A Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que aproximadamente 5% da população global apresenta uma perda auditiva incapacitante, com mais de 8% das crianças sendo afetadas. A incidência dessa condição tende a crescer significativamente ao longo do tempo. O dado mais alarmante é que 60% dos casos de perda auditiva infantil são preveníveis e tratáveis. Nesse contexto, as populações de países de baixa e média renda são as mais afetadas, devido à falta de programas universais de imunização e às deficiências no cuidado pré-natal. Para muitas crianças ao redor do mundo, a deficiência auditiva representa uma vida marcada pela exclusão social, dependência e um potencial desperdiçado.
A perda auditiva pode ser progressiva ou resultante de danos adquiridos mais tarde na infância. Isso implica que, mesmo após a triagem auditiva neonatal, é fundamental que pais e profissionais da saúde permaneçam vigilantes para sinais de perda auditiva, mesmo em crianças que inicialmente passaram nos testes. No Reino Unido, 2,05 de cada 1.000 crianças apresentam uma perda auditiva significativa, definida como superior a 40 dBHL no ouvido com melhor audição. Esse dado é consideravelmente mais alto em países em desenvolvimento devido a fatores como infecções, falta de cuidados pré-natais adequados e ausência de programas de vacinação universais.
O feto já é capaz de ouvir sons do corpo materno a partir de 16 semanas de gestação, e a audição externa está praticamente formada aos 20 semanas, com a função coclear completada por volta das 35 semanas. A função auditiva, assim como o desenvolvimento neuroplástico do sistema auditivo central, depende crucialmente de estímulos externos. A plasticidade dessas vias auditivas diminui com a idade, o que pode comprometer o potencial de aquisição de linguagem e desenvolvimento cognitivo se a perda auditiva não for identificada e tratada precocemente.
É importante compreender que o tipo de perda auditiva em crianças pode ser classificado em dois grandes grupos: condutiva e neurossensorial. A perda auditiva condutiva ocorre quando há obstruções ou disfunções nos componentes do ouvido externo ou médio, enquanto a perda auditiva neurossensorial é causada por danos no ouvido interno ou nas vias nervosas auditivas. Cada uma dessas categorias pode ter causas diferentes, como malformações congênitas, infecções, traumas, exposição a medicamentos ototóxicos ou problemas genéticos. O diagnóstico adequado de uma criança com suspeita de surdez requer uma avaliação clínica detalhada, levando em consideração tanto o histórico familiar quanto as manifestações clínicas.
Geneticamente, a perda auditiva pode ser associada a vários síndromes, sendo que as mutações no gene Cx26 (GJB2) são responsáveis por cerca de 50% dos casos de surdez não-sindrômica. A surdez hereditária não-sindrômica é predominantemente de herança autossômica recessiva, o que significa que crianças de pais normalmente ouvintes têm uma chance de 25% de ter filhos com a mesma condição. Outros padrões de herança, como a dominante, a ligada ao cromossomo X e a mitocondrial, também podem estar presentes, embora em casos mais raros.
A triagem auditiva neonatal, realizada logo após o nascimento por meio do teste de emissões otoacústicas automáticas (AOE), tem mostrado ser eficaz para detectar perdas auditivas de graus moderados a graves. Embora a sensibilidade do teste seja de cerca de 80%, falsos positivos podem ocorrer, principalmente devido a obstruções no canal auditivo ou ruídos ambientais excessivos. Crianças que falham nesse teste geralmente são encaminhadas para exames audiométricos mais detalhados, como o teste de resposta auditiva do tronco encefálico automatizada (AABR).
O impacto da surdez não tratada nas crianças é profundo e abrangente. A falta de estimulação auditiva no início do desenvolvimento pode prejudicar gravemente a aquisição da linguagem, o desenvolvimento social e os marcos acadêmicos. Além disso, a surdez não identificada em tempo hábil pode afetar a capacidade de uma criança se integrar à sociedade, limitando suas oportunidades educacionais e profissionais no futuro. A conscientização sobre o impacto da surdez no desenvolvimento global das crianças e a implementação de programas eficazes de triagem auditiva são cruciais para garantir que todas as crianças tenham a oportunidade de atingir seu pleno potencial.
Além disso, a identificação precoce da perda auditiva infantil deve ser acompanhada de intervenções terapêuticas adequadas. O uso de aparelhos auditivos, implantes cocleares e a implementação de programas educacionais especializados são essenciais para minimizar os efeitos da perda auditiva no desenvolvimento das crianças. A educação sobre as implicações sociais e emocionais de um diagnóstico de surdez deve ser parte do processo, garantindo que os pais e a comunidade ofereçam o suporte necessário para o desenvolvimento da criança.
Como diagnosticar e tratar a mastoidite aguda complicada com abscesso e trombose do seio venoso lateral?
A mastoidite aguda, especialmente quando complicada por abscesso subperiosteal, formação de abscesso intracraniano ou trombose dos seios venosos, representa uma emergência médica otológica que requer avaliação clínica minuciosa, exames de imagem de alta precisão e, muitas vezes, intervenção cirúrgica imediata.
A tomografia computadorizada com contraste é, geralmente, o primeiro exame solicitado, dada sua rapidez de aquisição — fator particularmente vantajoso em crianças pequenas, que podem ser examinadas logo após a alimentação ou sob sedação leve, evitando a necessidade de anestesia geral. Entretanto, a ressonância magnética (RM) mostra-se superior na detecção de coleções extra-axiais, edema cerebelar e complicações vasculares associadas, sendo de escolha em casos de mastoidite complicada. A presença do “sinal delta” — um triângulo vazio com realce periférico correspondente à trombose do seio lateral — é um achado clássico em RM com contraste. A venografia por ressonância magnética (MRV) é o método mais sensível para identificação de tromboses venosas intracranianas.
Na suspeita de meningite associada, a punção lombar continua sendo o exame definitivo para análise do líquor e diagnóstico microbiológico, embora a tomografia possa auxiliar na avaliação prévia da segurança do procedimento. Testes auditivos devem ser registrados, mesmo que limitados pela idade ou estado clínico da criança.
O tratamento inicial da mastoidite aguda não complicada é feito com antibióticos intravenosos em ambiente hospitalar. Os protocolos locais devem definir a primeira escolha antimicrobiana, mas geralmente incluem co-amoxiclav em alta dose ou uma cefalosporina de terceira geração, como a ceftriaxona. Devido à resistência bacteriana crescente, esses antibióticos podem ser insuficientes isoladamente, sendo necessária a inclusão de fármacos mais modernos. Em pacientes com alergia mediada por IgE à penicilina, a clindamicina pode ser considerada, mas a decisão deve ser baseada em consulta com microbiologistas. Quando há suspeita de Pseudomonas spp., uma penicilina antipseudomonas deve ser utilizada.
Caso a febre e o estado geral da criança melhorem, a transição para antibióticos orais por mais 14 dias é suficiente. Contudo, diante de evolução clínica insatisfatória após 48 horas de tratamento conservador, sinais persistentes de febre, mal-estar, eritema retroauricular e flutuação de partes moles, a intervenção cirúrgica é indicada. A mastoidectomia cortical é considerada, especialmente quando há formação de abscesso subperiosteal, e deve ser precedida por uma TC com contraste para avaliação de complicações intracranianas.
O procedimento cirúrgico padrão inicia-se com uma incisão retroauricular. O periósteo é incisado em retalho em forma de U para ampla exposição do osso mastoide. A perfuração segue em direção às células aéreas mastoideas e ao átrio, com exposição crescente conforme necessário. A drenagem de pus subperiosteal é frequentemente realizada por incisão simples, embora aspiração com agulha também seja descrita. Em casos com sinais de trombose do seio sigmoide, a exposição controlada da região é essencial. Se o seio parece trombosado mas não há aspirado sanguíneo, ele não deve ser aberto. Em casos em que há pus no interior do seio, este deve ser drenado, embora a recanalização venosa espontânea seja improvável. Quando o seio afetado é dominante, há risco de hipertensão intracraniana benigna, tornando indispensável a avaliação pré-operatória por imagem.
Em crianças com mastoidite aguda secundária a colesteatoma congênito ou adquirido, a drenagem inicial deve ser limitada à infecção aguda, sem tentativa de erradicação completa do colesteatoma neste estágio. O tratamento definitivo deve ser reservado para um segundo tempo cirúrgico após a resolução do processo infeccioso.
As complicações da mastoidite aguda incluem abscesso de Bezold — coleção purulenta que se estende para os tecidos moles abaixo e medialmente à ponta mastoidea — além de abscessos epidurais, subdurais, cerebelite e tromboses venosas intracranianas. Esses achados reforçam a necessidade de diagnóstico precoce e abordagem terapêutica agressiva nos casos suspeitos.
A RM permite melhor avaliação do edema cerebelar adjacente e da extensão da propagação venosa do processo infeccioso, fornecendo elementos críticos para decisão cirúrgica. A falha na identificação e no tratamento precoce de coleções purulentas intracranianas ou tromboses venosas pode levar a sequelas neurológicas graves ou até óbito.
O conhecimento anatômico detalhado do osso temporal, a familiaridade com as técnicas de mastoidectomia e a correta interpretação dos exames de imagem são requisitos essenciais para o manejo adequado da mastoidite aguda complicada. Além da abordagem antibiótica e cirúrgica, o cuidado multidisciplinar com pediatras, otologistas, neurorradiologistas e infectologistas aumenta consideravelmente as chances de recuperação completa e redução de complicações a longo prazo.
Como Abordar a Apneia Obstrutiva do Sono em Crianças: Uma Visão Geral do Tratamento e Cuidados Perioperatórios
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é uma condição comum entre crianças, embora frequentemente mal compreendida. O diagnóstico é clinicamente orientado, sendo os testes confirmatórios necessários apenas em casos selecionados. O tratamento para AOS em crianças geralmente envolve a adeno-tonsilectomia, que tem mostrado resultados eficazes no alívio dos sintomas obstrutivos, como dificuldades respiratórias durante o sono, dor e sangramentos pós-operatórios. Contudo, como em qualquer procedimento cirúrgico, existem riscos, como a necessidade de cirurgia revisional em cerca de 2,6% dos casos. A execução desses tratamentos deve ocorrer preferencialmente em centros especializados, com uma equipe experiente no manejo de crianças.
Aos cuidados perioperatórios deve ser dada atenção especial, uma vez que a AOS, por definição, implica obstrução das vias aéreas. Isso pode dificultar a intubação endotraqueal e levar a desafios no processo de extubação, além de uma recuperação mais lenta da anestesia e respostas acentuadas aos analgésicos opioides. Nos casos mais graves, pode ocorrer atelectasia segmentar ou falência do lado direito do coração. Crianças com AOS severa têm uma resposta ventilatória prejudicada ao dióxido de carbono, colocando-as em maior risco de complicações respiratórias.
A escolha do centro para o tratamento é de extrema importância, especialmente em crianças com comorbidades associadas ou condições de alto risco. Crianças com peso inferior a 12 kg ou abaixo de 2 anos devem ser tratadas em centros de alta acuidade, com unidades de cuidados intensivos pediátricos (HDU) disponíveis, onde os cuidados especializados são mais acessíveis. Além disso, casos extremos de peso, como aqueles com um índice de massa corporal (IMC) acima do percentil 99,6 ou abaixo do percentil 0,4, devem ser tratados em centros especializados. Outros fatores de risco incluem paralisia cerebral severa, acondroplasia, distúrbios neuromusculares e anomalias craniofaciais significativas.
O CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas) é uma opção frequentemente utilizada no tratamento da obstrução das vias aéreas durante o sono em adultos, mas também é indicado para crianças, especialmente em casos graves de AOS que não respondem adequadamente à cirurgia. O CPAP funciona fornecendo um fluxo contínuo de ar através de uma máscara facial, agindo como uma tala pneumática para manter as vias aéreas superiores abertas. Embora os problemas de conformidade possam ocorrer em crianças, o dispositivo é frequentemente utilizado em programas domiciliares, com a supervisão de médicos respiratórios ou anestesistas.
Outro método relevante para o tratamento de AOS em crianças é o uso de uma via aérea nasofaríngea, que pode ser mantida através de um tubo endotraqueal modificado inserido transnasalmente, especialmente útil em casos de glossoptose. Com o treinamento adequado, os pais podem aprender a limpar e substituir o dispositivo, permitindo que a criança tenha alta hospitalar enquanto é monitorada durante um período prolongado até que a condição melhore.
Em alguns casos extremos, a traqueostomia pode ser considerada uma opção para contornar a obstrução das vias aéreas superiores. Embora seja raramente indicada para AOS não complicada, a traqueostomia pode ser necessária em crianças com doenças multisistêmicas severas. Esta técnica, no entanto, deve ser vista como uma medida extrema, com as implicações e potenciais complicações discutidas detalhadamente com os responsáveis e profissionais médicos.
Além dos métodos terapêuticos descritos, é importante entender que o manejo da AOS pediátrica deve ser sempre personalizado. O acompanhamento pós-operatório e o monitoramento contínuo das condições respiratórias são essenciais para garantir a recuperação completa e o sucesso do tratamento. Para crianças com AOS severa, a realização da cirurgia pela manhã, quando as crianças estão mais descansadas, pode reduzir complicações pós-operatórias, além de ser fundamental o apoio contínuo de profissionais qualificados.
Ademais, enquanto o tratamento cirúrgico e o uso de dispositivos como o CPAP são eficazes na maioria dos casos, é essencial que o ambiente onde a criança recebe cuidados seja adequado para o manejo das suas necessidades específicas. O tratamento não deve ser visto apenas como uma intervenção médica, mas como parte de um processo integrado que envolva cuidados contínuos, educação para os pais e um plano de acompanhamento que garanta a melhoria contínua da qualidade de vida da criança.
Quais são os principais aspectos da dissecção do pescoço e doenças da tireoide em cirurgias otorrinolaringológicas?
A dissecção do pescoço, particularmente a técnica de dissecção de pescoço 569-570, é uma abordagem crucial no tratamento de diversos tumores da região, inclusive os malignos, e implica uma série de considerações tanto anatômicas quanto técnicas. A técnica envolve a remoção de linfonodos e, frequentemente, de outras estruturas associadas, para alcançar margens livres de tumor, sem comprometer a função vital de órgãos adjacentes, como a traqueia, os nervos e os vasos sanguíneos. A localização das glândulas salivares, a relação com a carótida e as veias jugulares são alguns dos elementos anatômicos críticos que exigem um cuidado excepcional. A dissecção do pescoço é comumente associada ao tratamento de cânceres da cabeça e pescoço, com um foco particular na dissecção cervical em casos de câncer de tireoide.
No campo das doenças da tireoide, é essencial observar como o crescimento do goitre e as alterações relacionadas ao hormônio estimulante da tireoide (TSH) podem ser indicadores de doenças autoimunes ou malignas. A doença de Hashimoto, que se caracteriza por uma inflamação crônica da glândula tireoide, pode ser confundida com o carcinoma em estágios iniciais, devido à alteração do tamanho da glândula e às mudanças histológicas que compartilham características com processos malignos. Já a tireotoxicose exige abordagens diferenciadas, especialmente quando se está considerando intervenções cirúrgicas, devido aos riscos de complicações associadas ao controle do hormônio tireoidiano durante o procedimento.
Nos exames de imagem, a ultrassonografia e a tomografia computorizada desempenham papéis fundamentais na avaliação da extensão de doenças da tireoide, e também nas intervenções cirúrgicas. Um estudo cuidadoso das imagens e da avaliação clínica ajuda a determinar a necessidade de uma abordagem mais agressiva ou conservadora, dependendo da natureza da lesão, seja ela benigna ou maligna. O uso de hormônios tireoidianos, como o T3 e o T4, também entra em jogo na avaliação pré-operatória, ajudando a minimizar o risco de complicações pós-cirúrgicas como a hipocalcemia.
Em relação aos tumores da tireoide, a detecção precoce e a correta classificação são cruciais para um planejamento cirúrgico bem-sucedido. A distinção entre carcinoma papilífero e folicular, por exemplo, influencia diretamente a escolha da técnica de dissecção e a extensão da ressecção do tecido. Em particular, o câncer da tireoide pode apresentar metástases para linfonodos cervicais, o que reforça a importância da dissecção de pescoço no manejo terapêutico, proporcionando um prognóstico melhor quando executada corretamente.
Além disso, o manejo das doenças tireoidianas deve levar em consideração os possíveis efeitos colaterais dos tratamentos. A possibilidade de hipocalcemia após a remoção de glândulas paratireoides e o risco de lesão do nervo laríngeo recorrente, que pode comprometer a função vocal, são complicações potenciais que devem ser cuidadosamente monitoradas. Isso também se aplica aos pacientes com doenças autoimunes, como a doença de Graves, onde as estratégias cirúrgicas devem ser ajustadas para minimizar a exposição a riscos que poderiam exacerbar a doença de base.
A avaliação da função tireoidiana é imprescindível para o acompanhamento pós-operatório. Isso inclui não apenas os exames de sangue, mas também o monitoramento contínuo do impacto das intervenções cirúrgicas no metabolismo do paciente. A tireoidite de De Quervain, por exemplo, pode desencadear uma série de complicações adicionais em pacientes submetidos a cirurgias, e a resposta a terapias específicas como corticosteroides e análogos da dopamina deve ser cuidadosamente acompanhada.
Nos casos de complicações como a mastoidite ou sinusite lateral, a dissecção do pescoço deve ser abordada com especial cuidado, já que esses processos infecciosos podem se espalhar rapidamente para as vias aéreas superiores, exigindo uma abordagem multidisciplinar. Os profissionais envolvidos nesse tipo de cirurgia devem estar sempre atentos à anatomia complexa da região cervical, incluindo a veia jugular, as artérias carótidas e as várias estruturas nervosas, que são todas de grande importância para o sucesso do procedimento.
Além disso, é importante ressaltar que a recuperação pós-operatória da dissecção de pescoço e das cirurgias tireoidianas exige um acompanhamento rigoroso. A fisioterapia pode ser necessária para restaurar a função da laringe e do pescoço, especialmente nos casos em que há comprometimento do movimento vocal ou da deglutição. O paciente deve ser monitorado para evitar complicações respiratórias ou infecciosas, como abscessos e infecções nos espaços retrofaríngeo e pré-traqueal, que podem ocorrer durante ou após o processo de cicatrização.
Ao entender todos esses aspectos, o leitor poderá ter uma visão mais ampla e precisa sobre os desafios envolvidos na dissecção do pescoço e nas intervenções cirúrgicas para doenças da tireoide. A abordagem deve ser individualizada, considerando as características anatômicas do paciente, a natureza da doença e a experiência da equipe médica envolvida.
Como o tratamento específico pode modificar o curso da rinite alérgica e suas complicações associadas?
Pacientes com asma alérgica subjacente frequentemente experimentam piora dos sintomas respiratórios durante períodos de alta exposição a alérgenos, como na estação do verão para portadores de febre do feno, quando há um pico de sibilância sazonal. A congestão nasal persistente, manifestada como obstrução, pode ser aliviada por cursos breves de descongestionantes tópicos; entretanto, seu uso prolongado além de 10 dias aumenta o risco de rinite medicamentosa (RM), condição que deve ser evitada. Corticoides intranasais concomitantes podem reduzir a chance de RM, mas seu efeito não elimina completamente o problema, que é comum, especialmente em pacientes que fazem automedicação. Descongestionantes orais, embora menos propensos a causar RM, apresentam efeitos sistêmicos indesejados e devem ser evitados em indivíduos hipertensos. Cromonas, como o cromoglicato de sódio intraocular ou intranasal, estabilizam mastócitos e podem atenuar sintomas irritativos, mas seu efeito é discreto e temporário, sendo indicadas principalmente em exposições pontuais a alérgenos conhecidos, como em visitas a ambientes com gatos.
A imunoterapia alérgeno-específica, um tratamento comprovado para o controle a longo prazo da rinite alérgica, deve ser considerada para pacientes que não respondem adequadamente à terapia farmacológica máxima, desde que haja diagnóstico confirmado de alergia mediada por IgE. A administração pode ser subcutânea (SCIT) ou sublingual (SLIT). SCIT, realizado em ambiente médico com profissionais capacitados para manejo de eventos adversos severos como anafilaxia, apresenta risco relativamente maior de reações sistêmicas graves em comparação com SLIT, embora tais eventos sejam incomuns. Após a fase inicial de indução, a continuidade do tratamento costuma ser mensal por cerca de três anos para garantir efeito duradouro. SLIT, por sua vez, inicia-se em ambiente controlado e, se bem tolerada, pode ser continuada em casa, oferecendo um perfil de segurança superior, com anafilaxia praticamente rara, mas incidência maior de irritação local.
Para pacientes refratários às terapias convencionais e à imunoterapia, a utilização de agentes biológicos como o omalizumabe — um anticorpo monoclonal recombinante que impede a ligação da IgE livre aos mastócitos e basófilos — tem demonstrado benefício clínico significativo, reduzindo sintomas nasais e oculares, além de melhorar a qualidade de vida. No entanto, seu uso atualmente está aprovado no Reino Unido somente para casos de asma moderada a grave não controlada e urticária crônica espontânea, não sendo autorizado exclusivamente para rinite alérgica.
Embora o tratamento da rinite alérgica seja majoritariamente medicamentoso, a cirurgia pode ter papel complementar em casos selecionados. A hipertrofia dos cornetos inferiores, frequentemente decorrente de rinite alérgica crônica, contribui para obstrução nasal resistente a medicamentos e aumento da secreção aquosa. Alterações estruturais obstrutivas nasais, como desvio de septo, comprometem não só a passagem aérea como a eficácia da aplicação tópica de fármacos. Procedimentos como septoplastia ou rinoplastia funcional podem ser indicados para corrigir tais alterações e melhorar a resposta terapêutica.
A avaliação do controle da rinite alérgica tem se beneficiado de tecnologias móveis, como o Mobile Airways Sentinel Network (MASK), uma iniciativa ARIA que disponibiliza um diário digital para registro de sintomas e impacto na qualidade de vida, utilizando escalas visuais analógicas (VAS). Essas ferramentas auxiliam no acompanhamento individualizado da doença e na tomada de decisões clínicas baseadas em evidências, promovendo uma abordagem centrada no paciente e compartilhada entre este e o profissional de saúde.
É fundamental entender a rinite alérgica não apenas como uma condição isolada, mas como parte integrante de uma doença inflamatória das vias aéreas superiores e inferiores, frequentemente coexistente com asma. O diagnóstico depende da correlação entre quadro clínico, exposição a alérgenos e confirmação da sensibilização imunológica. O manejo contemporâneo valoriza a personalização e a integração dos cuidados, reconhecendo a limitação das diretrizes rígidas diante da complexidade individual dos casos.
Além dos aspectos terapêuticos, é crucial para o leitor compreender que a automedicação é um problema frequente e que o manejo inadequado pode agravar o quadro clínico, especialmente pela indução de rinite medicamentosa. A adesão ao tratamento correto, a educação do paciente sobre a doença e a importância da monitorização são pilares indispensáveis para a efetividade do controle da rinite alérgica.
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