A avaliação das vias aéreas dinâmicas é essencial para o manejo eficaz de crianças com estridor ou suspeita de anomalias nas vias respiratórias superiores. Em particular, a laringotraqueobroncoscopia oferece uma visão detalhada do sistema respiratório, permitindo um diagnóstico preciso e o acompanhamento da função das cordas vocais e da dinâmica respiratória. A realização desse procedimento exige uma abordagem cooperativa entre a equipe anestésica e o cirurgião, que devem compartilhar o controle da via aérea para garantir a segurança do paciente durante todo o processo.

Antes de iniciar o exame, é necessário preparar todos os equipamentos com antecedência para garantir que a análise seja realizada sem interrupções. A utilização de telescópios de diferentes comprimentos e diâmetros, como os telescópios rígidos tipo Hopkins, é fundamental para garantir a avaliação adequada de todas as partes da via aérea. Para otimizar a visualização, um vídeo monitorado é extremamente útil, pois permite que os profissionais sigam o progresso do procedimento em tempo real, registrando imagens e vídeos que serão essenciais para a futura referência clínica.

A anestesia geralmente é induzida por agentes inalatórios, como o sevoflurano, ou por via intravenosa, com o uso de fármacos sedativos. A aplicação tópica de lidocaína nas vias aéreas ajuda a minimizar estímulos e evitar o espasmo laríngeo, facilitando a realização do exame sem complicações. A anestesia local é crucial para garantir que o procedimento ocorra sem dor, especialmente considerando o risco de laringoespasmo, que pode ser um obstáculo durante a análise.

A inspeção das vias aéreas começa com a cavidade nasal, seguida pela análise do espaço pós-nasal, orofaringe e laringe supraglótica, o que permite a avaliação da função dinâmica das cordas vocais durante a respiração e a fonação. Esse exame é tipicamente realizado de forma flexível, o que proporciona maior flexibilidade e permite o monitoramento contínuo do estado da via aérea. Em situações onde o diagnóstico ainda é incerto, a utilização de uma endoscopia rígida pode ser necessária para aprofundar a avaliação, especialmente se houver suspeita de lesões adicionais ou obstruções mais graves nas vias aéreas inferiores.

Durante o procedimento, é fundamental que o paciente respire espontaneamente para permitir a avaliação das condições dinâmicas da via aérea. O uso de um tubo endotraqueal nasofaríngeo pode ser necessário para garantir que os gases anestésicos e o oxigênio sejam administrados de forma eficiente sem bloquear a visualização da via aérea. A combinação de um broncoscópio ventilador e um telescópio rígido pode ser utilizada para examinar as vias aéreas distais enquanto se mantém a ventilação ativa, um aspecto crucial para o manejo seguro da respiração do paciente.

Em termos de complicações, algumas podem surgir durante o procedimento, incluindo lesões orais, lesões subglóticas, pneumotórax, complicações cardíacas, perda do controle da via aérea e hemorragias. Embora a laringotraqueobroncoscopia ofereça uma excelente visualização das vias aéreas, a manipulação inadequada pode causar traumas, como a lesão de cartilagens ou tecidos moles, dificultando a análise dinâmica do movimento das cordas vocais. Em casos mais graves, como suspeita de traqueomalácia, é essencial realizar uma avaliação cuidadosa da cartilagem traqueal e do número de anéis traqueais presentes, dado que isso pode influenciar as decisões terapêuticas, como a necessidade de uma traqueoplastia deslizante.

Após o procedimento, o paciente deve ser monitorado de perto, pois a obstrução das vias aéreas pode aumentar devido ao inchaço, secreções ou croup pós-intubação. O edema normalmente atinge seu pico nas primeiras 4 horas após o procedimento, estabilizando-se em até 24 horas. A administração de oxigênio umidificado é fundamental durante este período inicial para garantir a oxigenação adequada até que a condição do paciente se estabilize.

O acompanhamento cuidadoso e a documentação precisa das imagens dinâmicas e estáticas são cruciais para o planejamento de tratamentos futuros e para garantir a melhor abordagem terapêutica possível. A laringotraqueobroncoscopia não apenas permite o diagnóstico visual de condições como a estenose subglótica e laringomalácia, mas também pode ser utilizada de forma terapêutica para a remoção de corpos estranhos ou para o manejo de anomalias respiratórias.

Quais são os principais tipos de laringocoele e como tratá-los adequadamente?

O laringocoele, uma condição relacionada à dilatação do saculo laríngeo, pode ser classificado em três tipos principais: interno, externo e misto. A anatomia do saco laringeo, situado na base do ventrículo laríngeo, pode ser alterada por fatores que causam sua dilatação. A função natural desse saco é a secreção de muco que lubrifica as cordas vocais verdadeiras, sendo, por isso, fundamental para o bom funcionamento da laringe. A formação de um laringocoele ocorre quando o saculo, com revestimento epitelial ciliado, sofre expansão devido a pressões elevadas endolaringeas ou distúrbios anatômicos.

Nos laringocoeles internos, a dilatação restringe-se ao ventrículo laríngeo, podendo se estender até a vallecula glossoepiglótica. Esse tipo não compromete o exterior da laringe, mas pode gerar sintomas como rouquidão, dificuldades respiratórias e dor no pescoço, uma vez que o aumento da pressão interna pode afetar estruturas vizinhas. O diagnóstico é frequentemente feito com a ajuda de imagem, como a tomografia computadorizada (TC) ou a ressonância magnética (RM) com contraste, que revelam a presença de um conteúdo de ar e líquido dentro do ventrículo laríngeo. Para esses casos, o tratamento inicial envolve o uso de antibióticos intravenosos para combater infecções bacterianas, seguido de drenagem, caso necessário.

O laringocoele externo, por sua vez, se estende para fora da laringe, envolvendo a lâmina da cartilagem tireoide e a membrana tiro-hioide, além de afetar a região lateral do pescoço. Pode ser causado por aumento da pressão interna devido ao esforço físico repetido ou fatores como tosse crônica, trauma laríngeo ou até o uso excessivo das cordas vocais, como em músicos e cantores. Nesse caso, a abordagem terapêutica exige uma intervenção cirúrgica, com a remoção do laringocoele por meio de incisão no pescoço, o que pode envolver a dissecção da cartilagem tireoide e dos músculos esternotireoideo e tiro-hioideo.

Quando o laringocoele apresenta componentes internos e externos, formando um tipo misto, os sintomas podem ser mais severos. A massa cervical dolorosa, associada a linfadenopatia e deslocamento medial da laringe, exige um cuidado especial, pois pode levar a obstrução das vias aéreas. Nesse contexto, a drenagem também é indicada, podendo ser necessária a cirurgia para remoção de todo o saco dilatado, após a estabilização do paciente.

O tratamento definitivo, seja para o laringocoele interno ou misto, pode envolver excisão cirúrgica com a utilização de laser de dióxido de carbono para os casos endolaringeos. A remoção do laringocoele externo requer uma abordagem mais invasiva, com a exposição cuidadosa das camadas musculares e cartilaginosas. Embora o prognóstico para a maioria dos pacientes seja bom após a drenagem e o tratamento antibiótico, é fundamental garantir que a causa subjacente do aumento de pressão endolaringea seja tratada adequadamente.

Em situações mais complexas, como nas que envolvem a infecção do laringocoele (laringopiócoele), o manejo pode exigir a aspiração por agulha fina ou uma drenagem mais formal para remover pus e fazer o cultivo microbiológico, a fim de identificar e tratar os patógenos responsáveis, como Staphylococcus aureus, Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa. O tratamento antibiótico deve ser iniciado imediatamente para evitar complicações graves, como obstrução das vias aéreas e septicemia.

No caso de infecção prolongada, a abordagem cirúrgica para remoção do saco dilatado pode ser planejada após a resolução da infecção, para evitar o risco de recidiva e garantir uma recuperação completa da função laríngea. Pacientes com histórico de trauma laríngeo ou cirurgia nas cordas vocais devem ser monitorados de perto, pois a formação de laringocoeles nestes casos é uma complicação conhecida, que exige intervenção precoce.

Além disso, é essencial que o diagnóstico diferencial de laringocoeles considere outras condições que podem gerar sintomas semelhantes, como infecções de garganta graves, linfadenites cervicais e até tumores da laringe, como o carcinoma. A presença de uma membrana pseudomembranosa, que é característica das infecções por Corynebacterium diphtheriae (difteria), deve ser identificada rapidamente para evitar complicações fatais, como obstrução das vias respiratórias. Em países onde a difteria ainda representa risco, a vacinação infantil é uma medida preventiva crucial.

O manejo de laringocoeles, portanto, deve ser adaptado de acordo com a gravidade e o tipo específico da condição, levando em consideração os riscos de infecção, obstrução das vias aéreas e danos permanentes à função laríngea. Para pacientes com diagnóstico confirmado de laringocoele, é essencial uma abordagem multidisciplinar envolvendo otorrinolaringologistas, cirurgiões de cabeça e pescoço e, quando necessário, microbiologistas especializados para a correta escolha do tratamento antibiótico.