O grafo benzenoide, devido à sua natureza bipartida, apresenta um polinômio característico que pode ser expresso na forma (56). No caso dos sistemas benzenoides, os coeficientes b(G,k)b(G, k) possuem propriedades especiais que merecem destaque, conforme o teorema a seguir [84, 107]. Se denotarmos por m(G,k)m(G, k) o número de emparelhamentos ZcZ_c do grafo GG, temos o seguinte teorema:

Teorema 6.12:

Se GG é um grafo benzenoide, então:
(a) b(G,k)=0b(G, k) = 0 se e somente se m(G,k)=0m(G, k) = 0,
(b) b(G,k)m(G,k)b(G, k) \geq m(G, k) para todo k0k \geq 0,
(c) Se nn é par, então b(G,n/2)=m(G,n/2)2b(G, n/2) = m(G, n/2)^2.

Neste contexto, m(G,n/2)m(G, n/2) corresponde ao número de emparelhamentos perfeitos do grafo GG, que é igual ao número de estruturas Kekulé da molécula conjugada correspondente. Dewar e Longuet-Higgins [84] foram os primeiros a observar a importante relação detA=(1)n/2K2\text{det} A = (-1)^{n/2} K^2, que é equivalente à afirmação (c) do Teorema 6.12. Aqui, AA representa a matriz de adjacência e KK a contagem das estruturas Kekulé da molécula benzenoide correspondente. A equação (70) teve um impacto significativo no desenvolvimento de várias abordagens teóricas para os hidrocarbonetos benzenoides, que foram revistas em outros trabalhos [28, 29]. Algumas aplicações dessa relação serão discutidas no Capítulo 12.

Como consequência do teorema de emparelhamento e da equação (70), o número de estruturas Kekulé de uma molécula benzenoide é obtido multiplicando os autovalores não negativos do grafo molecular. O número KK é igual a zero se, e somente se, o grafo molecular possuir um autovalor zero.

Ao considerar a estrutura molecular em questão, é importante observar que a teoria dos grafos oferece uma representação topológica da molécula, mas não fornece informações diretas sobre a natureza dos átomos e das ligações químicas presentes. Esse é um ponto crucial, pois moléculas com a mesma topologia podem representar compostos químicos substancialmente diferentes. No caso dos hidrocarbonetos, a ausência dessas informações é compensada pelo nosso conhecimento prévio sobre os tipos de átomos que ocorrem nesses compostos, além de ser fácil distinguir entre os vértices representando átomos de carbono e de hidrogênio. No entanto, para moléculas contendo heteroátomos, o grafo molecular, por si só, não oferece a identificação de tais elementos.

Para superar essa limitação da descrição topológica das moléculas, é necessário incorporar informações adicionais sobre os átomos e as ligações químicas no grafo molecular. Existem várias formas de fazer isso, mas uma das representações gráficas mais comuns para moléculas com heteroátomos é associar a cada heteroátomo um vértice com um laço ponderado. O peso desse laço é característico para cada tipo de heteroátomo, permitindo uma representação mais detalhada da estrutura molecular.

Por exemplo, o grafo molecular da piridina pode ser representado com um laço ponderado AA no vértice correspondente ao átomo de nitrogênio, que substitui um átomo de carbono na estrutura do benzeno. Além disso, para indicar que as ligações CNCN na piridina não são iguais às ligações CCCC, é possível atribuir um peso específico às arestas que representam essas ligações. Essa representação tem suas raízes na aplicação da teoria dos grafos à teoria dos orbitais moleculares de Huckel (ver Capítulo 5), onde os pesos hh e kk estão diretamente relacionados aos parâmetros de HMO utilizados nos integrals de Coulomb e ressonância.

Entretanto, essa representação também apresenta algumas desvantagens. Primeiramente, o que são chamados de "grafos moleculares" não são, na verdade, grafos no sentido estrito das definições matemáticas, mas sim representações matriciais, particularmente a matriz Hamiltoniana de HMO. Em segundo lugar, moléculas isotopológicas podem ter grafos moleculares diferentes, o que significa que o grafo molecular não pode mais ser visto como uma simples representação da topologia da molécula. Em terceiro lugar, o grafo molecular depende de detalhes marginalmente relevantes, como a escolha dos parâmetros de HMO para o heteroátomo.

Uma abordagem alternativa sugere que moléculas com heteroátomos também sejam representadas por grafos simples, com um peso associado à matriz W=HGW = H^G do grafo molecular GG, permitindo que informações adicionais sobre os átomos e as ligações sejam registradas. Os elementos de W(G)W(G) são interpretados como pesos, onde, por exemplo, wrrw_{rr} é o peso do vértice rr, e wrsw_{rs} é o peso da aresta conectando os vértices vrv_r e vsv_s. A matriz de pesos deve ser simétrica, e é conveniente que wrs=0w_{rs} = 0 quando os vértices vrv_r e vsv_s não forem adjacentes. A construção dessa matriz de pesos depende do propósito específico para o qual será usada. Se a intenção é aplicar a teoria dos grafos no modelo HMO, a matriz W(G)W(G) coincidirá com a matriz Hamiltoniana de HMO. Para outros fins, uma matriz de pesos completamente diferente pode ser necessária.

Por fim, um grafo ponderado (G,W)(G, W) é a representação topológica apropriada para moléculas contendo heteroátomos.

Qual a Relação Entre a Topologia Molecular e a Estabilidade Termodinâmica de Moléculas Conjugadas?

O índice topológico de Hosoya, representado por Z(G), descreve a complexidade de uma molécula em termos de sua estrutura gráfica. A partir da teoria das redes e grafos, pode-se entender a distribuição e a interação entre átomos e ligações de forma que reflita as propriedades termodinâmicas da molécula. As árvores com um número específico de vértices têm sido estudadas para analisar o comportamento desse índice, sendo a estrela e o caminho, por exemplo, dois tipos de grafos que evidenciam os extremos de valor de Z entre as árvores. De maneira mais precisa, é possível afirmar que entre árvores com nn vértices, a estrela possui o valor mínimo e o caminho o máximo para o índice Z.

A importância desses índices é visível em moléculas orgânicas, como os monometilalcanos, cujos comportamentos, como os pontos de ebulição, seguem certos padrões predizíveis pela teoria dos índices topológicos. O teorema 11.8, por exemplo, relaciona a posição do grupo metil em uma cadeia de carbono e a variação dos pontos de ebulição dessas substâncias, demonstrando que conforme o grupo metil se desloca ao longo da estrutura, os pontos de ebulição alternam entre aumentos e diminuições.

A regularidade dos índices topológicos em moléculas conjugadas é crucial para determinar a estabilidade termodinâmica de compostos, e é aqui que a teoria dos orbitais moleculares (HMO) entra em cena. Segundo essa teoria, a energia total dos elétrons π em moléculas conjugadas é fortemente influenciada pela topologia da molécula. A energia dos elétrons π pode ser descrita de maneira simples, como uma combinação de termos que descrevem a interação entre os elétrons, sendo o segundo termo, relacionado à interação entre eles, o mais relevante para a estabilidade termodinâmica.

A fórmula para a energia total dos elétrons EtotalE_{\text{total}}, dada pela equação E=jrjϵjE = \sum_{j} r_j \epsilon_j, onde ϵj\epsilon_j é a energia associada ao j-ésimo orbital molecular e rjr_j é o número de elétrons nesse orbital, sugere que a estabilidade termodinâmica de uma molécula está intimamente ligada à sua topologia molecular. O termo de interação entre os elétrons π é crucial, já que ele reflete a força da ligação entre os elétrons, e, portanto, a estabilidade da estrutura molecular.

Porém, é importante observar que, apesar de sua simplicidade, o modelo HMO tem suas limitações. Ele não leva em conta interações mais complexas entre os elétrons, como aquelas que são tratadas por abordagens mais avançadas em teoria de orbitais moleculares. A principal contribuição do modelo HMO é a sua capacidade de fornecer uma boa aproximação da energia dos elétrons π em compostos conjugados, permitindo estimativas razoáveis da estabilidade termodinâmica das moléculas.

Em um contexto mais amplo, a relação entre a energia dos elétrons π e a topologia molecular é fundamental para compreender as propriedades termodinâmicas das moléculas conjugadas. A estabilidade de compostos orgânicos conjugados pode ser prevista com um bom grau de precisão com base em sua estrutura topológica, e as tendências observadas entre compostos quimicamente relacionados são geralmente bem representadas por esses índices.

Além disso, é importante entender que, embora os índices topológicos possam fornecer uma visão geral do comportamento de uma molécula, outras considerações, como as condições experimentais, a presença de grupos funcionais e as interações intermoleculares, também desempenham um papel significativo na determinação das propriedades físicas e químicas de uma substância. Portanto, embora os índices como o de Hosoya sejam ferramentas poderosas, eles devem ser utilizados em conjunto com outras abordagens para uma compreensão completa do comportamento molecular.