As transmissões manuais automatizadas (AMT) têm se consolidado como uma das tecnologias mais impactantes no mercado de veículos pesados, especialmente no setor de transporte de longo alcance. Lançadas no mercado europeu em 2000, essas transmissões não apenas revolucionaram a forma como os motoristas operam seus veículos, mas também trouxeram benefícios significativos em termos de conforto, consumo de combustível e valor de revenda dos veículos. Com o tempo, o sucesso dessas transmissões se espalhou, e até mercados como os Estados Unidos e a China começaram a adotá-las em grande escala a partir de 2020.
No sistema de AMT, uma unidade eletrônica calcula o momento apropriado para a troca de marchas e especifica qual marcha deve ser engatada, substituindo a necessidade de um motorista operar o câmbio manualmente. A unidade eletrônica aciona válvulas solenóides que introduzem e liberam ar nos cilindros pneumáticos, acionando o sistema interno de mudança de marchas da transmissão. Esse processo permite uma troca de marchas suave e eficiente, com o motorista recebendo uma indicação no painel sobre qual marcha está engatada no momento.
O algoritmo que controla o AMT também é capaz de estimar o peso total do veículo, combinando dados como a velocidade do veículo, a resistência ao rolamento e o comportamento dinâmico durante a condução. Isso garante que a mudança de marchas ocorra de forma otimizada, levando em conta a carga atual do veículo e a potência disponível do motor. Caso o veículo seja estacionado, o algoritmo ajusta automaticamente a estimativa do peso com base em mudanças na carga, recalculando o peso real conforme a jornada progride.
Além da troca de marchas tradicional, as transmissões automáticas manuais oferecem uma série de funções adicionais que aumentam o conforto do motorista e a eficiência do combustível. O modo de manobra, por exemplo, facilita a operação do veículo em baixas velocidades, tornando-o mais fácil de controlar, enquanto o modo de economia seleciona os pontos ideais para a mudança de marchas, maximizando a eficiência do combustível ao realizar trocas a uma rotação de motor relativamente baixa.
Outro recurso inovador é a função EcoRoll, que desengata a transmissão quando o veículo está em uma fase de rolamento. Isso permite que o veículo mantenha sua velocidade sem a resistência do motor, economizando combustível, embora o motor continue consumindo o necessário para funcionar em marcha lenta.
No entanto, a transmissão manual automatizada não é isenta de desafios. Ao contrário dos veículos com câmbio manual, que podem ser deixados em marcha ao serem estacionados, um veículo com AMT deve ser deixado em ponto morto. Caso contrário, a pressão do ar no sistema pode se dissipar com o tempo, dificultando a operação da embreagem e a troca de marchas, o que pode impedir a partida do motor. Esse é um aspecto importante a ser considerado em veículos com AMT, pois garante que o motor possa ser iniciado sem problemas após um período de inatividade.
Ainda que as AMTs apresentem uma série de vantagens, elas não são a solução universal para todos os tipos de veículos. A transmissão automática clássica, com seu conversor de torque, ainda predomina em muitos veículos de passageiros e ônibus, oferecendo uma suavidade de condução que não pode ser igualada pelos sistemas manuais automatizados. Em ônibus urbanos, especialmente aqueles movidos a diesel, o conversor de torque também facilita os arranques suaves, o que é crucial para o conforto dos passageiros em pé durante as paradas frequentes.
Embora as transmissões automáticas manuais ofereçam grande conforto e eficiência, especialmente para motoristas que enfrentam longos trajetos ou condições de tráfego difíceis, é importante entender que elas não são isentas de limitações. O consumo de combustível pode ser ligeiramente superior ao de um sistema manual convencional em alguns modos de operação, especialmente em modos de alta potência, como o "kickdown", em que o motor é impulsionado para um giro mais alto antes de mudar de marcha.
Ademais, a transição para tecnologias mais avançadas, como as AMTs, implica a necessidade de um melhor entendimento por parte dos motoristas e das empresas de transporte. Treinamentos específicos podem ser necessários para otimizar o uso desses sistemas, garantindo não apenas a eficiência do combustível, mas também a longevidade do veículo. A manutenção regular do sistema pneumático e a garantia de que o veículo não seja estacionado de maneira inadequada, a fim de preservar a pressão do ar, são aspectos cruciais para evitar falhas operacionais.
Como a Transmissão Afeta o Desempenho e o Design do Veículo
A transmissão é uma das partes mais críticas no design e desempenho dos veículos, especialmente nos comerciais. Ela não apenas determina a eficiência da conversão de torque entre o motor e as rodas, mas também influencia vários outros parâmetros importantes, como consumo de combustível, desempenho de frenagem, e até o conforto do motorista.
Quando se trata de veículos elétricos e híbridos, a complexidade aumenta, pois, além das funções tradicionais, a transmissão precisa lidar com cargas adicionais provenientes da frenagem regenerativa. Essa é uma característica fundamental que deve ser considerada no projeto do trem de força, similar ao funcionamento do sistema de freio retarder em caminhões convencionais. Em veículos urbanos, como ônibus de piso baixo, essa dinâmica se torna ainda mais relevante, pois a regeneração de energia durante a frenagem contribui diretamente para a eficiência do sistema e a durabilidade dos componentes.
Existem várias formas de transmissões mecânicas e hidráulicas no mercado automotivo, cada uma com suas vantagens e desvantagens. As transmissões hidráulicas, por exemplo, são geralmente associadas a maiores perdas de potência em comparação com as soluções mecânicas. As mecânicas, por sua vez, operam transmitindo movimento entre dois eixos de tamanhos diferentes, aproveitando o princípio de reduzir a velocidade angular e aumentar o torque. O mais comum é o uso de correias ou correntes para transmitir essa força, como visto em bicicletas, ou ainda sistemas mais modernos com correias dentadas.
Entre as soluções mais exóticas, temos o drive por fricção, que utiliza um disco de fricção para transmitir a força entre os eixos, ou os sistemas de cone com anéis deslizantes, que também são raramente adotados devido a questões de eficiência e durabilidade. Em veículos comerciais, que lidam com forças muito mais altas, o mais comum é o uso de engrenagens, que transmitem diretamente o torque de um eixo para outro, alterando a direção da rotação conforme necessário.
A transmissão não afeta apenas a mecânica do veículo, mas também outros aspectos do seu funcionamento. A eficiência de combustível de um caminhão, por exemplo, é muito dependente da forma como a transmissão está configurada. Isso porque uma transmissão bem ajustada pode otimizar a entrega de potência, reduzindo o consumo. Além disso, a transmissão tem um papel importante na performance do freio do motor e no sistema de retarder, elementos essenciais para veículos pesados, onde a força de frenagem precisa ser controlada com precisão.
Outro fator importante é o impacto da transmissão no conforto do motorista. A facilidade de trocas de marchas e o silêncio da operação são características que afetam diretamente a experiência de direção. No entanto, o espaço disponível para a instalação da transmissão no veículo é um fator limitante. A transmissão deve ser projetada de forma a não interferir no espaço destinado à carroceria, mantendo o veículo funcional e com boa capacidade de carga, sem comprometer a altura do solo, que é uma consideração importante no design de veículos comerciais.
Em termos de design e custo, a transmissão também é um componente significativo. Ela não só afeta o custo de fabricação, mas também os custos de manutenção ao longo da vida útil do veículo. A troca de óleo da transmissão é uma das manutenções mais críticas, e o uso de óleos sintéticos ou sistemas de resfriamento de óleo pode aumentar significativamente os intervalos entre essas trocas, além de melhorar a durabilidade da transmissão.
Além de todas essas questões técnicas, é importante considerar como as diferentes configurações de transmissão afetam o desempenho geral do veículo. A distância entre os eixos de transmissão, também conhecida como distância central, é um dos parâmetros chave para determinar a força que a transmissão pode suportar e como o torque será distribuído. Em veículos pesados, a distância central tende a ser maior, permitindo o uso de engrenagens maiores e mais robustas. Isso, porém, também significa que o peso da transmissão aumentará.
O projeto mais simples de transmissão é o de estágio único, onde um conjunto de engrenagens é montado entre o eixo de entrada e o eixo de saída. Em sistemas de transmissão com contraeixo, a força é primeiramente transmitida para o contraeixo e então transferida para o eixo de saída, permitindo uma redução ou ampliação do torque de forma eficiente. Transmissões de dois estágios, como mostrado na ilustração, oferecem uma gama mais ampla de relações de marchas, permitindo maior flexibilidade e eficiência, especialmente quando há a necessidade de dividir o grupo de marchas para uma utilização mais precisa.
Quando se examina o design e a eficiência de uma transmissão, é crucial compreender que a escolha do tipo de transmissão pode impactar diretamente não apenas a eficiência do combustível, mas também a capacidade de carga, o desempenho em terrenos difíceis e a durabilidade do veículo. Cada veículo comercial, dependendo da sua aplicação, exige uma transmissão otimizada que atenda a um equilíbrio delicado entre custo, desempenho e manutenção.
Como os Grupos de Divisão e Sistemas Planetários Influenciam a Transmissão
O grupo de divisão tem como principal função fornecer engrenagens intermediárias entre os estágios de transmissão principal. É por isso que, muitas vezes, é chamado de "engrenagens meio-passo". A separação menor dos estágios proporcionada pelo grupo de divisão é particularmente útil quando o veículo está com carga pesada ou subindo uma ladeira. Um relacionamento de marcha pode ser escolhido com maior precisão para se adequar à situação de direção em questão. O passo de engrenagem fornecido por esse grupo geralmente equivale à metade do valor de um passo de engrenagem na transmissão principal. Uma maneira de realizar a funcionalidade de divisão é mostrada no diagrama de rodas na Figura 2.8. Essencialmente, essa abordagem baseia-se na ideia de acionar o contra-eixo com dois pares de engrenagens diferentes. O par de engrenagens no eixo de entrada que aciona o contra-eixo é também chamado de "constante". Nesse caso, a funcionalidade de divisão é proporcionada pelo fato de existirem duas engrenagens constantes. Dependendo de qual constante está acionando o contra-eixo — constante 1 ou constante 2 — podem ser selecionadas diferentes relações de marchas. No modo de transmissão direta, ambas as constantes são ignoradas. Esse design, que integra a funcionalidade de divisão na transmissão principal, torna impossível distinguir claramente entre a transmissão dividida e a principal.
No que se refere ao sistema de engrenagem planetária ou sistema epicílico, ele é composto por três componentes principais: o sol, o portador que suporta as engrenagens planetárias e o anel. O sol fica posicionado no centro da transmissão, com o portador e o anel alinhados coaxialmente. As engrenagens planetárias, geralmente entre três e cinco, giram em torno do sol. Transmissões mais leves tendem a ter três engrenagens planetárias, enquanto transmissões mais pesadas, cinco. As engrenagens planetárias são rodeadas por um anel cujas engrenagens internas se acoplam com as engrenagens planetárias. O sistema planetário é extremamente compacto e capaz de transmitir altos torques, visto que várias engrenagens estão engatadas ao mesmo tempo.
Para calcular as relações de rotação neste sistema, é necessário entender a equação básica do sistema de engrenagens planetárias, a equação Willis, que pode ser expressa como:
Aqui, representa a velocidade angular de cada componente e o número de dentes de cada engrenagem. Essa equação define como as velocidades angulares dos componentes do sistema planetário estão relacionadas. A interação entre as velocidades do sol, do portador e das engrenagens planetárias, bem como o papel do anel, determina a relação de transmissão.
Ao somar as equações que representam a interação das engrenagens, obtemos uma fórmula simples para o sistema de engrenagens planetárias. O comportamento do sistema pode ser entendido de maneira ainda mais profunda se considerarmos que se dois elementos do conjunto planetário estiverem conectados entre si, o conjunto gira como um bloco único. Essa característica é fundamental para o entendimento das relações de marcha em sistemas planetários.
Quando se passa a analisar o grupo de faixa, a função principal é expandir a gama de transmissão. Isso exige o uso de uma subtransmissão com um passo de engrenagem muito grande, geralmente uma engrenagem planetária. O sol, que é a entrada, se conecta à transmissão principal, enquanto o portador, que é a saída, gira na velocidade de saída da transmissão para acionar o eixo do propulsor. Se o anel e o portador forem conectados, o sistema planetário gira como um bloco e não gera uma relação de transmissão, resultando em uma relação igual a 1. Se o anel for imobilizado, uma relação de transmissão muito grande pode ser obtida, dependendo do número de dentes das engrenagens do sol e do anel.
Embora o grupo de faixa seja frequentemente baseado em sistemas epicílicos, ele pode ser projetado com sistemas convencionais de engrenagens helicoidais, de forma semelhante à transmissão principal.
Importante observar que o uso de sistemas planetários e grupos de divisão permite uma flexibilidade maior no ajuste de marchas, especialmente quando há variação nas condições de carga e inclinação. A capacidade de selecionar relações de marcha mais precisas, devido à divisão do passo de engrenagem, é particularmente útil em veículos que operam em terrenos difíceis ou com cargas pesadas. Além disso, entender a dinâmica de transmissão, especialmente a interação entre as velocidades angulares dos componentes e a distribuição de torque entre as engrenagens, é crucial para a otimização do desempenho do veículo.

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