a(p)a(p,)dy1dynw(p, \cdot)(v_1, \dots, v_m) = a(p, \cdot) dx_1 \wedge \dots \wedge dx_m \wedge dy_1 \wedge \dots \wedge dy_n(v_1, \dots, v_m, \cdot, \dots, \cdot) = a(p) a(p, \cdot) dy_1 \wedge \dots \wedge dy_n, onde a(p)a(p) é definido pela ação de dx1dxm(p)dx_1 \wedge \dots \wedge dx_m(p) sobre os vetores v1,,vmv_1, \dots, v_m. Como consequência, obtemos que a forma ω(p,)\omega(p, \cdot) é bem definida XMX_M-quase todo pUp \in U, e as trocas de papéis entre UU e VV resultam em integrais equivalentes sobre MM e NN.

No contexto de variedades MM e NN que possuem sistemas locais positivos, podemos estender o raciocínio, considerando sistemas locais {(pj,Uj,nj)}\{ (p_j, U_j, n_j) \} e {(p^j,Vj,n^j)}\{ (\hat{p}_j, V_j, \hat{n}_j) \} para MM e NN, respectivamente. Neste caso, o produto direto {(pj×p^k,Uj×Vk,njn^k)}\{ (p_j \times \hat{p}_k, U_j \times V_k, n_j \hat{n}_k) \}, onde (j,k)N2(j, k) \in \mathbb{N}^2, forma um sistema local positivo para LL, e a integrabilidade do produto das formas njpkwn_j \otimes p_k w segue diretamente da teoria estabelecida.

Um exemplo simples de aplicação dessa teoria ocorre quando L=M×NL = M \times N e m=1m = 1, ou seja, quando as variedades MM e NN são subconjuntos de Rm\mathbb{R}^m e Rn\mathbb{R}^n, respectivamente. Neste caso, a integral de uma forma sobre LL se decompõe nas integrais sobre MM e NN, o que nos dá a fórmula clássica da integral sobre o produto de variedades: Lω=MαNβ\int_L \omega = \int_M \alpha \int_N \beta, onde ω=αβ\omega = \alpha \wedge \beta e α\alpha e β\beta são formas diferenciais sobre MM e NN, respectivamente.

A utilidade do Teorema de Fubini neste contexto é clara, pois ele permite simplificar a complexidade da integração sobre variedades de dimensão superior, decompondo-a em integrais mais simples sobre suas projeções locais. Essa técnica é particularmente útil na física matemática e na geometria diferencial, onde frequentemente lidamos com integrais em variedades de alta dimensão.

Adicionalmente, é importante compreender que, embora as fórmulas apresentadas forneçam ferramentas poderosas para cálculo de volumes e integrais, elas dependem fortemente das condições de regularidade das variedades envolvidas. Em muitas situações, a C1-regularidade das variedades e a difeomorfismo entre os espaços são requisitos fundamentais para a aplicação do teorema e a validade das fórmulas de integração.