Os ensaios moleculares para detecção de patógenos baseiam-se em três etapas fundamentais: o processamento da amostra para liberação dos ácidos nucleicos; a amplificação do alvo ou sonda nucleica, ou ainda do sinal; e a detecção propriamente dita. Contudo, o desempenho desses ensaios pode variar significativamente, influenciado por diversos fatores como os métodos de extração de ácidos nucleicos, o design dos primers e sondas, as tecnologias de amplificação e detecção utilizadas, os equipamentos empregados e o grau de expertise técnico envolvido.
O método mais consolidado dentre os ensaios nucleicos de amplificação (NAATs) é a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). Fundamenta-se na amplificação dirigida por primers de segmentos específicos do DNA. Um par de primers, geralmente oligonucleotídeos curtos com 20 a 30 bases, é desenhado para se ligar a regiões complementares em cada fita de uma molécula de DNA dupla fita, separadas por uma distância típica de 100 a 300 nucleotídeos. Esses primers delimitam a região do genoma do patógeno a ser amplificada, servindo de ponto inicial para a síntese de DNA nova catalisada pela enzima DNA polimerase. A mistura de PCR inclui também os deoxinucleotídeos trifosfatos (dNTPs), que são os blocos construtores para a síntese do DNA, além de outros componentes necessários para a reação.
O processo de PCR requer ciclos térmicos alternando entre uma temperatura alta, cerca de 95 °C, que promove a desnaturação do DNA (separação das fitas), e uma ou duas temperaturas mais baixas (50 a 72 °C), nas quais os primers se anelam às sequências complementares e ocorre a extensão da nova fita de DNA. Cada ciclo térmico duplica a quantidade da região alvo, levando a uma amplificação exponencial, de modo que após cerca de 30 ciclos podem existir bilhões de cópias derivadas de um único fragmento inicial do genoma viral ou bacteriano.
A detecção do DNA amplificado é realizada por meio de sondas marcadas, corantes fluorescentes ou outras técnicas específicas, que permitem identificar a presença do patógeno na amostra. Os testes moleculares são amplamente aplicados em diversos tipos de amostras clínicas como tecidos, sangue, aspirados e fluidos, amostras genitais, urina e fezes.
Diversos organismos parasitários, como Plasmodium, Babesia, Leishmania, Toxoplasma, amebas livres (Balamuthia, Acanthamoeba, Naegleria), Trichomonas e protozoários intestinais (Cryptosporidium, Entamoeba, Cyclospora, Giardia) são identificados com precisão por esses métodos. Para protozoários intestinais, por exemplo, as técnicas de PCR multiplex sindrômico têm revolucionado o diagnóstico direto a partir de amostras fecais, permitindo a detecção simultânea de múltiplos patógenos gastrointestinais, virais, bacterianos e protozoários.
Esses testes podem ser realizados em plataformas tradicionais, com extração e amplificação manuais, ou em sistemas integrados automatizados, em que o processo completo da amostra ao resultado ocorre dentro de um cartucho ou consumível específico, otimizando tempo e reduzindo erros técnicos. Apesar de seu custo ser consideravelmente mais elevado em comparação a métodos convencionais como a detecção de antígenos ou a microscopia, sua sensibilidade e especificidade superiores justificam o investimento, sobretudo em diagnósticos críticos.
Além da precisão técnica, a interpretação clínica dos resultados exige compreensão do contexto epidemiológico, histórico do paciente e manifestação clínica. A complexidade das amostras e a possibilidade de coinfecções tornam imprescindível o uso de métodos altamente sensíveis, porém a decisão terapêutica não deve ser pautada unicamente nos resultados moleculares, mas sim em um diagnóstico integrado.
A compreensão aprofundada do funcionamento da PCR e dos métodos moleculares auxilia o profissional a avaliar a adequação do teste para cada caso e interpretar suas limitações. É importante saber que a qualidade da amostra e os procedimentos laboratoriais podem impactar diretamente no resultado, assim como mutações no alvo do patógeno podem afetar a eficiência dos primers. Portanto, a atualização contínua dos protocolos e dos reagentes, bem como a validação rigorosa dos métodos, são essenciais para garantir a confiabilidade dos diagnósticos moleculares.
Como se diagnostica e trata corretamente a malária por Plasmodium falciparum?
O Plasmodium falciparum é o agente etiológico mais perigoso entre os quatro principais causadores de malária humana. É amplamente distribuído em regiões tropicais e subtropicais, sendo responsável pela maior parte das infecções graves, muitas vezes associadas a falência de órgãos e manifestações neurológicas, particularmente em crianças. Dentre os Plasmodium spp. que infectam humanos — P. falciparum, P. vivax, P. ovale e P. malariae — apenas o falciparum apresenta capacidade consistente de provocar hiperesplenismo, encefalopatia, insuficiência renal e morte rápida, frequentemente em questão de horas, se não tratado adequadamente.
O ciclo de vida do P. falciparum, tal como nos demais Plasmodium spp., inicia-se com a inoculação de esporozoítos no sangue humano por meio da picada de um mosquito Anopheles infectado. Os esporozoítos migram rapidamente para o fígado, onde invadem hepatócitos e se desenvolvem em esquizontes hepáticos. A ruptura destes libera merozoítos na corrente sanguínea, os quais invadem os eritrócitos e iniciam o ciclo eritrocítico, onde se transformam em trofozoítos, novos esquizontes ou gametócitos. No caso de P. vivax e P. ovale, formas dormentes chamadas hipnozoítos podem persistir no fígado e causar recaídas semanas ou anos após a infecção inicial. P. falciparum, contudo, não forma hipnozoítos.
A febre típica da malária, com ciclos intermitentes, decorre da ruptura sincronizada dos eritrócitos infectados e liberação de antígenos e substâncias pirogênicas. No P. falciparum, devido à alta taxa de parasitemia e à capacidade de invadir eritrócitos de todas as idades, o quadro clínico pode evoluir rapidamente para formas graves. No caso relatado, o paciente apresentou deterioração aguda com envolvimento neurológico e renal em menos de 24 horas, exigindo intervenção imediata com artesunato intravenoso, seguido por terapia combinada com arteméter e lumefantrina. O parasitismo caiu drasticamente nas primeiras 96 horas, demonstrando a eficácia da terapêutica.
O diagnóstico definitivo de malária continua sendo baseado na análise microscópica de esfregaços sanguíneos corados com Giemsa, método considerado padrão-ouro. Esfregaços finos permitem a visualização das formas parasitárias intracelulares com nitidez morfológica, enquanto os espessos aumentam a sensibilidade ao concentrar o volume de sangue analisado, embora percam detalhes estruturais. A presença de trofozoítos em anel com múltiplas infecções por eritrócito, formas “em fone de ouvido” (com dois pontos de cromatina) e formas aplicadas à periferia dos eritrócitos (“appliqué”) são características sugestivas de P. falciparum. Gametócitos em forma de banana são patognomônicos desta espécie, embora possam estar ausentes em amostras iniciais.
Em casos severos, formas maduras como esquizontes e trofozoítos avançados também podem ser observadas, algo raro em P. falciparum devido à sua propensão ao sequestro em capilares profundos. Quando essas formas aparecem no sangue periférico, é prudente considerar a possibilidade de coinfecção

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