A administração de Donald Trump se destacou por um estilo de liderança agressivo e uma retórica centrada na restauração do poder dos Estados Unidos, refletindo uma visão nacionalista que se opunha à globalização e à cooperação internacional. Em suas falas, Trump frequentemente delineava os EUA como uma nação enfraquecida, submissa aos interesses de potências estrangeiras, com um país em declínio tanto no campo econômico quanto no âmbito da segurança. A retórica de Trump, em grande parte, foi construída em torno da ideia de uma América sitiada, ameaçada por inimigos internos e externos, e da necessidade de reverter esse processo por meio de uma liderança forte e uma abordagem mais isolacionista.
Uma das acusações mais frequentes que Trump fez em relação à administração de Barack Obama foi a da "fraqueza" dos Estados Unidos no cenário global. O presidente Obama, segundo Trump, permitiu que países como o Irã se fortalecessem com a assinatura de acordos como o nuclear, o que, na visão de Trump, colocava o Irã no caminho para adquirir armas nucleares. Além disso, a falta de uma política eficaz no Oriente Médio gerou o colapso de nações como o Iraque e a Líbia, o crescimento do grupo terrorista ISIS, a insegurança no Egito e o embaraço das "linhas vermelhas" traçadas em relação ao uso de armas químicas na Síria. Em sua narrativa, Trump descrevia um Oriente Médio em caos, onde os EUA haviam fracassado em impor sua autoridade e proteger seus próprios interesses.
Essa crise americana não era vista apenas no exterior, mas também dentro do próprio país, onde a perda de empregos industriais e a crescente desigualdade econômica eram, segundo Trump, reflexos diretos da globalização. A ideia de que os Estados Unidos estavam sendo deixados para trás em um mundo competitivo, sem vencer mais batalhas, foi central em sua campanha. Para Trump, a nação estava sendo deixada para trás economicamente, enquanto o país via suas indústrias saírem em direção a outros mercados. A expressão "Make America Great Again" (Faça a América Grande Novamente) capturava a essência de sua visão: os EUA deveriam restaurar seu poder e sua capacidade de vencer, tanto nas guerras internacionais quanto nas batalhas econômicas internas.
A política de Trump foi marcada pela criação de inimigos tanto dentro quanto fora das fronteiras dos Estados Unidos. Internamente, ele identificou imigrantes ilegais, especialmente aqueles de origem hispânica, como responsáveis por muitos dos problemas do país, incluindo o aumento da criminalidade e a sobrecarga do sistema social. Trump atribuía a essas comunidades a origem de uma suposta "crise de segurança" interna, frequentemente associando esses imigrantes a gangues violentas e atividades criminosas. A retórica anti-imigração foi uma das pedras angulares de sua presidência, com a construção do muro na fronteira com o México simbolizando sua política de "proteção" da nação contra invasores estrangeiros.
Externamente, Trump ampliou seu conceito de inimigos, incluindo países como China e Coreia do Norte, que ele via como ameaças econômicas e militares. Além disso, a retórica contra o terrorismo islâmico e a ideia de que o Islã era uma ameaça constante à segurança dos EUA reforçaram a percepção de um mundo dividido, no qual os EUA deveriam se defender contra forças externas que, segundo ele, buscavam enfraquecer o país. A insistência de Trump em usar termos como "terrorismo islâmico radical" contrastava com a abordagem mais moderada de seu antecessor, Barack Obama, e refletia uma linha mais dura em relação ao Islã e à luta contra o terrorismo.
Trump não hesitou em atacar grupos étnicos ou religiosos como um todo, muitas vezes usando uma linguagem que insinuava que todos os membros de uma determinada comunidade eram uma ameaça. Sua famosa declaração de que seria necessário um "fechamento total e completo de muçulmanos entrando nos EUA" exemplificava essa abordagem abrangente, onde o indivíduo não era distinguido da identidade religiosa ou étnica a que pertencia. Esse tipo de retórica, ao mesmo tempo que gerava apoio entre certos segmentos da população, também alimentava divisões dentro do próprio país, com críticas crescentes sobre o caráter racista e xenófobo de suas declarações.
O nacionalismo de Trump e sua política de "America First" (América em Primeiro Lugar) refletiam uma visão de mundo polarizada e uma estratégia de redefinir a posição global dos Estados Unidos. Ele acreditava que os EUA deveriam abandonar compromissos internacionais que, segundo ele, enfraqueciam o país, e se concentrar na restauração do poder militar, econômico e cultural da nação. Isso envolvia reverter políticas que favoreciam a globalização e priorizar os interesses americanos em detrimento de alianças e acordos multilaterais.
No entanto, a visão de Trump sobre os inimigos dos EUA e a luta pela sobrevivência da nação não se limitava ao contexto externo. Em sua visão, a própria sociedade americana estava sendo corroída por uma "cultura de diversidade" que, para ele, enfraquecia a coesão nacional. Ele associava a perda da identidade cultural e nacional americana ao aumento da imigração e ao enfraquecimento das fronteiras tradicionais da nação, defendendo uma política de exclusão que protegesse "os valores" americanos contra a influência de culturas estrangeiras.
Para compreender a proposta de Trump, é necessário entender o contexto de sua ascensão ao poder. Em um momento de crescente polarização política e social nos EUA, Trump soube capturar o descontentamento de uma parte significativa da população que se sentia deixada para trás pelo crescimento da economia global e pelas mudanças demográficas. Sua abordagem combativa e simplista contra os inimigos — sejam eles países estrangeiros ou grupos internos — ofereceu uma resposta direta a esse mal-estar, criando uma narrativa de luta constante pela sobrevivência e pelo retorno da grandeza nacional.
Como a Mídia e o Presidente Trump Moldam a Agenda Política dos EUA
Desde o início de sua presidência, Donald Trump adotou uma postura agressiva e confrontacional em relação à mídia. Sua acusação de que a mídia tradicional seria inimiga do povo americano não era uma simples provocação; era uma tentativa estratégica de delegitimar a imprensa, que, segundo ele, estava comprometida com um "viés anti-Trump". Ao chamar repetidamente a atenção para as “fake news”, ele criou uma narrativa de oposição direta àqueles que exerciam o papel tradicional de fiscalizar o poder, o que, paradoxalmente, implicava em deslegitimar a própria função essencial da imprensa em uma democracia.
Este ataque constante à mídia não é apenas uma tentativa de discreditá-la, mas também de moldar a percepção pública. Ao afirmar que a imprensa estava sendo guiada por um “Trump Derangement Syndrome”, Trump incitava um embate que, ao mesmo tempo, alimentava sua base política e enfraquecia as instituições que ele via como ameaças ao seu governo. No entanto, essa estratégia tem um custo. A mídia, como o quarto poder, continua a ser uma força de resistência, investigando e publicando histórias que expõem possíveis falhas e transgressões do governo, o que, por sua vez, leva a investigações legais e escândalos que desgastam a imagem do presidente.
Durante os primeiros cem dias de governo de Trump, a cobertura da mídia foi amplamente negativa. Um estudo do Pew Research Center revelou que 44% das notícias sobre o presidente foram negativas, comparado a apenas 11% de cobertura positiva, e a maior parte da cobertura concentrou-se em questões de liderança e caráter, em detrimento de questões políticas substanciais. Este padrão de cobertura negativa não era apenas uma característica das mídias tradicionalmente mais críticas, como o New York Times ou a CNN, mas também se estendia a redes como Fox News, que, embora frequentemente favorável a Trump, também não hesitou em destacar falhas de sua administração. Quando comparado aos primeiros dias dos presidentes Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama, a cobertura negativa de Trump foi sem precedentes, com uma média de 62% de críticas. Esses dados indicam que a relação entre Trump e a mídia estava longe de ser equilibrada, refletindo uma hostilidade que foi mais profunda do que a observada com qualquer presidente anterior.
Embora Trump se apresente como um mestre da manipulação da mídia, sua tentativa de controlar a narrativa tem sido, até certo ponto, falha. Por mais que ele tente desviar o foco da imprensa com suas táticas de distração e ataques, a realidade é que os jornalistas continuam a questionar seu governo e a revelar informações que afetam diretamente sua imagem. Como o caso das investigações sobre o envolvimento de sua campanha com a Rússia ou falhas em políticas públicas, como a reforma da saúde, essas notícias não só dominaram as manchetes, mas também serviram para enfraquecer a sua presidência.
Além disso, as investigações revelaram uma série de falhas e contradições dentro do governo Trump, muitas das quais estão relacionadas a questões de nepotismo, corrupção e ineficiência. Esse tipo de cobertura não só gerou críticas públicas, mas também iniciou desafios legais e investigações que drenaram tempo e energia do presidente. Tais investigações ocorreram em um estágio muito precoce de sua presidência, ao contrário de outros presidentes, cujos maiores escândalos surgiram mais tarde, como foi o caso de Richard Nixon durante o Watergate.
Ao adotar essa postura combativa com a mídia, Trump parece ter negligenciado a importância de focar a agenda política. Em vez de trabalhar para consolidar uma agenda clara e coesa, seu estilo de comunicação se tornou fragmentado e volúvel. Em busca de atenção constante, ele frequentemente mudava de tópico sem consultar aliados ou planejar suas ações com os membros da administração. Esse comportamento, em grande parte, minou sua capacidade de governar de forma eficaz. Ao invés de promover suas políticas de forma estratégica, Trump se via envolvido em um ciclo constante de respostas midiáticas que muitas vezes desvirtuavam sua mensagem e distraíam da agenda legislativa que ele queria promover.
Ao se concentrar mais nas disputas com a mídia do que nas questões políticas substanciais, Trump criou uma competição direta sobre como sua presidência seria compreendida. De um lado, ele tentava contar sua própria versão da história; do outro, a mídia tradicional, com suas reportagens investigativas, construía uma narrativa alternativa sobre seu governo, suas falhas e suas contradições. O sucesso ou fracasso de Trump em moldar essa narrativa tem um impacto direto em sua presidência, em sua reeleição e, possivelmente, em seu legado.
É essencial compreender que o foco da administração de um presidente nos Estados Unidos não se limita ao que é divulgado na mídia, mas sim ao que consegue ser transformado em ação política concreta. Trump, ao dividir sua atenção entre a luta com os meios de comunicação e a gestão da agenda política, acabou por comprometer sua capacidade de implementar reformas significativas, o que teve repercussões diretas na percepção pública de sua presidência.
Como Trump Desorganizou Sua Própria Agenda Política: O Impacto da Comunicação na Liderança Presidencial
O estilo de comunicação de Donald Trump tem sido uma das características mais marcantes de sua presidência. Desde o momento em que assumiu o cargo, seu discurso tem sido amplamente centrado na imagem pessoal, no ataque constante a seus inimigos e na criação de polêmicas. No entanto, apesar da atenção maciça da mídia e do apelo emocional que suas ações e palavras geram, essa abordagem tem demonstrado ser ineficaz na construção de apoio para suas políticas principais. A estratégia de Trump tem sido eficaz para atrair manchetes, mas não para estabelecer uma agenda política clara e duradoura.
Sua luta constante com a mídia, suas declarações polêmicas sobre o “fake news” e suas brigas pessoais com membros do seu próprio partido criam um ambiente de caos e distração, mas não conduzem a um avanço nas questões políticas centrais. Além disso, suas tentativas de se autopromover e afirmar sua supremacia através de afirmações exageradas, como a alegação de que a multidão em sua posse foi a maior da história, criaram uma postura que rapidamente se tornou alvo de ridicularização, minando sua credibilidade. A obsessão por sua própria legitimidade, seja no campo das eleições, seja nas questões mais pessoais, toma uma quantidade desproporcional de tempo e atenção, desviando o foco de políticas importantes.
Muitas vezes, as ações de Trump envolvem ataques virulentos contra aqueles que o investigam ou críticas a questões que não têm relação direta com as políticas do governo. Um exemplo claro foi sua reação impulsiva ao caso da Trump University, onde ataques a um juiz apenas trouxeram mais atenção à falência de seus empreendimentos. Esse tipo de comportamento revela a dificuldade de Trump em separar sua vida pessoal da sua função pública, criando um padrão de comunicação que se concentra mais em questões pessoais e de imagem do que em propostas de políticas concretas.
Quando Trump fala sobre questões políticas que vão além de sua imagem pessoal, frequentemente trata de assuntos polêmicos, mas com pouca conexão direta com as mudanças que o governo poderia implementar. Sua postura frente a eventos como os protestos em Charlottesville ou a questão do jogador Colin Kaepernick são exemplos de como ele se coloca como um combatente simbólico em uma guerra cultural, mas sem criar um vínculo com soluções políticas práticas. Essas intervenções muitas vezes atraem atenção, mas desviam o foco das questões centrais da sua administração e não ajudam a promover suas propostas legislativas.
A habilidade de um presidente de controlar a agenda da mídia deveria ser, em teoria, uma vantagem natural. O presidente tem um papel central na política dos EUA, e sua presença é uma referência tanto no país quanto no exterior. Porém, ao invés de moldar a agenda para promover suas propostas políticas, Trump frequentemente se vê lutando contra a agenda negativa imposta pela mídia. Sua administração frequentemente parece mais preocupada em apagar incêndios, respondendo rapidamente a polêmicas e criando novas controvérsias para desviar a atenção das antigas. Isso não deve ser confundido com sucesso; de fato, a verdadeira liderança exige o controle positivo da agenda – a capacidade de definir os temas e as prioridades políticas, não apenas reagir às críticas e ataques.
Embora a técnica de controlar a agenda negativa seja útil para manter a atenção da mídia, ela se torna um custo para o controle positivo da agenda e compromete a capacidade do presidente de influenciar a política de forma eficaz. A resposta emocional e impulsiva de Trump, muitas vezes voltada para atacar seus opositores, contribui para uma narrativa fragmentada de sua presidência, cheia de insultos, reviravoltas e controvérsias. Isso torna difícil para o público e para os aliados entenderem as reais intenções políticas do presidente, gerando um vácuo de liderança.
Esse fenômeno é claramente visível na tentativa de Trump de implementar uma reforma de infraestrutura. Apesar de ser uma das promessas centrais de sua campanha, as ações do presidente para promover essa agenda foram sistematicamente minadas por seus próprios comportamentos. Quando a Casa Branca se preparava para uma “Semana da Infraestrutura” em 2017, os ataques de Trump a outras figuras públicas e os conflitos internos com seu próprio governo rapidamente destruíram a mensagem que estava sendo construída. Em vez de criar um foco estratégico na política de infraestrutura, Trump se viu envolvido em disputas pessoais e políticas que ofuscaram os esforços de sua administração.
Além de desorganizar a mensagem, a falta de uma estratégia de comunicação eficaz também reflete uma falha em construir uma narrativa convincente em torno das propostas de políticas. Cada medida política deve ser acompanhada de uma narrativa clara e coesa, algo que a administração de Trump frequentemente não conseguiu alcançar. Sem uma comunicação bem planejada, mesmo as propostas mais relevantes se tornam reféns da atenção que Trump dedicou a questões de imagem e escândalos.
Para o leitor, é importante entender que o estilo de liderança de Trump, centrado em si mesmo e na criação de controvérsias, tem um custo significativo em termos de eficácia política. Enquanto o presidente é capaz de dominar as manchetes, ele falha em direcionar essa atenção para questões que realmente poderiam trazer mudanças políticas. Isso destaca um ponto essencial sobre a comunicação política: ela deve ser utilizada para construir e reforçar uma agenda concreta, não para criar distrações. A capacidade de um presidente de manter o foco da política em suas propostas depende de sua habilidade em controlar a narrativa de maneira consistente e clara, algo que Trump, ao optar por um estilo comunicativo reativo e volúvel, não conseguiu fazer de forma eficaz.
Como a Doutrina de "Paz Através da Força" Moldou a Política Externa de Donald Trump
A presidência de Donald Trump, com seu estilo de liderança combativo e seu claro antagonismo em relação a muitos membros da liderança republicana no Congresso, foi moldada por uma filosofia de política externa que remonta a um princípio fundamental do Partido Republicano: a ideia de "paz através da força". Mesmo com sua postura polarizadora e muitas vezes agressiva, Trump fundou a lógica subjacente de sua política externa na ideia conservadora de que a força militar dos Estados Unidos deve ser a base para alcançar a estabilidade global. A promessa de uma “Paz Através da Força” foi central em sua abordagem ao mundo, refletindo um movimento político muito mais antigo, que remonta à presidência de Ronald Reagan e até à campanha presidencial falha de Barry Goldwater na década de 1960.
A ideia de “Paz Através da Força” esteve explícita desde o primeiro discurso inaugural de Trump, onde ele reafirmou que a política externa dos Estados Unidos seria moldada pela filosofia do “America First” (América Primeiro), um conceito que coloca o país em primeiro plano, priorizando seus interesses e segurança. A administração, logo no primeiro dia, reformulou o site da Casa Branca, substituindo o conteúdo da era Obama por novas páginas de políticas, e uma delas reforçava que a paz só seria possível com uma projeção de poder militar dos Estados Unidos. Em 2018, a ideia foi ainda mais fortalecida: a "reconstrução da dissuasão dos Estados Unidos" foi apresentada como uma prioridade nacional para garantir a paz global.
Esta abordagem não é nova. Ao longo de décadas, a doutrina de “Paz Através da Força” foi um pilar da política externa republicana, e desde a presidência de Ronald Reagan, adquiriu maior clareza e profundidade. Reagan, por exemplo, acreditava firmemente que a paz só seria possível a partir de uma posição de força, o que se refletia em sua postura militar agressiva, seu discurso anticomunista e em ações concretas como a Iniciativa de Defesa Estratégica e intervenções militares diretas, como as em Granada e na Líbia. Para ele, a capacidade de projetar força no cenário internacional era essencial para que os Estados Unidos pudessem negociar em uma posição de poder e, assim, alcançar a paz duradoura.
Esse princípio também pode ser traçado até as palavras de Barry Goldwater, cujas ideias sobre a política externa foram bastante influentes. Goldwater afirmava que "paz" é um objetivo legítimo para a política americana, mas que só poderia ser alcançado a partir de uma postura nacional de força, confiança e firmeza. Ele não defendia uma postura belicista, mas a ideia de que os Estados Unidos deveriam ser respeitados, não amados, e que o respeito internacional seria a base para alianças duradouras. Para Goldwater, esse respeito não viria de concessões ou fraquezas, mas da disposição dos Estados Unidos em proteger seus próprios interesses e, acima de tudo, sua honra nacional.
Este conceito de "paz através da força" é tanto uma estratégia como uma filosofia, refletindo um modo de pensar que não evita a confrontação, mas a utiliza para estabelecer a paz, ou pelo menos para forjar uma relação de respeito com outros países. Para muitos republicanos, esta abordagem é vista como necessária, especialmente quando percebem que o país, sob administrações anteriores, foi enfraquecido por políticas externas excessivamente diplomáticas ou submisso ao desejo de evitar conflitos.
No entanto, como toda estratégia que baseia-se na força, o conceito de “Paz Através da Força” carrega riscos consideráveis. A principal consequência desse caminho é que ele pode ser mal interpretado por aliados e adversários, o que poderia enfraquecer em vez de fortalecer as alianças internacionais. Uma ênfase excessiva na demonstração de força pode levar à alienação de parceiros chave, enfraquecendo as bases de colaboração que seriam necessárias para resolver crises internacionais. Para adversários, a resposta a essa postura pode ser ainda mais direta e hostil, já que a busca por respeito pode ser vista como uma ameaça direta, estimulando ainda mais tensões e até conduzindo a escaladas perigosas que, em última instância, podem prejudicar os próprios interesses dos Estados Unidos.
Este risco de sobrecarregar a imagem de força também implica em um outro fator: a possibilidade de uma guerra ou de um confronto direto, caso as tentativas de dissuasão fracassem ou sejam mal interpretadas, como foi o caso, por exemplo, durante a Guerra Fria, quando o uso de força de maneira irrestrita aumentava o risco de um conflito nuclear. A famosa crise de novembro de 1983, quando a União Soviética quase interpretou erroneamente um exercício militar da OTAN como um ataque real, é um lembrete de quão perigosas podem ser as estratégias que dependem da força como moeda de paz.
No contexto da presidência de Trump, a retórica agressiva e a reconfiguração das alianças internacionais, com uma ênfase na força militar e na desvalorização de acordos multilaterais, revelam a continuidade de uma visão conservadora da política externa, que, ao tentar recuperar o respeito internacional dos Estados Unidos, pôs em risco a estabilidade de muitas relações diplomáticas.
Por fim, o leitor deve compreender que a política de "Paz Através da Força" é uma proposta que, embora apelativa para aqueles que veem os Estados Unidos como uma potência global, carrega consigo o peso das consequências imprevisíveis. A eficácia dessa abordagem está longe de ser garantida, e a sua implementação exige cautela, especialmente quando se lida com forças internacionais complexas e dinâmicas. A história da diplomacia internacional mostra que as relações de respeito, mesmo que baseadas em uma força declarada, podem facilmente se transformar em um ciclo vicioso de confrontos e desconfianças, ao invés de criar uma verdadeira paz.
Como Trump Pode Ser um Presidente Extraordinário e Ainda Assim Ter uma Presidência Comum?
A administração Obama e a de Trump representam abordagens diametralmente opostas à política externa dos Estados Unidos, especialmente quando se considera o contraste em relação à visão global. Obama, com uma perspectiva focada na interdependência dos países, procurou criar uma política externa sofisticada, onde o multilateralismo e a colaboração internacional eram fundamentais. A ênfase estava em resolver problemas globais por meio de organizações internacionais e acordos multilaterais. Em contraste, Trump apresenta uma visão mais ortodoxa e realista, onde o nacionalismo e a soberania dos Estados-nação são pilares, e a política externa se configura em torno da ideia de um jogo de soma zero, em que o sucesso de um implica a perda de outro. Embora essa mudança na política externa seja aparentemente revolucionária, na realidade, ela se insere em uma tradição republicana mais antiga, que prioriza a "paz através da força" e busca uma abordagem mais unilateral.
Porém, ao colocar as administrações Obama e Trump lado a lado, surge uma questão: será que Trump realmente representou uma mudança revolucionária? Embora sua abordagem à política externa seja, sem dúvida, distinta da de Obama, ela também está firmemente enraizada em prioridades tradicionais do Partido Republicano. Trump, na verdade, não é um inovador radical, mas um retorno a uma linha política já experimentada por presidentes republicanos anteriores, como os Bushes, Reagan e Nixon. Suas promessas eleitorais e a retórica, embora grandiosas, não resultaram em uma verdadeira reconfiguração do cenário político ou eleitoral dos EUA. A divisão partidária continua como antes, sem grandes rupturas nas identificações políticas profundas que caracterizam o sistema eleitoral americano.
Em relação às promessas de Trump, um contraste notável é entre a grandiosidade de suas declarações e os resultados obtidos até agora. Sua comparação frequente consigo mesmo e com os maiores presidentes da história americana, como Franklin Roosevelt, soa como um eco de suas declarações frequentemente exageradas. O que ele considera como realizações extraordinárias, em grande parte, se revelam mais banais quando confrontadas com suas próprias previsões de grandeza. A abordagem de Trump, que é marcada por uma autoconfiança imensa em suas habilidades, reflete sua crença de que seus feitos são uma consequência natural de sua excepcionalidade. No entanto, seus feitos, ao serem comparados com o contexto histórico de outros presidentes, parecem mais comuns do que extraordinários.
Em última análise, é possível observar que, enquanto Trump é visto como um presidente extraordinário devido à sua personalidade, seus métodos e seu discurso, sua presidência se configura de forma mais ordinária. Isso pode ser atribuído, em parte, ao sistema constitucional dos Estados Unidos, que limita e restringe os poderes presidenciais. As estruturas de poder que estão em vigor há mais de 200 anos ainda desempenham um papel fundamental em restringir os presidentes e limitar suas ações. Trump, apesar de sua vontade de realizar mudanças, encontra-se aprisionado dentro dessas limitações, como ocorreu com muitos presidentes anteriores, que tiveram pouco sucesso em realizar transformações profundas sem uma crise significativa.
Além disso, a falta de uma rede política interna, que poderia ajudá-lo a formar coalizões e criar políticas sustentáveis, tem sido uma das grandes barreiras de Trump. Ele é um presidente outsider, sem a base de apoio e a experiência necessárias para navegar com eficácia em um sistema político altamente fragmentado. Sua falta de habilidades políticas e experiência governamental tornou ainda mais difícil para ele realizar suas ambições presidenciais, uma vez que se viu confrontado com uma administração que exigia conhecimento profundo das complexidades da governança e uma habilidade para formar alianças, algo que ele não possuía.
Por fim, a ironia reside no fato de que as qualidades que fizeram de Trump uma figura extraordinária – sua ousadia, sua confiança e sua habilidade de manipular os meios de comunicação – são justamente as mesmas que o tornam incapaz de funcionar de forma eficaz dentro dos limites do cargo de presidente. Ele não conseguiu adaptar sua abordagem para tirar proveito das instituições que seus antecessores criaram ao longo das décadas. Em vez disso, sua gestão personalizada enfraqueceu as estruturas de apoio que tradicionalmente permitiriam aos presidentes alcançar suas metas. Ao invés de trabalhar com os sistemas existentes, Trump optou por uma versão de liderança altamente individualista que acabou por criar divisões dentro de sua própria administração.
Esses fatores convergem para a conclusão de que, embora Trump possa ser considerado uma figura extraordinária, sua presidência, marcada por desafios internos e externos, revelou-se bem mais comum do que ele mesmo gostaria de admitir. As realizações de seu governo, embora amplificadas por sua retórica, são, na maioria, consistentes com os objetivos tradicionais do Partido Republicano e estão longe de configurar uma mudança histórica no cenário americano.

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