A "pedagogia pública" é um conceito que, ao longo do tempo, tem sido associado principalmente à promoção da justiça social e ao bem comum. Definida por acadêmicos como Jennifer Sandlin e seus colegas, ela se refere às práticas educacionais e aos processos de aprendizagem que ocorrem fora dos espaços formais de ensino, como escolas e universidades, abrangendo desde a cultura popular, os meios de comunicação, até movimentos ativistas e a internet. Sua importância reside no fato de que essas formas de educação transcendem o currículo escolar tradicional, atuando no espaço público e influenciando a consciência e as práticas sociais dos cidadãos.

Desde sua introdução na literatura acadêmica no final do século XIX, o conceito de pedagogia pública se expandiu significativamente no século XXI, particularmente a partir de 2006. A pedagogia pública, conforme proposta por teóricos como Henry Giroux e Roger Simon, busca interagir com a cultura de maneira a ampliar o entendimento do papel da educação na formação de uma sociedade democrática, focando-se, muitas vezes, em como as ideologias dominantes afetam as pessoas, principalmente os grupos marginalizados. A pedagogia pública, então, é vista como uma ferramenta de resistência a formas de opressão como o neoliberalismo, o racismo e a desigualdade de gênero.

Entretanto, uma análise da pedagogia pública na era contemporânea não está completa sem levar em consideração a maneira como figuras políticas reacionárias, como Donald Trump e o movimento alt-right, têm utilizado essas mesmas ferramentas para promover seus ideais. Trump e a alt-right têm se apropriado de espaços tradicionalmente associados à pedagogia pública para disseminar um discurso que se opõe diretamente à promoção da justiça social, ao invés disso, pregando a supremacia branca, o nacionalismo e um estado etno-racial.

Ao contrário da pedagogia pública tradicionalmente ligada a movimentos progressistas, a pedagogia pública de Trump e da alt-right se baseia na disseminação de ideias extremistas e reacionárias. Usando os meios de comunicação de massa e plataformas digitais, esses grupos promovem um discurso de ódio e divisão, visando minar os avanços conquistados por aqueles que defendem a igualdade racial, de gênero e de classe social. Essa manipulação de espaços públicos para espalhar ideologias de exclusão não é um fenômeno novo, mas a intensidade e o alcance com que esses grupos têm operado exigem uma análise crítica mais aprofundada.

A pedagogia pública de Trump e da alt-right não se limita apenas à política explícita; ela permeia os discursos cotidianos, influenciando a percepção das pessoas sobre questões como imigração, identidade racial, e a própria estrutura da sociedade. O uso de figuras proeminentes da mídia, como apresentadores de rádio e influenciadores digitais, cria um ambiente no qual as ideias de supremacia branca e xenofobia se tornam normalizadas. Esse tipo de pedagogia não ocorre apenas em discursos públicos, mas também na forma como a cultura popular é moldada e como os indivíduos são ensinados a ver o "outro" – seja ele muçulmano, imigrante ou negro – como uma ameaça à sua própria identidade.

O grande desafio, então, é entender como essa pedagogia pública reacionária tem sido capaz de capturar a imaginação de uma parte significativa da população, especialmente no contexto de uma crescente polarização política. A análise de Giroux sobre uma "pedagogia pública do ódio" nos alerta sobre os perigos dessa manipulação ideológica. Essa forma de pedagogia se utiliza do medo e da raiva para fomentar divisões, criando um clima no qual as minorias são sistematicamente deslegitimadas e perseguidas. O impacto disso é profundo, não apenas no plano político, mas também nas relações sociais e na maneira como as pessoas interagem umas com as outras em suas comunidades.

Além de ser um fenômeno midiático, a pedagogia pública de Trump e da alt-right também se traduz em políticas públicas que reforçam essas ideologias. Projetos e medidas que visam excluir imigrantes, reduzir direitos civis e enfraquecer a igualdade social são parte de uma estratégia mais ampla para consolidar um regime que favoreça uma minoria em detrimento da maioria. Esse tipo de pedagogia não é apenas um discurso – ele se traduz em ações concretas, que moldam a realidade social e política de uma nação.

É crucial, portanto, que os estudiosos da pedagogia pública e os ativistas de justiça social se atentem a essas formas de ensino que acontecem fora do sistema educacional formal. A pedagogia pública não é apenas aquela que se pratica nas escolas ou universidades; ela está nas ruas, na internet, nas conversas cotidianas e nos discursos de figuras públicas. Ignorar essa dimensão da pedagogia é ignorar uma das ferramentas mais poderosas usadas pelos inimigos da justiça social para perpetuar sistemas de opressão.

Em última análise, a pedagogia pública de Trump e da alt-right deve ser vista como um contraponto às práticas progressistas que buscam justiça social. Assim como as teorias da pedagogia pública têm sido historicamente um meio de resistência e transformação, os discursos de ódio que esses grupos disseminam também devem ser reconhecidos e combatidos. Entender a pedagogia pública nesses termos é fundamental para resistir a esses movimentos e trabalhar por um futuro mais justo e igualitário.

Como a Desigualdade Econômica e a Pobreza Transformam a Sociedade Moderna

A disparidade crescente de riqueza ao longo das últimas décadas expõe a realidade alarmante de um mundo onde a concentração de recursos nas mãos de uma pequena elite se intensifica. Segundo dados de 2018, a faixa mais rica da população global, representando 1% dos indivíduos, continua a deter mais riqueza do que os 99% restantes da população mundial (Hjelmgaard, 2018). Projeções feitas pela Biblioteca da Câmara dos Comuns do Reino Unido sugerem que, se as tendências desde a crise financeira de 2008 persistirem, até 2030, esse 1% deverá possuir quase dois terços de toda a riqueza global (Savage, 2018). Esta concentração de poder e riqueza é particularmente acentuada nos Estados Unidos, onde o índice de Gini, que mede a desigualdade, é o mais alto entre os países ocidentais (Alston, 2017).

O fenômeno da pobreza, em um dos países mais ricos do mundo, é igualmente chocante. Nos Estados Unidos, a taxa oficial de pobreza é de cerca de 13%, afetando mais de 40 milhões de pessoas (Center for Poverty Research, University of California, Davis, 2017). Dentre os mais vulneráveis, as crianças, que representam aproximadamente um quarto da população americana, são responsáveis por mais de um terço dos habitantes mais pobres. Em 2016, cerca de 41% das crianças (29,8 milhões) nos Estados Unidos viviam na linha da pobreza, incluindo mais de 5 milhões de bebês e crianças menores de três anos (Columbia University, 2018).

Em 2017, o Relator Especial da ONU sobre a pobreza extrema e os direitos humanos, Philip Alston, realizou uma investigação nos Estados Unidos para entender como a persistência da pobreza extrema impacta os direitos humanos da população. Durante sua visita a estados como Califórnia, Alabama, Geórgia, Porto Rico, Virgínia Ocidental e Washington, D.C., Alston encontrou relatos alarmantes sobre a profundidade da pobreza e os desafios enfrentados pelos mais vulneráveis. Entre os problemas identificados, destacam-se as drásticas reduções em programas de assistência social, que já começavam a ser implementadas pelo governo da época, enfraquecendo ainda mais uma rede de segurança social que já estava em frangalhos. Além disso, Alston encontrou pessoas vivendo em condições de extrema privação, como aquelas que perderam todos os dentes devido à falta de cobertura para cuidados dentários, ou que viviam próximas a montes de cinzas tóxicas, com sérias implicações para a saúde (Alston, 2017).

A perspectiva de que os Estados Unidos são um modelo de prosperidade e mobilidade social, onde qualquer pessoa pode atingir o "Sonho Americano" se trabalhar arduamente, se revela uma ilusão crescente. Alston descreve uma realidade bem diferente: os mais ricos frequentemente evitam pagar impostos, armazenam sua riqueza em paraísos fiscais e fazem lucro por meio de especulação, sem contribuir significativamente para a economia real ou o bem-estar da comunidade. Além disso, o racismo estrutural e as desigualdades raciais são frequentemente ignorados ou minimizados, perpetuando a pobreza, especialmente entre as minorias étnicas (Alston, 2017). O estereótipo de que os pobres são responsáveis por sua própria situação é reforçado por uma narrativa pública dominante, que os descreve como preguiçosos ou incompetentes, ao mesmo tempo que o sistema político e econômico falha em lidar com as verdadeiras causas da desigualdade.

As mulheres, particularmente as mães solteiras, enfrentam uma carga desproporcional devido à pobreza. Elas são mais vulneráveis à violência, à discriminação no mercado de trabalho e muitas vezes enfrentam dificuldades adicionais devido a cortes nos serviços de bem-estar. Além disso, as políticas de austeridade frequentemente impõem um peso ainda maior sobre as mulheres, que se tornam as principais responsáveis pelo cuidado dos filhos e pela gestão das necessidades familiares, enquanto os legisladores predominantemente masculinos raramente levam essas questões em consideração ao elaborar suas políticas (Alston, 2017).

O sofrimento das comunidades indígenas nos Estados Unidos é outro aspecto alarmante. Alston relatou as condições devastadoras em que muitas dessas comunidades vivem, como em Pine Ridge, onde a pobreza extrema é comparável à de países em desenvolvimento. As taxas de mortalidade infantil são significativamente mais altas e os índices de suicídio são alarmantemente elevados, especialmente entre os jovens. Além disso, a falta de reconhecimento federal das tribos e a criminalização de suas culturas e modos de vida perpetuam esse ciclo de miséria e exclusão social (Alston, 2017).

É também fundamental observar que a pobreza nos Estados Unidos não afeta apenas grupos racialmente marginalizados. Embora seja um fenômeno comum associar a pobreza à população negra ou hispânica, ela afeta também brancos, asiáticos e outros grupos étnicos. O que é essencial entender é que as disparidades socioeconômicas são moldadas por uma série de fatores estruturais, e não apenas por características individuais ou raciais. A desigualdade social está profundamente entrelaçada com políticas históricas, decisões econômicas e um sistema que favorece a acumulação de riqueza por um pequeno número de indivíduos em detrimento de vastas camadas da população.

Por fim, é crucial que os leitores compreendam que a pobreza extrema não é apenas uma questão econômica, mas também um reflexo das falhas políticas e sociais. O modo como as sociedades lidam com as desigualdades determina o grau de solidariedade e coesão social. O crescimento de um mundo mais justo e igualitário depende de uma mudança estrutural nas políticas públicas, uma reavaliação das prioridades sociais e um esforço coletivo para garantir que os direitos humanos, como a alimentação, a saúde e a dignidade, sejam universais e não negociáveis.

Como o Discurso Racista e Fascista de Trump Alimenta a Pedagogia do Ódio nos Estados Unidos

O discurso de Donald Trump, especialmente em relação ao seu comportamento diante da mudança climática, da imigração e da desigualdade social, reflete uma visão distorcida e perigosa de um mundo onde a sobrevivência dos interesses pessoais é priorizada acima de tudo. Embora ele demonstre desinteresse pelas questões ambientais que afetam diretamente as populações, seus próprios interesses pessoais – como o futuro de seus empreendimentos e propriedades – o levam a uma postura contraditória. Por exemplo, em relação à mudança climática, Trump, ao minimizar a gravidade da questão, se esquece de que áreas onde ele possui investimentos significativos, como Manhattan, Trump Tower e seu campo de golfe na Irlanda, estão ameaçadas pela elevação do nível do mar e pelos furacões mais intensos, eventos que, segundo estudos como o de Mann (2017), resultam em um risco crescente de inundações. A conclusão é clara: a negação das mudanças climáticas, longe de ser um comportamento isolado, faz parte de um padrão de resistência a uma realidade que ameaça seus próprios interesses financeiros e pessoais.

Esse comportamento reflete um modelo mais amplo de políticas e atitudes que Beijer (2017) descreve como parte do que chama de "pincers do fascismo". De um lado, temos a catástrofe ecológica iminente e os danos econômicos profundos causados pela desigualdade crescente e pela estagnação salarial, que geram um sentimento de desesperança. Do outro, vemos a ascensão do etnonacionalismo, da extrema direita e da ideologia fascista, que ganham força em meio a um cenário de crise social e política. Esse ambiente cria o terreno fértil para a manipulação populista, onde líderes como Trump apelam ao medo e ao ódio como formas de controle social.

Em suas campanhas e discursos, Trump usa estratégias que incitam o racismo e a xenofobia. Quando ele fala sobre os imigrantes mexicanos, por exemplo, descreve-os como criminosos e violadores, uma narrativa que visa estigmatizar e dividir a sociedade. Seu discurso não é apenas uma tática de isolamento social, mas uma maneira de construir um inimigo comum, necessário para que sua base de apoio se una em torno da ideia de um “outro” que deve ser combatido. O próprio conceito de "fake news" é uma ferramenta adicional nesse processo, pois serve para desacreditar qualquer forma de crítica e reforçar a ideia de que a verdade está sob o controle exclusivo do líder.

A retórica de Trump, ao explorar e amplificar as divisões raciais e sociais, visa engajar suas bases mais radicais. O uso de termos como “Pocahontas” para se referir de maneira depreciativa a figuras políticas indígenas ou o ataque aos afro-americanos e haitianos reflete uma pedagogia do ódio que não apenas legitima as atitudes fascistas, mas também as perpetua na cultura política dos Estados Unidos. A ideia de que a "agenda liberal" é uma ameaça que deve ser combatida se alinha perfeitamente a um discurso autoritário, que se sente ameaçado por qualquer movimento em direção à igualdade social e política.

Essa pedagogia do ódio também é alimentada pela representação da mídia e por um sistema de manipulação da informação. A cada vez que Trump descredita notícias e informações com as quais não concorda, ele fortalece o ciclo de desinformação e radicalização. Para ele, a verdade é maleável e deve ser moldada de acordo com as conveniências do momento. Esse processo de “doutrinação” é fundamental para a criação de um ambiente onde a fascinação por líderes autoritários e a tolerância com suas políticas discriminatórias se tornam normais, senão desejáveis.

O discurso de Trump não é uma mera expressão de opiniões políticas radicais; é uma tentativa deliberada de transformar essas ideias em um sistema de ensino e controle, uma "pedagogia pública" do ódio. Ele utiliza sua plataforma para incitar divisões e fomentar um estado de constante medo e raiva, onde a identidade nacional americana é apresentada como ameaçada por forças externas e internas. A verdadeira intenção por trás de suas palavras e ações parece ser a de manter uma estrutura de poder que favorece as elites, ao mesmo tempo em que desacredita qualquer movimento que busque justiça social ou igualdade.

É crucial entender que esse tipo de discurso não se restringe apenas ao líder de uma nação; ele é parte de um movimento mais amplo, que inclui a ascensão de grupos alt-right e outras organizações fascistas. As ideias que Trump promove alimentam uma base que, embora inicialmente marginal, tem se tornado cada vez mais poderosa e influente, particularmente nas camadas mais desiludidas e empobrecidas da sociedade. A política de exclusão, racismo e medo é uma das maneiras mais eficazes de controlar essas massas.

Além disso, a relação de Trump com o fascismo e a extrema direita não é apenas ideológica. Ele manifesta uma prática política que ressoa com as táticas de regimes autoritários do passado, explorando e exacerbando as fragilidades das democracias modernas. Quando as condições sociais e econômicas atingem um ponto de crise, o fascismo se torna uma resposta tentadora, pois promete ordem em meio ao caos. Nesse contexto, Trump não apenas flerta com o fascismo, mas utiliza suas táticas como uma ferramenta de mobilização política.

Ao analisar o discurso e as políticas de Trump, é importante observar não apenas os danos imediatos que ele causa, mas as estruturas duradouras que ele ajuda a criar. A normalização de ideias fascistas e a legitimação de um discurso de ódio são ameaças profundas à democracia e à convivência civilizada. A desconstrução desses elementos exige uma compreensão profunda de como as narrativas políticas são construídas e como podem ser usadas para dividir e subjugar sociedades inteiras.