A implantação de um dispositivo de assistência ventricular esquerda (LVAD) é um procedimento altamente especializado que envolve diversas etapas complexas, tanto técnicas quanto anatômicas. O sucesso dessa intervenção depende da escolha de uma abordagem cirúrgica adequada, que minimize riscos como infecção, complicações hemorrágicas e falhas no funcionamento do dispositivo. A seguir, são discutidas algumas das abordagens mais comuns, detalhando os aspectos críticos que devem ser observados.
A primeira fase da cirurgia envolve a marcação prévia do local de saída, seguida pela dissecção até o ponto apical, com a avaliação das vistas obtidas pelo ecocardiograma transesofágico (TEE). A visualização da fáscia do reto abdominal é fundamental para garantir que a linha de condução seja alinhada corretamente, evitando possíveis problemas durante a inserção do LVAD. Essa condução deve ser tunelada internamente, alinhada de forma adequada para garantir a fixação segura no peito.
Uma das decisões cruciais durante o procedimento é a técnica de fixação do anel de costura do LVAD. Ele pode ser anexado ao ápice do coração antes ou depois da perfuração. Ambas as técnicas têm mostrado resultados semelhantes no estudo Momentum 3, com a técnica de coring primeiro e costura depois exigindo um tempo maior de circulação extracorpórea (CPB). Por outro lado, a técnica de costura primeiro, seguida de coring, requer menos tempo de CPB e resulta em uma menor distância subcutânea visível. Além disso, o risco de infecção na linha de condução pode ser minimizado quando se mantém o veludo dentro da fáscia, sem visibilidade na superfície da pele.
Na sequência, a realização da ventrículo-tomia é essencial para a inserção do LVAD. Para isso, a utilização de uma ferramenta de perfuração especializada permite a abertura do ápice do ventrículo esquerdo de forma controlada. Após a abertura, a inspeção do ventrículo é necessária para garantir que não haja trombos ou trabéculas que possam interferir no funcionamento do dispositivo. Após essa etapa, o LVAD é posicionado e fixado adequadamente.
A circulação extracorpórea (CPB) pode ser utilizada de forma convencional ou em casos específicos, pode-se utilizar cânulas e dispositivos de suporte circulatório pré-existentes. A utilização de ecocardiograma transesofágico durante o CPB é imprescindível para monitorar a função ventricular direita e possíveis complicações, como shunts esquerdo-direito ou insuficiência aórtica.
Em relação à anastomose do enxerto de saída, a escolha do comprimento adequado do enxerto é fundamental. O enxerto deve ser cortado de forma precisa e angulado a 60–75°, permitindo um caminho intrapericárdico eficiente. A fixação do enxerto é realizada com suturas de polipropileno 4-0 ou 5-0. A desairação do enxerto é um passo crucial, pois a presença de ar pode comprometer a eficácia da cirurgia. O uso de dióxido de carbono para inundar o campo cirúrgico pode ajudar a minimizar a entrada de ar no coração. Além disso, a ventilação de baixo volume e baixo fluxo durante o procedimento contribui para a remoção de ar da área operada.
Outro fator importante a ser considerado é a abordagem menos invasiva na implantação do LVAD. O uso de dispositivos centrífugos menores, juntamente com uma compreensão aprimorada da fisiologia do fluxo contínuo, permitiu a adaptação de técnicas cirúrgicas menos agressivas. Isso resulta em melhores resultados perioperatórios, pois preserva a integridade do esterno e das partes do pericárdio, além de facilitar a recuperação do paciente.
Quanto ao acesso torácico, a escolha da técnica varia conforme a preferência do cirurgião, a posição do aorta e a necessidade de exposição do ventrículo esquerdo. O acesso pode ser realizado por uma toracotomia anterior direita ou uma esternotomia parcial superior, dependendo das condições do paciente e da experiência do cirurgião. As incisões são feitas com precisão, sendo que, em alguns casos, a abertura da fáscia interna do tórax pode ser necessária para melhorar a exposição do ventrículo esquerdo.
Durante o procedimento, é essencial que a posição do paciente seja cuidadosamente ajustada para melhorar a exposição da área apical. O uso de um suporte ou almofada inflável pode facilitar a visualização do ápice do coração. A realização de uma incisão na linha média do tórax ou no espaço intercostal apropriado depende da abordagem escolhida e do grau de exposição necessário. A técnica de toracotomia anterior direita, por exemplo, permite uma visualização adequada do ventrículo esquerdo, facilitando a inserção do LVAD.
Por fim, é importante que a equipe cirúrgica esteja atenta ao risco de embolismo, uma complicação potencialmente grave durante o procedimento. O uso de estratégias de desairamento, como a infusão de CO₂ no campo cirúrgico, ajuda a evitar a formação de bolhas de ar que possam levar a um acidente vascular cerebral (AVC) ou disfunção neurológica transitória.
A gestão pós-operatória também é uma fase crítica. A retirada do CPB deve ser realizada de forma gradual, com monitoramento constante da função ventricular direita e da dinâmica respiratória. A reversão da anticoagulação deve ser cuidadosamente controlada, e a avaliação contínua da presença de sangramentos é fundamental para garantir que o paciente não sofra complicações adicionais.
Como o Suporte Circulatório Mecânico de Longo Prazo Afeta a Função Pulmonar e o Risco de Complicações?
O suporte circulatório mecânico (SCM) de longo prazo, como os dispositivos de assistência ventricular esquerda (LVADs), transforma profundamente a fisiopatologia do paciente com insuficiência cardíaca avançada. Embora esses dispositivos representem um avanço revolucionário na terapia de suporte à vida, seu impacto sobre a função pulmonar e o risco de complicações associadas não é apenas significativo, mas também multifacetado, exigindo uma vigilância constante e um manejo altamente especializado.
Uma das alterações mais importantes promovidas pelo LVAD é a modificação do gradiente transpulmonar, um elemento essencial para a oxigenação adequada e a integridade funcional do parênquima pulmonar. A perda deste gradiente pode levar à isquemia pulmonar, que por sua vez, está intimamente ligada à síndrome da lesão pulmonar aguda, frequentemente observada após a implantação do dispositivo, especialmente em pacientes previamente submetidos à oxigenação por membrana extracorpórea venoarterial (VA ECMO).
Complicações pulmonares específicas do SCM de curto prazo, como o edema pulmonar induzido por distensão do ventrículo esquerdo, são bem reconhecidas, mas é no contexto do suporte de longo prazo que os efeitos mais crônicos e insidiosos se manifestam. Entre essas complicações, destacam-se alterações funcionais progressivas, lesão pulmonar aguda pós-implante, e até mesmo comprometimento da função pulmonar devido à interação complexa entre a fisiologia da circulação extracorpórea contínua e a mecânica respiratória.
O risco de sangramentos gastrointestinais em pacientes com LVAD contínuo, como demonstrado por Muthiah e colaboradores, correlaciona-se com um aumento na incidência de angiodisplasia, especialmente no trato gastrointestinal. Esse fenômeno pode ser entendido em parte pela alteração da hemodinâmica sistêmica e pela perda do pulso arterial fisiológico, que predispõe à fragilidade vascular.
No âmbito neurológico, a ocorrência de eventos cerebrovasculares, incluindo acidente vascular cerebral e hemorragia intracraniana, continua sendo uma das complicações mais devastadoras. Estudos como os de Lai e Willey revelam que essas complicações estão associadas não apenas ao dispositivo em si, mas também ao uso contínuo de anticoagulantes e às características individuais do paciente. Estratégias para reversão segura da anticoagulação, como demonstrado por Jennings e colegas, são cruciais para mitigar o risco de eventos catastróficos, mas exigem um equilíbrio delicado entre tromboprofilaxia e risco hemorrágico.
A hemocompatibilidade dos dispositivos, explorada em detalhes por Uriel e na análise do MOMENTUM 3 Trial, continua sendo um campo em evolução. Dispositivos com levitação magnética total demonstram menor taxa de eventos adversos hemocompatíveis, sugerindo que o design do hardware influencia diretamente os resultados clínicos.
Do ponto de vista cirúrgico, a realização de procedimentos valvares concomitantes, como discutido por John e colaboradores, pode modificar substancialmente o prognóstico pós-implante. A superfície corporal reduzida também tem sido implicada como um preditor independente de mortalidade associada a AVC e sangramento sistêmico, conforme evidenciado por Komoda.
O comprometimento cognitivo em pacientes com insuficiência cardíaca avançada, como avaliado por Petrucci, levanta questões importantes sobre a qualidade de vida e a seleção de pacientes candidatos a LVAD. A função cognitiva pode não apenas afetar a aderência ao tratamento, mas também influenciar diretamente os desfechos clínicos a longo prazo.
A evolução tecnológica dos dispositivos, como o HeartMate II e o HVAD, marca avanços importantes em termos de engenharia e confiabilidade. Contudo, o progresso tecnológico deve ser acompanhado por uma compreensão cada vez mais refinada dos riscos específicos e das estratégias de mitigação. O acompanhamento multiprofissional, com envolvimento de neurologistas, pneumologistas e especialistas em cuidados intensivos, torna-se imprescindível para garantir um manejo integral e personalizado desses pacientes.
É essencial considerar que a presença de complicações pulmonares no pós-operatório imediato, incluindo lesão pulmonar aguda, é agravada pela complexa interação entre a ventilação mecânica, inflamação sistêmica e disfunção hemodinâmica. A identificação precoce desses eventos e a intervenção rápida podem ser determinantes para a sobrevivência.
Além das complicações clínicas, a abordagem terapêutica de pacientes com LVAD requer estratégias precisas de monitoramento da terapia antiplaquetária e anticoagulante. A utilização da tromboelastografia, como sugerido por Karimi, permite ajustes finos na terapia, reduzindo o risco de sangramento tardio sem comprometer a segurança do paciente.
Importa compreender que o suporte circulatório mecânico não é apenas um substituto da função cardíaca, mas um novo paradigma fisiológico com múltiplas repercussões sobre a homeostase global do organismo. Ao redefinir a hemodinâmica central, o LVAD reconfigura a relação entre coração, pulmões, cérebro e sistema gastrointestinal, impondo uma carga adaptativa aos sistemas já comprometidos do paciente com insuficiência cardíaca terminal.
Como a Avaliação Psicosocial e os Fatores do Paciente Influenciam o Sucesso no Uso de Dispositivos de Assistência Ventricular (VAD)
O sucesso no tratamento com dispositivos de assistência ventricular (VAD) depende de diversos fatores interconectados, entre os quais se destacam a avaliação psicossocial e a capacidade do paciente de realizar atividades diárias. A habilidade de um paciente em lidar com as demandas psicológicas, além de sua adesão ao tratamento, tem um impacto significativo em sua recuperação e na eficácia do dispositivo. Este processo envolve uma equipe multidisciplinar, e cada membro desempenha um papel essencial na avaliação, adaptação do tratamento e apoio contínuo durante o uso do VAD.
A avaliação psicossocial realizada pelos assistentes sociais é uma parte crítica dessa abordagem. O trabalho desse profissional vai além de uma simples avaliação do ambiente familiar ou das condições emocionais do paciente. O assistente social tem a função de explorar as dinâmicas familiares, as estratégias de enfrentamento do paciente, e sua capacidade de aderir a um regime de tratamento exigente. É fundamental que os pacientes compreendam, de forma clara, as implicações do uso de um VAD, tanto físicas quanto psicológicas. Além disso, o apoio das redes familiares e a disposição para seguir as orientações médicas podem ser determinantes para o sucesso a longo prazo. Quando os pacientes enfrentam dificuldades psicossociais, como problemas com o álcool, drogas ilícitas ou distúrbios psiquiátricos, é necessário um encaminhamento especializado para garantir que esses obstáculos sejam tratados de maneira eficaz.
Além disso, os profissionais de reabilitação física e ocupacional desempenham um papel central na adaptação do paciente ao uso do VAD. Eles são responsáveis por ajustar o tratamento de fisioterapia de acordo com as necessidades específicas do paciente, levando em consideração a fisiologia do fluxo contínuo do dispositivo. A modificação das metas de pressão arterial durante a reabilitação, por exemplo, é uma medida importante para garantir que os pacientes não sofram complicações devido às características específicas dos VADs. O treinamento contínuo dessas equipes é essencial para manter altos níveis de competência e eficácia no cuidado dos pacientes com insuficiência cardíaca avançada.
O papel dos médicos de reabilitação cardíaca também deve ser destacado, uma vez que eles são responsáveis por ajudar os pacientes a melhorar sua capacidade de exercício, mobilidade e confiança ao realizar atividades diárias. Em um ambiente de reabilitação, o apoio contínuo durante os exercícios pode reduzir significativamente a ansiedade dos pacientes, especialmente quando eles têm a certeza de que estão sendo monitorados de perto para prevenir qualquer complicação. Isso se reflete em uma melhora nas capacidades funcionais e na aceitação do dispositivo, fatores que contribuem diretamente para a qualidade de vida do paciente.
Quando se fala em cuidados paliativos, a questão da qualidade de vida torna-se ainda mais relevante. Pacientes com insuficiência cardíaca avançada enfrentam um dilema constante entre os riscos e benefícios de um tratamento prolongado com o VAD. Esses pacientes, muitas vezes, necessitam de cuidados paliativos que ajudem a controlar os sintomas da insuficiência cardíaca, ao mesmo tempo em que se discutem metas de cuidado que estejam alinhadas com as expectativas e valores do paciente e de sua família. A redução da ansiedade e da depressão, juntamente com o alívio do sofrimento físico, são objetivos principais dessa abordagem. A integração de cuidados paliativos desde o início do tratamento com VAD pode melhorar significativamente a percepção de bem-estar do paciente e de sua família.
Em relação ao ambiente hospitalar e de reabilitação, é fundamental que as instalações de reabilitação estejam devidamente preparadas para lidar com as especificidades dos pacientes com VAD. A presença de profissionais capacitados, o uso de equipamentos adequados e a implementação de protocolos claros para emergência são condições essenciais para garantir que os pacientes possam ser atendidos de maneira eficaz em qualquer situação.
A atuação de uma equipe multidisciplinar é indispensável para o sucesso do tratamento com VAD. O médico, assistente social, enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo e especialista em cuidados paliativos devem trabalhar em conjunto, proporcionando um acompanhamento contínuo e personalizado para cada paciente. A colaboração entre os membros da equipe garante que o paciente não apenas receba um tratamento técnico adequado, mas também seja apoiado nas questões emocionais, familiares e sociais que surgem durante o processo de adaptação ao VAD.
Em termos de educação e treinamento, é necessário que os pacientes e suas famílias compreendam a importância de seguir rigorosamente as orientações médicas, não apenas durante a hospitalização, mas também após a alta. A educação contínua sobre como lidar com os dispositivos, como reconhecer sinais de alerta e como manter uma comunicação aberta com a equipe de saúde são componentes fundamentais para evitar complicações e melhorar o prognóstico a longo prazo.
Por fim, é essencial lembrar que, embora o VAD seja uma solução eficaz para muitos pacientes com insuficiência cardíaca avançada, ele não resolve todos os problemas. Complicações, como infecções ou dificuldades de adaptação ao dispositivo, podem surgir, e o suporte psicológico e social contínuo é necessário para lidar com essas situações. A aceitação do dispositivo, o manejo das comorbidades e a capacidade de lidar com os desafios psicológicos são aspectos que, quando bem gerenciados, podem transformar a experiência de um paciente com VAD e melhorar sua qualidade de vida.

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