O setor de turismo MICE (Meetings, Incentives, Conferences, and Exhibitions) tem experimentado um crescimento significativo nos últimos anos, especialmente em destinos como Hong Kong, que, em 2016, contribuiu com 6,78 bilhões de dólares (HK$52,9 bilhões) para sua economia, representando 2,1% do PIB do país. O impacto fiscal foi de US$240 milhões (HK$1,9 bilhão), além de gerar 77.000 empregos em tempo integral. Esse fenômeno não é exclusivo de Hong Kong, mas uma tendência global que reflete a crescente relevância do turismo de negócios, com sua capacidade de atrair grandes fluxos de turistas e expositores que gastam mais e permanecem por mais tempo do que os turistas comuns.
Associados a essa dinâmica, está o aumento das infraestruturas dedicadas a eventos, como centros de convenções e espaços para exposições. O crescimento desse setor foi notável especialmente na Ásia, que superou outras regiões em termos de desenvolvimento de mercado. Organizações globais como a Associação Global da Indústria de Exposições (Global Association of the Exhibition Industry) têm sido fundamentais na promoção da troca de ideias e no desenvolvimento de pesquisas voltadas para o fortalecimento desse mercado.
Além do impacto direto no emprego e nas receitas locais, o setor MICE também impulsiona o turismo geral, uma vez que eventos e convenções atraem visitantes de diversas partes do mundo. Para atrair e reter esses turistas, muitos destinos têm investido significativamente em infraestrutura, oferecendo incentivos e serviços específicos para negócios. O exemplo de Hong Kong é emblemático, mas a tendência é observada em outros destinos que buscam capitalizar os benefícios do turismo MICE para fomentar suas economias.
Entretanto, como em qualquer setor em expansão, o turismo MICE também enfrenta desafios. Um dos principais pontos de discussão é o impacto ambiental, uma vez que a realização de grandes eventos gera emissões de CO2, grande consumo de água e produção de resíduos. Em resposta a essas questões, muitas organizações têm tentado implementar práticas mais sustentáveis, como a gestão verde, que visa minimizar os danos ao meio ambiente enquanto mantém os benefícios econômicos.
Ainda mais importante, o setor tem se adaptado às mudanças impostas pela pandemia de Covid-19. A interrupção global de eventos presenciais forçou muitos organizadores a migrar para plataformas digitais e híbridas, levando ao surgimento de um novo modelo de eventos virtuais. Isso não só alterou a dinâmica do mercado, mas também trouxe à tona questões relacionadas ao comportamento dos participantes e às preferências dos consumidores em relação a esses novos formatos.
Com o objetivo de aprofundar a compreensão sobre as forças que moldam o setor MICE, a pesquisa futura deve explorar de forma mais detalhada as interações entre os diversos stakeholders, como organizadores de eventos, contratantes de serviços, expositores e turistas. Estudar como esses diferentes atores se relacionam pode fornecer insights valiosos sobre como o setor pode se tornar mais eficiente e sustentável. Além disso, é importante que a pesquisa se concentre em como as novas tendências tecnológicas, como eventos virtuais e híbridos, estão moldando as preferências dos consumidores e a viabilidade econômica desses eventos.
Além disso, é essencial que os destinos turísticos compreendam que, para se tornarem líderes no setor MICE, não basta oferecer apenas infraestrutura de qualidade. A capacidade de criar experiências únicas e personalizadas, adaptadas às necessidades dos participantes, é um fator cada vez mais decisivo para o sucesso no mercado global de eventos. A flexibilidade e inovação na oferta de serviços serão determinantes para os destinos que desejam se destacar nesse segmento competitivo.
Como o turismo em favelas e as pequenas e médias empresas (PMEs) moldam realidades locais?
O turismo em favelas, também conhecido como "favela tourism" ou "shantytown tourism" em contextos como África do Sul e Índia, e "ashwa’iyyat tourism" no Egito, representa uma modalidade peculiar que atrai turistas interessados em conhecer de perto as condições de vida das populações pobres, além de suas tradições culturais e artesanato local. Contudo, esses passeios frequentemente promovem a despolitização da pobreza, na medida em que os turistas, geralmente pertencentes às classes médias ou altas, experimentam uma sensação efêmera de inspiração ou enriquecimento emocional sem, contudo, desenvolver um entendimento profundo sobre as causas estruturais da pobreza ou se engajar em esforços transformadores efetivos.
A crise global desencadeada pela Covid-19 expôs ainda mais as fragilidades do turismo em favelas. A redução drástica do turismo internacional e as restrições de mobilidade prejudicaram a frequência de visitantes, o que intensificou as dificuldades econômicas das comunidades que dependem dessa atividade. Além disso, as respostas governamentais, voltadas para controle e contenção da pandemia, dificultaram a retomada dos negócios ligados ao turismo nessas áreas, evidenciando a vulnerabilidade e a dependência excessiva da renda gerada por visitantes externos. Este cenário aponta para a necessidade urgente de diversificação das fontes de renda e de inovação na oferta turística, especialmente através do uso de tecnologias digitais e experiências virtuais, que podem manter o interesse e a interação com públicos distantes durante períodos de crise.
No âmbito das pequenas e médias empresas (PMEs) no setor turístico, observa-se que estas assumem papel central na dinâmica das economias locais, principalmente em contextos como as favelas. PMEs são negócios que operam dentro de certos limites de escala em termos de produção, vendas ou número de funcionários, e sua existência é vital para setores que demandam alta flexibilidade, atenção ao detalhe e adaptação rápida a mudanças. Diferentemente das grandes empresas, que muitas vezes dominam o mercado com operações padronizadas e em larga escala, as PMEs têm a capacidade singular de atender nichos específicos e mercados locais, oferecendo produtos e serviços que dificilmente seriam viáveis para grandes corporações.
No turismo, as PMEs geralmente englobam hospedarias familiares, agências locais de guias turísticos, pequenos restaurantes e lojas de artesanato, cuja gestão está intimamente ligada a laços familiares e objetivos pessoais dos proprietários. Esses empresários frequentemente são motivados não tanto pelo lucro máximo, mas pela busca de autonomia, qualidade de vida e a preservação de um estilo de vida — os chamados "empreendedores lifestyle". Essa característica desafia a noção tradicional de maximização de lucro e ressalta a importância de compreender a inter-relação entre as dinâmicas familiares e a gestão empresarial. A proximidade entre propriedade, gestão e envolvimento familiar influencia diretamente a maneira como os negócios são conduzidos e como se adaptam às transformações do mercado.
O desenvolvimento e a sustentabilidade dessas PMEs no turismo também estão diretamente relacionados à sua capacidade de inovar, renovar e se modernizar, apesar das frequentes limitações de recursos humanos, financeiros e tecnológicos. A integração crescente das PMEs ao ambiente digital, por meio de plataformas como Airbnb e sites de reservas, representa uma transformação crucial, ampliando seu alcance e potencial de mercado. Essa digitalização exige, contudo, novas formas de gestão e estratégias de marketing, adaptadas às demandas de consumidores mais conectados e exigentes.
É imprescindível reconhecer que o turismo em favelas e as PMEs locais estão inseridos em um contexto complexo, onde os benefícios econômicos podem coexistir com desafios éticos e sociais. O impacto do turismo deve ser analisado criticamente, evitando a romantização da pobreza e incentivando formas responsáveis e sustentáveis de visitação que valorizem a participação ativa e o protagonismo das comunidades. O potencial transformador dessas práticas depende do engajamento real com as causas estruturais da desigualdade, da inclusão das vozes locais na gestão dos empreendimentos turísticos e do fortalecimento das capacidades das PMEs para enfrentar crises e promover desenvolvimento social.
Além disso, a experiência da pandemia revelou a necessidade de repensar o turismo em contextos vulneráveis, com maior ênfase em modelos que valorizem a resiliência, a inovação tecnológica e a diversidade econômica. O uso de tours virtuais e outras tecnologias digitais pode representar uma alternativa temporária ou complementar, mantendo a visibilidade e o apoio às comunidades quando o turismo presencial se torna inviável. Essa adaptação exige um olhar atento às condições e limitações locais, garantindo que a tecnologia seja um instrumento de empoderamento e não de exclusão.
A compreensão profunda da realidade das PMEs turísticas nas favelas implica reconhecer que estas empresas são mais que simples agentes econômicos; são elementos vivos de redes familiares, culturais e sociais que moldam e refletem a complexidade dos territórios onde atuam. Sua sustentabilidade dependerá da capacidade de inovar sem perder a conexão com suas raízes e das políticas públicas que fomentem um ambiente propício à sua sobrevivência e crescimento, respeitando a dignidade e os direitos das populações envolvidas.
Como o Turismo e o Branding de Destinos Influenciam o Poder Suave das Nações
O conceito de poder suave é frequentemente explorado através do turismo, que serve como uma ferramenta essencial no branding de destinos e na construção de uma imagem atraente de uma nação. O turismo tem o poder de elevar a percepção de um país, destacando seus pontos fortes e minimizando aspectos negativos, através de uma narrativa cuidadosamente moldada pelas autoridades responsáveis pela promoção. Através de grandes eventos, como as Olimpíadas ou bienais de arte, um destino pode transmitir suas capacidades organizacionais e a estabilidade do ambiente que oferece aos visitantes, ao mesmo tempo que exibe sua cultura e infraestrutura. Esses eventos não apenas atraem turistas, mas também servem como uma demonstração tangível do potencial de um país para exercer influência geopolítica.
O turismo pode ser considerado, portanto, um veículo para o poder suave, no qual o país utiliza seu apelo para atrair turistas e, assim, propagar uma imagem positiva para o resto do mundo. As pessoas, por sua vez, atuam como agentes desse poder, espalhando mensagens de boas experiências e de um país amigável, livre das arestas da diplomacia tradicional. Esse poder, mediado por turistas, tem um impacto profundo nas relações internacionais, principalmente quando um país promove um ambiente seguro, acolhedor e com uma experiência única para os visitantes.
No entanto, o efeito do turismo como fonte de poder suave não se resume apenas à construção da imagem externa de um país. Embora seja uma ferramenta eficaz, o impacto do turismo no poder de uma nação precisa ser analisado com mais profundidade, especialmente considerando as barreiras que surgem nas interações entre turistas e locais. As "paredes turísticas" (Long e Ooi, 2022) podem dificultar um engajamento construtivo, e pesquisas adicionais devem ser realizadas para entender até que ponto o turismo pode, de fato, contribuir para a diminuição do poder suave de uma nação, especialmente quando o contato entre visitantes e habitantes locais se torna superficial ou prejudicado por mal-entendidos culturais.
No contexto das Ilhas Salomão, um país arquipelágico no Pacífico Sul, o turismo ainda é subdesenvolvido, mas apresenta um grande potencial de crescimento. As Ilhas Salomão, com suas atrações naturais e culturais únicas, incluindo o mergulho em recifes de corais e o patrimônio da Segunda Guerra Mundial, têm muito a oferecer aos turistas. No entanto, desafios como a falta de infraestrutura e transporte confiável dificultam o avanço do setor turístico. Ainda assim, o país está investindo em melhorias, o que pode contribuir significativamente para o crescimento do seu poder suave. A natureza isolada das Ilhas Salomão, combinada com a oferta de recursos naturais e culturais riquíssimos, pode, de forma gradual, tornar o país um destino mais popular, ampliando sua influência regional e até mesmo global.
A análise do turismo nas Ilhas Salomão e sua relação com o poder suave destaca a importância de políticas governamentais eficazes, especialmente no que se refere ao desenvolvimento sustentável do setor turístico. A infraestrutura, embora limitada, é uma área crítica que precisa de investimentos substanciais. Além disso, a capacitação da força de trabalho local, especialmente em áreas como hospitalidade e gestão de turismo, é essencial para garantir que os turistas tenham uma experiência autêntica e de qualidade. Só assim o turismo pode se tornar um pilar significativo do poder suave da nação.
O turismo também deve ser visto sob a ótica da dinâmica das relações globais e suas implicações geopolíticas. Por exemplo, na Somália, a evolução do turismo em regiões como Somaliland, que tem um governo local mais estável, demonstra como a segurança e a governança são fatores cruciais para o crescimento do setor. Embora o turismo em outras partes da Somália ainda seja muito afetado pela insegurança e pelos conflitos, o desenvolvimento de uma oferta turística especializada, como o turismo de aventura e histórico, pode começar a reverter a imagem negativa do país e abrir portas para um maior engajamento internacional.
O turismo é, sem dúvida, uma ferramenta poderosa no fortalecimento do poder suave de uma nação. No entanto, é fundamental que os países se concentrem não apenas em atrair turistas, mas também em oferecer uma experiência genuína e enriquecedora, que promova um verdadeiro intercâmbio cultural e uma construção de laços duradouros. Além disso, a implementação de políticas que garantam a sustentabilidade do turismo, tanto ambiental quanto social, é crucial para evitar que o setor se torne uma fonte de exploração ou de impactos negativos, como o aumento da desigualdade e a destruição de patrimônios culturais e naturais. A estratégia de branding de destinos deve ser, portanto, equilibrada, promovendo tanto o crescimento econômico quanto o respeito pelas comunidades locais e pelo meio ambiente.
Como o turismo molda realidades e influencia percepções sociais: a construção de mundos e o papel da xenofobia
O turismo não é apenas uma atividade econômica ou de lazer; ele desempenha um papel fundamental na construção e reconstrução das realidades sociais, culturais e políticas em que vivemos. Esse fenômeno pode ser compreendido através do conceito de “worldmaking” — um processo contínuo e complexo pelo qual instituições, grupos de interesse e indivíduos constroem, remodelam ou desconstróem as realidades percebidas. No contexto do turismo, essas realidades não são meramente reflexos neutros do mundo, mas sim construções carregadas de pressupostos, às vezes conscientes, outras vezes inconscientes, que naturalizam determinadas visões sobre “povos”, “lugares”, “passados” e “presentes”.
Cada população detém suas próprias formas de worldmaking, que podem ser tradicionais — heranças do passado — ou transitórias, apontando para uma tentativa de moldar um futuro melhor. Organizações e atores do turismo exercem um poder considerável ao promover imagens privilegiadas do “eu” e estereótipos do “outro”, que se concretizam tanto no mercado quanto em políticas públicas. Isso configura o turismo como uma força política essencializante, capaz de impulsionar ideias sobre diferença enquanto nega ou oculta outras heranças culturais.
A naturalização dessas narrativas é central para a perpetuação de determinados modos de ser e de se tornar. O turismo, ao normalizar e promover certas percepções, atua como um vetor potente que condiciona a compreensão do espaço e da identidade. A “governança da comunicação” no turismo é crucial porque as representações que circulam no mercado turístico não são apenas imagens neutras, mas instrumentos de poder que configuram modos de existência e relações sociais.
Estudos recentes têm ampliado a reflexão sobre worldmaking, incorporando críticas filosóficas e sociológicas importantes. Inspirados em pensadores como Foucault, Pêcheux, Deleuze e Braidotti, esses estudos destacam como as práticas do turismo naturalizam certos saberes, ocultam dogmatismos e abrem caminho para aspirações pós-coloniais e pós-humanistas. Além disso, o turismo é visto como um campo de intensa colaboração e competição interinstitucional, onde múltiplos agentes — públicos e privados — moldam conjuntamente o significado e o valor dos destinos.
Um aspecto crítico relacionado a essas dinâmicas é a xenofobia, que tem se mostrado especialmente relevante em tempos recentes, marcados por crises sanitárias como a pandemia de Covid-19. Derivada do medo do estrangeiro ou do “outro”, a xenofobia aparece como um mecanismo ancestral de proteção, mas que hoje se manifesta em atitudes discriminatórias, exclusão social e conflitos intergrupais, afetando tanto moradores quanto turistas. No âmbito do turismo, a xenofobia pode ser analisada sob diversas perspectivas: a ansiedade e o medo de contágio que afetam o comportamento dos viajantes, bem como as percepções e atitudes negativas dos residentes locais em relação aos visitantes.
Essa hostilidade direcionada ao diferente compromete a mobilidade, as interações sociais e o desenvolvimento sustentável das comunidades turísticas. Ela revela as tensões entre processos globais de integração e as resistências locais que emergem da sensação de ameaça cultural, econômica ou sanitária. O entendimento dessas dinâmicas é essencial para a formulação de políticas e práticas turísticas que promovam a inclusão, o respeito intercultural e a coesão social.
É importante compreender que o turismo, enquanto atividade e discurso, carrega consigo a capacidade de produzir realidades e identidades que transcendem o simples deslocamento físico. Ele é um campo onde as narrativas sobre o mundo são constantemente negociadas, contestadas e reafirmadas. Essa produção simbólica tem impactos profundos nas formas como sociedades se percebem e interagem.
Além disso, a construção do “outro” no turismo frequentemente reforça estereótipos e desigualdades, exigindo uma reflexão crítica e ética sobre as práticas turísticas. Os agentes do setor precisam estar atentos às implicações socioculturais de suas ações, buscando estratégias que promovam a diversidade e combatam preconceitos, como a xenofobia.
Assim, a compreensão do worldmaking e da xenofobia no turismo oferece um quadro abrangente para analisar os múltiplos sentidos do fenômeno turístico. É uma lente que revela as complexas relações entre poder, identidade, cultura e espaço, mostrando que o turismo é muito mais que uma atividade econômica: é um processo de criação e transformação do mundo social.
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