A experiência espiritual do homem se entrelaça com as grandes figuras da literatura e da filosofia, como Oedipo, Fausto, Hamlet ou Ivan Karamazov. O "mundo do homem" é rico não apenas pelas suas esperanças e amores, mas também pelas dúvidas resolvidas, pela dor que cedeu, pelas noites em claro, e pelo reconhecimento dos erros cometidos. O autor reflete sobre esse processo: “Minha carta confusa agora perturba minha consciência. A verdade é que, no meu desenvolvimento, a mente ultrapassou o coração — Aquiles deixou a tartaruga para trás. Eu era um expert nos 'jogos intelectuais', mas moralmente, estava perdido. Essa é a tragédia de muitos 'físicos'. O golpe no coração fez com que o intelecto sofisticado perdesse o rumo na busca por teorias explicativas.”
Este dilema expõe uma tensão fundamental na condição humana, onde o intelecto, muitas vezes elevado a um pedestal de racionalidade e controle, se vê impotente diante das complexidades e nuances do coração humano. O autor, ao refletir sobre esse abismo entre razão e emoção, observa como as questões mais complexas da vida parecem escapar das explicações simplistas que a lógica tenta oferecer. Ao mesmo tempo, é nesse vazio, nessa incapacidade de encontrar respostas definitivas, que se enraiza a tragédia e a profundidade da experiência humana.
Neste contexto, a afirmação de que o mundo moderno está repleto de uma feiúra imposta por essa era de mudanças profundas, é um ponto central da análise. A mudança não se dá apenas no plano das ideias ou da tecnologia, mas também no tecido essencial da sociedade humana. Quando se fala de "custo de um grande momento na história", refere-se a essa transição que exige muito mais que adaptação: exige a reconfiguração da própria natureza humana. As transformações que estamos vivendo não são apenas o fim de uma era, mas a chegada de algo novo e fundamentalmente distinto.
Esse cenário inquietante encontra ressonância no olhar do filósofo, que, ao refletir sobre mitos antigos, se vê imerso em questionamentos sobre a essência do ser humano. A mitologia grega, por exemplo, oferece heróis como Hércules, cuja força física e feitos extraordinários são muitas vezes associados a um ideal de grandeza. Contudo, ao ponderar sobre o presente estado do mundo, o autor se volta para uma interpretação mais sombria e complexa desses heróis. Em um momento crucial, ele evoca a figura de Hércules não como o conquistador invencível, mas como aquele que se vê impotente diante da morte de Chiron, o centauro, a quem acidentalmente feriu com uma flecha envenenada. Esse Hércules, por mais forte que fosse, não pôde evitar a morte de seu amigo. E é nesse momento de fragilidade que o herói encontra o verdadeiro significado da dor humana: a incapacidade de controlar tudo, de salvar o que amamos.
A metáfora dessa impotência, que perpassa o mito e a realidade, ilumina um ponto essencial da condição humana. O mundo pode ser vasto, cheio de possibilidades e maravilhas, mas ele também é implacável, indiferente ao sofrimento individual. A sensação de que, apesar de todos os feitos extraordinários e maravilhas tecnológicas, o homem permanece impotente diante de certas questões fundamentais da existência, é uma das marcas da nossa época.
É interessante que essa reflexão sobre Hércules e Chiron nos remeta ao conceito de potencial humano, que é tratado com profundidade na obra de Pico della Mirandola. A ideia central da sua obra "De Dignitate Hominis" é que o homem é o escultor de si mesmo, possuidor de um poder infinito para moldar seu destino. O conceito de que somos responsáveis por nossas escolhas e que nosso destino está em nossas mãos é, ao mesmo tempo, uma grande liberdade e uma carga pesada. Na juventude, essa ideia de ser "o próprio escultor" ressoava como um chamado para a ação, um convite ao poder absoluto. Anos depois, ao redescobrir o pensamento de Pico, o autor se depara com a profundidade desse conceito: o homem, embora seja o "escultor" de sua própria vida, não pode controlar tudo. Em sua busca pela perfeição ou pelo entendimento da verdade, o homem encontra, muitas vezes, um abismo de dúvidas e limitações.
Esse paradoxo da liberdade humana é crucial para compreender não só o dilema filosófico, mas também a experiência cotidiana de nossa existência. Somos, de fato, os escultores de nosso destino, mas esse destino está repleto de incertezas e impossibilidades. Essa consciência das limitações humanas é algo que se reflete em nossa busca incessante por significado, na tentativa de entender nosso lugar no vasto cenário do universo.
Em suma, a reflexão sobre o homem como um ser capaz de transformar o mundo à sua volta, mas que, ao mesmo tempo, enfrenta a fragilidade e as limitações de sua condição, nos oferece uma visão complexa e profunda da realidade humana. A verdadeira grandeza do homem talvez resida não em sua capacidade de dominar o mundo ou vencer monstros mitológicos, mas em sua habilidade de reconhecer suas fraquezas e, ainda assim, seguir adiante, buscando encontrar seu caminho dentro de um universo que está em constante transformação.
O que é a grandeza no ser humano? Stendhal e Nietzsche em busca de emoções verdadeiras
A vida de Stendhal esteve marcada por uma sucessão de crises existenciais que o moldaram como escritor e como homem. Sua infância coincidiu com a Revolução Francesa, e sua juventude com as guerras napoleônicas, nas quais ele próprio participou. Quando os Bourbons retornaram ao poder em Paris, Stendhal tinha 30 anos. O ambiente de uma Europa pós-napoleônica, com o declínio da aristocracia e a ascensão de uma classe média mercantil, parecia sufocante para ele. Mas foi na Itália, em Roma, Florença e Nápoles, que ele encontrou o alívio, o frescor de um novo ar. Ali, as conversas com revolucionários e a vida espiritual cheia de intensidade o revigoraram. Os italianos, em sua complexidade emocional, mostravam-lhe o amor, o ódio, a luta e a morte com uma força de vida que Stendhal sentia faltar em Paris. Para ele, não havia espaço para a frivolidade de uma sociedade que perdera suas emoções mais genuínas. Stendhal estava em busca de algo mais, algo grandioso, e encontrou essa grandeza em seu coração e nas pessoas que o cercavam.
Foi na Itália também que Stendhal conheceu Metilde Dembowsky, a mulher que lhe trouxe tanto a maior felicidade quanto a maior tristeza de sua vida. Ele também se encontrou com os Carbonários, o grupo revolucionário que reacendeu sua fé no homem e na revolução. A grande lição de Stendhal foi que as grandes emoções não poderiam ser encontradas apenas na imaginação ou em invenções filosóficas. Elas estavam nas ações, nas escolhas de vida das pessoas, no convívio direto com a realidade. Stendhal não se entregou ao escapismo, mas se lançou de corpo e alma na vida com a esperança de que o homem poderia, em seu coração, manter a grandiosidade.
Décadas mais tarde, Flaubert, escritor de uma geração posterior, também ansiava pela grandeza. Mas, ao contrário de Stendhal, ele não encontrou sua realização na vida cotidiana. Flaubert, após escrever "Madame Bovary", recorreu ao passado distante, à Cartago do século III a.C., como palco para sua busca de figuras grandiosas e tragédias imponentes. A atmosfera de sua época lhe parecia ainda mais sufocante do que para Stendhal, e, ao contrário deste, Flaubert, como homem, não parecia plenamente satisfeito com sua busca por figuras majestosas e emoções profundas. Ele não conseguiu, como Stendhal, encontrar o grande em sua própria época, no presente. Ao contrário de Stendhal, que amava o homem em sua totalidade, Flaubert, mais distanciado, procurou consolo no estudo de um passado já distante. E enquanto Stendhal via a grandeza na própria vida, Flaubert se refugiava em uma tentativa de reproduzir a grandeza através de uma visão idealizada e distorcida de tempos antigos.
Nietzsche, por sua vez, compartilhou com Stendhal o desejo de buscar o sublime e o trágico. Contudo, sua experiência e suas buscas não o levaram ao mesmo ponto. Durante sua juventude, Nietzsche ansiava por uma grandeza que parecia ausente em seu tempo. Ele rapidamente se desiludiu com a realidade da Europa burocrática e monárquica, e, ao contrário de Stendhal, abandonou a busca pela grandeza na vida cotidiana. Nietzsche, ao contrário de Stendhal, não encontrou mais figuras de grandeza em sua época. A Alemanha de Nietzsche e a Europa de sua geração estavam afastadas daquilo que ele considerava grandioso. Como consequência, Nietzsche se voltou para a arte e para uma visão esteticista da vida. Essa busca pela beleza pura o levou a um culto da estética que, paradoxalmente, acabaria destruindo a própria beleza da vida.
A percepção estética de Nietzsche fez com que ele ignorasse a grandeza do ser humano em favor de uma admiração idealizada pela arte. Ele acreditava que, ao transcender a moralidade, a vida se tornaria mais livre e grandiosa. No entanto, ao abraçar esse ponto de vista, Nietzsche se afastou da humanidade, das relações genuínas, do sofrimento e da solidariedade. Sua busca pela grandeza não o levou à conexão com os outros, mas a uma solidão profunda, refletida em suas obras. Nietzsche, ao tentar transitar pela arte e pela filosofia, acabou criando uma ilusão, acreditando que a beleza estava no abandono da moral, quando, na verdade, a verdadeira grandeza de um ser humano reside na sua capacidade de compaixão e na sua humanidade.
Nietzsche passou a ver a tragédia antiga, com suas forças elementares, como a verdadeira expressão de grandeza. Mas, ao olhar para o passado em busca de algo sublime, ele se desconectou da verdadeira essência da vida humana. Ele viu a tragédia como uma manifestação da força primordial de Dionísio, mas perdeu a oportunidade de ver que a verdadeira tragédia e grandeza estão no próprio ser humano, com suas fraquezas e suas forças.
A diferença entre Stendhal e Nietzsche, em última análise, não está apenas no olhar para o passado ou para a arte, mas na forma como eles entenderam e se relacionaram com a humanidade. Stendhal amava o homem e a vida, com todas as suas imperfeições e grandezas. Ele entendia que a verdadeira emoção não vinha de distantes mitologias ou passados longínquos, mas das emoções profundas, do confronto com a realidade. Nietzsche, por outro lado, se perdeu na abstração, idealizando um poder que não conseguia realizar em sua própria vida. Ele procurava pela grandeza nas sombras da arte, e não no coração da experiência humana.
A verdadeira grandeza, ao contrário do que Nietzsche acreditava, não pode ser abstraída da moralidade nem da compaixão. A arte não pode substituir a vida verdadeira, pois, como Stendhal soubera, é na realidade, nas escolhas humanas e nos vínculos profundos que encontramos o que é grandioso. A lição de Stendhal é clara: a grandeza está no homem, em suas emoções verdadeiras, em sua capacidade de amar, odiar, lutar e morrer, e não em ideias distantes e irrealizáveis.
A Poética da Realidade: Como a Ciência e a Poesia Se Encontram no Cotidiano
O menino que brincava ali perto começou a agitar a água com um bastão. A água se espalhou, subindo no ar ao redor dele. O escrivão, de repente, pensou nos milhões de organismos desconhecidos e vivos que seriam lançados para o ar junto às gotas de água, alcançando altitudes impressionantes se comparadas ao seu tamanho. Era algo semelhante ao que ele teria sentido acima das nuvens... As menores facetas do mundo lhe contavam, ele que era o poeta daquele dia, sobre coisas totalmente alheias ao escrivão. Eram os caminhos para uma percepção poética da realidade. Se o escrivão soubesse mais sobre o mundo, teria desejado, ao colocar as botas mágicas, ser um erudito em vez de um poeta? Caso afirmativo, creio que nada teria mudado de forma significativa, pois o conhecimento científico da realidade começa precisamente com o domínio poético dessa realidade, com a percepção impressionante de que uma simples margarida existe no mesmo mundo vasto e complexo das galáxias e nebulosas, que uma margarida nasce sob as mesmas leis que criaram a misteriosa Nebulosa de Andrômeda. Em essência, uma gota d'água é um oceano inteiro.
Quando Albert Einstein tinha quatro anos, foi presenteado com uma bússola. Ele ficou impressionado com o comportamento previsível da agulha, sua dependência misteriosa de algo invisível e desconectado. Sentiu que algo profundamente oculto se escondia por trás das coisas que via. E assim, sentindo-se dessa maneira, ele também era um poeta. Muitos anos depois, ele se tornaria um grande cientista. Um homem que examina a realidade abarca toda a história do pensamento humano, condensando séculos em minutos. No começo, havia pinturas nas cavernas, e depois surgiram as primeiras hipóteses sobre a estrutura do mundo. Isso pode ser uma pista para entender por que físicos e ciberneticistas, que aprenderam tanto com as grandes descobertas e feitos sem precedentes na ciência, hoje se voltam para Hans Christian Andersen. Seus contos de fadas foram a primeira tentativa poética de refletir sobre um mundo repleto de novas possibilidades, forças desconhecidas, metamorfoses inesperadas, consistências surpreendentes e enigmas maravilhosos. Esse é o "estranho mundo" sobre o qual os cientistas e divulgadores de ciência de hoje escrevem livros sólidos. Muito do que Andersen escreveu não foi entendido pelos seus contemporâneos ou foi visto como um mero jogo da imaginação poética distante da vida. Eles queriam que o mundo de seus livros fosse regido pelas mesmas leis do mundo real que os cercava, e qualquer incongruência parecia irritante. Contudo, o mundo de Andersen era governado pelas leis do mundo real do futuro, cujos efeitos só se tornariam evidentes um século depois.
O grande físico dinamarquês Hans Christian Ørsted, cujos trabalhos sobre o eletromagnetismo já eram clássicos na época de Andersen, compreendia isso tudo e adorava o autor. Certa vez, em uma observação casual, fez um comentário paradoxal para os padrões da época: embora Andersen fosse frequentemente acusado de ter pouco conhecimento, a ciência talvez devesse mais a ele do que a qualquer outro poeta. A vida revelou a resposta para esse enigma. Os contos de Andersen provaram ser não apenas uma poesia elegante, mas repletos de sabedoria. O milagre da vida é constantemente mutável, assumindo diferentes formas e novas forças. Quando experimentamos o espanto diante da vida, é aí que surge a verdadeira bondade. A velha e confiável lâmpada de rua nos ensina que, se quisermos que nossos filhos se tornem boas pessoas, devemos ensiná-los a entender a vida como o milagre dos milagres.
Foi assim que, em uma viagem de verão, encontrei em Tallinn uma nova experiência: um museu instalado nas ruínas restauradas de um antigo mosteiro dominicano. Lembro-me bem das ruínas. Sua severidade vívida perturbava a imaginação. A pedra cinza, marcada, quase ruída, guardava o espírito do século XIII. Quando, finalmente, entramos, senti a pressão do tempo em cada pedra. As mulheres idosas que vigiavam esse lugar solene nos deixaram passar, e fomos conduzidos a um mundo em que a história e a vida se entrelaçavam. O que mais me marcou ali foi o que minha filha disse ao ver o ambiente: "É como Andersen". A atmosfera do lugar, com suas lanternas e árvores grandes, parecia devolver-nos a uma infância secreta, mas cheia de bondade. Os lanternas, de cobre e vidro grosso, conferiam uma autenticidade ao lugar, como se fossem as sentinelas de um mundo mágico, mas real.
O que essas experiências nos dizem? Que o mundo da poesia e o da ciência não são opostos, mas complementares. O físico que explora os mistérios do universo começa muitas vezes com a mesma admiração e espanto que o poeta sente diante das pequenas maravilhas da vida. E a arte, muitas vezes, antecipa as descobertas da ciência, oferecendo uma chave para entender o que ainda está oculto nas camadas mais profundas da realidade.
Como a Tragédia e a Arte se Entrelaçam: O Enigma de Rembrandt
Correr rápido com um saco. Vejo um trem de tropas parado lá, com grandes armas todas cobertas. O semáforo ainda não os deixou passar. Cada soldado está com uma arma. Corro de arma em arma. Encontrei esse homem — mais velho, corpulento, um homem de experiência. Imploro para que ele me leve. Subimos no trem e seguimos viagem... Eu mal podia acreditar na minha sorte. Ajoelhei-me sobre o saco e quase dei um grito de alegria. O trem segue ao lado dos Lagos. As tropas, claro, não esperaram por mim, mas pensei: "Não faz mal. Eu vou conseguir. As batatas não vão se perder e eu não sou uma pérola." Porém, o semáforo não nos deixou passar. O comandante — jovem, com o rosto magro — saiu da locomotiva e me disse: "Você, carregadora de saco? Desça!" O mais velho se colocou ao meu lado: "Pobre mulher." O comandante gritou para ele: "Isso é um trem de tropas ou uma carroça?" Fiquei triste por ser responsável pela desgraça de um bom homem. Desci com meu saco e corri... mais de dez verstas. Minha energia, que antes estava alta com as armas, logo se esvaiu. "Corra", pensei, "Você vai conseguir antes do amanhecer. Não se preocupe, eles não podem partir no escuro." O sol já brilhava sobre os Lagos quando cheguei lá, arrastando-me.
Vi alguns jovens soldados com capotes, deitados sobre montes de folhas. Aproximo-me de um deles: "Você viu Anton Ivnev?" "Tem mil de nós aqui", ele responde, "procurando por si mesma." Corri ao redor dos Lagos três vezes até descobrir: ele partiu ao amanhecer. Sentei-me com meu saco. Um soldado se aproximou, se agachou e disse: "Não chore, senhora, ele não está morto — ele está vivo!" Bem, a noite realmente me esgotou, pensei, se ele me confundiu com a mãe de alguém. Talvez fosse até para o melhor que meu homem não me visse assim. Esse soldado me fez sentir melhor, dizendo: "Fique feliz, senhora, ele está vivo..." Passei as batatas para os soldados e comecei a me sentir como a mãe de alguém. Conversei com eles por um tempo. E o soldado continuou: "Fique feliz, ele está vivo..." Ela parou para respirar. "Recebi a notícia um mês depois." Então ela sorriu, "Por mais de cinco anos, não consegui nem olhar para uma batata. Achei que por causa delas eu perdi a última alegria da minha vida." Ela se calou, seu rosto ficou mais sério. "Mas uma noiva não é uma esposa. Algumas mulheres perderam muito mais do que eu."
O vento soprou forte. Pela janela, onde a sujeira do vidro já havia sido lavada, via-se o pátio escurecer. Quando olhei para ela novamente, ela estava sorrindo. "Não quer um pedaço de torta com nozes? Vamos tomar chá", disse com uma risada suave e gentil. Novamente, ela parecia mais velha. "E Rebral, ele é nosso pai", ela riu. Depois do chá e da maravilhosa torta (quando ela teve tempo de prepará-la?), me contou que Boris Mikhailovich "seguiu Yelena Victorovna até a caverna". Contou que algumas pessoas amáveis haviam encontrado um emprego para ela no Hermitage. No início, trabalhou na sala do século V — onde está Sócrates. Por causa da artrite e do coração fraco, a transferiram para a sala de Rembrandt, uma das mais quentes do museu. Ela disse que a mulher "cuidando do século V", no entanto, estava em pior estado de saúde do que ela, e como o ambiente do século V era tão gelado quanto lá fora, ela sentia que, agora se sentindo muito melhor, deveria trocar de lugar com a mulher. "Fiquei aquecida e melhorei..."
Quando fui embora, ao passarmos pela ante-sala, novamente fiquei impressionado com como ela estava curvada, como isso contrastava com seu rosto amável e suas rugas de avó. "Mas quem sabe você espera pela 'velhice'?", ela sorriu timidamente. "Eles estão segurando ele por algum motivo, coisas confusas..." Caminhei pela Rua Baskov pensando como a mulher que me parecia tão velha havia, tão secretamente, audazmente e jovialmente se chamado de noiva...
Quando retornei a Moscou, não escrevi histórias sobre Rembrandt, mas senti um grande impulso criativo — um desejo familiar a qualquer escritor que queira criar algo grandioso, mas que ainda não encontrou uma abordagem original. Rembrandt vivia dentro de mim, mas ainda era uma promessa não cumprida. Mesmo as ideias filosóficas sobre os segredos de sua obra não conseguiram me ajudar a satisfazer essa necessidade. E provavelmente foi por isso que eu ansiava tanto por conversar com ele, com Rembrandt, o homem. Antes, já havia vivido algo parecido com Andersen. Ele estava sempre ao meu lado durante as horas da noite em casa, em aviões, em cidades distantes e estranhas. Ele me contava muitas histórias novas e fascinantes e dava bons conselhos. E, às vezes, eu lhe contava coisas que não teria coragem de contar nem ao meu amigo mais antigo. E antes de Andersen, foi o mesmo com Stendhal.
A experiência me ensinou que é importante fazer uma pergunta ousada, talvez até dolorosa, logo no início. E, se for respondida, então se sentirá a dor e a alegria do nascimento de um ser humano vivo, de uma compreensão verdadeira entre você e ele. Então pode ser seu Andersen ou seu Stendhal. Agora, eu queria meu Rembrandt. Queria tanto que me atrevi a fazer uma das perguntas mais cruéis da vida.
Mais de 100 autorretratos de Rembrandt chegaram até nós. Com o tempo, a roupa se tornava mais simples, os tons mais escuros e a postura e as expressões faciais mais reais. No último autorretrato, a imagem parece ter sido lavada, como se mergulhada nas águas do esquecimento. Nesse autorretrato, não é fácil reconhecer a pessoa que, 30 anos antes, se sentava à mesa e erguia entusiasticamente o cálice enquanto segurava Saskia no colo. Esse último retrato parece ter sido feito por mãos que já não eram mais obedientes. Mas, às vezes, parece que não foi feito por mãos humanas, mas por algum material com o qual Rembrandt havia trabalhado por décadas. E, quando suas mãos envelheceram e enfraqueceram, talvez, como nas histórias fantásticas de Andersen, esse material o tenha ajudado. E à noite, quando o artista doente e solitário sonhava com a feliz Saskia em uma casa cheia de coisas raras e maravilhosas, ou com Titus — um garotinho novamente desenhando à janela, ou com o doce e triste rosto de Hendrickje Stoffels, ou talvez com sua infância no moinho e a poeira de farinha subindo em uma coluna dourada de luz do sol, talvez tenha sido então que esse maravilhoso retrato foi dado à luz.
É um presente das planícies, das colinas, dos riachos e das árvores da terra, um presente do céu, do mar, de pessoas bondosas, em suma, é um presente do mundo que ele pintou sem nunca se cansar, quando suas mãos ainda eram fortes. Olhando para essa pintura — não há nada igual na arte mundial: se pensa que talvez seu pincel tenha pintado tudo sozinho, que não foi necessária grande habilidade, que isso não é uma pintura, mas a própria vida.
Decidi não fazer essa pergunta ao Rembrandt. Achei que seria mais fácil e mais gentil fazer a pergunta a um dos seus Rembrandts anteriores, majestosos. Mas então pensei que talvez ele não honrasse minha pergunta com uma resposta. E assim, com uma dor no coração e também com dor física genuína, reuni toda minha coragem. A pergunta foi explícita: Por que nenhuma das suas tragédias pessoais avassaladoras o privou, nem por uma hora, de sua inspiração, de sua habilidade? Até parece que elas fortaleceram sua inspiração e sua habilidade. A magnífica Saskia morre, toda a sua casa é vendida por um tostão — uma casa cheia de tesouros — desde as pinturas de Rafael até as maravilhas do mar — e o sucesso, a fama e a fortuna o abandonam. Seu querido amigo, Hendrickje Stoffels, morre; seus colegas artistas param de entendê-lo, o abandonam ou morrem, e Titus, seu único filho, morre. E ele continua...
A Imortalidade dos Feiticeiros: O Universo e o Potencial Humano
Em um tempo não tão distante, o universo parecia finito e confortável. O homem sentia-se seguro em seu mundo, como uma criança em sua própria casa. Os céus, eternos e invariáveis, se estendiam sobre uma Terra imutável. O homem, o centro do universo pré-copernicano, tinha poderes imensos que, com o tempo, ganhariam força, apenas após sua curiosidade incansável ter rompido o domo celestial e se lançado rumo à infinidade. O que o homem agora consegue realizar – desde a simples observação de uma nave espacial a decolar até a exploração do espaço exterior – nos faz questionar: será o homem imortal? Ou, ao menos, capaz de transcender seus próprios limites através do conhecimento e da criação?
Hoje, o homem se corporifica na tecnologia, em naves espaciais que se tornam extensão de seu corpo e espírito. A sabedoria adquirida nos confins do cosmos um dia poderá retornar ao homem, agora mais consciente, mais amadurecido. Porém, a evolução não acontece apenas no campo tecnológico; ela também ocorre no campo espiritual e moral. A busca por beleza, entendimento e verdade se reinventa com o tempo, mas será que o homem, perdido em suas ambições, não terá perdido sua essência? Dante e Dostoiévski contribuíram tanto para a ascensão do homem ao cosmos quanto as naves espaciais; sua arte e sua compreensão da alma humana abrem caminho para o que o homem poderá se tornar. Mas, à medida que avança, o homem corre o risco de perder o mais essencial: o entendimento profundo de si mesmo, sua capacidade de sentir e compreender a existência.
A época em que vivemos é uma fase de transição. O homem moderno, em sua juventude, ainda não alcançou o equilíbrio entre seu corpo e sua mente. O avanço físico e tecnológico, muitas vezes à frente do desenvolvimento moral e emocional, gera distúrbios como sonhos eróticos distorcidos, agressividade, depressão. Contudo, é também uma época em que a busca por altos ideais, por uma ação decidida e valente, está florescendo. O coração e a razão começam a julgar o mal, e a consciência clama pelo triunfo do bem. Este momento histórico está forjando o caráter de um novo homem, cuja consciência moral se torna o mais importante de seus atributos.
O homem, ainda criança em sua essência, pode conservar sua genialidade se conseguir manter viva a chama do espírito juvenil. O grande pensador, o grande artista, mantém a imaginação viva, mesmo diante das adversidades. Um homem que se surpreende com o que fez em sua infância e que, ao envelhecer, perde a capacidade de se maravilhar, está em processo de degeneração. A humanidade não deve seguir esse caminho. Nossa infância, repleta de dificuldades e aprendizados, nos dá esperança para um futuro grandioso.
À medida que a humanidade avança, ela perde algo essencial, algo que remonta às cavernas de Altamira, onde a genialidade artística surgia com a pureza do olhar e da expressão. Perde-se a sensação do mundo em sua força original, a arte espontânea e a harmonia entre o corpo e o espírito. Mas, paradoxalmente, a cada perda, a humanidade se torna mais rica, como se uma semente estivesse sendo plantada no solo fértil de um futuro que ainda precisa ser colhido. A arte, assim como as musas, pode ter se afastado por um tempo, mas sempre retorna, renovada, quando o momento certo chega.
O ritmo acelerado da vida moderna – 100, 110, 120 batimentos por minuto – cria a ilusão de que estamos em um estado de constante agitação. No entanto, essa aceleração é apenas uma transição, um reflexo de uma revolução científica e tecnológica que um dia se estabilizará, permitindo que a essência espiritual do homem floresça novamente, assim como na juventude.
A humanidade de hoje, em sua adolescência, vive entre a ânsia por conforto, a busca por novos mundos e a adoração pela tecnologia. Mas, por trás dessa busca constante, ainda se esconde o espírito romântico que almeja transformar a realidade. Este momento, ao mesmo tempo concreto e idealista, é fundamental para o nascimento de uma nova era. Uma nova humanidade, com uma nova visão de si mesma, está se formando. O velho mundo de alienação e propriedade privada se desfaz, dando lugar a uma nova concepção de sociedade, baseada na solidariedade, no bem coletivo e na busca por um futuro mais justo.
No final, o novo homem, surgido da revolução, será uma síntese do melhor de seu passado. O espírito de quem busca a verdade, a coragem dos revolucionários, a curiosidade sem limites dos estudiosos e a generosidade dos artistas não será perdido. A grande lição da infância do mundo é o valor infinito do ser humano. E se ele souber preservar sua essência, sua genialidade, poderá alcançar uma imortalidade verdadeira, não apenas física, mas espiritual.
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